Amy Winehouse faleceu. Não serei hipócrita dizendo agora que gostava da interprete. Reconhecia-lhe talento mas não apreciava a vida que levava, o aparente gosto pelo abismo. A morte porém tem destas coisas e com o devido distanciamento penso agora que mais do que a pressão do mercado ou a esquizofrenia assassina dos media - lamento utilizar este ultimo termo mas não tenho outra forma de qualificar algumas chamadas de capa ou noticias sobre a interprete sobre o pretenso dever de informar - mas mais do que isso dizia penso agora se não se tratava antes da continuação da tradição romântica: do artista que sofre e que procura deliberadamente os limites. Confesso que não entendo bem essa necessidade.
Amy Winehouse faleceu com 27 anos, Schubert com 31 talvez o primeiro dos grandes românticos. Por coincidência ontem fui ouvir o Concerto Final do Workshop de Verão que incluía a Sinfonia Incompleta de Schubert. Estou certo que onde estão Schubert, Schumann e Strauss e Amy estarão a discutir Wintereise ou as 4 Ultimas Canções. Para nós fiquemos com o génio de Schubert e o Segundo Andamento da Sinfonia Incompleta. E não fiquem horrorizados com o paralelo que acabei de fazer, tem provavelmente mais semelhanças que diferenças ... E que nos transmita a paz que necessitamos ...
Não percebi muito bem a comparação entre a Amy e o Schubert... ele não se perdeu pelas drogas...
ResponderEliminarSinceramente, o fim de Amy era o que se esperava. Com a falta de respeito que ela teve por muitos fãs ao aparecer totalmente drogada e embriagada em palco, nem sei como havia gente ainda a adorá-la.
Bom não pelas drogas que hoje existem mas por outras. Em todo o caso não viveu propriamente uma vida regrada ... foi um dos percursores do período romântico (e dificilmente se compreende um Wintereise sem uma boa dose de abismo) e se não ele pelo menos outros como Schumann ou na literatura Baudelaire e Rimbaud por exemplo não deixaram de seguir este caminho de auto-destruição. A comparação mais do que na forma é na substância, no desprezo pela sua realidade física em favor do usufruto dos sentidos e na sua transcrição para uma qualquer forma de arte ... Como digo tenho alguma dificuldade em compreender e não subscrevo de todo mas é uma visão alternativa. Amy não foi a primeira e não será a ultima artista a sentir esta vontade. Não é necessária para ser um grande artista é verdade mas há quem vá (mal) por aí - agora e no passado. Não muda nada à realidade das coisas. É apenas uma perspectiva um tanto diferente de um fim esperado e infeliz. Quanto à adoração, bem talvez porque há mais pessoas que percebam essa necessidade, talvez porque considerem que é esse desprezo pela vida que a legitima - não sei (não compreendo) a razão. O talento que indiscutivelmente tinha há muito que se tinha afundado, talvez se lembrassem do seu passado? Não sei sinceramente não sei ... talvez o mesmo apreço que sinto por Rimbaud por exemplo apesar de ele também ter optado por esses caminhos e pior ... o Poeta não obstante fica acima disso. Talvez achem que os poucos momentos de lucidez valham mais do que o restante ...
ResponderEliminarComparações...cada um opta pelas que quer! É evidente que a mente humana, em qualquer âmbito que se considere, não pode ser "entendida" por todos... ou mesmo por ninguém, incluindo os chamados psiquiatras e psicólogos! Reconheço o mérito da cantora (como voz e como interprete), mas realmente não a posso colocar ao mesmo nível dos poetas e compositor, mencionados no teu post.
ResponderEliminarMeu caro anónimo eu não a coloquei ao mesmo nível nem em níveis diferentes. Não fiz juízos de valor até porque são coisas tão diversas que não me sinto capaz de o fazer. A fazê-lo possivelmente responderia o mesmo que me disse, não estão no mesmo patamar. Porém o que eu comentava era não o mérito mas a forma romântica de atracção pelo abismo, pela dor, pela auto-destruição como forma de chegar à expressão dos "verdadeiros" sentimentos. Isso é uma característica profundamente romântica e comum às pessoas que citei.
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