sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Era uma vez um ano mau

Era uma vez um ano mau que dificilmente poderia ter sido pior. Vai ser a vez do novo ano que se espera que pelo menos não seja pior. Na minha mensagem de Natal que enviei a alguns amigos dizia que para isso bastaria que nos desse a oportunidade de sermos pessoas melhores.

Juntei nesse texto uma parte do poema Mensagem de Fernando Pessoa, poema que aliás recomendo a todos para esta passagem de ano. Em particular uma das partes desse poema no todo genial mas com algumas estrofes que estão para além de qualquer descrição em prosa e que contém uma frase que utilizo frequentemente quando me dizem que determinada acção não vale a pena face à dimensão do problema em consideração.

Ó mar salgado, 
quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, 
quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
Valeu a pena? 
Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu.

Esse meu email não tinha música mas neste blog não posso deixar de vos fazer uma sugestão de Ano Novo. É difícil encontrar algo que não destoe da intensidade de Fernando Pessoa. Depois de reflectir resolvi fazer-vos uma dupla sugestão. A mesma obra ouvida aqui neste blog e a sugestão para a ouvirem ao vivo.

Esta obra tem obviamente alguma coisa a ver com o propósito da Mensagem embora num domínio totalmente diferente, mais romântico diríamos. Foi composta para conquistar o coração da bem amada. O inicio da idée fixe e pronto agora os mais versados já sabem o que vos estou a propor. Aqui fica para passarem o Ano em boa companhia. A Sinfonia Fantástica de Berlioz. Quanto ao resultado bem a verdade é que a bem amada não quis assistir à estreia. Depois de alguma insistência lá o fez conheceu Berlioz e aceitou casar com ele. Quanto à felicidade enfim as opiniões dividem-se, certo é que se divorciaram nove anos depois.





No que diz respeito ao convite para irem ver ao vivo bem será mais para quem esteja perto de Lisboa - as minhas desculpas aos nossos leitores de outros países e continente, estou seguro que esta obra se interpretará algures perto de vós mas infelizmente não tenho forma de conseguir saber datas e locais - mas para quem se possa deslocar a Lisboa poderemos ouvir esta obra ao vivo na Gulbenkian pela Orquestra Gulbenkian dirigida por Thomas Adés o que só por si seria interessante.

Já agora para quem deseje um programa para o fim do dia 31 e numa recomendação 100% portuguesa sugiro na RTP 1 a transmissão em directo da Igreja de São Roque do Te Deum (1769) de João de Sousa Carvalho, às 17h. Nem proponho ao vivo porque está esgotado ...

Era uma vez um ano mau que acaba, vai ser a vez do Ano Novo que vai ser melhor meus amigos. Vai ser melhor porque sei que todos vamos tentar e logo ...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Alex Ross: The Rest Is Noise: Hiatus

Ohhhhhhhhhhhhh apetece exclamar .... mas é por uma boa causa.
Esperamos com ansiedade o dito livro sobre wagnerismo. Vindo deste autor
uma coisa é certa será sem dúvida diferente de tudo o que já lemos sobre o
assunto (embora completo).

Alex Ross: The Rest Is Noise: Hiatus:

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Paz pela Música (West-Estearn Divan Orchestra)

Não vou fazer neste post nem uma biografia nem um elogio dos homens em questão ou dos artistas ou académicos em causa. Este post toma partido sim senhor, toma partido pela paz. O essencial deste post reside na Paz e no papel que a música nela pode desempenhar.

Barenboim nasceu em Buenos Aires na Argentina em 1942, filho de judeus de origem Russa que tinham emigrado para fugir da perseguição que já eram alvo na Europa. Viveu até aos 10 de idade na Argentina - permanecendo cidadão desse país ao mesmo titulo que algumas das outras nacionalidade que foi adquirindo ao longo dos anos e que fazem dele um verdadeiro cidadão do mundo, um representante da Humanidade. O que vos conto neste post são sobretudo palavras dele e de Edward Said numa interpretação que espero ser fiel às suas ideias.

