terça-feira, 4 de novembro de 2008

James Galway (1939-)

Uma grande parte deste post é baseado na autobiografia de James Galway.

James Galway nasceu em Belfast na Irlanda do Norte a 8 de Dezembro de 1939 numa família de recursos bastante modestos.

Os anos da sua infância e adolescência foram normais, bom tão normais quanto poderia ser uma infância em Belfast na segunda grande-guerra e imediatamente após. Tanto o pai como a mãe eram músicos embora não pudessem viver dessa actividade numa Belfast pobre e dividida (embora Galway negue que isso se tivesse repercutido no seu dia a dia). James era então um miúdo normal bastante irrequieto e audacioso (conta-nos como ia ficando sem um dedo numa experiência com munições) mas desde muito cedo fascinado pela música.

Esteve quase para aprender violino mas uma experiência pedagógica menos conseguida faz com que rapidamente se dedique à flauta. O pai embora sem uma educação musical formal foi instrumental no desenvolvimento musical do jovem Galway ao impor um ritmo de trabalho e de estudo e introduzindo-o a peças clássicas, embora de forma pouco ortodoxa.

Quando sentiu que tinha chegado o momento de um professor mais conhecedor soube encontra-lo por várias ocasiões. O primeiro foi Ardwell Dunning que o levou a ganhar o seu primeiro prémio o "Irish Flute Championship" que venceu com apenas 10 anos.

Este prémio fez perceber ao seu pai que o rapaz tinha um dom especial e por isso mais um vez o teimoso irlandês investigou tendo encontrado Muriel Dawn uma antiga cantora e vocalista e também professora de flauta que introduziu Galway ao método francês através do método de Marcel Moyse.

Foi Muriel Dawn que permitiu a James Galway tocar para Geoffrey Gilbert e para John Francis reputados professores em Londres e com quem James Galway iria estudar mais tarde. Na realidade isso aconteceu assim que Muriel conseguiu encontrar uma forma para que lhe fosse concedida uma bolsa de estudo.

Começou por estudar com John Francis no Royal College of Music e depois com Geoffrey Gilbert na Guilhall School of Music. James Galway não esconde que nos seus estudos musicais apreciou imenso a técnica mas muito pouco a teoria tendo tido problemas em qualquer uma destas escolas. Conta a autobiografia que todas as desculpas eram boas para faltar às aulas teóricas.

Mais tarde estudou também em Paris com os professores Gaston Crunelle e Jean Pierre Rampal tendo também tido lições privadas com Marcel Moyse (sim um dos outros flautistas que estavam na nossa votação). Galway não gostou muito de Paris embora reconhecesse que o conservatório funcionasse de uma forma diferente do ensino Inglês com muito maior enfase na competição entre os alunos. Galway achava que isso era bom porque permitia que cada um se esforçasse ao máximo.

Depois de terminados os estudos Galway embora sempre um pouco a contra-gosto começou uma carreira de em várias orquestras. Dizemos a contragosto porque este artista sempre exprimiu um desejo de fazer ouvir a sua própria voz, ou seja de abarcar uma carreira de solista. Foi no entanto aconselhado pelos seus amigos e professores a não o fazer. Note-se que nesta altura Rampal ainda mal tinha começado a recuperar a flauta como instrumento solista e efectivamente este tipo de carreira era um risco considerável.

Galway começou a sua carreira com a Philharmonia Orchestra tendo depois passado pela Sadler's Wells Opera (Covent Garden Opera) - que deixou pela necessidade de fazer música "a metro".

Tocou depois na London Symphony Orchestra e na Royal Philharmonic Orchestra tendo em 1969 decidido ir prestar provas para a Filarmónica de Berlim então dirigida por Karajan. As coisas estiveram quase para correr mal conforme podemos ler na sua autobiografia. Na verdade Galway inadvertidamente chegou atrasado (a hora da audição foi mudada sem que o tivessem avisado a tempo). Ora quando chega a Berlim dizem-lhe precisamente isso - que a audição já terminou e que já foi escolhido o primeiro flautista. Galway revolta-se e diz consegue na mesma a audição - tocando no auditório várias peças que lhe são pedidas sucessivamente.

No fim quando passado uns minutos lhe comunicam o resultado Galway diz que tendo sido maltratado não sabe se este é um sitio onde quer tocar. Acaba por voltar a Londres mas aceita o posto em Berlim onde acabaria por ficar até 1975.

A partir de 1975 após ter deixado a Filarmónica de Berlim James Galway dedicou-se então a uma carreira de solista que inclui várias gravações de vários géneros musicais. As suas participações na Rua Sésamo estão provavelmente na memória de muitos miúdos.

É "Sir" desde 2001 o que conhecendo o seu espírito rebelde não deixa de ser uma curiosa contradição. O que já não é uma contradição e está perfeitamente adequado a um homem que preza imenso as pessoas com quem aprendeu - os seus professores - é a sua luta para que melhore a educação musical na Inglaterra, e atreveria-me a dizer no mundo.

São famosas as suas Master Classes e o seu site oficial é um paraíso para quem está a aprender flauta pela quantidade de recursos presentes. É também notável o seu trabalho em várias fundações que procuram promover o ensino da música ou da flauta. É presidente da Flutewise desde 2003 (associação que empresta flautas a jovens com dificuldades financeiras) e membro fundador do Music Education Consortium que procura pressionar o governo britânico para melhorar a qualidade do ensino da música em Inglaterra.

Dos vários trabalhos e arranjos que publicou permito-me salientar,porque nos são culturalmente próximas, as Aria Bachianas Brasileiras No. 5 para Flauta e Piano de Heitor Villa-Lobos.

Para quem quiser ouvir o excelente som deste grande flautista nas suas gravações radiofónicas dos anos 60 o melhor é mesmo visitarem o site oficial e apontarem o vosso browser para aqui. Depois é só escolher entre Telemann, Prokofiev, Hindemith , ...

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