quinta-feira, 31 de março de 2011

Extracto do recital de Manuel Abecasis

Tinha-vos falado aqui deste recital. Hoje posso mostrar-vos um pequeno extracto do que aconteceu no Palácio Foz. Espero que gostem tanto quanto eu deste jovem violinista de apenas 13 anos.

sábado, 26 de março de 2011

Alex Ross: The Rest Is Noise: Quoting the audience

Para um sorriso no fim do dia de hoje depois das gargalhadas da semana com aquelas declarações fantásticas do Paulo Futre. Eu também já estou a pensar em fazer uma secção só para chineses talvez com o Lang Lang porque aí "vão vir" montes de visitantes chineses.

Alex Ross: The Rest Is Noise: Quoting the audience

Recital Début Manuel Abecasis

Para quem esteja na área de Lisboa não posso deixar de recomendar amanhã o recital de Manuel Abecasis, o seu primeiro recital a solo, uma estreia portanto. O Recital obviamente e simplesmente nomeado "Début" tem um programa muito interessante que começa com o Barroco com alguns dos andamentos da segunda Partita de Bach (I-IV Allemande, Courante, Sarabande, Gigue) seguindo uma peça do período romântico o Allegro de Kreisler para terminar com um concerto dos finais do século XIX já num romântico tardio uma obra de referência do reportório violinistico: O segundo concerto para violino de Wieniawski em Ré Menor Op. 22.

Se puderem o recital terá lugar no Palácio Foz amanhã Domingo 27 de Março às 16:00 para mais informações  podem consultar a página do evento no facebook. A entrada é livre.

domingo, 20 de março de 2011

Hoje começa a Primavera (apenas às 23.52)

Na verdade normalmente diz-se que é no dia 21 de Março mas como aprendi com a Moura Aveirense é mesmo hoje (dia 20 de Março) às 23:21. Na música há variadíssimas obras que fazem referência a esta estação do ano. Não querendo ser exaustivo listo aqui (com recomendações de audição) algumas para todos os gostos ...

A mais conhecida de todas (pelo menos a mais ouvida) é o Concerto "Primavera" de António Vivaldi.  Podem por exemplo ouvir aqui uma interpretação com Julia Fischer adequadamente nos Jardins Botânicos do País de Gales.

Passando do período barroco ao clássico temos a obra de Haydn também cobrindo as Quatro Estações. Podem ouvir aqui a Primavera de Haydn.

No período romântico temos apenas o embaraço da escolha. Podemos começar com a Sonata Primavera de Beethoven (um artista de certa forma de transição entre o clássico e o romântico) numa interpretação por David Oistrakh. Já bem dentro do romântico temos uma das Canções sem Palavras de Mendelssohn. Trata-se de uma das Canções do Opus 62 mais precisamente o nº 5 e talvez uma das melodias mais conhecidas deste conjunto pelo pianista Cziffra. Ainda no período romântico a Sinfonia nº1 de Schumann também se intitula "Primavera".

Por fim no período mais recente podemos citar a Sagração da Primavera de Stravinsky (neste caso com um bailado com uma coreografia de Maurice Bejart) ou a Primavera das 4 Estações Portenhas de Piazolla.

Concerto da 2da orquestra do You Tube

É hoje e começa dentro de 15 minutos mais ou menos ... Podem ouvir e ver o feed life aqui ... Eu estou a fazê-lo. Estão agora nos bastidores a entrevistar uma oboísta coreana.

No programa Berlioz, Bach, Britten, Mendelssohn, Richard Strauss, Stravinsky entre outros. Programa muito variado e algo díspar mas é uma festa e como tal deve ser entendido. Se puderem vejam, vale a pena para se perceber que:

1) A Música Clássica é uma algo que está vivo
2) A Música Clássica pode e deve ser vivido e apreciado com alegria

Está agora quase a começar a segunda parte ... ah esqueci-me de dizer que está a decorrer em Sidney ...

Grandes imagens, a projecção exterior na Opera House é absolutamente fantástica. estou a escrever isto e a ouvir o Life Stream com Strauss.

Agora depois do final do Concerto para Violino de Tachaikovsky está a começar o Passaro de Fogo de Stravinsky - a ultima composição a ser interpretada no concerto.

sábado, 19 de março de 2011

A nona de Beethoven

Como muitos já sabem esta é a minha obra preferida. Hoje vou poder ouvi-la de novo ao vivo (e também já sabem que eu acho que Ao Vivo é Outra Coisa) sendo que este caso é especial para mim pelo facto do meu filho fazer parte da Orquestra que vai interpretar a obra - possivelmente o melhor presente do dia pai que poderia imaginar.

