quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Votos de um Excelente 2009 e uma mensagem "curativa"

Sabemos por tudo o que não podemos deixar de ouvir que 2009 não vai ser um ano famoso do ponto de vista económico. Ouvimos também alguns economistas dizer que se trata já de um problema do foro psicológico. Os economistas como os marketeers e os treinadores de futebol estão naquelas categorias profissionais aborrecidas porque todos acham que podem fazer melhor do que eles: os chamados treinadores de bancada.

Se não passa na cabeça de ninguém dizer a um piloto de Boeing "ora agora chega-te para lá que eu acho que conduzo esta coisa melhor do que tu" passa-nos na cabeça achar que todos os anteriores não estão bons da mesma.

Claro que ajuda o facto de entre eles poucas vezes estarem de acordo mesmo sobre simples factos do quotidiano mas isso já é outra história. Para aqui o que interessa é que vamos acreditar que todo este problema, toda a crise é apenas psicológica e é nesse espírito que vos vou tentar dar uma infusão de esperança, com música claro está.

A receita é simples: A Valsa.

Sigam os seguintes passos:
1) Escolham um parceiro com quem dançar (uma vassoura dá claro mas no fim dar um beijinho à dita é sinceramente menos agradável)
2) Escolham a vossa valsa preferida. Qualquer uma serve. Eu recomendo para melhores resultados o Danúbio Azul, A Valsa do Imperador ou a Valsa das Flores.
3) Dancem. Podem voltar ao passo 2 para mudar de valsa se quiserem.
4) Repitam o passo 3 até não poderem mais. Penso que estarão curados (ao fim de duas horas) do cepticismo se tiverem honestamente valsado sem pensar em mais nada (incluindo o facto da vassoura poder ser maior ou mais pequena ou estar a pisar-vos o pé)

Podem voltar a este tratamento sempre que quiserem. Não se conhecem efeitos secundários a não ser um certo estado de euforia. Para os mais novos recomenda-se prudência pelos efeitos de potencial habituação.

Não funciona? Ora bem não é verdade tenho aqui a prova. Pessoas a valsarem em Viena o ano passado com a transmissão do concerto do ano novo.

Para a receita ficar completa aqui ficam os links para as três valsas recomendadas. Dancem em sequência para potenciar o efeito.

Danúbio Azul
Valsa do Imperador
Valsa das Flores

Bom ano de 2009! E já sabem, High Hopes!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Glenn Gould (1932-1982) - O Escritor (parte I)

Este é mais um post na nossa sequência sobre Glenn Gould. Podem ler o anterior post em que falávamos das suas gravações aqui.

Glenn Gould além da sua actividade enquanto pianista era também um notável escritor. Não só acerca de música chegando mesmo à poesia. Aliás Gould dizia que se não fosse músico seria poeta. Do que escreveu e do que tenho vindo a conhecer ao escrever esta série de posts hoje vou-vos traduzir um artigo interessantíssimo que Gould escreveu para a revista High Fidelity em Fevereiro de 1974. O artigo é bastante longo porém creio que vale a pena ganharem uns minutos do vosso tempo a lerem-no dado que não só ficam a saber muito sobre a forma como Gould pensava, como ainda podem rir um pouco (as perguntas e o diálogo que ele imagina têm por vezes muita piada), como adicionalmente ainda ganham uma forma completamente diferente de percepcionar a arte (para além da música).

Claro que nós, que gostamos de música ao vivo discordamos absolutamente de uma parte da teoria de Gould mas não obstante - como diria Bernstein - Gould é suficientemente interessante e intelectualmente honesto para que decidamos publica-lo :-)

Porque este artigo é muito longo dividimos-lo em várias partes. Esta é a primeira parte. O original em Inglês pode ser lido aqui onde podem encontrar para além deste texto muitos outros documentos interessantes escritos por e sobre Gould, nitidamente um site a visitar para aprofundarem o vosso conhecimento sobre este génio da música. Eu já o fiz e garanto-vos que tenho agora uma ideia completamente diferente sobre ele.

Em alguns pontos deste artigo introduzimos alguns comentários nossos quer para discordar de Gould (desculpem, mas não resistimos) quer para explicar o contexto e tornar o texto compreensível. Estes comentários estão claramente indicados por estarem escritos assim. Por outro lado a tradução que fiz procurou sempre que possível ser fiel ao nível de linguagem utilizado, coloquial por vezes erudito noutras. O artigo original tem essa dicotomia que procuramos manter embora em português não resulte tão bem eventualmente porque não existe esse tipo de tradição na nossa linguagem escrita e certamente também por óbvia falta de talento por parte do tradutor.

Glenn Gould entrevista Glenn Gould sobre Glenn Gould - High Fidelity, Fevereiro 1974.

Glenn Gould (como jornalista : g.g.): Sr. Gould Creio que - perdoe-me o facto de estar a ser tão directo - creio que tem a reputação de ser uma "noz dificil de quebrar" no que diz respeito a entrevistas?

GLENN GOULD (como ele próprio : G.G.): Nunca ouvi tal coisa!

g.g.: Bem na verdade é o tipo de rumor que nós jornalistas apanhamos de fontes espalhadas por aí, mas quero assegurar-lhe que estou pronto a retirar qualquer pergunta que considere menos apropriada.

G.G.: Oh, não consigo antever qualquer problema desse tipo.

g.g.: Então para tudo ficar claro desde já, há algum tema que não possamos de todo tratar?

G.G.: Bem certamente não consigo pensar em nenhum tema fora de limites. Música à parte claro.

g.g.: Bem Mr. Gould eu não quero voltar atrás com a minha palavra. Sei que a sua participação nesta entrevista nunca foi estabelecida contratualmente, mas foi firmada com um aperto de mãos.

G.G.: Figurativamente claro está.

g.g.: Claro, e assumi que passaríamos uma grande parte do nosso tempo debatendo assuntos de índole musical.

G.G.: Bem, acha que é essencial? É que sabe a minha visão pessoal de entrevista - e como eventualmente sabe fiz umas quantas - é que a matéria mais relevante, mais inspiracional normalmente provem de áreas não relacionadas com a especialidade do entrevistado.

g.g.: Por exemplo ?

G.G.: Bem por exemplo quando preparei documentários para rádio entrevistei um teólogo sobre tecnologia, um hidrógrafo acerca de William James, um economista acerca de pacifismo e uma dona de casa acerca do mercado de arte.

William James (1842-1910) foi um psicólogo e filósofo americano pioneiro na psicologia da educação, experiências religiosas e misticismo.

g.g.: Mas seguramente também entrevistou músicos acerca de música?

G.G.: Ah sim, claro. Normalmente para os pôr à vontade à frente do microfone. Mas foi muito mais interessante falar com Pablo Casals sobre por exemplo o conceito de Zeitgeist que, claro, não está relacionado com música.

Pablo Casals sabeis quem é certamente. Zeitgeist: O espírito do tempo ou de uma geração. Poderia também ser uma personagem da Marvel Comics ...

g.g.: Sim ia precisamente arriscar esse comentário.

G.G.:Ou Leopold Stokowski acerca da possibilidade de viagens interplanetárias, o que é - penso que concordará - não obstante Stanley Kubrick - uma grande digressão.

Leopold Stokowski (1882-1970) grande maestro conhecido pelo seu espírito dinâmico e grande esforço na obtenção de um som perfeito nas gravações orquestrais. A referência a Kubrick está obviamente relacionada com o filme 2001 - Odisseia no Espaço em que viagens interplanetárias e música ficaram intimamente relacionadas com a cena da nave a acostar ao som de Strauss entre outros ...

g.g.:Bem isto na realidade coloca um problema Mr. Gould, mas deixe-me tentar colocar-lhe a questão de forma mais assertiva. Existe um tema que gostaria particularmente de discutir ?

G.G.: Bom, na realidade não pensei muito nisso, mas assim de repente poderíamos falar da situação política no Labrador ?

Labrador - Estado Federal do Canadá. Não faço ideia do problema que existia na altura, ou sequer se existia problema. Eventualmente a junção com Newfoundland poderia ser discutida na altura.

g.g.: Estou certo que isso poderia produzir um diálogo estimulante, Mr. Gould, mas penso que devemos ter em atenção que High Fidelity é uma revista essencialmente para os Estados Unidos da América.

High Fidelity : Revista impressa entre 1951 e 1989 cobrindo equipamento e assuntos relacionados com música.

G.G.: Sim claro. Nesse caso que tal os direitos aborígenes no Oeste do Alaska?

g.g.:Sim. Não quero certamente ignorar temas tão interessantes quanto esses em termos de audiência porém dado que High Fidelity é essencialmente orientada para uma audiência interessada em música deveríamos pelo menos começar a nossa conversa com um tema relacionado com as artes.

G.G.: Oh, certamente. Que tal então examinarmos a questão dos direitos aborígenes reflectidos nos estudos etno-musicais realizados em Point-Barrow?

g.g: Bem tenho de confessar que esperava uma linha mais convencional por assim dizer, Mr. Gould. Como estou certo que sabe, a questão quase obrigatória que diz respeito à sua carreira é a controvérsia concerto-vs-gravação, e penso que devemos pelo menos tocá-la.

G.G.: Bem não tenho qualquer objecção em repsonder a umas quantas questões sobre esse tema. No que me diz respeito envolve primariamente questões morais mais do que musicais portanto esteja à vontade.

g.g.: É muito simpático da sua parte aceder a essa questão. Vou tentar ser breve então para que possamos cobrir outros assuntos.

G.G.: É justo.

g.g.: Bem foi citado por várias vezes dizendo que o seu envolvimento com a gravação - com os media em geral - representam um envolvimento com o futuro.

G.G.: Está correcto. Até o disse nas páginas deste excelente jornal.

g.g.: Exacto. E disse também que ao invés a sala de concerto, o palco de recital, a casa de ópera representa o passado - um aspecto do seu passado em particular, talvez, mas também o passado da música em geral.