A história que vos quero contar começa em 1999 quando Barenboim cria com Edward Saíd (1935-2003) um palestiniano a West-Estearn Divan Orchestra numa tentativa aproximar pela cultura duas civilizações aparentemente opostas por um conflito e ódios que nos parecem inultrapassáveis. O que vos vou escrever neste texto, talvez um pouco longo para a internet (mas desta vez ao contrário de outras ocasiões quis mesmo que ficasse num único post), baseia-se no livro de Daniel Barenboim  "Está tudo Ligado - O Poder da Música" em particular nos conteúdos do capítulo "A Orquestra" que aborda precisamente a criação da mesma, "Recordando Ernest Said" que nos relembra quem era este Palestiano, "Sessenta Anos de Israel" que faz uma análise da vivência e sobrevivência do estado Judaico e ainda um capitulo que contém uma tradução do discurso de aceitação do Prémio Wolf de que já falamos neste blog por várias vezes. Obviamente se conseguirem encontrar o referido livro (uma edição da Bizâncio) este é sem dúvida uma excelente leitura para o Dia Mundial da Paz, o dia 1 de Janeiro.

Segundo Barenboim Edward Said dizia que a música era sempre um pouco subversiva porque tentando conciliar vozes dominantes com vozes secundárias mantendo-as nesta hierarquia mas sem que uma delas se oblitere tornando-se irrelevante ou simplesmente mecânica. Subversiva porque tentando conciliar melodia e acompanhamento sem que nenhum deles se substitua ao outro. Subversiva portanto porque demonstra que é possível conjugar tudo isto num conjunto harmonioso em que todos têm o seu lugar. Claro que na música ambas estas coisas são mais fáceis de fazer do que no mundo real. Na música puderam concluir-se em alguns meses acrescenta. No mundo real poderá demorar um pouco mais mas não um tempo infinito.

Para quem não saiba o próprio nome West-Eastern Diwan Orchestra é ele próprio significativo. Foi inspirado numa recolha de poemas de Goethe possivelmente um dos primeiros europeus a interessar-se verdadeiramente por outras culturas. Goethe apaixonou-se pelo Islão que conheceu através de um soldado alemão. Posteriormente ficou fascinado por um poeta de origem persa Hafiz. Diwan é um termo de origem árabe que significa lista ou colectânea. Goethe utilizou este termo (aliás utilizado também em França e no Al-Andaluz para o mesmo efeito - designar uma colectânea de poemas) para a sua obra ao estilo Persa. Curiosamente nessa mesma altura Beethoven escrevia a sua nona sinfonia e sonhava com "homens todos irmãos". Que lição poderíamos tirar deste final do século XVIII! Mas isso é outra história e este post já será demasiado longo sem o parêntesis - um dos muitos que me apetece fazer ao longo deste texto.

A Orquestra reuniu-se pela primeira vez em Weimar o que não deixa de ter também um significado simbólico profundo sendo essa cidade o berço cultural da Alemanha, berço de Goethe, Schiller, ... e ao mesmo tempo a escassa distância de Buchenwald onde Judeus eram levados para a camâras de gaz ao som de Wagner. O simbolismo aliás nunca abandonou esta orquestra que viria dois anos depois a obter uma residência definitiva na nossa vizinha Andaluzia o local onde Cristãos, Judeus e Islâmicos conseguiram viver em paz durante quase sete séculos fixando a sua sede em Sevilha a partir de 2002.

A intenção do estágio inicial em Weimar era apenas de conseguir fazer com que músicos israelitas e árabes "tocassem a mesma nota da mesma forma" chegando a um entendimento como o fazer, se isso acontecesse pensavam Said e Barenboim nunca mais poderiam pensar no conflito que os separa da mesma forma essencialmente porque para conseguir esse entendimento já teriam ultrapassado o primeiro passo: Ouvir com atenção o outro, mesmo que numa forma abstracta de arte - e por isso a música era tão atractiva como forma de encetar um diálogo - mas teriam ouvido. A natureza puramente abstracta mas ao mesmo tempo precisa era ideal para que fosse possível ouvir com atenção. Porque para fazer música numa orquestra não basta apenas tocar muito bem é preciso saber ouvir os demais. Os papeis podem ser apenas de suporte ou fazerem parte do acompanhamento ou ainda de uma linha melódica secundária mas todos têm um papel a desempenhar, todos fazem diferença.

