Pela primeira vez desde que escrevo aqui neste blog resolvi escrever algo de negativo acerca de um blog que seguia até hoje e que vou deixar de seguir. Diz-se nesse blog (que aposta sempre nas formas mais polémicas para exprimir as suas opiniões) que por lá se praticam "a liberdade e o direito de expressão próprios das sociedades avançadas". Não vou sequer comentar a contradição que esse facto e a impossibilidade de comentar pode representar, porque claramente essa é uma prerrogativa de quem edita, mas que é engraçado é.
Sinceramente penso que há por lá alguma confusão entre liberdade e direito de expressão com irresponsabilidade. Ao mesmo nível do direitos de expressão vêm as responsabilidades do que se afirma. Não podemos (devemos) achar que só porque podemos dizer tudo o que nos vem à cabeça - tenha ou não piada, seja ou não polémico, seja verdade ou mentira seja ou não a nossa opinião sincera - o devemos fazer. A liberdade ensinaram-me pressupõe responsabilidade e tenho algumas dúvidas que quem por lá escreve tenha ideia do mal que pode causar.
Deixo de o seguir porque fartei-me do veneno destilado por lá. Esta e esta foram as ultimas gotas. E assim também eu estou a exprimir a minha liberdade e o meu direito de expressão, aqui à falta de outro local.
A única música que precisa de embalagem é a música de plástico.
sábado, 19 de junho de 2010
Faleceu José Saramago (1922 - 2010)
Não posso dizer que era um grande fã aliás a bem dizer nem sequer posso afirmar em verdade que seja um "pequeno" fã de José Saramago. Apreciava a forma como utilizava as longas metáforas e até concordava com algumas das suas opiniões relativas à forma como evoluiu a nossa sociedade. Apreciava a forma como não se furtava a uma boa polémica.
Faleceu. Enquanto ateu que era certamente não gostaria que lhe desejássemos que repousasse em paz porque citando Voltaire justamente pensaria que "A morte não nos diz respeito. Vivos porque somos, mortos porque já não". Eventualmente apreciaria que o imortalizássemos através da sua obra e por isso vos deixo com um poema publicado no seu blog há uns dias
Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.
In Poesía completa, Alfaguara, pp. 636-637
Da música que acompanha sempre os nossos posts pelas mesmas razões de há pouco não vos proponho nenhum Requiem. Penso que Acordai de Lopes Graça é adequado. Ele gostaria com toda a certeza que acordássemos e depressa ...
Faleceu. Enquanto ateu que era certamente não gostaria que lhe desejássemos que repousasse em paz porque citando Voltaire justamente pensaria que "A morte não nos diz respeito. Vivos porque somos, mortos porque já não". Eventualmente apreciaria que o imortalizássemos através da sua obra e por isso vos deixo com um poema publicado no seu blog há uns dias
Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.
In Poesía completa, Alfaguara, pp. 636-637
Da música que acompanha sempre os nossos posts pelas mesmas razões de há pouco não vos proponho nenhum Requiem. Penso que Acordai de Lopes Graça é adequado. Ele gostaria com toda a certeza que acordássemos e depressa ...
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