G.G.: É verdade, embora deva admitir que o meu único contacto com uma opera foi através de uma inflamação da traqueia que apanhei quando toquei no velho Festspielhaus em Salzburgo. Como sabe era um edifício bastante ventoso e eu ...

g.g.: Bem talvez possamos discutir a sua saúde num outro momento mais oportuno Mr. Gould mas ocorre-me que - e espero que me desculpe por dizê-lo - existe algo inerentemente egoísta acerca de opiniões deste tipo. Afinal decidiu deixar todas as interpretações em público há quanto tempo - dez anos?

G.G.: Nove anos e onze meses na data deste número precisamente.

g.g.: E admite que a maioria das pessoas que optam por mudanças radicais na sua carreira mantêm a noção de que, embora relutante, o futuro está do lado delas?

G.G.:É encorajador pensar assim, claro, mas tenho de contrariar a utilização do termo "radical". É certo que dei o salto baseado na convicção que dado o estado da arte, uma imersão total nos media representaria um desenvolvimento lógico - e continuo convencido disso. Mas muito francamente muito embora gostemos todos de equacionar formulas "passado-futuro" os principais patrocinadores de tais convicções, as principais motivações dessas mudanças radicais para utilizar o seu termo, estão normalmente relacionadas com uma situação tão prosaica como a resolução do desconforto do presente.

g.g.: Não tenho a certeza de ter apanhado o comboio, Mr. Gould.

G.G.: Bem por exemplo, deixe-me sugerir que a motivação mais forte para a invenção do expectorante tenha sido uma garganta dorida. Claro que depois de inventado o expectorante poderíamos especular o quanto a invenção representaria o futuro e a garganta dorida o passado, mas duvido que nos sentíssemos inclinados a pensar nesses termos enquanto a infecção e a dor estivessem presentes. Não será preciso dizer que a minha inflamação da traqueia em Salzburgo, uma medicação desse tipo ...

g.g.: Desculpe-me Mr. Gould, estou certo que será louvado pelas suas desventuras em Salzburgo mas preciso de ir um pouco além neste ponto. Devo entender então que a sua retirada dos palcos de concerto e subsequente envolvimento com os media foi motivado pelo equivalente musical de uma garganta dorida?

G.G.: Acha isso errado?

g.g.: Bem para ser totalmente franco, acho isso absolutamente narcisista. E para mim é também completamente oposto à sua declaração de que objecções morais estiveram na base da sua decisão.

G.G.: Bem não vejo qualquer contradição - excepto se na sua opinião o desconforto deva ser visto com uma virtude positiva.

g.g: As minhas opiniões não são o objecto desta entrevista Mr. Gould mas para responder à sua questão, o desconforto em si não é o problema. Acredito simplesmente que um artista que mereça esse epíteto deve estar preparado para sacrificar o seu conforto pessoal.

G.G.: Com que fim?

g.g.: No interesse da preservação das grandes tradições da experiência musical e teatral, de manter a nobre responsabilidade do artista em relação à sua audiência.

G.G.: E não lhe parece que uma sensação de desconforto, de não à vontade seria a melhor conselheira tanto para o artista como para a audiência ?

g.g.: Não apenas sinto que o Sr., Mr Gould ou nunca se permitiu saborear ...

G.G.: A gratificação do ego ?

g.g.: Ia dizer o privilégio de comunicar com uma audiência ...

G.G: Numa base de poder ?

g.g.: de um proscênio no qual a sua humanidade está completamente visível, não editada e não adornada.

G.G.: Podia pelo menos ter a vantagem do fraque, talvez?

g.g.: Mr. Gould, penso que não deveríamos deixar que este diálogo degenerasse numa simples brincadeira ociosa. É óbvio que nunca saboreou a alegria de uma relação um-para-um com um ouvinte.

G.G.: Sempre pensei que, do ponto de vista de gestão, uma relação de dois mil e oitecentos para um era o ideal numa sala de concertos.

g.g.: Não quero discutir estatísticas consigo. Tentei colocar candidamente a questão e ...

G.G: então pronto. Tentarei responder com igual candura. Parece-me que se vamos ser alvo de uma guerra de números então vou ter que argumentar pela relação de zero-para-um entre audiência e artista e é aí que a objecção moral entra.

g.g: Receio que não tenha entendido, Mr. Gould. Importa-se de explicar de novo?

G.G.: Penso simplesmente que ao artista deve ser concedido tanto para o seu bem como para o do seu público (deixe-me que lhe diga desde já que não estou nada satisfeito com palavras como público e artista: Não estou de acordo com a hierarquia subjacente a essa terminologia) que lhe deveria ser dado o direito ao anonimato. deveria poder operar em segredo como se não estivesse relacionado ou melhor como se não estivesse consciente das necessidades presumidas do mercado necessidades essas que dada suficiente indiferença por um suficiente número de artistas simplesmente desapareceriam. E tendo desaparecido o artista abandonaria então o seu falso sentido de responsabilidade pública e o seu público prescindiria do seu papel de servil dependência.

g.g.: E atrevo-me a dizer para nunca mais se encontrarem!

G.G.: Não, encontrar-se-ão mas num nível diferente, com muito mais significado do que seria possível num palco.

Fim da primeira parte.
Podem ler a segunda parte aqui .

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Os Bailados - O Lago dos Cisnes

Tendo terminado as sinfonias e sendo certo que queremos guardar para o fim os concertos para piano e violino resolvemos hoje começar a falar sobre a música para bailado composta por Tchaikovsky.

Vamos começar este périplo pelo Lago dos Cisnes que contém, aviso já, uma das minhas valsas preferidas.

Este bailado (Op. 20) foi o primeiro dos três grandes bailados a ser composto por Tchaikovsky tendo sido concebido entre 1875-1876.

A base para a história do bailado é fonte de grande controvérsia (e terá sido uma das razões pelas quais foi recebido com frieza na sua estreia em 27 de Fevereiro de 1877 no Teatro Bolschoi em Moscovo. Na verdade a história de base é alemã embora existam fontes que consideram que ao contrário a base é um conto popular russo. Não vamos aqui esclarecer este assunto até porque temos de acabar este post ainda hoje.

O certo é que o ballet foi recebido com frieza. Apesar disso e até ao falecimento de Tchaikovsky foi interpretado mais de 40 vezes o que prova que apesar de tudo havia quem acreditava no valor da obra.

Pouco tempo antes da sua morte Tchaikovsky teria concordado em fazer uma revisão ao bailado porém a sua morte prematura não o permitiu. Assim a grande revisão do Ballet e a partitura sobre a qual repousam uma grande parte das performances a que assistimos é da autoria de Riccardo Drigo no que diz respeito à música e a Petitpas e Ivanov no que diz respeito à coreografia.

Tchaikovsky apreciava imenso este maestro que considerava um especialista na arte do ballet. Aliás convém notar que Tchaikovsky foi o primeiro compositor "sinfónico" a compor música para um Ballet esta tarefa sendo até então um "monopólio" de compositores especializados. Contrariamente ao que aconteceu com os seus dois outros bailados não existem neste caso notas que indiquem que Tchaikovsky tenha recebido instruções precisas sobre o tipo de música a compor. Isto e uma certa incompetência do coreógrafo (Julius Wentzel Reisinger) explica a razão pela qual a primeira versão do ballet apesar da excelência da música foi considerado fraco.

As alterações efectuadas por Petitpas, Ivanov e Drigo foram substanciais e nunca foram aprovadas por Tchaikovsky com excepção de algumas interpolações feitas por Drigo. No entanto a julgar pela reacção do compositor e pela confiança que este depositava no maestro podemos estar relativamente seguros que ele as teria aprovado.

Acto 1 - Num parque à frente de um Castelo.

O príncipe Siegfried, herdeiro ao trono tem de escolher uma noiva no baile que comemora o seu aniversário. Por não desejar casar sem amor foge para a floresta vendo um grupo de cisnes vai em sua perseguição.

Para ilustrar este acto vejam aqui a Valsa , a tal que é uma das minhas preferidas ...

Acto 2 - No meio da Floresta na orla de uma clareira

O príncipe prepara-se para matar um dos cisnes mas à ultima hora não consegue porque se apercebe que a criatura é mais mulher que cisne. Apaixonado ambos dançam e o cisne diz-lhe então que é a Princesa Odete que um feiticeiro transformou em mulher à noite e cisne de dia.

O feiticeiro então aparece e Siegfried que matá-lo mas Odete não deixa dizendo que se o matar antes do feitiço ser desfeito este será irreversível.

Para ilustrar este acto vejam aqui Rudolf Nureyev e Margot Fontaine.

Acto 3 - De novo no Castelo agora no salão de baile

Von Rothbart - o feiticeiro - leva a sua filha Odile ao baile tentando fazê-la passar por Odette e assim evitar que o feitiço se desfaça fazendo o príncipe jurar amor à sua filha. O esquema funciona, Siegfried pensando que está a falar com Odette jura o seu amor e promete casa com ela. O feiticeiro mostra então a Siegfried o seu trágico erro.

Para ilustrar este terceiro acto vejam aqui o seu inicio.

Acto 4 - Mesma cena que no Acto 2

Siegfried volta ao lago e encontra Odette onde ela o desculpa do erro. Von Robbart aparece tentando separá-los. Os dois preferem afogar-se no lago a serem separados. O Feiticeiro perdendo os seus poderes morrer também. Notem que existem algumas versões com fins menos trágicos ...

Para ilustrar este quarto acto vejam aqui o fim do acto e do ballet.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Pesquisas interessantes da semana (#16)

Nota prévia: Como podem ver adicionamos (á experiência) um pequeno "widget" da Amazon com sugestões de discos de música clássica. Por enquanto a selecção está automática nos "deals" ou seja nos items fortemente descontados do preço de tabela. Algumas das sugestões que passam, enfim, não posso dizer que sejam do meu inteiro agrado mas outras são bastante interessantes.

