Na quinta parte desta série sobre Prokofiev vamos concentrar-nos sobre o período da Segunda Guerra Mundial. Lembramos que como dissemos no quarto post desta série em virtude da aliança germano-soviética Prokofiev (e também do próprio estado de guerra que obviamente dificultava as deslocações) o compositor tinha acabado de perder o privilégio de se deslocar ao Ocidente em particular à França, Reino Unido e Estados Unidos onde gozava de uma relativa reputação - dizemos relativa porque na verdade o seu estatuto de compositor do regime atribuição justa ou injusta isso é tema de outra conversa - e onde se deslocava frequentemente como uma espécie de embaixador da música soviética. É neste quadro que devemos enquadrar estes anos da vida do compositor (os restantes posts da série podem ser lidos aqui ou seleccionando a Label relativa a Prokofiev).
Em 1941 apesar da tentativa de Stalin de apaziguar Hitler a Alemanha invade a União Soviética. Prokofiev que tinha sofrido um ataque cardíaco no inicio do ano é evacuado para o Cáucaso com outros lideres "culturais". No entanto devemos acreditar que tal como em 1917 o Cáucaso, a guerra ou as privações emocionais e materiais (tinha sido separado à força da sua família) o inspiravam porque nesse período conseguiu conceber algumas das suas obras mais notáveis.
Não querendo dar uma ordem de mérito a essas composições as suas Sonatas para Piano 6, 7 e 8 são absolutamente notáveis sendo que a Sexta (1940) permanece um dos seus trabalhos mais vezes interpretado e gravado.
No que diz respeito à Opera data desse período a sua obra eventualmente mais representativa - Guerra e Paz com um libretto adaptado da obra homónima de Tolstoi - que embora tenha sido apenas estreada em 1955 já depois do falecimento de Prokofiev foi essencialmente composta entre 1941 e 1945 (aliás a estreia de 9 das 11 cenas na forma de concerto deu-se em 1945). Esta obra é também a mais significativa da parceria entre Prokofiev e Mira Mendelson (pelo meio houve o famoso decreto de Zhdanov que obrigou a uma revisão da obra).
No bailado notabilizou-se Cinderella (1945) que apenas perde em reputação para Romeu e Julieta de que já falamos a que se devem acrescentar várias transcrições e suites resultantes desta e outras obras.
Mas sem dúvida que a Quinta Sinfonia é a obra que melhor representa este período pela seu carácter heroico notavelmente transposto para uma forma de expressão essencialmente abstracta que é uma sinfonia. Aproveito para vos referir que se desejarem ver Dudamel a interpretar esta sinfonia com a Filarmonica de Berlim o podem fazer através do Hall Virtual da referida Orquestra por €10 (há bilhetes gratuitos para alunos e professores mediante prova que se deve enviar digitalizada).
Infelizmente a estreia dessa obra (Janeiro de 1945), um espectacular sucesso que viria aliás a dar a Prokofiev o seu segundo Prémio Lenin, marcou também o principio do fim da vida do compositor pois uns dias depois um acidente e uma forte pancada na cabeça colocaram-no entre a vida e a morte. Viria a recuperar mas isso é um assunto para a próxima e ultima parte desta biografia onde também iremos falar em maior detalhe de duas ou três grandes polémicas ... O famoso decreto de Zhdanov, a relação entre Prokofiev e Mira e a atitude do compositor relativamente a Lina sua ex-esposa (onde o estado soviético também desempenha um papel trágico) e por fim a simultaneidade do falecimento do compositor e Stalin e a consequente ausência de honras de estado no funeral ...
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