Barenboim e Said sabiam que a Orquestra não poderia trazer a Paz mas achavam que dado o primeiro passo num entendimento musical e que esse entendimento pressupõe, exige mesmo, que se oiça (mas que se oiça verdadeiramente) então torna-se possível o passo seguinte o do entendimento verbal. Impossível? Quando eles iniciaram o projecto se alguém lhes dissesse que iriam um dia fazer tournées pelo mundo fora que iriam interpretar no mais improvável dos palcos numa Ramallah cercada pelos tanques israelitas não acreditariam, mas a verdade é que removida a "impossibilidade mental" o resto torna-se particularmente simples.

E fez-se o tal concerto histórico a todos os níveis em Ramallah (2004) e claro que em ambos os lados há quem não entenda. Há quem não entenda porque acredita que isso é uma cedência indesculpável a qualquer condição prévia que se estabeleceu, há quem não entenda porque acredita numa solução pela força e na inabalável justeza do seu ponto de vista ... Há quem não entenda porque simplesmente ainda não conseguiu ouvir verdadeiramente a outra face da história, tanto do lado dos opressores como do lado dos oprimidos.

Neste conflito como em outros não podemos falar em tolerância, tolerância tem implícito um conceito de superioridade - eu tolero porque te sou superior - perigoso e insultuoso mesmo. Dizia Edward Said : "Eu e o meu amigo Daniel Barenboim escolhemos a via Humanística e não politica porque acreditamos que a ignorância não é uma estratégia de sobrevivência sustentável".

Esta Orquestra já rompeu com centenas de obstáculos centenas de preconceitos. Já colocou músicos ocidentais judeus e cristãos em conjunto com músicos árabes a interpretar Mozart em Ramallah. Já colocou músicos judeus a interpretar Wagner  (um tabu desde o holocausto pelas razões óbvias decorrentes do já citado e do famoso manifesto Wagneriano), mas fê-lo porque musicalmente Wagner é um compositor que tem na história da música um papel incontornável: Sem Wagner não haveria Bruckner, Strauss ou Mahler. Porque com a razão foi capaz de ultrapassar condições emocionais que são reais mas que não deixam de ser ultrapassáveis.

A realização do concerto em Ramallah necessitou a junção de um conjunto apreciável de recursos e de vontades. A questão que se pode colocar é porque razão conseguimos que elas se juntem durante um instante para depois desaparecerem como se nunca tivessem existido. Tal como em 2006 dois anos depois apesar da guerra existente entre Israel e o Hezbollah a orquestra reuniu-se e conseguiu mesmo entre os músicos chegar a um entendimento sobre uma nota a colocar nos programas que endereçava a situação de forma clara:

Este ano o nosso projecto está em contraste flagrante com a crueldade e selvajaria que recusa a tantos civis inocentes a possibilidade de continuarem a viver, a concretizar os seus ideais e sonhos. A destruição pelo governo Israelista de infra-estruturas vitais no Líbano e em Gaza desenraizando um milhão de pessoas  e infligindo pesadas baixas à população civil e o bombardeamento indiscriminado pelo Hezbollah de civis no Norte de Israel estão em total oposição aquilo em que nós acreditamos. A recusa de um cessar-fogo imediato e a recusa de entrar em negociações para resolver de uma vez por todas o conflito em todos os seus aspectos vão contra aquela que é a essência do nosso projecto.

No discurso de aceitação do prémio Wolf e em pleno Knesset disse Daniel Barenboim: "Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas."


No próximo Verão a West-Eastern Orchestra vai estar de novo nos proms mas desta vez de forma especial para interpretar uma integral das sinfonias de Beethoven. Simbolicamente para representar o Espírito Olímpico. Dificilmente encontrariam melhor duplo simbolismo. Pela Paz.





sábado, 24 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal só com Bach ...

Que me perdoem alguns dos leitores mais atentos e que terão provavelmente já ouvido a obra que vos vou referir pelo menos uma centena de vezes (exagero só um pouco :-)) mas para mim Natal é Bach e Bach é Natal.

