Depois do nosso post de ontem a noite o post de hoje só poderia incluir algumas sugestões para ouvirem música ao vivo neste próximo fim de semana. Para além destas sugestões fica o voto de um excelente 2011 com muita música. Antes das recomendações que vou tentar que incluam o país inteiro quero deixar-vos com uma citação de Leonard Bernstein ...
This will be our response to violence: to make music more intensely, more beautifully and more devotedly than ever before.
Esta será a nossa resposta à violência: Fazer música mais intensamente, com mais beleza e com mais devoção que anteriormente.
Para começar e para quem tenha a Mezzo claro que podem iniciar os festejos com o Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Berlim. Hoje pelas 17:00 com um programa francês (curioso - Berlioz, Saint Saens, ) e com a direcção de orquestra de Dudamel - definitivamente a não perder. Ainda na televisão e para quem goste da música vienense de Strauss o habitual concerto de Ano Novo é este ano transmitido na RTP1 às 14:15 do dia 1.
No que diz respeito a música ao vivo aqui ficam algumas recomendações que cobrem o país de sul a norte
e também as regiões autónoma dos Açores e da Madeira.
Começando pelo Sul do país mais precisamente no Algarve teremos o "Concerto de Ano Novo" com a Orquestra do Algarve dirigida por Osvaldo Ferreira no Casino de Vilamoura no dia 1 de Janeiro pelas 17:30. Será solista a soprano Ana Paula Russo que interpretará árias de Mozart, Bach e Lehár. Serão também interpretados temas de Strauss, Brahms e John Barry. Este concerto repete no dia seguinte pelas 16:00 no Auditório Municipal de Lagoa. Podem ver o programa completo no Site da Orquestra.
Em Lisboa no CCB teremos a Orquestra Metropolitana de Lisboa dirigida por Cesário Costa no dia 1 de Janeiro Sábado. O programa é composto por obras de Johann Strauss (Valsas e Polkas).
Na invicta cidade do Porto teremos um concerto intitulado "Ano Novo, Novo Mundo" com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música dirigida por Edwin Outwater. será no domingo dia 2 de Janeiro às 18h num programa em que serão solistas a meio-soprano Nora Sourouzian e o barítono Jason Howard num programa variado e ligeiro próprio de um dia de ano novo. Salientamos porque dele falamos ontem uma obra de John Philip Sousa a "Liberty Bell March".
Um pouco mais a Norte teremos o Mezza Voce Ensemble na Igreja de São Mamede de Ribatua em Alijó no dia 2 de Janeiro pelas 16h. O Concerto está integrado no ciclo "Temporada de Música Antiga no Douro".
O Coral Magistrói de Carapeços dará no Auditório da Câmara Municipal de Barcelos um concerto de Ano Novo às 17h do Domingo 2 de Janeiro.
Em Vila Real no seu teatro teremos o "Concerto de Ano Novo" pela Orquestra Filarmónica Mediterrânea no Sábado às 17h integrado no Festival de Ano Novo 2011 num programa que inclui sobretudo Strauss mas também por Puccini, Bizet e Verdi.
Na Madeira teremos hoje às 21h a Orquestra de Bandolins da Madeira dirigida por Eurico Martins na Igreja Inglesa.
Para os Açores infelizmente apenas conseguimos encontrar uma recomendação para o dia 5 mas vale a pena a espera já que nesse dia poderão ouvir Diana Vieira num recital de Piano no Teatro Micaelense - Centro Cultural e de Congressos. Será às 21:30 e no programa teremos obras de F. Martin, Copland, Schubert e Balakirev.
Boa música e bom ano de 2011 para todos. Até lá muito juízo ou bastante falta dele conforme vos aprouver.