Enfim espero que se divirtam com este conteúdo adicional. Antes que perguntem se ganho alguma coisa com isso, sim ganho uma percentagem se efectivamente adquirirem um produto ... Sou cliente da Amazon ainda antes de ser o gigante que é hoje (na altura ainda não existia a loja uk) . Posso dizer-vos que até hoje nunca tive uma má experiência e por isso não me incomoda absolutamente nada fazer esta recomendação, tanto mais que os produtos que aqui vão passar por um lado são relevantes (bem alguns são :-)) e por outro lado são boas oportunidades relativamente ao preço ...

Quanto às pesquisas interessantes este post vai também passar a incluir uma pequena nota sobre quantos visitantes tivemos semanalmente, de que países e localidades, enfim algumas trivialidades por certo irrelevantes mas a que acho piada.

Esta semana tivemos 523 visitas de 14 países diferentes. Como acontece desde há uns meses o Brasil é o país donde vêm mais visitantes, 278 contra 219 de Portugal e 5 de França. No que diz respeito a cidades Lisboa com 94 , São Paulo com 51 e o Porto com 34 foram as três primeiras. Das 523 visitas que mencionei houve um total de 343 que encontraram o nosso blog a partir de pesquisas. Destas 343 pesquisas seleccionei as seguintes que me pareceram mais interessantes:

qual o nome de um padre brasileiro de musica clássica ? : Embora existam mais exemplos de padres que no Brasil foram compositores certamente refere-se esta pergunta ao Padre José Maurício Garcia de que falamos aqui.

musica erudita maestros: Para começar vejam a nossa lista de grandes maestros aqui. Se gostarem de algum e não encontrarem nada deste vosso blog digam-nos ... Poderemos certamente escrever um post especial sobre ele.

o que é um nocturno em termos de musica: Nocturno é um termos que se refere a uma composição (qualquer tipo de composição) que se refira à noite. Os primeiros Nocturnos a serem denominados com este nome foram compostos pelo Irlandês John Field de quem já falamos aqui.

como ser um jascha heifetz : Bem com algum talento e com muito esforço, nas palavras do próprio aliás repetidas por inúmeros virtuosos pelo mundo inteiro. O talento é importante mas apenas com ele nada se consegue. Por outro lado com muito trabalho mesmo pessoas com menos talento conseguem com trabalho e inteligência encontrar a sua própria voz e serem bons músicos. Sobre o próprio Heifetz podem ler a sua biografia aqui.

hideaki oshiro musica concerto pianista: Falamos neste blog por duas vezes deste pianista. Em ambos os casos quando referíamos um recital que teve lugar em Carnaxide. Este pianista japonês foi laureado do prémio Vianna da Motta tendo-se doutorado em piano com Sequeira e Costa na Universidade de Kansas nos Estados Unidos.

luis conceição recital de piano : Temos falado por vezes de Luís Conceição nas nossas recomendações de quinta-feira. Procuramos saber um pouco mais deste pianista na net mas não tem uma página pessoal ou pelo menos não a encontramos. Se alguém tiver conhecimento de mais informação deste (ou de outros artistas portugueses)diga-nos porque obviamente teremos o maior prazer em divulgar aqui. Pelo que pesquisamos, a menos que seja coincidência de nomes, sabemos também que Luís Conceição é igualmente compositor e director da Academia de Música de Tavira.

musica de Beethoven em 1970 : 1970 ? Bom primeiro não percebi a questão mas depois reparei que esse ano corresponderia ao seu ducentésimo aniversário. Se a questão é saber o que se organizou na altura para a comemoração deste aniversário é efectivamente uma boa questão. Não faço a mínima ideia ... E também não consegui encontrar na net, nem sequer na Casa Beethoven de Bona aqui. Se alguém conhecer um local onde se possa obter um programa das celebrações desse aniversário ... Entretanto podemos já começar a preparar 2020 com os 250 anos ou então um pouco depois em 2027 os 250 do seu falecimento.

E o prémio perplexidade da semana vai para "quem diz que nao,quem diz que nao,quem nao vier,nao gosta do sao joao" ... Certo. Eu gosto do S. João que fique registado :-)

sábado, 27 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Sinfonia nº 6 (Si menor) - Op. 74

Esta sinfonia termina a série de posts sobre as sinfonias de Tchaikovsky. Podem ler o artigo sobre a quinta sinfonia aqui.

Esta sinfonia foi composta entre Fevereiro e Agosto de 1893 tendo sido a ultima obra publicada do compositor (as restantes são obras publicadas após a sua morte). A Sexta Sinfonia foi também a ultima obra que o compositor dirigiu, precisamente a estreia da mesma em São Petersburgo no dia 28 de Outubro de 1893, uns escassos dias antes da sua morte. A sinfonia é dedicada ao seu sobrinho Vladimir Davydov.

As circunstâncias que a envolvem, a própria característica da composição - sombria quase sempre com explosões de fúria e de grande lirismo só poderiam levar a imaginação humana a atribuir-lhe um significado quase autobiográfico.

Os poucos factos que se conhecem e que nos podem ajudar na procura de uma verdade mais factual ainda que porventura menos romântica são relativamente escassos. Sabe-se que o próprio compositor a nomeou de "Pathétique" (apesar de ter sido aparentemente sobre proposta do irmão Modest). A palavra portuguesa "Patética" no seu uso actual não traduz a intenção do compositor que nos queria dar com esta indicação a noção de que esta era uma obra para ser ouvida "com o coração", uma obra que pretendia desencadear emoções fortes.

A segunda pista que temos quanto ao "programa" de Tchaikovsky relativo a esta peça pode encontrar-se numa carta que enviou ao seu sobrinho explicando

"Sabes que destruí uma sinfonia que estava a compor este Outono. Durante a minha viagem tive uma ideia para uma outra sinfonia, desta vez com um programa, mas um programa que vai ser um enigma para todos - Deixa-los adivinhar; a sinfonia terá o nome "Sinfonia com Programa" ... O Programa em si mesmo estará cheio de subjectividade e chorei bastantes vezes na minha viagem enquanto a compunha mentalmente.[...]"

Como podem ver por esta carta Tchaikovsky chegou a pensar num outro nome para a sinfonia mas resolveu aceitar a sugestão do irmão dado que este outro nome apenas iria chamar a atenção para o programa subjacente que não pretendia revelar pelo menos não no imediato. Embora em quatro andamentos esta sinfonia tem como elemento distintivo ultimo andamento lento.

O primeiro andamento (Adagio—Allegro non troppo) em Si Menor é uma verdadeira montanha russa de emoções cheia de tensão de passagens sombrias lentas, outras igualmente sombrias mas rápidas que formam um conjunto notável com duas belíssimas melodias sobretudo o segundo tema do desenvolvimento. Podem ouvir aqui a primeira parte do primeiro andamento e aqui a segunda parte.

O segundo andamento (Allegro con grazia) em Ré Maior é uma extraordinária melodia que contrasta com o primeiro andamento e que serve de contraponto à tensão exercida. É um movimento relativamente alegre no tom mas que nunca deixa a sensação do destino que se pode abater a qualquer instante. Acalma mas não o suficiente para nos tranquilizar completamente. Podem ouvir aqui este segundo andamento.

O terceiro andamento (Allegro molto vivace) em Sol Maior é uma espécie de marcha sem no entanto ser verdadeiramente triunfante, tal como o segundo andamento poderia ser uma alegre valsa sem nunca realmente o ser, nem pelo tempo que não é exactamente o de uma valsa nem pelo espírito. Numa interpretação pessoal diria que Tchaikovsky nestes dois movimentos procura transmitir-nos metaforicamente a instabilidade, o frágil equilíbrio em que repousa a nossa felicidade e o todo poderoso e tenebroso destino ao qual sempre nos abandonamos. Podem ouvir aqui este andamento cheio de energia e muito especial. Aliás este andamento acaba de tal forma que muitas vezes as pessoas acreditam que a sinfonia acabou.

O quarto andamento (Finale. Adagio lamentoso) em Si Maior retoma assim novamente o tom lúgubre do primeiro andamento. A vitória do tenebroso destino, quando se pensava a vitória. As partituras para Orquestra são bastante originais dado que a melodia é partilhada pelos primeiros e segundos violinos (efeito aliás reproduzido noutros naipes). Podem ouvir este quarto andamento aqui.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

"As melhores músicas clássicas"

Quando começamos este blog tínhamos por intenção (e ainda temos) tornar mais fácil a qualquer pessoa gostar de música clássica. Resolvemos nessa altura começar cronologicamente apresentando vários compositores e várias obras.

A questão é que passado um ano quem agora chegue a este blog já apanha o comboio em andamento. Assim pensamos neste fim de ano fazer um apanhado global não só do que já se passou como também do que se vai passar daqui para a frente e vamos fazer-lo sobre a forma de uma lista.

O critério para esta lista não foi apenas de representatividade mas também de "facilidade" de audição enquanto introdução. Procurei também que todos os géneros estivessem representados desde a música instrumental à vocal, sinfónica, solo e de câmara, laica e religiosa. Houve assim muitas peças suprimidas e muitos compositores que gostaríamos de ter incluído mas que não pudemos para manter esta lista numa dimensão razoável ... Só com Bach, Beethoven, Mozart e Mendelssohn por exemplo daria para fazer uma lista completa ... Mas comecemos pelo período Barroco com o nosso top 10.

