A Sinfonia nº4 tal como a Sinfonia nº 8 é muitas vezes vista como o patinho feio das nove. Se para as primeiras duas cabe o papel de introdução a quatro e seis têm a desagradável missão de estar entre obras de tal dimensão poética, de tal transbordar de emoções que lhes é difícil captar a nossa atenção.
Certamente que não será por falta de qualidade porque qualquer uma das obras é por ela só extraordinária e não fosse o facto das outras existirem certamente estariam no conjunto das obras mais admiradas de sempre.
A Sinfonia nº 4 em Si Bemol foi terminada em 1806 tendo sido dedicada ao conde Franz von Oppersdorf. Segundo vários historiadores por razões que não se conhecem a sinfonia que era supostamente para von Oppersdorf seria a quinta mas Beethoven sentiu-se forçado a dedicar esta e a sexta em conjunto a Lobkowitz e Razoumovsky.
Esta Sinfonia não poderia ser mais diferente da terceira que a antecede e da quinta que lhe sucede. Esta sinfonia caracteriza-se pela absoluta perfeição da forma, pela expressão da alegria e espontaneidade, de uma doçura celeste para utilizarmos a expressão de Berlioz. Visivelmente Beethoven era um homem feliz quando a escreveu, embora como saibamos na maioria dos casos o estado de espírito do compositor transpareça muito pouco nas suas obras possivelmente devido à enorme variação do seu humor de dia para dia ou mesmo de hora para hora.
O primeiro andamento (Adagio -- Allegro vivace) começa tal como as anteriores três sinfonias com uma introdução um Adagio para depois entrar no Allegro de forma magnificamente orquestrada. Este andamento é de uma alegria contagiante. Em determinadas passagens quase nos apetece dansar e certamente o faremos em espírito.
Do segundo andamento (Adagio) diz Berlioz que certamente não terá sido escrito por um ser humano, que mais parece o suspirar do arcanjo Miguel contemplando o Mundo. E como na verdade achamos que não faremos melhor que Berlioz não comentaremos mais. Ou talvez o façamos ... Grove no seu livro "Beethoven and his Nine Symphonies" emite a hipótese que este andamento é inspirado pela paixão de Beethoven e apresenta como prova as cartas que foram encontradas após a sua morte e que datam da altura da composição.
O terceiro andamento (Allegro vivace) é quase todo ele composto por frases fortemente ritmadas e frequentes variações dinâmicas. Beethoven retoma aqui um tempo de minueto porém de tal forma afastado do que antes tinha sido a dança palaciana que na verdade estamos aqui a falar tal como na terceira sinfonia de uma forma nova de tratamento da forma sinfónica.
O quarto andamento (Allegro ma non troppo) - Grove faz notar no seu livro que "ma non troppo" está escrito a vermelho no manuscrito como se fosse uma nota à posteriori que nos diz, rápido mas não demasiado rápido - é o corolário lógico de toda a sinfonia. É alegria pura condensada !
Poderá ouvir aqui esta sinfonia dirigida por Herbert Von Karajan.
Bom dia Fernando:
ResponderEliminarDeixe-me felicitá-lo pela sua "série" sobre Sinfonias de Beethoven.
Seguindo as pisadas de Bernstein :)
Já agora, adoro todas as nove, mas Quarta é a Oitava são as minhas favoritas !!!
Um abraço
Scarlatti
Caro Scarlatti,
ResponderEliminarAinda bem que voltou. Percebi que tem passado uns momentos menos felizes, lamento muito.
Obrigado, seguir as pisadas de Bernstein é sem duvida exagero !
Por acaso estou à procura da série que ele fez sobre as sinfonias mas não ainda não consegui encontrar...
grande abraço
Fernando