Na verdade pela primeira vez em Portugal uma Orquestra de jovens, a Orquestra Sinfónica Juvenil vai interpretar a Nona Sinfonia de Beethoven. Será na Aula Magna da Universidade Clássica de Lisboa hoje (dia 19 de Março de 2011) às 21:30 (tenho dúvidas quanto à hora, poderá ser eventualmente às 21h) em todo o caso para quem queira assistir recomenda-se que se chegue cedo dado que a minha previsão é que o recinto estará esgotado ...

A orquestra será dirigida por Christopher Bochmann contando com os coros do Instituto Gregoriano de Lisboa (Maestro Armando Possante) , o Coro da Universidade de Évora (Maestro Ian Mikirtoumov) e o Coro da Universidade de Lisboa (Luís Almeida). Serão solistas Sandra Medeiros (Soprano), Laryssa Savechenko (Contralto), João Queirós (Tenor), Armando Possante (Barítono).

Este concerto está integrado nas celebrações dos 100 anos da Universidade de Lisboa.

terça-feira, 8 de março de 2011

Constança Capdeville (1937-1992)

No Dia Internacional da Mulher resolvi continuar a minha viagem pelos compositores portugueses do século XX e claro que nessa viagem hoje só poderia escolher uma mulher e nessas condições Constança Capdeville foi a nossa escolha por várias razões mas fundamentalmente por ter sido indiscutivelmente um dos grandes vultos da música portuguesa do século XX.

Constança Capdeville nasceu em Barcelona a 16 de Março de 1937, faria portanto anos dentro de dias - uma razão adicional para esta escolha se alguma mais fosse necessária. Iniciou os estudos musicais em Barcelona tendo vivido em Portugal (Caxias) enquanto criança apenas se estabeleceu definitivamente em Portugal em 1951. Estudou então piano no Conservatório Nacional  com Varela Cid e composição com José Cronner de Vasconcelos.

O seu primeiro grande momento enquanto compositora foi certamente a participação no festival de Música da Gulbenkian com a obra "Diferenças sobre um Intervalo".  Creio não errar muito se disser que a principal contribuição de Constança Capdeville foi conseguir aproximar a composição musical do espaço cénico tanto teatral como do bailado. O grupo de teatro que formou Colecviva é um desses projectos mas muito outros houve como por exemplo as suas múltiplas colaborações com o Ballet Gulbenkian (faltam-me aqui referências, se me puderem ajudar agradeço) ou com o jovem compositor António Sousa Dias a música para o bailado de Margarida Bettencourt "Io so una picolla bambinna".

Constança Capdeville distinguiu-se também como notável pedagoga tendo proposto vários projectos de reformulação do ensino artístico e tendo leccionado na Academia de Música de Santa Cecilia na Escola Superior de Música de Lisboa e na Faculdade de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa.

Não poderiamos claro acabar este post sem música. Quem me conhece sabe que a música de Constança Capdeville não é propriamente "a minha chávena de chá". Estive no entanto a ouvir algumas das suas obras para poder recomendar uma. Escolhi como é óbvio uma obra ao meu gosto, não tem que ser forçosamente a mais relevante mas é uma obra que posso dizer com sinceridade que gostava que a ouvissem. Trata-se da obra Libera-me. Já agora fica por ultimo uma frase da própria compositora sobre a sua obra:

"Ao compor Libera me, situava-me no centro da terra enquanto que durante a composição de Que mon chant ne soit plus d’oiseau sentia-me num ponto central do espaço sideral"



Constança Capdeville faleceu a 5 de Fevereiro de 1992 em Caxias perto de Lisboa.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Alex Ross: The Rest Is Noise: Salome everywhere

Do blog The Rest is Noise a constatação que faltava sobre Salomé :-)

Alex Ross: The Rest Is Noise: Salome everywhere

Melhor Pesquisa de Ontem (#6) - Sarabande

Este foi um tema que já abordamos no nosso Dicionário de Temas Musicais especificamente neste post: Sarabande. Conforme poderão ler trata-se de uma forma de dança originária das cortes espanholas da América Latina posteriormente estilizada e incorporada em várias suites orquestrais.