A única música que precisa de embalagem é a música de plástico.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Listen to This - Capitulo 3 : Infernal Machines : How Recording changed Music
Este capitulo apesar de curto promete, acredito gerar alguma polémica ou pelo menos alguma discussão entre os leitores deste blog. Digo-vos desde já que é um tema com que me identifico bastante o que está expresso regularmente na expressão "ao vivo é outra coisa" que adoptei de outras instâncias e também no subtítulo deste blog, mas lá iremos ...
Os outros capítulos deste livro já analisados:
Capitulo 2
Capitulo 1
Aproveito também para vos lembrar que já tínhamos falado deste tema quando abordamos o pianista e compositor Canadiano Glenn Gould que considerava a gravação a verdadeira forma de transmitir música. No link que aqui coloquei traduzi uma entrevista que deu à High Fidelity e em que aborda este assunto (a entrevista é muito sui-generis dado que Glenn Gould é simultâneamente o entrevistador e o entrevistado).
Tenho noção que para os dias de hoje - de consumo imediato - este post será porventura longo demais, mas lá está eu acredito no poder da palavra e acreditem que vale a pena ler até ao fim ...
O capítulo começa com uma citação de Philip Sousa (1854 - 1932) que dizia a propósito dos gira-discos (não sei na altura seriam exactamente chamados assim ou sequer se era esse o formato prevalecente já que existiam também os rolos de Edison) "Estas máquinas falantes vão arruinar o desenvolvimento artístico da música neste país. Quando era rapaz ouvia grupos de pessoas à frente de suas casas cantando as canções do dia ou canções antigas. Hoje ouvimos estas máquinas infernais noite e dia. Em breve não teremos uma única corda vocal. Há-de chegar um dia em que ninguém estará disposto a aceitar a nobre disciplina de aprender música. Todos teremos a música já feita nos nossos armários. Algo é irremediavelmente perdido quando não estamos na presença de pessoas fazendo música. O canto do rouxinol é delicioso porque é o próprio rouxinol a fazê-lo".
Sei que parece um tanto reaccionário mas como diz Alex Ross no seu livro antes de enviarmos este senhor para o esquecimento no que diz respeito a esta opinião (saberíamos sempre separar a sua obra enquanto compositor :-)) é bom reflectir um pouco sobre as profundas mudanças que a música sofreu em menos de um século.
Como diz Alex Ross uma coisa é facto - a música é hoje algo que raramente somos nós a fazer ou mesmo que ouvimos ao vivo alguém a fazer. Outra coisa também é um facto é que desde Sousa tem havido o clã dos adeptos da catástrofe e o clã dos adeptos da gravação enquanto libertadora tanto em termos conceptuais como em termos da democratização do acesso. Para que fique claro estou a escrever isto a ouvir o presente de anos que o meu filho me ofereceu ... um conjunto de 3 DVD com as integrais de Beethoven por Karajan e a sua filarmónica de Berlim. Para que fique claro sem gravação não vos poderia ter mostrado neste blogue tantas e tantas gravações históricas e sem dúvida que esse é uma oportunidade e um valor inestimável. Não teria idade nem ocasião de ver Karajan ao vivo mas posso agora fazê-lo. Mediado por uma gravação é certo mas posso. E posso também ouvir Casals, Jaqueline du Pré e lamentar que Suggia tenha gravado tão pouco.
Mas como propõe Alex Ross vejamos pelo trabalho dos teóricos que têm acompanhado as modificações sofridas pela música quais são as alterações que a gravação veio introduzir para além da democratização já referida. Em primeiro lugar as gravações em estúdio permitem correcções que hoje vão até á correcção das notas desafinadas criando assim uma realidade virtual de perfeição. Este efeito de virtualização foi ainda amplificado pela digitalização do processo que torna estas correcções/alterações praticamente ilimitadas nas suas possibilidades. Contrariamente ao que pensamos esta tecnologia pode ser e é utilizada nas gravações de música clássica que são tudo menos "reproduções fieis de uma realidade". São isso sim criações artificiais de uma realidade perfeita. Isto é de certa forma pernicioso se não nos apercebermos dessa diferença por quanto são essas gravações que servem de referência para as comparações que efectuamos: Há literalmente pessoas que hoje em dia não conseguem ir a uma sala de concerto porque nunca vão encontrar aquele som perfeito que ouviram na sua sala de estar. Alex Ross vai mais longe dizendo que o nosso comportamento na sala de espectáculo é modelado pelo que acontece na sala de estar. Que o silêncio entre andamentos se impôs com mais facilidade porque é isso que acontece ao ouvirmos uma gravação em que claramente não aplaudimos nem exteriorizamos o nosso prazer (ou desprazer).