Do período Barroco
  1. Bach - Concertos de Bradenburgo.
  2. Bach - Partitas para Violoncelo Solo
  3. Bach - Paixão segundo S. Mateus
  4. Vivaldi - As Quatro Estações
  5. Vivaldi - L´Estro Armónico
  6. Handel - Water Music
  7. Handel - Messiah
  8. Corelli - "12 Concerti Grossi"
  9. Purcell - Dido & Aeneas
  10. Telemann - Concerto para Viola em Sol Maior
Ao escolher apenas 10 sabemos que estamos a excluir imensas obras e compositores de referência (por exemplo falta Pergolesi e a sua Stabat Matter, falta todo o Barroco Francês, falta Carlos Seixas, falta Montverdi). É uma escolha que como disse se baseia no duplo critério de representatividade e variedade do género, de facilidade de audição. O que vamos procurar fazer no detalhe deste post é a partir destes exemplos convidar-vos para explorar tudo o que falta neste resumo ...

Glenn Gould (1932-1982) - As Gravações

Este post é o quarto numa sequência de posts que temos vindo a fazer sobre o grande pianista canadiano. No anterior tínhamos falado da sua vertente de artista multimédia aqui.

Tendo deixado de fazer concertos no auge da sua carreira enquanto pianista Glenn Gould dedicou uma parte substancial da sua vida artística gravando obras, tendo algumas interpretações ficado para a história da música.

As variações Goldberg de que já falamos (e uma das poucas que Gould repetiu) são uma dessas gravações indispensáveis, ainda que por vezes polémicas.

Além das gravações em Audio muitos programas de televisão (alguns dos quais tinham um conceito do próprio Glenn Gould) são também absolutamente históricos. Por exemplo em 1966 em 18 de Maio de 1966 com Yehudi Menuhin em que toca obras de Bach, Schoenberg e Beethoven de que felizmente podemos ter no You Tube uma amostra aqui (Bach) ou aqui (Schoenberg com um interessantíssimo diálogo entre Menuhin e Gould)

Em 1970 também na CBC-TV concebe o programa "O Ouvinte Bem-Temperado" ou em 1974 a série de quatro programas para a ORTF - "Os caminhos da música".

Das suas gravações obviamente as de Bach assumem especial relevância embora as suas interpretações de Schoenberg, Beethoven e Mozart por exemplo também sejam relevantes pela sua originalidade. Embora por vezes possa parecer que quando Gould toca se ouve sempre Bach pessoalmente penso que isso está mais na nossa cabeça do que na interpretação propriamente dita.

Gould dizia aliás que se um dia fosse para uma ilha deserta e lhe deixassem levar as obras de um uníco compositor este seria Bach sem dúvida. Curiosamente e como já referimos uma das suas interpretações de Bach está neste momento numa das naves Voyager em pleno espaço sideral como uma das representantes do génio humano ... Creio que é uma homenagem adequada.

Mas ainda a este propósito dizia Bernstein que naquele seu famoso episódio que já recordamos neste blog (o concerto de Brahms) que Gould era um interprete que "pensava", interpretava de forma pessoal. É claro que isto nos leva também à definição que fizemos da própria música clássica como sendo uma música exacta em que o compositor explicita exactamente o que pretende. E como essa definição (a de precisão) é do próprio Bernstein torna-se fácil perceber a razão pela qual ambos não podiam concordar. Mas fica também claro que em Gould, em todas as suas gravações não é Bach que ouvimos, é Gould é a sua visão pessoal sobre cada um dos compositores que interpretou.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Recomendações de Música Clássica ao Vivo

Neste período entre o Natal e o Ano Novo não existem infelizmente muitos concertos que vos possa recomendar, na verdade a maioria da actividade concentra-se após o Ano Novo. Mesmo assim algumas poucas recomendações ...

Começando no Algarve no dia 27 teremos um recital de piano e violino no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Loulé pelas 16:30. Trata-se de um Concerto Conversado com o título - "Um Violino Português" com António Ferreira (Piano) e Tiago Neto (Violino). Serão interpretadas obras de Vianna da Motta, António Fragoso, Frederico de Freitas, Cláudio Carneyro e Croner de Vasconcelos. A entrada neste concerto pedagógico Antena 2 é livre.

Em Lisboa na Escola Superior de Educação Almeida Garrett - ESEAG teremos no dia 29 às 19h um recital de Piano por Manuela Gouveia. Será apresentado o disco "Sonatas" com obras do compositor português Carlos Seixas.

Na invicta cidade do Porto teremos o «Grande Concerto de Ano Novo» pela Festival Orchestra e Strauss Ballet Ensemble na Casa da Música do Porto do dia 27 ao dia 30 pelas 21:30. Serão interpretadas obras de Strauss claro.

Ainda no Porto integrado no ciclo "Concertos Promenade 2008/2009" teremos no Coliseu do Porto um concerto intitulado "Música no Circo" no dia 28 às 11:30 . Neste concerto terão a oportunidade de ouvir a Banda Sinfónica Portuguesa dirigida pelo Maestro Francisco Ferreira. Preçosentre €5 e €10.

Voltando à Madeira após umas semanas de interregno não podíamos deixar de mencionar um concerto de homenagem ao 90º Aniversário do Nascimento de Leonard Bernstein com a OCM dirigida por Rui Massena. Será no dia 29 de Dezembro às 21h no Casino da Madeira.

Ainda na Madeira continuamos a ter a Orquestra de Bandolins da Madeira na Igreja Inglesa dirigida por Eurico Martins no dia 26 de Dezembro às 21h. A entrada é Livre.

Bach - Oratória de Natal (BWV 248)

Por sugestão de uma nossa leitora voltamos hoje ao barroco para terminar a celebração deste dia de Natal. E terminamos esta celebração com a Oratória de Natal de Bach (BWV 248).

Esta composição data do período de Natal de 1734 embora incorpore muitos materiais de peças anteriores. A oratória é constituída por seis partes cada uma destinada a ser interpretada num dia especifico do período de Natal.
  1. O Nascimento
  2. A Anunciação aos Pastores
  3. A Adoração dos Pastores
  4. A circuncisão e o baptismo de Jesus
  5. A viagem dos Reis Magos
  6. A Adoração dos Reis Magos
Não obstante estes factos a unidade da peça é verdadeiramente notável. Fiquem aqui com o primeiro coro da primeira Cantata numa interpretação do "Coro Monteverdi" dirigido por John Eliot Gardiner (também uma sugestão da nossa leitora).

Um dia mais tarde iremos certamente falar desta oratória com o detalhe que merece.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mensagem de Natal - Ave Maria de Gounod por Bobby Mcferrin

Este ano a mensagem de Natal musical vai estar a cargo de Bobby McFerrin que interpreta a conhecida Ave Maria de Gounod. Como já expliquei esta música na verdade é composta por duas partes uma de Bach e uma de Gounod (aliás se ouvirem com atenção ele explica isso no inicio) desta interpretação numa praça em Leipzig à chuva ... Mágico ... Isto é para mim verdeiramente Natal, a comunhão de almas para se fazer algo verdadeiramente belo.

Sei que muitos de vós já conhecerão, mas fica sobretudo para quem ainda não teve a sorte de ouvir ...

Não receiem chorar ... a mim dá-me sempre um nó na garganta.

Fiquem bem, hoje sim em casa, junto dos que vos são mais queridos e vivam o Natal. Se quiserem cantem que faz bem à alma e Deus não se importa se a tonalidade está certa ou errada, se a nota está desafinada meio tom ou mesmo dois tons para cima como é frequente no meu caso ...

Bobby Mcferrin e milhares de pessoas em Leipzig em Avé Maria de Gounod.

Um Santo Natal para todos ...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Pesquisas interessantes da semana (#15)

Tudo sobre bobby mcferrin : Bem já falámos de Bobby neste blog quando do seu inesquecível concerto no Coliseu dos Recreios, aqui. Para toda a informação sobre este artista o melhor será consultarem o seu site oficial aqui.

Triplo Concerto : Embora existam mais concertos para três instrumentos quando se refere "Triplo Concerto" sem mais nenhuma indicação normalmente refere-se ao concerto para piano, violino e violoncelo de Beethoven de que falámos aqui.

tradução oficial voir un ami pleurer português : Bom eu não sei muito bem o que se entende por tradução "oficial". Que eu saiba não existe qualquer tipo de versão "oficial" em Português entendendo-se por oficial uma que tenha sido autorizada a ser publicada ou cantada por Brel ou pelos seus representantes. Não obstante ofereço aqui a minha tradução.

sinfonias de Beethoven: Sim falamos sobre todas as nove sinfonias de Beethoven neste blog. Para vossa referência aqui fica a lista dos posts:
Sinfonia nº 1
Sinfonia nº 2
Sinfonia nº 3 (Primeira Parte) e Sinfonia nº 3 (Segunda Parte)
Sinfonia nº 4
Sinfonia nº 5 (Primeira Parte) e Sinfonia nº 5 (Segunda Parte)
Sinfonia nº 6 (Primeira Parte) e Sinfonia nº 6 (Segunda Parte)
Sinfonia nº 7 (Primeira Parte) e Sinfonia nº 7 (Segunda Parte)
Sinfonia nº8
Sinfonia nº9 (Primeira Parte) , Sinfonia nº 9 (Segunda Parte) , Sinfonia nº 9 (Terceira Parte) , Sinfonia nº 9 (Quarta Parte).

requiem de mozart é dividido em quantas partes? : O requiem de Mozart está dividido em 14 ou 15 partes dependendo da forma de contar uma das partes. É uma obra inacabada (o completado na totalidade por Mozart resume-se à primeira parte) não sendo totalmente certo em alguns casos o que realmente foi completado pelo grande compositor. Leiam aqui um post sobre esta obra.

mozart não gostava de compor para flautas? : Pois aparentemente não gostava mesmo nada de flauta. Isto sabe-se pela correspondência que trocava com o pai por exemplo. Claro que isso não o impediu de compôr obras absolutamente notáveis para este instrumento como esta de que falamos aqui.

musica classica as 7 estações : Sete estações ? Na terra ou noutro sistema solar? Ou simplesmente um erro de digitação numérica? Ou existirá realmente esta obra ?