A obra a que faço referência é a Oratória de Natal BWV 248 que foi baseada em várias outras cantatas (BWV 213 a 215). Foi interpretada na forma de Oratória de Natal pela primeira vez no dia 25 de Dezembro de 1734 na Igreja de S. Nicolau em Leipzig (a primeira parte) sendo as partes seguintes interpretadas nos dias 26 e 27 na mesma igreja.

(Para o Primeiro Dia de Natal)
Parte 1 - Movimento 1
Parte 1 - Movimentos 2 a 4
Parte 1 - Movimentos 5 a 9

(Para o Segundo Dia de Natal)
Parte 2 - Movimento 1
Parte 2 - Movimentos 2 a 8
Parte 2 - Movimentos 9 e 10
Parte 2 - Movimentos 11 a 14

(Para o Terceiro Dia de Natal)
Parte 3 - Movimentos 1 a 6
Parte 3 - Movimentos 7 a 10
Parte 3 - Movimentos 11 a 13

O que me faz dizer que Bach é Natal é que na verdade ao ouvir esta música há pouco mais a dizer. A paz que transmite é perfeita, o amor pelo próximo que deixa antever intenso.

A interpretação que escolhi é da Orquestra Barroca Inglesa dirigida por Sir Elliot Gardiner com o Coro Montverdi. Se desejarem ouvir apenas uma das partes (que Deus vos perdoe :-)) escolham a segunda da primeira parte (movimentos 2 a 4) ou o primeiro em que há partes que penso mesmo que Bach convida Deus a dançar com ele (pelo menos eu tenho vontade disso) ... Senão oiçam uma das partes por dia (o melhor conselho que vos dou há já algum tempo) e já têm programa musical até aos primeiros dias do novo ano mesmo admitindo a ausência de novos posts por aqui ...

 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Concerto Moderno - O Primeiro Concerto de um novo agrupamento

Não percam hoje às 19h no auditório do ISEG ou então à distância na Antena dois à mesma hora o primeiro concerto deste novo agrupamento que será dirigido por César Viana. A entrada é livre. Mais informações aqui  .Programa com Purcell, Mozart e claro o Concerto de Corelli que certamente esperam ... Ouvi a ante-estreia ontem e vale a pena a cerca de uma hora que resolverem conceder.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Cesária Évora (1941-2011)

Não pertencia à música clássica, longe disso, mas não posso deixar de registar o falecimento desta cantora no dia de ontem, 17 de Dezembro de 2011. Registo-o porque gostava e gosto da sua voz e gosto ainda mais das mornas que cantava como poucos.

O Mundo perdeu mais um dos seus grandes artistas que ficará sempre connosco no entanto na nossa memória. Para mim Cesária Évora já era Sodade. Agora será ainda mais ...



Não voltará mas espero que como ela também dizia tenha sido doce o momento de nos deixar. Não foi
no mar mas foi no seu país. Sodade Cesária, Sodade ...

   

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Orquestra da Escola Superior de Música - Sugestão para o fim de semana

Bom eu sei que esta semana tenho colocado poucos posts mas o período antes do Natal é sempre complicado . Fica no entanto uma sugestão para ouvirem boa música e como por vezes é o caso por aqui nestas recomendações totalmente grátis !

Neste caso tenho uma sugestão para Sábado às 16h na Igreja de São Domingos em Lisboa e no dia seguinte na Sé de Évora às 18h. Os concertos terão um programa idêntico constituído por Gloria (Poulenc) e Te Deum (Bruckner) e contarão com a Orquestra o coro Odyssea e o Coro da Escola Superior de Música de Lisboa dirigidos por Vasco Pearce de Azevedo.

Deixo-vos aqui as duas obras, primeiro o Te Deum neste caos dirigido por Gilbert Levine (que acabou recentemente de anunciar retirar-se pelo menos temporariamente devido a doença)




 Depois a obra de Poulenc com a Orquestra da BBC. Não se esqueçam no entanto que ao vivo é outra coisa!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Contextos da Modernidade

Para quem tem estudantes de música na família ou simplesmente para quem gosta de arte e tem interesse em ter uma perspectiva do que pensam 10 compositores contemporâneos portugueses sobre a música e sobre o mundo recomenda-se este livro:

Contextos da Modernidade

Ainda não sei onde o poderão encontrar mas prometo actualizar este post assim que souber ... pessoalmente vou tentar adquirir e depois conto-vos mais ...

