domingo, 14 de novembro de 2010

Luís de Freitas Branco (1890 - 1955)

Dedicamos esta biografia não só a memória de um dos maiores compositores portugueses de todos os tempos mas também como lembrança a todos aqueles que perante a crise actual defendem soluções autoritárias. Lembrem-se que são essas soluções que limitam o talento, que centralizam, que promovem a visão de que a solução vem de um estado omnipresente e todo poderoso. São essas pseudo-soluções que nos conduziram ao estado de subserviência e de incapacidade de encontrar soluções por nós próprios, de nos revoltarmos mas não "contra" mas sim a favor de alguma coisa, de enfim fazer pelo nosso país. Sabem porque razão quando estão fora revelam os portugueses todo o seu talento? Porque tal como as crianças fora da casa dos pais já não esperam a protecção do seu messias. Desculpem-me esta introdução : Luís de Freitas Branco merecerá agora toda a nossa atenção mas não creio que se importasse ou desdenhasse este preâmbulo.

Esta biografia (comentada) foi baseada em vários textos de que vos recomendamos uma leitura atenta. Do site da Academia de Música de Santa Cecília o texto do professor Henrique da Luz Fernandes, da Base de Dados de Compositores Portugueses do Movimento Patrimonial da Música Portuguesa além da nossa habitual fonte (Grove Music Online). Para uma curta biografia como sempre um excelente começo na Naxos.

Luís de Freitas Branco nasceu em Lisboa a 12 de Outubro de 1890. Nascido numa família aristocrática e intelectual desde cedo demonstrou grande interesse e capacidades musicais tendo iniciado os seus estudos em Portugal com Tomás Borba e Augusto Machado. Aos 14 anos compõe aquela que foi a sua primeira composição e que ainda hoje é frequentemente interpretada. Podem ouvir por exemplo João Merino no concerto final da Master Class de Tom Krause no teatro São carlos (Set. 2010) acompanhado ao piano por Nicholas Mcnair. Há também desta canção entre outras  um registo gravado pela soprano Filomena Amaro acompanhada ao piano  por Gabriela Canavilhas.

Estuda também Orgão com o músico belga Desiré Pâque então residente em Lisboa que lhe introduz as teorias musicais de Vincent d´Indy. Será talvez esta uma das razões das raízes mais francófonas da sua música. Com apenas 17 anos termina a 1ª Sonata para Violino e Piano de que vos proponho o primeiro andamento interpretado por Tibor Varga (violino) e  Roberto Szidon (Piano) - lindissima melodia esta a do primeiro andamento.

Com 18 anos Luís de Freitas Branco compõe vários poemas Sinfónicos baseados em autores portugueses ligação entre poesia e música que continuaria sempre ao longo da sua vida com vários autores portugueses e franceses (por exemplo Baudelaire ou Mallarmé). A titulo de exemplo oiçam Solemnia Verba (1950-51) uma das suas ultimas obras baseado num poema homónimo de Antero de Quental.

Disse ao meu coração olha por quantos 
caminhos vãos andamos! Considera
agora, desta altura fria e austera, 
Os ermos que regaram os nossos prantos

Aliás Luís de Freitas Branco - permitam-me a interpretação pessoal - numa linha impressionista sempre manteve uma preocupação quase programática em grande parte da sua música. No meu entender esta característica é bem visível no elevado número de brilhantes poemas sinfónicos que escreveu ao longo da sua carreira.

Paraísos Artificiais (1910)
Tentações de S. Frei Gil  (1911)
Vathek (1913)
Viriato (1916)

Esta ligação à poesia ou à literatura fez-se tanto na forma de poemas sinfónicos como na forma de canções das quais podemos destacar os Madrigais Camonianos (1930-1943) . Estes Madrigais estão disponíveis numa gravação da Numérica pelo Coro Gulbenkian (referência : PS 5010).