Menos Posts ...

Terão notado os leitores mais frequentes deste blog que nestes últimos dias tem-me sido impossível manter o ritmo de um post por dia ... A época de Natal tem destas coisas. A boa notícia é que a partir de hoje poderemos retomar e até talvez incrementar esse saudável hábito . Para já para hoje vamos ter a habitual rubrica das segundas feiras: As pesquisas interessantes da semana !

Até já !

sábado, 20 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Sinfonia nº 5 (Mi menor) - Op. 64

Este é o quinto post sobre as sinfonias de Tchaikovsky. Pode encontrar o post anterior (Quarta Sinfonia) aqui.

A quinta sinfonia de Tchaikovsky foi composta em 1888 tendo sido composta numa altura em que Tchaikovsky se dizia sem inspiração, pelo menos é isso que transparece das cartas que escreveu para o seu irmão e para a sua patrona.

Tal como para quarta sinfonia parece ter havido para esta obra um desígnio programático encontrado nas notas do compositor que apelavam no caso do primeiro andamento para a total submissão ao destino. No entanto Tchaikovsky parece ter abandonado essa ideia no curso da sua composição.

Como referimos no inicio deste post Tchaikovsky manifestou inicialmente aos seus amigos a dificuldade em encontrar inspiração e em concentrar-se no trabalho.

Escreveu mesmo a Nadehzda von Meck (a sua patrona) que "este trabalho tem sido muito dificil, muito mais difícil do que a nossa. O que antes era fácil é agora muito penoso. " . A "nossa" refere-se à quarta sinfonia que lhe era dedicada.

A sinfonia foi estreada em São Petersburgo em 17 de Novembro desse mesmo ano dirigida pelo próprio Tchaikovsky. A reacção inicial foi boa embora em algumas das performances o final fosse bastante criticado. O próprio auto se no inicio estava convencido da qualidade da obra face a algumas reacções mais desfavoráveis voltou a duvidar da mesma tendo sempre em relação à mesma uma mistura de sentimentos. De amor porque tinha sido difícil e porque tinha aparentemente provado que ainda era capaz de escrever uma grande obra sinfónica e de falta de confiança precisamente pela "falta de inspiração" sentida durante a fase de concepção. Será escusado dizer que todas as reacções negativas alimentavam o segundo sentimento.

Para ouvirem esta sinfonia escolhemos o maestro Leonard Bernstein e a Sinfónica de Boston.

1º Andamento (Andante — Allegro con anima) em Mi Menor : Oiçam este andamento aqui e aqui (o segundo andamento começa quase sem interrupção no segundo video por volta do sexto minuto)
2º Andamento (Andante cantabile, con alcuna licenza) em Ré Maior : Oiçam este andamento aqui (para irem directamente a este andamento coloquem o tempo por volta do minuto seis) e aqui. Este andamento é o mais conhecido da sinfonia sendo sinceramente um dos meus andamentos sinfónicos preferidos.
3º Andamento (Valse - Allegro moderato) em Lá Maior. Oiçam este andamento aqui.
4º Andamento (Andante maestoso— Allegro vivace) em Mi Maior (na verdade existem mudanças de tonalidade ao longo do andamento - Mi Maior - Mi menor - Mi Maior). Oiçam este andamento aqui, aqui e aqui.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Recomendações de Quinta-Feira de Música Clássica

Este post também é publicado no blog Folhas Pautadas de que se recomenda a leitura em particular (mas não exclusivo) do anuncio do concerto de Natal do Conservatório Regional de Castelo Branco que podem ler aqui.

Em primeiro lugar um aviso genérico. Neste período do ano existem sempre múltiplos concertos espalhados um pouco por todo o país. É impossível listá-los todos. Se por acaso conhecerem algum e quiserem deixar aqui em comentário estejam à vontade. Assim que me for possível faço a devida publicação. Estejam atentos e se souberem de algum concerto vençam a preguiça e vão ver porque já sabem, ao vivo é outra coisa.

Começando com as recomendações e como sempre ao sul, temos o "Concerto de Natal" pela Orquestra do Algarve dirigida por Laurent Wagner na Igreja de São Pedro do Mar (Quarteira). Será no Domingo 21 de Dezembro às 21h. O programa será constituído inteiramente por obras de Bach.

Ainda no Algarve teremos a Orquestra do Norte e Ensemble Vocal Pro Musica dirigidas por José Manuel Pinheiro na Igreja Matriz de Portimão. Será no Sábado dia 20 às 21:30. Serão solistas Carla Simões (soprano), Carolina Raposo (soprano), Cátia Moreso (meio-soprano), Hélder Bento (tenor), Tiago Matos (barítono) sendo a orquestra dirigida pelo maestro José Manuel Pinheiro. Serão interpretadas obras de Giovanni Battista Pergolesi e Johann Sebastian Bach.

Continuando no Algarve temos mais um «Concerto de Natal» pela Orquestra do Algarve e Solistas dirigidos por Laurent Wagner. Será no Centro Cultural de Lagos na Sexta-Feira às 21:30. Serão solistas Birgit Wegemann (Contralto), João Pedro Cabral (Tenor) e Armando Possante (Barítono).

Um pouco mais a norte, mais precisamente em Grândola na Igreja Matriz teremos o Coro de Câmara e Coro Juvenil do Conservatório Regional de Setúbal. Será no Domingo às 16h. A entrada é livre.

Em Carnaxide no Auditório Municipal Ruy de Carvalho teremos um Recital de Piano por Hideaki Oshiro. Será no Sábado às 18h. Serão interpretadas obras de Maurice Ravel e Sergei Rachmaninov.

Integrado no ciclo "Concertos em Igrejas - Natal em Lisboa" teremos na Basílica da Estrela a Orquestra Sinfónica Juvenil dirigida por Christopher Bochmann na Sexta-Feira às 21:30. Será interpretada a "Missa de Requiem" de Mozart. A entrada é livre.

Ainda em Lisboa e também na Sexta-Feira na Fundação Portuguesa das Comunicações às 19h teremos Bruno d'Espiney num recital de piano.

Na segunda-feira dia 22 a Sinfonietta de Lisboa e o Coro Ricercare estarão na Igreja dos Salesianos (Estoril) interpretando «Messa di Gloria» de Puccini pelas 21:30. Serão acompanhados por João Cipriano Martins (tenor) e Armando Possante (barítono). A Orquestra estará sobre a direcção do Vasco Pearce de Azevedo.

Agora um pouco mais a Norte o Quarteto de Cordas "Intermezzo" estará no Cine-Teatro de Rio Maior na sexta-feira dia 19 às 21:30. O quarteto "Intermezzo" é formado por Nogueira Rufo (violino) e Luis Rufo (violino), Marta Nogueira (viola-d'arco) e Sérgio Pliz (violoncelo).

Na Igreja Paroquial da Parede a OML interpretará obras de Vivaldi, Händel e J. S. Bach. Serão solistas Anna Samouil (Soprano) e Tatiana Samouil (Violino). A Orquestra seria dirigida por Christian Scholl.

Finalmente na invicta cidade do Porto teremos um Recital de Canto e Piano por Rita Moldão e Jairo Grossi no Clube Literário do Porto Sexta-Feira às 23h.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Recomendação para a próxima Quinta-Feira - Correcção de Hora

Caros leitores, o post anterior continha um pequeno erro ... A hora do concerto é 21:30 e não 21:00 como estava. Dado o frio e o facto de meia-hora a mais poder ser suficiente para vos permitir ir ao concerto aqui fica a correcção. Já sabem vençam as pantufas !

Está em destaque aqui na coluna da direita o concerto de Natal do Coro da Universidade de Lisboa na Basílica dos Mártires na próxima Quinta-Feira 18 de Dezembro às 21:30h. Eu sei que hoje não é dia de recomendações mas como este concerto é na Quinta o nosso dia tradicional não serviria para este efeito. Se puderem não percam porque já sabem que ao vivo é outra coisa ...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Glenn Gould (1932-1982) - O artista multimedia


Não será com toda a certeza exagero afirmar que Glenn Gould terá sido o primeiro artista multimedia do mundo. Na verdade Glenn foi um dos que percebeu de forma consciente (outros tinham-no entendido de forma menos consciente como Bernstein ou mesmo Karajan) o poder da imagem e o poder que resultava da junção de meios audiovisuais.

Glenn Gould fez inúmeros programas de televisão e rádio e foi escritor demonstrando sempre em todos os meios a originalidade e genialidade que lhe conhecemos no piano.

Sem dúvida que neste aspecto a série de programas de Rádio a que chamou "Contrapuntal Radio" foram as mais significativas. Gould produziu sete programas diferentes. 4 programas foram sobre músicos que admirava e outros 3 , obras verdadeiramente notáveis, sobre a solidão. Dizia Gould que era sobre a retirada voluntária do mundo, a "Triologia da Solidão" como lhe chamava.

O primeiro e mais conhecido chama-se "The Idea of North" (1967) sobre a vida no Norte do Canadá. Oiçam aqui Glenn Gould a falar deste programa explicando como utiliza as vozes sobrepostas de cinco pessoas um pouco como o compositor Webern. O segundo (1969) chama-se "The Latecommers" abordando o tema da vida na Newfoundland. O terceiro (1977) "The Quiet in the Land" é sobre a vida dos Mennonites em Manitoba.

Na verdade em qualquer um destes programas de rádio estamos a falar de mais do que simples informação, aliás esta como tal nem sequer é sempre perceptível. Estamos a falar da utilização da voz como elemento de composição. Um outro artista de Vancouver Joan McCrimmon Hebb criou um conceito de colagens "The Inner Ear" baseado nos programas de Glenn. Terminamos este post convidando-vos a dar uma vista de olhos pelas imagens e pelos extractos dos programas.

Mais pesquisas interessantes ...