Uma sugestão de um concerto

Soubemos através do Facebook um pouco por acaso de um concerto que irá decorrer no dia 13 de Dezembro, ou seja na Terça-Feira no belíssimo salão Nobre da Academia de Ciências de Lisboa. Aliás num parte confesso que ao ler a página da Academia gostei muito das sugestões de presentes de Natal que por lá são dadas.

O concerto de piano por Sara Davis Buechner terá lugar às 19h e no programa estão incluídas obras de Haydn, Turina, Gershwin e Nishimura. Muito variado portanto. Através de um comentário no Facebook ficamos igualmente a saber que a pianista irá de seguida fazer na Universidade de Évora uma série de colóquios e Masterclasses. Não tenho os detalhes desta actividade mas estou seguro que não terão dificuldade em encontrar essa informação no site da referida Universidade.

O Concerto de Terça-Feira tem entrada gratuita o que é mais uma razão para não perderem o mesmo se tiverem ocasião. Entretanto para Sábado e Domingo próximo em breve duas sugestões ...

sábado, 10 de dezembro de 2011

Faleceu Maria Helena Pires de Matos

Através de amigos no Facebook e de vários sites noticiosos chegou-me ao conhecimento o falecimento da maestrina e musicóloga Maria Helena Pires de Matos vitima de doença prolongada. Fundadora e Directora do Coro Gregoriano de Lisboa desde a sua fundação em 1989 foi dos primeiros portugueses a receber prémios internacionais pelas suas gravações com este agrupamento.

Que descanse em paz e como sempre neste blog para ajudar a essa mesma paz fiquemos com um pouco de música de que com toda a certeza gostaria. Ficamos sem dúvida mais pobres.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Erbarme Dich Mein Got - Bach

Depois do Gospel ontem ( obrigado cunhado :-) ) e sendo hoje o dia que é - pese a minha reticência no significado do mesmo a noção do pecado aliado à concepção é algo que me faz muita confusão na minha igreja - sendo hoje o dia que é como dizia só vos poderia propor Bach.

Curiosamente (ou não) separadas que estão por alguns séculos existe uma certa unidade nos dois ... A interpretação de Bach é de Christa Ludwig sendo a orquestra dirigida por Klemperer (gravação de 1962).



Erbarme dich, mein Gott, 
um meiner Zähren willen! 
Schaue hier, Herz und Auge 
weint vor dir bitterlich. 
Erbarme dich, mein Gott. 

Tem piedade, meu Deus,
por minhas lágrimas!
Vê como o meu coração e os meus olhos
choram amargamente na tua Presença.
Tem piedade, meu Deus.

(uma tradução um tanto livre...)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Paz - Daniel Barenboim

Este post será um inicio, uma espécie de aperitivo para o post que virei a fazer no próximo fim de semana (espero) na página de  Facebook do Mundo Melhor. Lembrei-me do maestro hoje quando por acaso dei de caras com o seu livro e com um post que fiz em 2009 sobre a sua conferência na Gulbenkian.

Sabem o que penso? Que é pena que não existam na liderança dos nossos países pessoas com esta estatura de liderança. Diz Barenboim que é um problema do Marketing que nos conduz a esta superficialidade e a este cinzentismo crónico. Talvez seja ou então é aquilo que em Marketing chamamos Selecção Negativa. Isto é os valores que exigimos, a forma como votamos a nossa fraca memória recompensa quem é essencialmente cinzento, sem chama.

Mas estou a afastar-me do tema que é o maestro. Como vos digo hoje é apenas um aperitivo, musical digamos . Como aperitivo só podia dar-vos a Heróica, que bem precisamos !


