Tal como a 4ª sinfonia a 8ª também sofre do problema de ter sido composta entre duas obras de tal forma marcantes que face a estas parece uma obra menor. Na realidade não poderíamos estar mais longe da verdade. A 8ª sinfonia de Beethoven é ela também uma obra de arte notável e não fosse existirem as restantes e estaríamos aqui a dizer: Ah, a oitava sinfonia de Beethoven.
Aliás o próprio Beethoven que era pouco dado a comparar as suas obras dizia da mal amada oitava : " Um dia ainda hão-de gostar dela. É uma questão de tempo". Porém na verdade no seu tempo a oitava sinfonia pareceu a muitos ser um retrocesso. A negação de toda a expansão do género sinfónico que Beethoven havia conseguido nas suas anteriores sinfonias 3, 5, 6 e 7. Como demonstraremos trata-se no entanto de um equivoco.
A oitava sinfonia foi composta em 1812 tendo sido estreada em 1814 uns meses após a sétima num concerto em que esta também foi tocada. Esta sinfonia em Fá Maior (Op. 93) é constituída por quatro andamentos.
O primeiro andamento (Allegro vivace e con brio) : Contrariamente às sinfonias anteriores nesta não existe qualquer tipo de introdução sendo tocado de imediato o primeiro tema.
Do segundo andamento (Scherzando - Allegretto) Berlioz diz que é como se tivesse sido escrito de uma só vez, à primeira tal a naturalidade que transmite. Sabemos porém que muitas vezes essa aparente facilidade apenas se consegue com um trabalho intenso.
O terceiro andamento (Tempo di Menuetto) é um aparente regresso de Beethoven às origens do género sinfónico. Este é um dos andamentos que justifica a opinião prevalecente de que este é um regresso ao passado, a Haydn. Mas trata-se de uma ilusão provocada pelo "tempo de minueto" dado que nunca Haydn ou Mozart teriam escrito um andamento assim. A forma "antiga" não espartilha a criatividade.
O quarto andamento (Allegro vivace) é o corolário de uma obra que só é comum na sua aparência. Este quarto andamento é o mais significativo de toda a obra, nomeadamente pelo facto da coda do mesmo ser uma das mais elaboradas de todas as obras de Beethoven.
Oiçam aqui a interpretação de Herbet von Karajan desta sinfonia.
A 8.ª Sinfonia "parece" ser menos que as outras porque é mais formalista que elas. Tendo sido composta já pelo séc. XIX dentro aparece como uma espécie de regresso ao formalismo clássico. O primeiro andamento é o espelho do que digo: Não há introdução mas sim duas repetições do primeiro tema (1.tónica, 2. dominante) passando imediatamente para o segundo tema. Esta passagem nota-se claramente. Também o facto da parte A estar encerrada numa repetição nos faz transportar imediatamente para Haydn. Contudo o que acho fantástico nesta sinfonia é a orquestração. Os sopros fundem-se nas frases (especialmente nos solos), p.ex. a flauta inicia um tema que é terminado pelo oboé. Contudo é difícil determinar o ponto onde o tema passou da flauta para o oboe. Beethoven foge aos pedais de sopros característicos das sinfonias de Haydn e Mozart. Ou não fosse Beethoven. Talvez por ser mais clássica que perfiro esta sinfonia a outras ditas "mais interessantes".
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