sábado, 18 de outubro de 2008

Jascha Heifetz (1901–1987)

Jascha Heifetz nasceu na Lituânia (Vilnius) em 1901 então parte do império russo.

Alguns historiadores pensam que Heifetz terá na verdade nascido ainda no século XIX e que a sua mãe atrasou voluntariamente a data de nascimento para incrementar o factor de menino prodígio. Na verdade Heifetz ensinado pelo pai também ele violinista começou a tocar com apenas três anos tendo tocado pela primeira vez em público com apenas sete anos em Kaunas tocando apenas o concerto em Mi Menor de Mendelssohn. Não temos obviamente registo desse evento mas encontramos aqui um extracto de um filme (They Shall Have Music - 1939) em que Heifetz entra "as himself" e salva uma escola de música de ser fechada tocando Mendelssohn (os jovens que estão na orquestra são os alunos dessa escola).

Em 1910 ou seja com 9 anos entrou no conservatório de São Petersburgo para estudar com Leopold Auer . Com apenas 12 anos numa tournée na Alemanha teve a oportunidade de tocar para Fritz Kreisler (o grande violinista) que disse "Bem podemos partir já os nossos violinos".

A 27 de Outubro de 1917 estreou-se no Carnegie Hall sendo desde esse instante e absolutamente do dia para a noite uma autêntica estrela nos Estados Unidos. A história de amor foi felizmente reciproca tendo Heifetz rapidamente assumido a cultura norte americana e tornado-se cidadão americano em 1925. Este facto valeu-lhe ser considerado como traidor na União Soviética durante a guerra fria só tendo por uma vez deslocado-se ao seu país Natal.

Em 1930 transcreve a toca a peça "Hora Staccatto" de Grigoras Dinicu de quem Heifetz disse ser o melhor violinista que ouviu. Oiçam aqui Heifetz numa interpretação dessa peça.

Durante a guerra Heifetz participou no esforço de guerra dando inúmeros concertos nomeadamente nas frentes africanas sendo que logo a seguir à guerra e sob pseudónimo escreve "When You Make Love To Me - Don't Make Believe." canção gravada tanto por Bing Crosby como por Margaret Whiting.

Em 1958 torna-se professor na UCLA tendo posteriormente (1960) mudado para a University of Southern California onde ensinou durante largos anos e onde ficaram famosas as suas master classes. Vejam por exemplo aqui um aluno interpretar uma canção brasileira "Ao pé da Fogueira" do compositor Valle num arranjo do próprio Heifetz (penso).

Heifetz foi aos poucos deixando de tocar em público devido a uma lesão no ombro tendo o seu ultimo concerto decorrido em Los Angeles em 1972. A gravação deste concerto é também a sua ultima edição discográfica.

Em 1983 terminou a sua longa associação com a USC embora tenha continuado a ensinar em privado.

Heifetz é ainda hoje considerado por muitos o maior violinista de sempre pela qualidade do seu som e afinação impecável. Dizia-se que era incapaz de falhar uma nota. Foi muitas vezes criticado por ser demasiado mecânico e pouco emotivo. Tinha um feitio difícil e terá abandonado a carreira como interprete de obras orquestrais por não conseguir conviver com visões diferentes da sua.

Do ponto de vista pessoal era também uma pessoa de extremos dando muita importância ao dinheiro mas sendo também capaz de participar em actividades altruístas como campanhas para a criação do número de emergência na Califórnia.

Uma personagem sem dúvida complexa que provavelmente se exprimia no seu melhor pela música. Por isso fiquem aqui com um trio de Mendelssohn com o seu amigo Violoncelista Piatigorsky e o pianista Arthur Rubinstein.

Heifetz faleceu em Los Angeles a 10 de Dezembro de 1987.

Brahms - As sonatas para Violino - Terceira Parte

Embora tenha sido começada a ser composta quase a seguir à Sonata nº 2 Brahms acabou por por de lado este trabalho para apenas o retomar em 1888 o que explica de certa forma a profunda diferença entre as duas obras. Enquanto que o Op. 100 é uma obra que radia emoção de uma forma calma quase pacifica a Op. 108 em Ré Menor é precisamente o inverso. Também ela é extraordinariamente emotiva mas aqui estamos a falar de uma forma de expressão muito mais épica e atlética.