Para instrumento solo são particularmente conhecidas as formas incluídas nas Partitas para Violino e nas Suites para violoncelo sempre de Bach. A titulo de exemplo e para vos dar uma interpretação diferente da que figura no nosso Dicionário fiquem com Mischa Maisky

domingo, 6 de março de 2011

Bedrich Smetana (1824-1884)

Depois de termos falado de Dvorak, amigo e de certa forma discípulo de Smetana achamos que fazia sentido continuarmos na escola checa.

Do ponto de vista cronológico estamos na verdade a recuar um pouco no tempo talvez a um dos primeiros exemplos da procura de uma identidade nacional na escrita musical. Talvez esta expressão não revele tudo o que Smetana pretendia. Mais do que uma identidade talvez procurasse que a música libertasse o espirito e a matéria de uma nação.

Este post é tanto mais adequado quanto Smetana nasceu a 2 de Março de 1824 teria feito portanto anos à uns dias apenas. Nasceu em Litomysl na Boémia no seio de uma família numerosa. O pai era cervejeiro podendo oferecer razoáveis meios de subsistência à vasta prole. Apesar do seu irmão mais velho tocar violino e de portanto existir alguma tradição musical na família o que explica que muito cedo Smetana revelou um enorme talento para o piano toda esta aplicação era essencialmente auto-didacta.

Só bastante mais tarde já em Praga e depois de ter rompido (e reconciliado) com o pai que não desejava que ele seguisse a carreira musical é que Smetana encontrou o seu primeiro professor Joseh Proksch (1844) que também lhe assegurou meios de subsistência ao encontrar-lhe um lugar enquanto professor na casa do Conde Thun.

Certamente inspirado pelo sucesso de Liszt Smetana tentando então uma carreira de virtuoso pianista com uma tournée na Boémia que por razões várias corre bastante mal. Nessas razões estaria certamente incluído o ambiente revolucionário que então se vivia por essas paragens, ambiente que contagiou Smetana que fez parte do Svornost (literalmente significa "unidade") - exercito de cidadãos cujo objectivo era defender Praga de eventuais ataques do Império Austríaco que então dominava a Republica Checa. Escreveu mesmo uma canção sobre poema de Jan Kollar "A canção da liberdade". A revolução durou pouco tendo nesse mesmo ano  (1848) as tropas austríacas ocupado Praga.

Entretanto do ponto de vista profissional Smetana decidiu voltar à composição tendo escrito a Liszt pedindo-lhe apoio financeiro e que editasse um conjunto de obras que lhe enviou e que lhe dedicou. Liszt era conhecido por auxiliar de forma generosa novos artistas tendo respondido-lhe com rasgados elogios mas sem dinheiro. Conseguiu no entanto que as obras de Smetana fossem publicadas na Alemanha.

Esse semi-fracasso foi no entanto muito importante para a auto-estima de Smetana que recebeu assim a confirmação que necessitava sobre o seu talento. Como precisava de meios de subsistência funda a sua própria escola de música tendo a escola obtido razoável sucesso atraindo mesmo Liszt que a visitava frequentemente. Graças a esse sucesso e à consequente estabilidade financeira Smetana pode casar com Katrina (1849). Na verdade este era um romance que já se prolongava à vários anos tendo a familia de Katrina sido fundamental em vários momentos da vida de Smetana. Por exemplo foi graças à mãe de Katrina que Smetana conheceu o seu primeiro professor de composição (de que já falamos) a escola de música que acabamos de referir conheceu o seu melhor período quando funcionou em casa da família de Katrina. Infelizmente este casamento feliz foi abalado por uma série de tragédias pessoais. Das 4 filhas do casal três morreram na tenra infância num espaço de 3 anos e mesmo Katrina faleceu relativamente nova vitima de Tubercolose. Do ponto de vista artístico neste período compôs o Trio para Piano em Sol Menor (a titulo de curiosidade o violinista deste trio é neto de Suk aluno de Dvorak, grande amigo e seu apoiante nas horas mais difíceis). Compôs igualmente a sua única sinfonia Triumf-Symphony dedicada ao casamento de Francisco José com a princesa Elisabete da Baviera.

