terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Glenn Gould (1932-1982) - O Escritor (parte V)

Esta é a quinta parte de um artigo que Glenn Gould escreveu para a revista High Fidelity em 1974. A entrevista que traduzo aqui a partir da versão original que podem encontrar aqui é do próprio Gould que desempenha o papel de entrevistado e entrevistador. A entrevista claro é também sobre o próprio Gould.

As quatro primeiras partes deste artigo estão aqui (primeira parte), aqui (segunda parte), aqui (terceira parte) e aqui (quarta parte)


Glenn Gould entrevista Glenn Gould sobre Glenn Gould High Fidelity, Fevereiro 1974.(Quinta Parte). g.g é Glenn Gould entrevistador, G.G. é glenn Gould pianista/compositor


g.g.: Mas está essencialmente a falar como um reformador do século XVI.

G.G.: Na realidade sinto-me bastante próximo dessa tradição. Na realidade numa das minhas melhores criações notei que --


g.g.: Ora aí está um julgamento de ordem estetica !

G.G.: Mil desculpas -- deixe-me tentar outra vez. Numa ocasião anterior, fiz notar que eu, mais do que o heroi de Mr. Santayana´s sou "O Ultimo Puritano".


Santayana é um filósofo e escritor de origem Espanhola mas que celebrizou nos Estados Unidos com o romance "O Ultimo Puritano" de 1935.


g.g.: E não pensa que exista qualquer problema em conciliar a consciência individual do reformismo e a censura colectiva da tradição puritana? Ambos os caminhos parecem-me curiosamente misturados na sua tese e por aquilo que conheço nos seus documentários também.

G.G.: Bem não, não penso que exista qualquer inconsistência, porque no seu melhor - o que equivale a dizer na sua forma mais "pura" -- essa tradição envolvia uma perpetual divisão cismática. O melhor e mais puro -- e em qualquer medida o mais ostracizado -- dos individuos acabou nos vales dos Alpes como símbolo da sua rejeição do mundo da planície. Na verdade existe uma seita Mennonite na Suiça que equaciona a separação do mundo com a sua atitude.

g.g.: Seria justo sugerir que o Sr., pelo seu lado, relaciona esse afastamento com latitude ? Afinal criou o documentário "A ideia do Norte" como um comentário metafórico e não como um documentário factual.

G.G.: Sim isso é bem verdade. Claro muitos dos documentários falaram de situações de grande isolamento. Estações no ártico, na Newfounland, enclaves Mennonite e por aí fora.

g.g.: Sim mas tratavam-se de comunidades isoladas.

G.G.: Isso é porque a minha obra prima está ainda um pouco longe.

g.g.: São então esquissos autobiográficos?

G.G.: Não me compete a mim dizer isso.

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