Mas de volta à ordem cronológica em 1910 sai pela primeira vez de Portugal na companhia de seu tio para uma visita a Berlim onde é aceite como aluno por Humperdinck mas as aulas não o satisfazem completamente. Ainda nesse ano casa-se com D. Stella de Ávila e Sousa (reza a lenda que a superstição o levou a não esperar pelo final do ano por este ser bissexto). Vai viver uns anos para a Madeira voltando a Lisboa em 1913. Embora de família abastadas passa então por algumas dificuldades económicas que o levam a iniciar uma carreira de critico e escritor - para nossa felicidade dado que como veremos lhe devemos a esse respeito algumas obras notáveis.

Em 1918 nomeado para a comissão de reforma do Conservatório propõe a reestruturação completa do curso criando as bases para uma geração de novos compositores que não deixarão de reconhecer em Luís de Freitas Branco um dos seus mentores: Lopes Graça e Joly Braga Santos terão sido os mais notáveis. Em 1918 termina os dez preludios para Piano que dedica a Vianna da Motta. Proponho-vos o Preludio nº 1 por Tatiana Pavlova. Existe também uma gravação por António Rosado da Numérica Ref.: NUM 1143 - Desculpem mas o site da Numérica não dá para colocar um link directo, tem de ser pela referência).

Quando Vianna da Mota é nomeado director do Conservatório escolhe Luís de Freitas Branco para sub-director cargo que viria a desempenhar até 1930 quando abandonou o cargo por este lhe roubar demasiado tempo, não lhe deixando assim disponibilidade para compôr. Desempenharia funções lectivas até 1939 altura em que não resistiu as purgas no conservatório então já dirigido por Ivo Cruz em substituição de Vianna da Motta. Luís de Freitas Branco além de notável compositor foi também um professor e mentor extraordinário tendo deixado no conservatório como já referimos um notável trabalho de base além da sua natureza e carácter ter sido fonte de inspiração e motivação para mais do que um. A este respeito nada melhor do que relembrar as palavras do próprio Joly Braga Santos:

"Ao significado da sua obra notabilíssima, da sua personalidade fecunda e dominadora, há a juntar a verdadeira paixão que possuía pela Juventude, o entusiasmo com que via os novos triunfar, a sua luta diária, durante cinquenta anos, pelo renovamento, pela europeízação da cultura portuguesa, e ainda a generosidade do seu grande coração, sempre disposto a ajudar os que começavam e vivendo com o mesmo entusiasmo as obras dos próprios discípulos, que pretendia sempre colocar à frente das suas."

Em 1924 termina a 1ª Sinfonia que dedica precisamente a seu filho nascido dois anos antes a 10 de Janeiro de 1922. Em 1926 termina a segunda sinfonia desta vez dedicada à sua irmã Maria e em 1926 a Segunda Suite Alentejana (a Primeira Suite Alentejana datava de 1919). Em 1928 termina a Segunda Sonata para Violino e Piano e em 1929 funda a revista "Arte Musical" que viria a dirigir até esta ser fechada 20 anos depois.

Em 1943 termina a sua Terceira Sinfonia dedicada ao seu aluno Pedro do Prado que até 1951 por dirigir os serviços de música da Emissora Nacional lhe garantiu e nos proporcionou excelentes programas radiofónicos. Nessa data Luís de Freitas Branco for também exonerado da referida emissora por razões politicas.

Em 1948 participa na criação da Juventude Musical Portuguesa de quem será o primeiro presidente da mesa da Assembleia Geral e em 1952 termina a sua Quarta Sinfonia que dedica a Joly Braga Santos seu discípulo.

Faleceu a 27 de Janeiro de 1956 em Lisboa após um ataque cardíaco ocorrido uns dias antes. No ultimo ano de sua vida trabalhou no 1º acto da Voz da Terra - uma ópera , um dos sonhos que nunca concretizaria tendo também planeado o regresso à Emissora Nacional para um programa que se deveria intitular "O Gosto pela Música" . Este programa haveria de ver o dia a partir de 1956 sendo liderado pelo seu filho João de Freitas Branco, programa que haveria de durar 29 anos e de que falamos aqui.

Poderiamos ainda falar das suas inumeras canções populares ou da música sacra e também do seu trabalho enquanto autor de vários livros muitos dos quais utilizados no Conservatório Nacional (e um que me encheu de curiosidade - A Personalidade de Beethoven) mas prefiro terminar com música. Para isso nada como o Concerto para Violino e Orquestra uma obra de 1916.

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