domingo, 26 de outubro de 2014

Shostakovich - Concerto para Violino nº1 em Lá Menor (Op. 77)

Pode hoje parecer estranho de uma obra abstracta (e voltamos ao tema de ontem) mas a verdade é que este concerto não foi interpretado durante mais de 10 anos devido ao receio do compositor que o mesmo fosse julgado revisionista pelo regime de Estaline e literalmente condenasse o compositor à morte (e literalmente é mesmo literalmente).

A verdade é que o concerto foi composto pouco após a segunda guerra mundial entre 1947 e 1948 tendo apenas sido estreado a 29 de Outubro de 1955 tendo por solista David Oistrakh a quem a obra tinha sido dedicada e que colaborou intensamente com o compositor em várias alterações e revisões. A honra da direcção de Orquestra coube a Yevgeny Mravinsky que dirigiu a Filarmónica de Leninegrado. O concerto foi muito bem recebido sendo que a história ainda lhe haveria de conceder mais um papel.

As relações entre os Estados Unidos e a Russia estavam a conhecer em 1953 (consequência eventual da morte de Estaline em 1953) um bom período tanto que Oistrakh foi autorizado a fazer uma tournée aos Estados Unidos onde iria tocar com algumas orquestras americanas que se disputaram o privilégio de estrear - precisamente este concerto para Violino. Essa interpretação foi transmitida pela rádio e gravada sendo neste momento possível ouvir um extracto de cerca de 4 minutos no site dos Arquivos da Filarmónica de Nova Iorque (o final e o inicio do aplauso final). Orquestra dirigida por Dimitri Mitropoulos. O programa dessa série de concertos está disponível sendo interessante a dscrição que faz da obra e que seguimos de seguida. Notem em primeiro lugar que tanto neste programa como em muitas outras referências este concerto é numerado como sendo o Opus 99. Isto tem por causa obviamente o tempo decorrente entre a composição e a publicação e interpretação. Shostakovich em vida preferiu não arriscar e conservadoramente manteve essa numeração. Musicalmente faz muito mais sentido incluir este concerto com uma numeração mais próxima da original.

O concerto rompe com a tradição clássica do concerto ao ter sido concebido em quatro andamentos (em vez dos tradicionais três).


1º Andamento Nocturne: Moderato – Um discurso baseado em dois temas, um lamento em que por vezes paira Beethoven por outras Mahler. Um andamento numa forma de Sonata muito modificada quase livre. Um andamento que cresce de um lamento para um "grito"dramático num crescendo que não vos deixará indiferentes. Aliás posso dizer-vos que foi exactamente este concerto e este andamento que um dia na Gulbenkian há uns anos me fez mudar de opinião de forma radical relativamente a Schostakovich.

2º Andamento Scherzo: Allegro – Neste andamento pela primeira vez podemos ouvir o motivo DSCH embora de forma quase ocasional. Esta parte da composição caracteriza-se por um ritmo verdadeiramente frenético sendo muitas vezes apelidado de "diabólico".

3º Andamento Passacaglia: Andante – Cadenza (attacca) – Talvez o andamento mais conhecido do concerto e aquele que permite ao solista uma maior expressividade. O andamento termina com uma condução directa ao ultimo andamento (é esse o significado da expressão "attacca" mecanismo utilizado para manter o ambiente criado).

4º Andamento Burlesque: Allegro con brio – Presto – Um andamento também muito rítmico como aliás uma grande parte do concerto uma verdadeira dança campestre porém com o acido tipico de Schostakovich.

Sendo a obra dedicada a David Oistrakh obviamente apenas poderíamos recomendar uma interpretação deste violinista. A que vos mostramos de 1956 não está disponível da sua totalidade (embora exista uma gravação em disco da mesma e uma gravação feita em estúdio no dia seguinte) mas felizmente podemos encontrar um magnifico vídeo de um concerto em Berlim (1967) com Oistrakh e a Staatskapelle Berlin dirigida por Heinz Fricke.




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