quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

De volta da Gulbenkian : Dudamel e a Orquestra Ibero-Americana

E o que vos posso dizer? Nem sei muito bem por onde começar. Talvez pelo programa composto por três obras: Margariteña (Inocente Carreño), El Sombrero de tres picos, Suite nº 2 para orquestra (Manuel de Falla) e a Sinfonia Nº 5, em Mi menor, op. 64 (Piotr Ilitch Tchaikovsky). Mas este começo serve apenas para ganhar tempo para encontrar os adjectivos certos para o que ouvi. Poderia também começar pelo formalismo do Hino Nacional mas isso não revelaria o que verdadeiramente aconteceu ...

O que eu senti foi uma verdadeira injecção de energia e esperança. Desde o inicio sentiu-se o seu pulsar emanado pelos jovens que constituem a Orquestra. Estou a escrever este parágrafo e ao mesmo tempo estou a ver o documentário que está a passar na RTP2 sobre o "sistema" Venezuelano (a esse propósito leiam este artigo do Público) e acabei de ouvir o Dudamel explicar que essa energia e essa garra provém em parte do facto da música ter proporcionado a esses jovens uma verdadeira vida nova.

Sei que esta Orquestra é diferente (incorpora jovens de vários países incluindo Portugal) mas de qualquer forma acho que será sempre mais do que isso (como se isso fosse pouco). Eles sentem de forma intensa e cúmplice o que tocam e uma (grande) parte disso é mérito do maestro certamente. A energia que passam provém dos seus sorrisos quando tocam algo que lhes agrada, tanto quanto do som que retiram sempre de forma generosa dos seus instrumentos. Gostam mesmo do que estão a fazer: É profundamente simples e é imensamente mágico. Emocionalmente inebriante.

Vi a Gulbenkian de pé a dançar (num dos três encores) coisa que nunca imaginei. Essa foi no entanto "apenas" a expressão da alegria que literalmente transbordou da Orquestra. Poderão haver alguns que pensem que isso é impróprio de uma sala de concertos "séria". É verdade que num concerto "normal" não haveria lugar para tanta informalidade. Mas aqui a festa foi um corolário natural e não se deixou de fazer música de qualidade por isso.

Não pretendo que seja um modelo para todos as concertos mas confesso que gostava de ver a mesma alegria na cara de todos os músicos de todas as orquestras do mundo. Aliás gostava de ver a mesma alegria na cara de todos, pelo menos uma parte do tempo ...

Musicalmente não gostei muito do Tchaikovsky, pareceu-me que o som estava um pouco empastelado e com os naipes um pouco desequilibrados (muito som nos sopros e nos baixos) havia um ruído nos sopros que não consegui perceber o que era, parecia metal a bater em metal e que me irritou um pouco mas digo-vos isto agora após reflexão. Na altura acreditem que face ao que estava a viver tudo isso me passou ao lado. Gostei muito da primeira parte que me pareceu melhor em todos estes aspectos.

A quem não foi ... ainda estão a tempo de ir até Madrid :-) Eu se pudesse garanto que era o que fazia já. É que a energia e esperança radiante vicia ...

2 comentários:

  1. É sempre uma delícia perceber num profissional a alegria que tem no seu trabalho.

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  2. Fernando, apenas um parênteses ....

    ao teu blog, que aprecio muitíssimo............


    apenas te digo que não gostei nada da única vez que vi o Dudamel ao vivo ............. foi no Coliseu e, no final ele deu milhentos extras que tiraram a unidade ao todo do concerto.... e as tshirts lançadas ao público pareceram-me um acto de football... Dudamel, não, muito obrigada! É demasiado "folclórico" para o meu gosto..........
    a Música é uma dádiva quase divina e a Magia e Mística que a envolvem não pactua com gestos e redudâncias como os que Dudamel faz nos finais..........

    Desculpa a minha franqueza.

    Tive possibilidade de ir à Gulbenkian e declinei...
    Nestes tempos de globalização, em que nada tem magia nem supremacia, mesmo assim prefiro o estilo Lang-Lang ao estilo Dudamel.

    A propósito de música clássica: Harnoncourt fez, há dias, 80 anos.................
    80 anos num Senhor que será sempre um Senhor .........

    um grande abraço para ti|)

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