Ontem acabamos por deixar para hoje algumas pesquisas interessantes.

fundação von karajan : Já falamos deste maestro aqui , a Fundação realmente existe mas não encontrei um site oficial da mesma. Podem porém visitar o site de celebração do centésimo aniversário do nascimento do grande maestro aqui.

glenn gould blogspot : Glenn Gould foi um dos percursores da "arte multimedia". Na verdade ele era um defensor acérrimo dos meios audiovisuais não só como forma de divulgação mas também como forma de arte. Os seus programas de rádio "Rádio em Contraponto" são peças notáveis de concepção artistica. Pensamos que este nosso visitante estaria à procura do "Contrapuntal Blog" um blo oficial da fundação Glenn Gould que podem encontrar aqui. Claro que vos recomendamos também que leiam a sequência de posts que estamos a fazer sobre este grande artista (muito mais do que um pianista, sem ofensa a estes ultimos) o ultimo dos quais podem ler aqui.

como se chamava a mulher de mozart : Finalmente uma pergunta para a nossa revista côr-de-rosa. Chamava-se Constance weber e o casamento realizou-se contra a vontade da família de Mozart.

brahms concerto duplo oistrakh e fournier : supomos que se está a referir ao Duplo Concerto de Brahms para Violino e Violoncelo e que o violoncelista a que se refere é Pierre Fournier grande violoncelista françês. Infelizmente esta dupla não a encontro no You Tube (aliás há muito pouco conteúdo com o Pierre Fournier). Fica aqui a promessa de um dia resolvermos isso. Entretanto podem sempre recorrer à interpretação de Oistrakh e Rostropovich .... não ficam a perder!

blog joao luis torres prada silva : Um blog de um nosso leitor (e de que somos também leitores) e de que recomendamos uma visita atenta, apontem o vosso browser para aqui !

analise quinta simphonia : Bom sem mais nada só pode ser a quinta de Beethoven. Podem ler uma análise baseada no texto de Hector Berlioz aqui.

domingo, 14 de dezembro de 2008

As pesquisas interessantes da semana (#15)

sarah shang violinista: Podem ler uma curta biografia neste post.

Sexta sinfonia de beethoven foi composta em que ano: A Sexta Sinfonia de Beethoven foi composta entre 1804/1805 e 1808 e estreada em 1808.

quem era compositor Accolay: Foi um compositor e pedagogo belga essencialmente conhecido hoje em dia pelo seu concerto para violino num único movimento e utilizado por vários métodos de ensino desse instrumento. Leiam mais aqui.

orquestras mundiais: Bem suponho que o objectivo era ter uma lista das grandes orquestras mundiais. Fizemos uma lista para a Europa aqui e uma lista para os Estados Unidos aqui.

o que hans von bullow dizia sobre brahms : Hans von Bullow começou era um dos defensores de Wagner o que à partida o colocaria no campo dos adversários de Brahms. Porém fosse porque a sua mulher Cosima (filha de Lizst) o traiu precisamente com Wagner, fosse porque Hans von Bullow era um verdadeiro defensor de todos os grandes músicos, Bullow considerava Brahms o digno sucessor de Beethoven. Disse por exemplo da primeira sinfonia de Brahms que ela era digna de ser a décima de Beethoven.

gossec hino liberdade : Supomos que estão a falar do "Choeur à la liberté" com poema de M.-J. Chénier para quatro vozes, coro misto e orquestra. Criado em Abril de 1792.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Sinfonia nº 4 (Fá menor) - Op. 36

Para ler o artigo sobre a Terceira Sinfonia de Tchaikovsky clique aqui.

Tchaikovsky concebeu a quarta sinfonia entre Março e Dezembro de 1877. Foi interpretada pela primeira vez em Moscovo em 22 de Fevereiro de 1878 dirigida por Nikolai Rubinstein.

A sinfonia é dedicada à patrona de Tchaikovsky, Nadehzda von Meck, tendo o compositor escrito na primeira página "à minha melhor amiga". Do ponto de vista pessoal convém notar que esta obra coincide com o casamento falhado com Antonina Miliukova que foi muito delicado do ponto de vista emocional mas que curiosamente acabou por, apesar de existirem cartas de Tchaikovsky que indicam o contrário, aumentar de forma significativa a sua criatividade. Na verdade para além desta quarta sinfonia durante este período Tchaikovsky estava também a trabalhar no seu concerto para violino e também a sua ópera Eugene Oniegin. Muitas obras primas em simultâneo na verdade !

A reacção do público a esta sinfonia como foi quase tradição nas obras de Tchaikovsky não foi de imediata euforia mas pode considerar-se que foi uma obra relativamente bem recebida.

Curiosamente em relação a esta obra Tchaikovsky esclareceu de forma relativamente completa a sua intenção graças precisamente à explicação que forneceu à sua patrona sobre as suas intenções e também mais tarde pela polémica que teve com Serguei Taneev. Estas cartas são maravilhosas e a sua relevância vai muito para além da obra em causa dado que nos permitem sem dúvida ter uma percepção do que significava para Tchaikovsky o conceito de música programática e pode mesmo ser visto como uma excelente introdução teórica a esse conceito. Fiquemos então com algumas palavras de Tchaikovsky sobre esta obra dirigidas a sua patrona:

"Perguntou-me se há um "programa" para esta sinfonia. Normalmente a minha resposta para esta pergunta num trabalho sinfónico seria: "Absolutamente nenhum". E na verdade essa é a minha resposta para a sua questão. Como podemos por palavras em sentimentos tão intangíveis como as nossas próprias experiências quando escrevemos uma obra instrumental sem um tema especifico ? Este é um processo puramente lírico e essencialmente uma forma de libertar a alma em música semelhante à forma como um poeta se exprime em versos ... Na nossa sinfonia (à margem deste texto notem como Tchaikovsky atribui à sua patrona um papel igual na concepção da sinfonia, algo que era típico das relações entre patrono e artistas fundadas na igualdade, no quase companheirismo) existe um programa, isto é, é possível exprimir em palavras o que estou a tentar dizer, e para si, apenas para si (oops, estamos aqui a quebrar um segredo mas também me verdade era um segredo um tanto mal guardado) consigo e estou disposto a tentar explicar o significado do todo e de cada um dos movimentos em separado. Claro que apenas é possível fazer isto de forma bastante abstracta."

A introdução que é a semente de toda a sinfonia, indiscutivelmente a ideia principal. É o destino: É aquela força fatal que impede o impulso para a felicidade, que com inveja impede que a paz e a felicidade sejam completa e sem nuvens que está sobre as nossas cabeças como uma espada de Damocles constantemente envenenando a alma. Uma força invencível, uma força que nunca pode ser derrotada, apenas suportada, miseravelmente suportada.

Esta obra foi sempre uma das preferidas do compositor que a considerava uma das sua sobras primas. É correntemente uma das suas obras mais vezes interpretada embora não tanto como a Sexta Sinfonia ou o seu primeiro Concerto para Piano ...

Para vos ilustrar esta sinfonia escolhemos uma interpretação da Sinfónica de Chicago na abertura da época de 1997 dirigida por Barenboim.

O primeiro andamento (Andante sostenuto—Moderato con anima) em Fá menor é mais longo da sinfonia e começa com o chamamento do destino, um pouco à imagem da Quinta de Beethoven. Retomando o que Tchaikovsky dizia à sua patrona:

"E então é a vida nas suas alternâncias continuas de dura realidade com os breves sonhos e visões de felicidade ... Não existe céu ... Navegar sem rumo no mar até que este nos submerge nas suas profundezas. Este é de forma geral o "programa" deste primeiro andamento". Oiçam-no aqui e aqui.

Para nos descrever o segundo andamento (Andantino in modo di canzona) em Si bemol menor (assim como os restantes) vamos continuar com Tchiakovsky na sua abençoada carta ...

"O segundo movimento expressa outra fase de tristeza. É a melancolia que de fim de tarde quando cansados das provações do dia nos sentamos com um livro mas que cai da nossa mão, cansada. Vêm então as memórias. É ao mesmo tempo triste tanto porque tanto é passado e não volta como é agradável recordar a juventude mas não desejando voltar a vivê-la de novo. A vida cansa. É agradável descansar e olhar em volta. Há muitas memórias. Momentos felizes quando o sangue jovem ardia e a vida nos satisfazia; há também memórias dolorosas, perdas irreversíveis. E tudo isto é agora distante. É ao mesmo tempo triste mas de certa forma doce estar submergido no passado."

Oiçam este segundo andamento aqui.

Diz Tchaikovski do Terceiro andamento (Scherzo. Pizzicato ostinato. Allegro) em Fá maior o seguinte:

"O terceiro andamento não exprime nenhum sentimento especifico. É feito de arabescos caprichosos, de imagens fugazes que dissolvem depressa na imaginação depois de bebermos um pouco de vinho e sentirmos as primeiras fases da intoxicação. O espírito não é alegre nem triste. Pensando em nada dando livre curso à imaginação que de repente começa a pintar figuras estranhas. Entre essas memórias surge a imagem de camponeses bêbados e uma canção de rua ... então ao longe passa uma coluna militar. São imagens dispares que nos passam pela cabeça enquanto dormitamos. Não têm qualquer relação com a realidade; são estranhas, selvagens e disjuntas."

Oiçam o terceiro andamento aqui.

O quarto andamento (Finale. Allegro con fuoco) em Fá maior. Este andamento utiliza a canção popular russa "No campo erguia-se uma árvore". Voltando a Tchaikovsky:

"Se dentro de si não encontrar motivos de alegria então olhe para outros. Junte-se às pessoas. Veja como elas conseguem divertir-se, deixando-se ir em pensamentos verdadeiramente felizes. Lembre-se da alegria natural das pessoas comuns. Aos poucos embora com dificuldade conseguirá esquecer-se de si própria e deixar-se ir pelo espectáculo de alegria dos outros. Então volta a face incontornável do destino que lhe relembra a sua existência. Os demais não se preocupam consigo e não notam que está sozinha e triste. Oh, como se divertem.Como estão felizes e os seus sentimentos são simples.Não poderá fazer outra coisa senão criticar-se a si própria. A alegria é simples mas poderosa. Alegre-se na alegria dos outros. Viver ainda é possível."