Alex Ross faz então o paralelo com o principio da incerteza de Heisenberg (um principio que diz que é impossível observar determinados eventos físicos sem os alterar) para nos dizer que não só a gravação alterou a forma como ouvimos como também alterou a forma como os interpretes fazem música. Essa alteração foi essencialmente no sentido da uniformização não só por imitação dos modelos considerados superiores mas também e sobretudo porque os próprios músicos ao ouvirem-se gravados passaram a detectar falhas (ou maneirismos ou outros "defeitos" de interpretação) e procuravam corrigi-los. Por outras palavras a gravação veio introduzir de forma muito mais ditatorial uma "forma" correcta e o culto do tecnicamente perfeito mesmo que no prejuízo da espontaneidade e da paixão.
Neste ponto deixo momentaneamente o livro de Alex Ross para falar então um pouco da relação deste tema com o nosso "ao vivo é outra coisa" e com o subtítulo deste blog "a única música que precisa de embalagem é a música de plástico" até porque curiosamente as duas ultimas páginas do capitulo do livro abordam precisamente este assunto embora numa ordem diferente, num ângulo ligeiramente diferente e certamente com mais qualidade mas enfim alguma coisa tem que ficar para quando comprarem o livro do Alex Ross :-)
Quando vos digo que "ao vivo é outra coisa" é porque efectivamente é outra coisa. A expectativa do inicio da música (não há botão de play numa sala de concertos), as vozes de outros seres humanos, a respiração dos artistas - se estivermos suficientemente perto - as suas expressões únicas, as suas falhas, a forma única como tocaram naquela ocasião, o comportamento da audiência nada disto passa numa gravação. E convenha-se que contrariamente a outros tipos de música que nasceram já na época da gravação e que foram concebidos essencialmente para ela a "música clássica" foi feita para ser ouvida ao vivo. Significa então que não há espaço para as gravações? Que devemos já correr e deitar fora todos os dvds e cds e LPs que tenhamos? Não claro que não. As gravações permanecem um óptimo meio para democratizar o acesso e para registar para a posteridade o que de outra forma se perderia. Aliás essa é a diferença fundamental entre o evento ao vivo. É que a gravação exige, é feita "para sempre". A música ao vivo é a música daquele instante. Alex Ross termina o seu capítulo com a história de uma gravação da Filarmónica de Viena no dia 16 de Janeiro de 1938 dirigida então por Bruno Walter e interpretando a Nona Sinfonia de Mahler. Este foi o ultimo concerto antes dos Nazis esmagarem a Áustria. Alex Ross conta que na assistência nesse dia estava Hans Fantel (critico do New York Times) com o seu pai longe de imaginar que essa seria a ultima vez que ouviria a Filarmónica em companhia do seu pai que haveria de desaparecer enquanto "inimigo do reich" diz Hans Fattel ao ouvir esta gravação recentemente tornada pública "Tive oportunidade de reconhecer e apreciar a aura diferente desse Domingo. Pude sentir a sua intensidade não pré-fabricada um turbilhão emocional muito diferente de muitas outras gravações da Nona de Mahler que tenho ouvido desde então". Obviamente no mundo de hoje ouvir esta gravação é tão fácil quanto ir ao site da Naxos e ... ouvir ... Sim é pago mas vale os Euros se estivermos interessados no documento histórico ou em experimentar a emoção da gravação agora que conhecemos o seu contexto. De certa forma esta liberdade de se procurar e de encontrar abre o espaço ao segundo ponto.
