Como dissemos faz hoje precisamente 181 anos que Beethoven falecia no dia 26 de Março de 1827.
O quarto andamento como Charles Rosen (pianista americano nascido em 1927) diz é uma sinfonia dentro de uma sinfonia. Na verdade contem quatro "andamentos" tocados em sequência num verdadeiro hino à alegria e à humanidade.
Começa o andamento com uma introdução instrumental bastante lenta protagonizada pelos violoncelos. Sente-se a tensão crescer pelas interrupções ligeiras das flautas e outros sopros num diálogo entrecortado com os violoncelos. Por volta do minuto 3:50 ouve-se pela primeira vez o tema da alegria ainda que por breves momentos dado que é imediatamente interrompido pelos violoncelos. Finalmente por volta do minuto 5:00 começa um crescendo com a primeira exposição do tema. Estes tempos referem-se a esta interpretação de Bernstein de que falaremos daqui a pouco.
Entra então o coro pela primeira vez começando com o baixo solista pouco a pouco a que se juntam pouco a pouco os restantes elementos do coro e restantes solistas. Esta primeira errupção de alegria termina bruscamente para dar lugar ao "segundo andamento" deste andamento final que é um Scherzo num estilo militar. Oiçam aqui o fim da primeira parte deste ultimo andamento e o começo da segunda parte (a segunda parte começa no minuto 3:44). Este Scherzo termina mais uma vez com o tema principal tocado agora numa variação.
A terceira parte deste ultimo andamento apresenta um tema novo, sem dúvida pensado para constituir uma espécie de divisão dramática, um espaço de meditação antes da ultima parte. Oiçam aqui esta parte.
A ultima parte deste andamento é uma espécie de recapitulação dos temas deste andamento. Podem ouvir aqui essa recapitulação.
A gravação que vos fiz ouvir é ela própria um momento histórico. Foi gravada em 1989 por Leonard Bernstein por ocasião (e para festejar) a queda do muro de Berlim. No texto cantado a palavra "freude" - Alegria - foi mudada para "Freiheit" - Liberdade. A Orquestra e coros que ouviram tocar provêm de várias orquestra da ex-Republica Federal Alemã e da Ex-Republica Democrática Alemã alem de membros de várias orquestras europeias (Paris, Londres) e mesmo americanas (Nova Iorque por exemplo). Para terminar com tanto poder simbólico este concerto decorreu no dia 25 de Dezembro (dia de Natal) em pleno Berlim (Schauspielhaus) o centro e símbolo da divisão de um povo.
Acho que dificilmente encontraria uma forma mais adequada de terminar esta série de posts sobre Beethoven. Uma sinfonia tocada para celebrar aquilo em que Beethoven mais acreditava: A igualdade e a fraternidade entre os homens. Que esta música nos sirva de reflexão e de inspiração para chegarmos a esse difícil desígnio civilizacional.
AVISO - O TEXTO QUE SE SEGUE PODE SER CONSIDERADO DEMASIADO AÇUCARADO. PROCEDA COM CAUTELA.
É que o ódio, a repressão, a opressão, são tão mais fáceis de explicar e de justificar que nos esquecemos muitas vezes que o que nos separa das bestas não é tanto a inteligência mas sim o uso que dela fazemos.
Voltem a ouvir tudo agora e vejam se não vos apetece ir dar um abraço ao mundo inteiro. Procurem não esquecer esse sentimento. Fará de vós, estou certo, melhores homens e mulheres.
FIM DE AVISO.
Caro Fernando, antes de mais, parabéns pelo seu excelente blogue que bem preciso é na blogosfera portuguesa para a Música Clássica deixar de ser um "papão" isotérico, só acessível a iluminados, como muita a gente pensa.
ResponderEliminar"Açucarado" o que escreveu na parte final porquê? É uma verdade insofismável. Costuma dizer-se que não há tristeza que resista ao Hino da Alegria, desse Humano Genial que foi Beethoven. Um Hino de sempre e para sempre.
Já agora, tenho várias versões da Nona, e com toda a subjectividade que isso tem , adoro o classicismo romântico de um Furtwangler, com a Schwarzkopf, Edelmen, Hongen e Hopf com o coro e Orquestra do Festival de Bayreuth, e as "modernas" versões de Gardiner e Harnoncourt.
Tenho também um filme belíssimo, que sem ser um marco na história do cinema, tem um pouco a ver com a 9ª e interpretação brilhante de Ed Harris no papel de Beethoven: " Corrigindo Beethoven" de Agnesza Holland.
Peço-lhe mais uma vez perdão pela intromissão na sua "casa", mas gostei do que fui lendo.
Em primeiro lugar obrigado sua opinião. A intenção é mesmo essa. Tornar a música clássica acessível a mais pessoas e transmitir um pouco do meu gosto. Quanto à intromissão nem pense nisso. Eu gosto de participação, quanto mais melhor mesmo que seja para apontar os meus erros ... Quanto ao açúcar pois eu também acho mas para muitos pode parecer demais. Finalmente quanto a Furwangler e Schwarzkopf e as versões de Bayreuth saõ excelentes. Eu pessoalmente prefiro Bernstein mas Furtwangler, Karajan e Toscanini são igualmente excelentes. Obrigado pela participação e volte sempre.
ResponderEliminarCaro amigo,
ResponderEliminarhoje vou descansar com Beethoven no ouvido e no coração.
Não sou assíduo ouvinte de música clássica, mas o vir aqui(por outras teias, e vejo que Existente Instante também foi apanhado por ela), e ver a forma simples mas atraente como somos conduzidos a ouvi-la é fascinante.
Vou colocar um sofá nesta sua "sala" de consertos para aqui me sentar de quando em vez e apreciar a música que aqui vai colocando.
Parabéns pelo seu blog e pelas mensagens que vai colocando e eu fico com vontade de abraçar o meu mundo com mais ternura.
E o mundo poderia ser uma sinfonia dentro da sinfonia que é o universo.