domingo, 17 de julho de 2011

Prokofiev ( 1891 - 1953) : Os últimos anos

Prokofiev e Rostropovich em 1950
Neste post vamos falar dos últimos anos da vida de Prokofiev. Como referimos no post anterior desta série não foram anos fáceis para o compositor. Na realidade Prokofiev encontra-se fisicamente debilitado por uma queda e  um traumatismo craniano que se vieram juntar a uma saúde já débil.

Mas pior do que isso estes últimos anos vieram marcar a saída de Prokofiev do estado de graça do sistema soviético. Em 1947 possivelmente motivado pela inveja ou pela sempre crescente paranóia de Stalin, Zhadanov - ironicamente conhecido como o "pianista" fruto da sua limitada capacidade de tocar esse instrumento - emite o seu famoso decreto que acusa alguns dos compositores soviéticos de serem demasiado formalistas e mundanos, de se esquecerem do seu papel no sistema soviético. Shostakovich, Kachaturian e Prokofiev são os principais alvos do decreto. Shostakovich acaba por ceder protagonizando por duas vezes o papel de auto-critica de toda a classe. Prokofiev sem se negar directamente inventa desculpas para não ceder. Não cabe nesta biografia a análise detalhada do decreto nem tão pouco as palavras de contrição de Shostakovich, isso fica para uma outra ocasião. Certo é que esse decreto marcou profundamente Prokofiev.

Não obstante o compositor elabora obras feitas à medida para tentar eliminar a acusação, a ópera História de um Homem Verdadeiro por exemplo ou a oratória "Guardando a Paz" mas não tendo publicamente admitido a sua culpa nunca é verdadeiramente reabilitado.

A sua primeira mulher de quem se tinha acabado de divorciar é presa com alegações forjadas de espionagem. a origem espanhola de Lina não foi perdoada ... Note-se que nesta altura o estado soviético emite uma lei que mais parece do tempo de Hitler proibindo o casamento de russos com outras nacionalidades ... Desconhece-se se Prokofiev tentou defender ou ajudar a sua ex-mulher embora tudo pareça apontar para uma total ausência de reacção. Para quem se sinta tentado a julgar a falta de coragem não se esqueçam que nessa altura era frequente membros da intelectualidade russa aparecerem mortos de causas misteriosas vitimas da demência de Stalin.

Facto é que musicalmente este últimos anos nos trouxeram poucas obras de relevo embora dadas as circunstâncias não deixe de ser uma produção notável. Duas Sinfonias, a Sexta e a Sétima ambas obras interessantes embora a ultima seja muitas vezes considerada menor ou demasiado simplista. Pessoalmente devo dizer-vos que não partilho dessa opinião, a sétima é uma das sinfonias de Prokofiev de que mais gosto. Deste período a Segunda Sonata para Violino (1947) merece também ser ouvida (a interpretação que podem ver e ouvir é de Kremer e Argerich).

No entanto é indiscutível que do ponto de vista da sua obra estes últimos anos foram sobretudo marcados pelos seus trabalhos para Violoncelo compostos para o seu amigo Rostropovich (e com a sua colaboração), a Sonata para Violoncelo e Piano (1949) estreada precisamente por Rostropovich e Richter e a Sinfonia Concertante para Violoncelo e Orquesta (1951-52) - Atenção que neste ultimo caso a gravação que vos proponho é precisamente da estreia com Rostropovich no violoncelo e direcção de Richter. Prokofiev estava na audiência tendo sido esta a ultima aparição pública do compositor.

Prokofiev - ironia do destino viria a falecer no mesmo dia de Stalin a 5 de Março de 1953, a bem dizer cerca de uma hora antes - sendo por esta razão enterrado de forma quase anónima dado que o seu falecimento não foi publicado senão alguns dias depois sendo por essa razão desconhecido de quase todos excepto os seus amigos mais próximos. Pior ainda, por causa das actividades relacionadas com o falecimento de Stalin poucos ousaram deslocar-se ao funeral do compositor. Sabe-se que Oistrak interpretou a primeira sonata para violino e que Richter e Shostakovich estiveram presentes entre cerca de 40 pessoas ... Prokofiev foi reabilitado alguns anos após a morte de Stalin tendo-lhe sido atribuída postumamente o Prémio Lenine pela sua Sétima Sinfonia.



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