Quanto à "música de plástico que precisa de embalagem" a questão é que na verdade a música já existia sempre existiu, muito antes de uma "industria" a ter formato em pacotes e embalagens. Estes pacotes e embalagens serviram o seu fim, tiveram e têm um papel mas esse papel possivelmente acabou ou sendo menos dramático reduziu-se. A própria tecnologia de gravação que os criou acabou por criar também o instrumento para a sua renovação. Acredito que com as formas de acesso que hoje temos à música vamos incentivar de novo a criatividade, não mais terão artistas de "inventar" músicas para perfazer a duração de um LP ou de um CD e nós enquanto consumidores também poderemos comodamente ouvir mais, ouvir antes de comprar, comparar, receber recomendações e sobretudo estar muito mais abertos a vários tipos de música a que de outras forma dificilmente teríamos acesso porque escondidos atrás das super-produções que recebiam o peso promocional da referida industria. É a liberdade de escolha sem embalagem. Acredito que neste universo mais livre a música clássica irá encontrar o seu lugar entre as outras formas sem torres de marfim, sem complexos de superioridade mas sobretudo sem ser uma "música do passado" mas antes uma música do presente ...
Dois livros citados por Alex Ross neste capitulo e que penso merecem a vossa atenção futura. Um bastante recente: Performing Music in the Age of Recording de Robert Philip e o histórico (porque inevitavelmente citado e o fundamento para bastantes reflexões posteriores: The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction (Penguin Great Ideas) de Walter Benjamin.
Os outros capítulos deste livro já analisados:
Capitulo 2
Capitulo 1
Aproveito também para vos lembrar que já tínhamos falado deste tema quando abordamos o pianista e compositor Canadiano Glenn Gould que considerava a gravação a verdadeira forma de transmitir música. No link que aqui coloquei traduzi uma entrevista que deu à High Fidelity e em que aborda este assunto (a entrevista é muito sui-generis dado que Glenn Gould é simultâneamente o entrevistador e o entrevistado).
Tenho noção que para os dias de hoje - de consumo imediato - este post será porventura longo demais, mas lá está eu acredito no poder da palavra e acreditem que vale a pena ler até ao fim ...
O capítulo começa com uma citação de Philip Sousa (1854 - 1932) que dizia a propósito dos gira-discos (não sei na altura seriam exactamente chamados assim ou sequer se era esse o formato prevalecente já que existiam também os rolos de Edison) "Estas máquinas falantes vão arruinar o desenvolvimento artístico da música neste país. Quando era rapaz ouvia grupos de pessoas à frente de suas casas cantando as canções do dia ou canções antigas. Hoje ouvimos estas máquinas infernais noite e dia. Em breve não teremos uma única corda vocal. Há-de chegar um dia em que ninguém estará disposto a aceitar a nobre disciplina de aprender música. Todos teremos a música já feita nos nossos armários. Algo é irremediavelmente perdido quando não estamos na presença de pessoas fazendo música. O canto do rouxinol é delicioso porque é o próprio rouxinol a fazê-lo".
Sei que parece um tanto reaccionário mas como diz Alex Ross no seu livro antes de enviarmos este senhor para o esquecimento no que diz respeito a esta opinião (saberíamos sempre separar a sua obra enquanto compositor :-)) é bom reflectir um pouco sobre as profundas mudanças que a música sofreu em menos de um século.