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma Sugestão Medieval

Um dos blogs que costumo ler Andanças Medievais, publicou um post muito interessante sobre o Cancioneiro Medieval Português. Não é propriamente música clássica é se quisermos a sua antecessora mas pensei que valia a pena fazer aqui menção já que sei que existem alguns dos nossos leitores que gostam deste tipo de música.

Recomendo que leiam o post tanto mais que contem um fabuloso link para um site onde me parece que irão perder (ganhar?) umas horas e mais não digo que será melhor a surpresa ...

domingo, 4 de dezembro de 2011

Luís de Freitas Branco - As Sonatas para Violino

No blog do Valkirio soubemos da edição de um novo disco com as Sonatas para Violino de Luís de Freitas Branco. Com a respectiva autorização repetimos aqui essa excelente recomendação. A exemplo do que fizemos com outros discos portugueses no passado iremos colocar este disco em destaque aqui no blog. Merecem os músicos e compositores portugueses tudo o que pudermos fazer para divulgar a sua obra.

Esta nova gravação da Editora Naxus com Carlos Damas no Violino e Anna Tomasik no Piano pode ser adquirida em formato digital ou em CD (o formato mais recentemente editado). Comprem na forma que mais vos aprouver, mas comprem! Em formato digital são pouco mais de €6 para as duas sonatas e o Prelúdio para Violino e Piano.

O que poderemos dizer sobre estas sonatas? A primeira destas sonatas foi composta em 1907 e com ela participou num concurso de composição em que escandalizou ou júri pelo seu carácter francamente inovador para a época. Fortemente inspirada em Cesar Franck existe na sonata uma concepção integral, homogénea, que sinceramente adoro. Podem ouvir aqui o terceiro andamento pelo menos violinista (Carlos Damas),

A segunda sonata é bem mais tardia - data de 1928 - de natureza quase clássica diríamos embora introduza dentro dessa estrutura uma sonoridade própria do seu tempo e represente também uma evolução na procura da sua própria voz num balanço entre Portugal e Alemanha passando pela França onde estudou ... Não existe no You Tube nenhuma interpretação desta segunda sonata por isso tal como Valkirio proponho-vos que oiçam aqui o quarto andamento. Como o Primeiro Andamento  (excelente interpretação dos dois músicos) é qualquer coisa de memorável vou fazer um video com esse primeiro andamento desde que prometam que se gostarem compram o CD todo ...

Camarata da sinfónica Juvenil hoje à tarde na Igreja de S. Nicolau

O concerto pela camarata é às 16h e a entrada é livre. Um programa ideal para uma tarde de Domingo, entrada livre. A Igreja de São Nicolau fica na baixa (quem não souber onde é facilmente a encontra pelos Google Maps por exemplo). O parque de estacionamento mais próximo para quem for de carro é o da Praça do Município o que garante ainda um lindo passeio a pé de cerca de 10 minutos.

Um programa musical com Bach e Mozart ideal para quem ouve pouco música clássica e queira (re)começar a  ouvir.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Alban Berg (1885-1935)

Tinhamos falado ainda que brevemente sobre este compositor num post em que referíamos um livro Alan Berg e o seu Mundo. Porém não falamos do compositor nem da sua obra. Ora seguindo o Guia da Música de Câmara o próximo compositor que não abordamos era este e logo será ele o tema do post de hoje.

Membro da segunda escola de Viena (com Schoenberg e Webern) nasceu precisamente nessa cidade a 9 de Fevereiro de 1885. Mais interessado em literatura do que em música iniciou a sua formação musical relativamente tarde e logo com Schoenberg. Apesar disso a sua primeira obra a Sonata para Piano enquanto primeira obra foi desde logo o sinal do génio. 

A sua paixão pela literatura obviamente viria a guiar uma parte da sua vida enquanto compositor já que algumas das composições mais notáveis são precisamente Lieder ou Óperas. No primeiro caso o ciclo 
Sieben Frühe Lieder contém algumas canções lindíssimas de que posso por exemplo destacar Die Nachtigall. No primeiro caso (das operas) claro que teriamos de abordar Wozzeck.

O que para mim é particularmente interessante é a capacidade de Berg de aliar algum romantismo quer à atonalidade quer mesmo ao dodecafonismo. Em ambos os casos Berg interpretou-as de forma muito diversa do resto da segunda escola vienense e talvez por isso seja por vezes considerado o mais abordável do três.