Não conseguindo obter sucesso em Praga enquanto pianista ou compositor e talvez para esquecer as tragédias pessoais que Praga lhe recordava Smetana decide partir para Gotemburgo. Infelizmente apesar da cidade ser próspera do ponto de vista artístico tinha pouco a ver com Praga e cedo Smetana apercebe-se que o sucesso que não havia obtido em Praga também não o conseguiria em Gotemburgo. Smetana no entanto propoe-se trazer a Gotemburgo uma visão artística mais actual e a verdade é que nessa época consegue estabelecer-se enquanto maestro aproveitando para dar a conhecer ao público os grandes vultos da actualidade. Nesse período Smetana tinha já uma relação de profunda amizade com Liszt, numa relação muito próxima daquela que um professor teria com um aluno o que fez Smetana evoluir rapidamente enquanto compositor. No período de tempo que esteve na Suécia 1856-1861 a sua vida pessoal também mudou racialmente com a morte da sua primeira esposa 1859 e com o encontro com Bettina sua segunda esposa com quem casa em 1860.

Definitivamente de volta a Praga em 1862 compreende que deve aprender checo (na altura a sua língua natural era o alemão que era a língua de ensino na maioria das escolas) o que faz com afinco. Consegue assim aos poucos afirmar-se na sociedade não sem alguns falhanços. Não consegue por exemplo ser nomeado director do Conservatório após o abandono de Kittl mas por oposição é nomeado Director do Teatro Provincial de Praga em 1866 sucedendo no cargo a Nepomuk Mayr com quem mantinha desde 1862 acesa polémica. Aliás essa polémica viria a prolongar-se praticamente até ao fim da sua vida com a oposição que os apoiantes de Mayr sempre mantiveram à direcção que Smetana pretendia dar ao Teatro.

Smetana ficaria oito anos na direcção do teatro (entre 1866 e 1874) os últimos dois anos também como director artístico. Foi nessa altura que tinha na sua orquestra Dvorak (jovem violinista então) tentando conforme era sua intenção promover a música checa o que fez dando a conhecer jovens compositores. Faltava porém para a sua concepção a ópera para a qual não existia qualquer tradição de origem checa. Smetana encarregou-se então literalmente de criar uma ... A primeira das suas óperas "Os Brandenburgos na Boémia" foi estreada em 1866 logo seguida por "A Noiva Roubada" uma das suas obras mais conhecidas e interpretadas nos nossos dias. Em 1868 seguiu-se a terceira tentativa com "Dalibor". Não se pense no entanto que o sucesso destas obras foi imediato. As dificuldades provinham quer do seu antagonismo com Mayr numa luta entre o progresso que Smetana representava mas também numa dimensão musical no conflito pró-anti Wagner. Smetana possivelmente pela sua educação germânica era visto como um defensor da Ópera alemã e em particular de Wagner. Smetana bem se defendia dizendo que as óperas não eram o seguimento de nenhum outro compositor que não ele mesmo. Em 1872 teve mesmo de resistir a um abaixo assinado pedindo a sua demissão resistência que conseguiu muito graças ao apoio de grandes músicos e compositores checos como por exemplo Dvorak. Nesse período conturbado compôs mais duas grandes óperas Libuse (1869-72) e as Duas Viúvas (1873-74).

Porém o destino pregou-lhe mais uma partida e em 1874 foi perdendo gradualmente a audição tendo ficado completamente surdo ainda nesse ano. Era assim impossível manter o seu cargo no Teatro tendo-lhe sido estabelecida uma pensão como troca de se poderem interpretar as suas óperas sem pagamento. Apesar da infelicidade que o atingiu Smetana não perdeu a criatividade e imaginação tendo concluído aquele que é o seu trabalho sinfónico mais conhecido o poema Sinfónico "Ma Vlast" (O Meu País) tendo também nesse período composto dois quartetos de cordas o primeiro dos quais "Z mého života" , "A Minha Vida" é autobiográfico descrevendo a sua surdês progressiva. Ma Vlast é uma obra lindíssima, no extracto que vos propus o segundo andamento "Moldau" é interpretado pela NBC dirigida por Toscanini. Sobre esta obra farei um post especifico dentro de dias.

No fim da sua vida, especula-se que devido aos tratamentos contra a Sifilis de que Smetana padeceria (tema ainda envolto em alguma polémica) Smetana enlouqueceu (este facto é seguro) tendo a família sido forçada a interná-lo nos últimos meses de vida devido ao facto do compositor se ter tornado violento. Smetana faleceu em Praga a 12 de Maio de 1884.

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