sexta-feira, 24 de junho de 2011

Prokofiev (1891-1953) : Quarta Parte - A Arte do Medo

O "subtítulo" deste post é o mesmo que Alex Ross utiliza no seu livro "The Rest is Noise" quando fala da música na União Soviética nos tempos de Stalin. É obviamente uma leitura que recomendo e embora neste post se abordem aspectos não contidos nesse livro algumas das coisas que vos vamos contar são retiradas da referida obra. Por outro lado em toda esta série de posts sobre Prokofiev utilizamos como referência principal o site Prokofiev.org que tem uma biografia extensa e bem organizada do compositor (além de muita outra informação complementar pelo que se recomenda a visita ao dito site, claro).

É importante pois considerar que o retorno de Prokofiev à Rússia coincide praticamente com a chegada ao poder do ditador Stalin, ditador esse que influenciaria pelo medo toda uma geração de compositores russos. Nessa Russia Prokofiev coabitaria com Schostakovich com quem nunca se deu bem excepto possivelmente nos últimos meses de vida quando aparentemente chegaram a um entendimento mutuo. Schostakovich que como é sabido mais do que qualquer outro sentiu esse medo não porque tenha ousado desafiar o sistema (discutível este ponto mas é o que acho) mas porque esse pavor está documentado não só nas suas obras mas também em algumas frases do compositor ...

Prokofiev não se estabeleceu de imediato em Moscovo, nos primeiros anos fazia uma espécie de vai-vem entre Paris e a capital russa tendo de imediato recebido algumas encomendas do estado soviético. Estas primeiras obras sofreram a praxe imposta a todos os compositores que desejavam entrar no "Realismo Socialista". Demasiado Sofisticado, Demasiado Simples, Não suficientemente realista, Mortos não dançam (dito a respeito de Romeu e Julieta)  ... Porém contrariamente a Schostakovich que procurava despachar os compromissos "oficiais" o mais rapidamente possível, Prokofiev esmerava-se em cada desafio proposto.

Entre os seus primeiros sucessos enquanto compositor Soviético encontram-se o seu Segundo Concerto para Violino escrito para Robert Soetens mas que ganhou fama quando passou a fazer parte do reportório de Heifetz (é de Heifetz a interpretação que sugerimos no link). Se preferirem ouvir a estreia em Londres em 1936 precisamente por Robert Soentens podem ouvir aqui uma gravação da BBC.

Porém o primeiro sucesso esmagador de Prokofiev e que lhe valeu o seu primeiro prémio Stalin foi a Banda Sonora do filme Alexander Nevsky (também adaptado a Cantata - alíás esta é uma caracteristica de Prokofiev  maioria dos seus trabalhos para Ballet ou filme existem em outras formas, suites sinfónicas, cantatas, ... ). Podem ver e ouvir uma versão completa deste filme (em Italiano) aqui ... a música e os coros esses estão na língua original não se preocupem. Vale a pena verem esta obra prima de Eisenstein ... A este sucesso seguiram-se vários outros nesta área e também no teatro.

Entretanto tinha passado mais ou menos desapercebido aquela que é hoje uma das obras de Prokofiev mais vezes interpretada: Pedro e o Lobo (1936) uma encomenda especialmente destinada a crianças.

No entanto neste final de década Prokofiev já se tinha apercebido das consequências de ter aceite voltar à União Soviética. A garantia de encomendas e de rendimentos tinham um preço e esse preço era a submissão. Em particular com a aliança táctica da União Soviética à Alemanha Nazi as relações entre a nação soviética e a França, Reino Unido e Estados Unidos deixaram de ser necessárias, pior do que isso passaram a ser um problema. Desta forma a liberdade que Prokofiev gozava para se deslocar ao Ocidente enquanto embaixador da música Soviética foi bruscamente terminado.

Estes problemas implicaram o cancelamento e alteração de uma obra Semyon Kotko que representava os alemães numa luz pouco favorável e respectivo assassinato pelo poder do produtor e amigo de Prokofiev Vsevolod Meyerhold. O preço a pagar poderia ainda tornar-se mais elevado dada a origem Espanhola da mulher de Prokofiev e a desconfiança doentia que Stalin tinha dos estrangeiros ... Aliás esta ópera mesmo depois das alterações a que foi submetida foi rapidamente proibida só tendo sido politicamente reabilitada em ... 1970!

Apesar de tudo (ou se calhar por causa disso tudo)   Prokofiev continuava a compor tendo em 1939 terminado nada menos do que a já referida ópera, três sonatas para piano e a Sonata para Violino e Piano nº1 em Fá Menor. (a interpretação que proponho é de Oistrak e Richter, seria difícil melhor ... ) Aproximava-se no entanto o tempo da Guerra e isso é assunto para o próximo episódio ...

1 comentário:

  1. Pedro e o Lobo é das coisas mais belas que se fez em termos de música....digamos....descritiva. :)

    Prokofiev faz parte dos meus compositores favoritos. Se bem que ultimamente ando mais voltado para os britânicos: Walton, Bliss, Vaughan Williams, Holst. Mas já estou a fugir ao assunto do post. eheheheheheheh.

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