Queria para finalizar propor-vos o Quarteto para Cordas (Op. 3) completamente atonal neste caso e em dois andamentos, o primeiro numa forma de Sonata relativamente livre o segundo seguindo a estrutura de um Rondo. Mentiria se vos dissesse que está na lista dos meus preferidos ... Se querem mesmo ficar com uma única destas sugestões eu recomendaria os Sieben Frühe Lieder de que vos deixo então um outro exemplo dos sete, neste caso a No.6 Liebesode neste caso interpretado por Renée Fleming.

Alan Berg faleceu em circunstâncias bastante dramáticas de um envenenamento do sangue devido à falta de cuidados médicos em grande parte consequência de uma ferida mal tratada.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Mais um protesto da série "Ocupar Wall Street"

No primeiro post de hoje falei-vos deste protesto mas sem explicar do que se tratava porque na verdade não tinha tido tempo de analisar o fundamento do mesmo. Depois de ler e reler o texto do Alex Ross confesso-vos que continuo sem perceber completamente. Pelo que entendi o autor da referida obra tem objecções à diferença existente entre a moral transmitida pela sua peça e os mecanismos de financiamento da máquina que a tornam possível.

Por essa razão resolveu organizar uma espécie de happening à saída da referida obra ... lendo uma passagem do texto da dita.

Confesso que fico sem saber bem o que pensar a não ser talvez que chorar com a barriga cheia é fácil? Se tem objecções porque não as expressar antes e até não permitir que a sua obra - ou pelo menos esta que tem um tipo de conteúdo especial - seja interpretada neste palco?  Tenho neste caso alguma dificuldade em colocar-me do lado do artista.

Por outro lado registe-se que em Nova Iorque no mesmo dia aproximadamente à mesma hora havia pelo menos dois grandes espectáculos a decorrer perto um do outro ... a 10ª de Mahler a que Ross foi assistir e a tal representação da opera de Glass. Nesse particular sei bem o que pensar e não é nada cristão: Que inveja !

Por fim não quero terminar sem chamar a atenção para o final do texto em que se comparam os preços dos bilhetes de vários tipos de espectáculo. Não sei se por cá a proporção será bem a descrita no texto (seria engraçado fazer a comparação, vou tentar ... ) mas deixa-nos a pensar o que é efectivamente elitismo se tomarmos como base esse critério de julgamento.

Tempo de Protesto : Alex Ross: The Rest Is Noise: The Satyagraha protest

Bem parece mesmo que os protestos estão na ordem do dia. Sabemos que a Gi não gostou desta ópera, não sabemos se esteve em Nova Iorque :-) ... Por agora só link, mais tarde os comentários ...

Alex Ross: The Rest Is Noise: The Satyagraha protest:

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

1 Dezembro de 1640 - D. João IV e Adeste Fideles

No dia de hoje há mais de 5 séculos terminou um período da história de Portugal em que deixamos de ser independentes e fomos submetidos à coroa Espanhola. Nesse período de 60 anos Portugal perdeu uma parte substancial da sua posição no Mundo tendo pago caro a "ajuda" que recebeu de Inglaterra ...

Como sabem aqui neste blog comemoramos com música e por isso nada mais adequado do que o fazer com a recordação de D. João IV, primeiro Rei de Portugal após a Restauração. E é adequado porque este rei foi apelidado, justamente diga-se, o Rei Músico pela sua erudição quer enquanto estudioso e teórico quer enquanto compositor.

A sua biblioteca infelizmente perdida no terramoto de 1755 era considerada uma das mais completas da Europa no que à música diz respeito.

Para comemorar esta data com música e estando perto do Natal resolvemos mostrar-vos Adeste Fideles embora seja hoje muito controversa a sua autoria foi durante muito tempo atribuída ao nosso Rei e a verdade é que bem poderia ter sido (ou foi, na verdade os factos estão longe de ser lineares). A versão que escolhemos é lindíssima em todo o caso. A nossa forma de comemorar os dias especiais: Com música pelo Restaurador da independência.

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