Vem este post a propósito de um comentário de um dos nossos mais antigos leitores, lalage, que nos perguntava se seguíamos o blog De Rerum Natura . Confesso que não seguia mas esse pecado foi rapidamente eliminado.
O tema do post que motivou o comentário de lalage era a utilização de música clássica em publicidade. Nós já tínhamos falado disso a propósito do anúncio do óleo Fula.
Daniel Barenboim no seu livro "Está tudo ligado" de que por acaso (bom não bem por acaso dado sermos fanáticos apoiantes do maestro) também já havíamos falado precisamente a propósito da sua presença em Portugal quando do lançamento do livro e também obviamente pelo seu trabalho com a West Divã Orquestra pela Paz.
Fechando os longos parênteses introdutórios que têm vindo a tornar-se hábito por aqui (as minhas desculpas) como vos tinha dito a utilização de música clássica em publicidade ou mais geralmente em comunicação ou pela mesa razão a utilização de qualquer outro tipo de arte não me parece forçosamente errada.
O que está errado isso sim não é portanto a dessacralização do objecto artístico ou o insulto aparente ao seu autor mas antes a estupidez da utilização sem critério - algum critério que aproveite o fundamento da obra de arte e o coloque ao serviço do que se pretende comunicar.
A utilização sem critério, sem contexto, para além da ignorância que deixa perceber (mas essa é desculpável) demonstra uma outra coisa que essa sim é um pecado mortal: A Preguiça. Porque não tenham dúvida que em todos os maus exemplos citados com algum trabalho seria possível encontrar uma obra musical mais adequada a transmitir o que se pretende, com ganhos para todas as partes: Para a peça de comunicação que ficaria francamente melhor e para a arte em si que ganharia dessa forma uma forma de divulgação que doutra forma dificilmente atingiria.
É verdade que depois será difícil ouvi-la (a obra de arte) da mesma forma mas acreditem que se a obra for mesmo boa ao fim de um tempo esta permanecerá, muito mais conhecida, enquanto o anuncio em si cairá no esquecimento. A não ser claro que o anuncio seja ele também uma obra de arte que suplante a própria música (não é impossível, não sendo propriamente música clássica quem não se lembra do anuncio da Regisconta e aquela máquina?). A questão é que nesse caso e em outros trabalhou-se para que a música não estivesse ali simplesmente para servir de fundo. Faz parte da peça de comunicação e foi escolhida por um motivo.
Por outras palavras caros publicitários e colegas de profissão, caros marketeers. Querem utilizar obras de arte musicais ou outras nas vossas produções de comunicação? Óptimo. Grande ideia. Façam então o obséquio de o merecer e de trabalharem por isso não vos limitando a escolher a música de fundo da casa de banho. Se quiserem comunicar um seguro desde já vos digo que Beethoven está pronto para assinar um contrato com a batida do destino da sua 5ª ... Façam por o merecer, façam por o merecer ... E por Amor de Deus deixem o Vivaldi e as Quatro Estações em Paz, ou pelo menos se entenderem falar da morte usem o Inverno e não a Primavera sempre faz mais sentido.
Não saber, não ter conhecimento, não está errado per se. O que está errado isso sim é a recusa de aprender e glorificação da ignorância. Isso sim está errado.