Oiçam o quarto andamento aqui.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Glenn Gould (1932-1982) - O período de concertista virtuoso

Tínhamos deixado Glenn Gould imediatamente após o seu primeiro concerto nos Estados Unidos e a sua primeira gravação neste post.

Na sequência desse concerto e dessa gravação Glenn Gould iria nos nove anos seguintes seguir uma carreira normal de pianista virtuoso até em 1964 retirar-se dessa forma de expressão. Veremos daqui a pouco porquê.

Merecem especiais destaques o regresso ao Massey Hall - Toronto (1956), os dois concertos no Carnegie Hall (1957 e 1959), a tournée na Europa em especial a parte que se desenrolou na Rússia em Moscovo e Leninegrado (1957) - foi dos primeiros ocidentais a fazê-lo depois de se ter iniciado a guerra fria - os seus concertos em Israel, as suas apresentações com os maestros Herbert von Karajan, Josef Krips e Boyd Neel - no festival de Salzburgo onde viria várias vezes nesses nove anos.

Claro que é também referência o famoso concerto com Bernstein de que já falamos aqui e que demonstra bem a forma muito própria como Gould via a sua arte, sem compromissos, com uma interpretação própria das intenções do autor, sem submissão aos canons estabelecidos mas sempre com seriedade.

Merece finalmente referência a primeira apresentação no Canadá do Concerto de Schoenberg (1960). O seu ultimo concerto (recital) ao vivo foi a 10 de Abril de 1964 no Wilshire Ebell Theatre em Los Angeles.

Glenn Gould no auge da sua carreira decidiu suspender as actuações ao vivo. Infelizmente estamos em desacordo profundo no que diz respeito às razões pelas quais terminou a sua carreira enquanto solista e interprete ao vivo. Ele achava que a experiência de audição ideal era na gravação. Pensava que o público ao vivo e o aplauso eram formas pouco fiáveis e que conduziriam rapidamente à descaracterização da arte.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Recomendações de Música Clássica ao Vivo (11.12.2008)

Este post também é publicado no blog Folhas Pautadas.

Começando como de costume esta nossa viagem pelo sul teremos no dia 13 de Dezembro Sábado pelas 21:30 no Teatro das Figuras em Faro a obra O Elixir d´Amor de Gaetano Donizetti pela Orquestra do Algarve dirigida por Cesário Costa. Serão solistas Carla Caramujo (Soprano), João Cipriano Martins (Tenor), Nuno Dias (Baixo), Diogo Oliveira (Barítono) e Alexandra Moura (Soprano). Actuará também o Coro de Câmara Lisboa Cantat. A encenação é de Maria Emília Correia e a versão portuguesa de Nuno Côrte-Real.

Um pouco mais a Norte na bonita vila ducal de Vila Viçosa teremos no Paço Ducal de Vila Viçosa o recital de Natal na Sexta-Feira 12 de Dezembro às 21h pelo ensemble "Capella Patriarchal" formado pelos músicos Mónica Santos (soprano), Carolina Figueiredo (contralto), João Moreira (tenor), Manuel Rebelo (baixo). São dirigidos pelo maestro e organista João Vaz . A entrada é livre.

Ainda no Alentejo na também fantástica cidade de Évora teremos no Domingo dia 14 de Dezembro pelas 18h na Sé de Évora o Magnificat de Bach (informação pelo blog Belogue de Notas, não tenho mais detalhes).

Em Lisboa integrado no ciclo "Concertos em Igrejas - Natal em Lisboa" teremos na Sé Patriarcal de Lisboa Os Violinhos dirigidos por Filipa Poêjo no Sábado 13 de Dezembro pelas 16h. A entrada é livre. Serão interpretadas obras de Bach, Massenet, Vivaldi para além das canções de Natal em que o público é convidado a cantar e partilhar assim este concerto muito especial para os Violinhos.

Ainda em Lisboa e também integrado no mesmo ciclo e no mesmo dia mas um pouco mais tarde às 19h na Igreja de São Nicolau teremos a Sinfonietta de Lisboa dirigida por Vasco Pearce de Azevedo e António Lourenço. Serão interpretadas obras de lexandre Delgado, João Francisco Nascimento, G. Friedrich Händel e Piotr Illich Tchaikovsky.

Continuando em Lisboa e ainda nesse mesmo dia teremos pelas 21:30 na Aula Magna da reitoria da Universidade Clássica de Lisboa a Gala de Ópera da Orquestra Sinfónica Juvenil. Se tiverem coragem é possível ir a estes três concertos Lisboetas embora este ultimo normalmente esteja cheio.

No Domingo 14 de dezembro às 18h no Auditório do Centro Social e Paroquial de Nova Oeiras teremos o "CONCERTO DE NATAL" pela Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, o Coro dos Pequenos Cantores do Estoril e a solista Sílvia Cancela (Flauta). A Orquestra será dirigida pelo maestro Maestro Nikolay Lalov. Serão interpretadas obras de Pergolesi, Bach e Mozart.

Em Alcobaça no Cine-Teatro de Alcobaça teremos o já habitual "Concerto de Natal" pela Academia de Música de Alcobaça no Sábado 13 pelas 21:30. A entrada é livre para sócios. €3 para o restante público.

Em Leiria teremos Luís Batalha num recital de Piano no Teatro Miguel Franco no dia 12 (Sexta-Feira) pelas 21:30. A entrada é livre.

Em Guimarães teremos a Orquestra do Norte dirigida por Álvaro Cassuto na Igreja de São Francisco (Guimarães). Será às 21:30 e serão intepretadas obras de Luís de Freitas Branco - "Suite Alentejana N.º2"; "Sinfonia N.º3". As entradas são livres.

Na Guarda teremos o Concerto dos Laureados do Concurso de Piano da Cidade da Guarda no Teatro Municipal da Guarda (TMG) Sexta-Feira pelas 21h30. Interpretarão neste concertos os pianistas: Maria Laura Nunes, Cláudia Inês Fernandes, Pedro Oliveira, Marta Patrocínio, Maria Leonor Lopes, Pedro Lopes e Nuno Cernadas.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Sinfonia nº 3 (Ré Maior) - Op. 29

Esta sinfonia foi composta por Tchaikovsky em 1875. Distingue-se fundamentalmente das anteriores duas sinfonias por ser profundamente "ocidental" (por oposição à caracteristica nacional da primeira e sobretudo da segunda).

Distingue-se também esta sinfonia por ser a única numa tonalidade maior e por conter cinco andamentos contrariamente aos quatro da forma clássica.

Esta foi a primeira sinfonia que Tchaikovsky aceitou como boa na sua primeira versão não considerando por isso que necessitasse de ser revista.

Esta sinfonia foi ela também estreada por Nicolai Rubinstein a 19 de Novembro de 1875. Curiosamente entre a segunda e a terceira sinfonia Tchaikovsky tinha composto aquela que é uma das suas obras de referência e uma das peças mais conhecidas da música clássica, o seu concerto nº 1 para piano. Simplesmente este tinha sido mostrado a Rubinstein que detestou a obra.

Tchaikovsky que sentia por Rubinstein uma elevada estima e amizade (tinha sido Rubinstein a convida-lo para dar aulas de formação musical em Moscovo - numa altura em que poucos acreditavam no valor de Tchaikovsky) tinha ficado muito magoado com essa recepção, tendo sido essa a primeira grande divergência entre os dois. Porém aceitou como pode essa opinião e iniciou o trabalho nesta terceira sinfonia que completou em cerca de quatro meses.

Rubinstein gostou e como referimos estreou a obra. O que aconteceu com o concerto para piano veremos mais tarde. Entretanto esta sinfonia apesar da boa recepção inicial é uma das menos interpretadas da obra de Tcaikovsky.

A título de curiosidade esta sinfonia tal como as duas primeiras tem um "sobrenome" sendo apelidada de Polaca. Esta designação provém simplesmente do facto do ultimo andamento ser baseado numa forma de Dança Polaca, uma Polca. Este sobrenome não foi escolhido por Tchaikovsky mas sim por um maestro inglês Sir August Manns que dirigiu uma apresentação da obra em Londres. Em boa verdade poderia também ter sido chamada Alemã ou mesmo Fúnebre se ligassemos de igual forma a outras indicações de tempo.


1º Andamento: Introduzione (Moderato assai - Tempo di marcia funebre) em Ré Menor - Allegro (Allegro brillante) em Ré maior. Oiçam aqui uma parte deste primeiro andamento.

2º Andamento (Allegro moderato e semplice) - Alla tedesca - em Si bemol Maior : Numa forma ternária numa espécie de valsa. Oiçam aqui este segundo andamento.

3º Andamento (Andante. Andante elegiaco) (Ré Menor —Ré Maior). Oiçam aqui este terceiro andamento.

4º Andamento (Scherzo. Allegro vivo) (Si Menor). Oiçam aqui este andamento.

5º Andamento (Finale. Allegro con fuoco) - Tempo di polacca - em Ré Maior: O andamento e a indicação de tempo que deu o sobrenome à sinfonia. Oiçam aqui este andamento.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Sinfonia nº 2 (Dó menor) - Op. 17

Tchaikovsky compôs esta obra entre 1872 e 1873 (Op. 17) em Dó menor. Esta sinfonia é também chamada a "Pequena Rússia" dado que é baseada em canções populares ucranianas, nação que nessa altura era conhecida como a "pequena Rússia".

