segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mafalda Vasconcelos faria 48 Anos hoje ...

A Mafalda, ou a Fá como eu lhe chamava faria hoje 48 anos. Neste blog falei dela por vezes mas menos vezes, muito menos do que as que gostaria de ter feito. A Mafalda gostava de ler o que eu escrevia, fazia questão de comentar no dia seguinte a maioria dos meus posts ou pelo menos alguns e por isso hoje este post é só para ti, como há três anos com a tua lista a Lista da Mafalda, lista que mantenho no teu Ipod rosa e que oiço sempre que quero recordar e acredita que são algumas muitas vezes ...

Lembro-me em particular como ficou preocupada com um comentário num post que me tinha pedido sobre o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Lembras-te Céu o que nos rimos?

Dizia há uns dias num comentário em um outro blog que essas músicas para mim já não são músicas são o som  da tua voz, são o teu cheiro, a memória de locais onde estivemos juntos ou daquilo que nos dissemos, a memória dos dias e do calor ou do frio que fazia. Memórias boas todas ...

Não consigo ouvir Caçador de Mim sem me lembrar do primeiro abraço no Coliseu das horas de espera e do pontapé nas costas ou daquele Concerto dos Trovante. Não consigo ouvir "The Long and Winding Road" sem me lembrar dos Domingos ou Sábados de manhã em que chegavas para, como dizias, namorar com as minhas irmãs quando estava ocupado a estudar uma qualquer cadeira de Electrotecnia do IST. Não consigo ouvir Cigarra sem me lembrar das manhãs em que acordava com esta canção e contigo ao meu lado (shiu ... isto é segredo). Não consigo ouvir Jobim ou mesmo Vinicius sem me lembrar da Luz dos teus Olhos e do que brincávamos com essa canção. Lembro-me quando ainda tínhamos - como dizer - um semi-namoro e dos almoços ao pé da Mocar na 5 de Outubro onde trabalhavas e das nossas visitas à loja da Dargil e dos seus vinis. Lembro-me de procurar e não encontrar Para Não Dizer que Não falei de Flores. Não consigo ouvir Trem das Cores sem me lembrar da sala da casa dos meus pais onde este disco rodou tantas vezes que a pista (do disco o que é que estão a pensar?) já devia estar gasta, ou das canções do Sérgio e dos dias em Sesimbra. Digo que não consigo mas na verdade não quero ...

Gostava de te ter dito tudo isto e tantas outras coisas, gostava de te ter perguntado ainda mais. Sei que não é possível agora mas  posso pelo menos tentar falar contigo desta forma. Já tentei de outras maneiras mas por pudor ou por estupidez bloqueio. Tu dirias com a frontalidade que te conhecia - deixa-te de histórias que tu és mesmo assim, nunca dirás nada ... e tinhas provavelmente razão. Não obstante com a minha teimosia (obstinação era a tua palavra) tentarei. Talvez ainda assim me consiga libertar um pouco da angústia do que ficou por dizer ou fazer.

Tínhamos combinado que quando fizéssemos 25 anos de casado iríamos a Edimburgo de novo. Porque razão nos pegamos tanto a uma data e não o fizemos antes? Porque razão depois de termos sabido da tua doença não te dei mais tempo? Sei que querias assim - que não houvesse mudanças na nossa rotina - que querias encarar com naturalidade a morte que te esperava. Sei disso mas no entanto não posso deixar de pensar porque razão não te consegui (ou não tentei) convencer-te do contrário. Teria mudado alguma coisa? Não sei, provavelmente não. Mas que gostaria de ter tentado isso gostaria.

Encontrei ontem por acaso uma agenda do teu pai do ano em que nasceste. No dia 28 de Novembro de 1963 estava simplesmente marcada a entrada - "Nasceu a menina". Assim mesmo sem nome - ainda deveria estar por decidir penso.

Hoje há uma missa para ti, para o teu pai, para nós como todos os 28 do mês na Igreja de que gostavas. Depois estaremos juntos em família e tu estarás comigo nestas e em outras memória. Em dia de Fado lembro-me também ... De quem eu gosto nem às paredes confesso e da nossa brincadeira (nem à tua mãe dizia eu ... ). Choro agora mas não te preocupes; tu sabes que tenho a lágrima fácil.

Abreijos do teu Nã (nome que detestava e que só tu podias utilizar ... )

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