Também na estrutura esta obra é diferente dado que Brahms voltou aos quatro andamentos clássicos na forma de Sonata.

O carácter forte da obra, nervoso, é marcado logo no primeiro andamento ou melhor logo destas as primeiras notas que são quase preocupantes pela energia que transmitem que não deixa de ter um certo tom sinistro transmitido pelo ritmo quebrado. Podem ouvir aqui este andamento por uma dupla de luxo que aliás vamos acompanhar ao longo desta obra - com a excepção do ultimo andamento onde serão substituídos por uma outra dupla de igual peso - Perlman no Violino e Daniel Barenboim ao piano.

O segundo andamento é sem exagero um autentico "Lied" sem palavras. Uma composição de que Schubert não desdenharia com certeza a melodia. Uma melodia quase inteiramente exposta pelo Violino tendo aqui o piano um papel secundário. Podem ouvir aqui este andamento.

O terceiro andamento "Um Poco presto e com sentimento" foi descrito de formas muito diferentes. A mais curiosa de todas terá sido a de Clara Schumann que disse deste andamento ser "a imagem de uma bela jovem brincando com o seu amante". Outros viram neste andamento melancolia ou tristeza. Neste andamento o piano ganha o protagonismo cedido ao violino no segundo andamento. Podem ouvir aqui este andamento.

Retomando a forma clássica da Sonata o grande dramatismo, as grandes explosões de emoções estão reservadas para o quarto andamento (Presto Agitato) que é também o mais virtuoso dos quatro como é normal nesta forma musical. Podem ouvir aqui este andamento por David Oistrack e Karl Richter como vêem outra dupla de peso.

A obra foi interpretada em publico pela primeira vez em Budapeste no dia 22 de Dezembro de 1888. Brahms estava nessa altura ao piano sendo Jenö Hubay o violinista escolhido.

As duas restantes partes deste conjunto de posts sobre as sonatas de Brahms para Violino (e piano) podem ser lidas aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte).

Brahms - As sonatas para Violino - Segunda Parte

A Sonata para Piano e Violino (a ordem pela qual os instrumentos é apresentada foi especificada pelo próprio Brahms) Op. 100 nº 2 em Lá Maior foi composta em 1886 num período altamente produtivo para Brahms. Na verdade compôs nesse período algumas das suas obras de música de câmara mais relevantes . O Op. 99 é a segunda sonata para violoncelo de que falaremos em breve e a Op. 101 é o Trio para piano em Dó menor que obviamente iremos abordar. Se bem se lembram já tínhamos falado desta sonata aqui quando vos reportamos o que se havia passado no recital na jovem violinista portuguesa Maria Viseu.

Esta sonata é das três a mais curta e possivelmente a mais lírica das três. Foi tal como a primeira escrita em três andamentos em parte utilizando o facto do segundo andamento conter em ele próprio várias diferenças de ritmo. O primeiro andamento um Allegro Amabile pode efectivamente ser resumido na palavra que modifica o tempo Allegro. É composto por dois temas tão calmos, tão habilmente conjugados e por um dialogo tão homogéneo entre o violino e o piano que nos parece que nada pode tocar nessa graça. Podem ouvir este andamento aqui por Leonid Kogan. Já o segundo andamento é bastante diferente na sua natureza pois contém diferenças de ritmo acentuadas. Começa na verdade com um Andante Tranquillo para depois caminhar para um Vivace voltar ao Andante retornar a um vivace mas agora anotado como "di piu" - ainda mais para ainda ter tempo para voltar ao Andante e terminar num Vivace. Uma verdadeira montanha russa de emoções. Pode ouvir este segundo andamento por Richter e Oistrack aqui. O terceiro andamento Allegretto Grazioso (quasi andante) é um rondo que apresenta um tema de tal forma rico e aveludado e que escapa à "loucura" normal dos terceiros andamentos das sonatas românticas.

Esta sonata foi tocada pela primeira vez em Viena umas escassas semanas antes do Natal de 1886 com Brahms ao piano e no violino Joseph Hellmesberger.

O primeiro post desta série sobre as sonatas de Brahms para violino pode ser lido aqui.
O terceiro e ultimo post desta série sobre as sonatas de Brahms pode ser lido aqui.

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