Embora Tchaikovsky não seja um compositor nacionalista como o famoso grupo dos cinco esta sinfonia não seria desdenhada desse ponto de vista e por nenhum dos membros de tão patriótico conjunto.

A sinfonia foi estreada a 7 Fevereiro de 1873 sobre a direcção de Rubinstein com considerável sucesso tendo mesmo conseguido "a benção" do já referido grupo. Tchaikovsky no entanto não estava satisfeito com a obra tendo efectuado uma revisão completa da mesma 1880. Hoje em dia é esta a versão que é interpretada embora alguns estudiosos da obra do compositor apontem maiores qualidades à primeira e defendam que pelo menos esporadicamente se deveria interpretar a primeira das formas.

A obra contém quatro andamentos como usual na forma clássica da sinfonia.

O primeiro andamento (Allegro vivo) em dó menor é basaeado numa melodia ucraniana intitulada "Desceu pela Mãe Volga", composição essa associada ao ladrão cossaco Stenka Razin cuja cabeça segunda reza a letra da canção foi decepada na praça vermelha em 1671.

O segundo andamento (Andantino marziale, quasi moderato ) em Mi Maior é na realidade parte de uma ópera não publicada chamada "Undine".

O terceiro andamento é um Scherzo em Dó menor (Allegro molto vivace).

O quarto andamento (Moderato assai - Allegro vivo) em Dó Maior é para muitos a melhor parte da obra sendo baseada na canção popular "a Grua" . Oiçam aqui o este quarto movimento.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pesquisas interessantes da semana (#14)

As frases a bold são frases que vários cibernautas pesquisam no Google , pesquisas essas que os trazem aqui ao nosso blog. Como já vos expliquei não tenho obviamente forma (nem quero ter) de saber quem perguntou o quê, escolho aquelas perguntas que me parecem mais interessantes e que não obtiveram resposta ... Como sei que não a obtiveram? Bem porque segundo o Google não estiveram mais do que 30s no nosso blog ... Esta semana foram mais de 500 pesquisas.

"origens históricas da sonata":
A forma de sonata é essencialmente uma criação do período clássico numa altura em que se procurava atingir a forma perfeita através de regras bem definidas. A forma de sonata é alvo de um estudo aprofundado do ponto de vista teórico desde essa altura. Dado que este tema merece só por si um post aqui fica a promessa que voltaremos a este assunto em breve.

"sugestões para quem gosta de musicas fúnebres": Bem, gostos não se discutem. Proponho-vos assim que oiçam o Terceiro Andamento da Sonata nº 12 de que falámos aqui, ou em alternativa a terceira sinfonia do mesmo compositor também seria uma hipótese ou então o terceiro andamento da Sonata para Piano nº 2 Op. 35 em Si Bemol Menor de Chopin.

"período romântico musica": O período romântico é o período que se segue ao período clássico. É deste período que estamos neste momento a falar em que predominam compositores como Brahms por exemplo só para referir o ultimo de que falámos.

"grande messe des morts" : Uma das obras mais conhecidas de Berlioz de que falámos aqui.

"eu quero o conceito da musica clássica": A definição de música clássica é uma adição recente do nosso blog que podem encontrar aqui. É um texto fortemente baseado num dos programas de Leonard Bernstein "Concertos para Jovens". Espero que gostem. Claro que ainda o vamos melhorar mas neste momento é a melhor explicação que temos.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Tchaikovsky - Sinfonia nº 1 (Sol Menor) - Op. 13

Vamos começar esta viagem pelas obras de Tchaikovsky pelas suas seis sinfonias. Hoje vamos falar da Sinfonia nº1 em Sol Menor Op. 13.

Esta composição data de 1866 sendo assim a primeira composição para orquestra do compositor russo (talvez até a primeira). Tchaikovsky intitulou esta obra "Sonhos de dias de Inverno". Conta a lenda que enquanto compôs esta obra o compositor praticamente não conseguia dormir e que por isso esta terá sido a primeira e única composição que foi concebida durante os dias e as noites.

A génese da obra não foi fácil . Para além de ser o seu primeiro trabalho de grande dimensão Tchaikovsky então recém admitido no Conservário de Moscovo como professor teve de lidar com a a oposição dos seus professores Anton Rubinstein (não confundir com o pianista polaco com mesmo nome mas diferente apelido Arthur Rubinstein - não são relacionados) e Nicolai Zaremba.

O primeiro esquisso que lhes mostrou foi rejeitado o que aumentou a ansiedade de Tchaikovsky ao ponto de lhe ter sido recomendado repouso absoluto dado que estava perto da loucura pela pressão e ausência de sono. Depois de muitas revisões a obra foi finalmente estreada a 15 de Fevereiro de 1868 em Moscovo dirigida por Anton Rubinstein a quem foi aliás dedicada.

Na verdade este primeiro "conflito" com os seus professores seria sintomático da história de Tchaikovsky ao longo da sua vida enquanto compositor. Essencialmente este conflito residia na própria concepção da música que Tchaikovsky entendia como romântico enquanto os seus professores então dominantes no conservatório de Moscovo queriam mais aderentes aos fundamentos do período clássico, na linha de Haydn, Mozart e Beethoven.

Esta obra foi concebida em quatro andamentos na perfeita tradição do período clássico. A versão que é hoje em dia interpretada é a da revisão de 1874 conduzida por Tchaikovsky que tinha uma grande predilecção por esta obra, dizia ele por ter sido a primeira e por ter ainda nela a força da juventude. A versão revista foi estreada em 1883 dirigida por Max Erdmannsdörfer.

O primeiro andamento (Allegro Tranquillo), na forma de sonata (um dos grandes problemas de Tchaikovsky foi precisamente enquadrar as suas ideias nesta forma relativamente castradora da sua capacidade fundamental: A Melodia. A este andamento tal como ao segundo o compositor deu um nome, chamando-lhe Sonhos de uma Caminhada de Inverno.

O segundo andamento (Adagio cantabile ma non tanto) que Tchaikovsky chamou Terra de Desolação, Terra de Nevoeiros é um maravilhoso tema baseado numa única melodia de longe o andamento que prefiro desta sinfonia. Podem ouvi-lo aqui.

O terceiro andamento (Sherzo allegro scherzando giocoso ) foi o primeiro a ser escrito tendo sido recuperado a partir de uma sonata para piano que Tchaikovsky tinha escrito enquanto estudante. Este andamento juntamente com o segundo foram os primeiros a serem aprovados por Rubinstein e Zaremba tendo sido inclusivamente estreados antes do resto da composição. Podem ouvir aqui uma parte deste terceiro andamento.

O quarto andamento (Finale, andante lugubre—allegro maestoso) foi baseado numa canção popular russa ("Распашу ли я млада, младeшенка"). Pode ouvir e ver aqui um excerto deste quarto andamento.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Glenn Gould (1932-1982) - Da infância ao primeiro concerto e gravação

Glenn Gould nasceu em Toronto no Canadá no dia 25 de Setembro de 1932. Desde muito cedo demonstrou grande aptidão para a música conseguindo ler música com três anos, muito antes de saber ler.

Dispunha de ouvido absoluto tendo começado por aprender piano com a sua mãe. A titulo de curiosidade diga-se que o seu trisavô pelo lado da mãe era simplesmente Grieg o famoso compositor Norueguês.

Aos dez anos de idade começou a aprender piano no Real Conservatório em Toronto com Alberto Guerrero excelente professor de origem chilena (professor entre outros de Gerald Moore, pianista acompanhador de muitas das estrelas do canto lírico que já passaram por este blog).

Gould começou a interpretar em público desde os cinco anos de idade de forma esporádica tendo participado em alguns concursos mas os seus pais nunca o fizeram seguir o caminho de criança prodígio.

Em 1945 deu-se o seu primeiro concerto público a sério em que tocou Orgão tendo no ano seguinte tocado pela primeira vez com uma Orquestra, a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Toronto interpretando o Quarto Concerto para Piano de Beethoven .

Em 1947 deu-se o seu primeiro recital a solo com um programa bastante curioso que incluía Scarlatti, Beethoven Chopin e Liszt. Curioso porque como veremos Gould viria mais tarde a eliminar completamente do seu reportório as peças de Chopin e de Liszt que consideraria "Exibições vazias de sentimento e propósito".



Em 1952 estreia-se na televisão Canadiana sendo o primeiro pianista a ser transmitido ao vivo pela televisão desse país. Três anos mais tarde faz o seu primeiro recital nos Estados Unidos. E em boa hora o fez porque esse programa era de tal forma pouco ortodoxo que suscitou a curiosidade da Columbia Records. No dia seguinte assinava um contracto com esta editora de que viria a resultar a sua primeira gravação e uma interpretação verdadeiramente tão notável quanto controversa: As Variações Goldberg (1955).

Note-se que essa escolha só por si é verdadeiramente notável. Este conjunto de peças não faziam parte do reportório tradicional do piano. Para um pianista que faz a sua primeira gravação não deixa de ser um começo que marca o tom de máxima originalidade e total ausência de compromissos, tudo em favor da sua visão da música e da arte.

Gould não só gravou as variações de forma nunca antes vista - mais tarde ele próprio viria a criticar algumas das opções que então tomou e a regravar estas variações, uma das poucas gravações repetidas que efectuou - mas também escreveu as notas que figuram nesse disco que faz parte da história da música ocidental, queira-se ou não. Oiça aqui a gravação mais recente de Glenn Gould intrepretando esta obra.

Vou deixar-vos aqui com as notas do Gould para o programa de um concerto em Montreal em 1955 em que Gould escreveu precisamente sobre estas variações:

"Trata-se resumindo de música sem fim ou principio, musica sem um climax real e sem resolução, música em que no entanto existe inteligência que denominamos "Ego". Tem então unidade através da percepção intuitiva, unidade nascida do artesão e do detalhe, adocicada pela maestria e que se revela aqui, como é raro na arte, na visão da concepção exaltante do subsconsciente"

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