Como diz Alex Ross uma coisa é facto - a música é hoje algo que raramente somos nós a fazer ou mesmo que ouvimos ao vivo alguém a fazer. Outra coisa também é um facto é que desde Sousa tem havido o clã dos adeptos da catástrofe e o clã dos adeptos da gravação enquanto libertadora tanto em termos conceptuais como em termos da democratização do acesso. Para que fique claro estou a escrever isto a ouvir o presente de anos que o meu filho me ofereceu ... um conjunto de 3 DVD com as integrais de Beethoven por Karajan e a sua filarmónica de Berlim. Para que fique claro sem gravação não vos poderia ter mostrado neste blogue tantas e tantas gravações históricas e sem dúvida que esse é uma oportunidade e um valor inestimável. Não teria idade nem ocasião de ver Karajan ao vivo mas posso agora fazê-lo. Mediado por uma gravação é certo mas posso. E posso também ouvir Casals, Jaqueline du Pré e lamentar que Suggia tenha gravado tão pouco.
Mas como propõe Alex Ross vejamos pelo trabalho dos teóricos que têm acompanhado as modificações sofridas pela música quais são as alterações que a gravação veio introduzir para além da democratização já referida. Em primeiro lugar as gravações em estúdio permitem correcções que hoje vão até á correcção das notas desafinadas criando assim uma realidade virtual de perfeição. Este efeito de virtualização foi ainda amplificado pela digitalização do processo que torna estas correcções/alterações praticamente ilimitadas nas suas possibilidades. Contrariamente ao que pensamos esta tecnologia pode ser e é utilizada nas gravações de música clássica que são tudo menos "reproduções fieis de uma realidade". São isso sim criações artificiais de uma realidade perfeita. Isto é de certa forma pernicioso se não nos apercebermos dessa diferença por quanto são essas gravações que servem de referência para as comparações que efectuamos: Há literalmente pessoas que hoje em dia não conseguem ir a uma sala de concerto porque nunca vão encontrar aquele som perfeito que ouviram na sua sala de estar. Alex Ross vai mais longe dizendo que o nosso comportamento na sala de espectáculo é modelado pelo que acontece na sala de estar. Que o silêncio entre andamentos se impôs com mais facilidade porque é isso que acontece ao ouvirmos uma gravação em que claramente não aplaudimos nem exteriorizamos o nosso prazer (ou desprazer).
Alex Ross faz então o paralelo com o principio da incerteza de Heisenberg (um principio que diz que é impossível observar determinados eventos físicos sem os alterar) para nos dizer que não só a gravação alterou a forma como ouvimos como também alterou a forma como os interpretes fazem música. Essa alteração foi essencialmente no sentido da uniformização não só por imitação dos modelos considerados superiores mas também e sobretudo porque os próprios músicos ao ouvirem-se gravados passaram a detectar falhas (ou maneirismos ou outros "defeitos" de interpretação) e procuravam corrigi-los. Por outras palavras a gravação veio introduzir de forma muito mais ditatorial uma "forma" correcta e o culto do tecnicamente perfeito mesmo que no prejuízo da espontaneidade e da paixão.
Neste ponto deixo momentaneamente o livro de Alex Ross para falar então um pouco da relação deste tema com o nosso "ao vivo é outra coisa" e com o subtítulo deste blog "a única música que precisa de embalagem é a música de plástico" até porque curiosamente as duas ultimas páginas do capitulo do livro abordam precisamente este assunto embora numa ordem diferente, num ângulo ligeiramente diferente e certamente com mais qualidade mas enfim alguma coisa tem que ficar para quando comprarem o livro do Alex Ross :-)
Quando vos digo que "ao vivo é outra coisa" é porque efectivamente é outra coisa. A expectativa do inicio da música (não há botão de play numa sala de concertos), as vozes de outros seres humanos, a respiração dos artistas - se estivermos suficientemente perto - as suas expressões únicas, as suas falhas, a forma única como tocaram naquela ocasião, o comportamento da audiência nada disto passa numa gravação. E convenha-se que contrariamente a outros tipos de música que nasceram já na época da gravação e que foram concebidos essencialmente para ela a "música clássica" foi feita para ser ouvida ao vivo. Significa então que não há espaço para as gravações? Que devemos já correr e deitar fora todos os dvds e cds e LPs que tenhamos? Não claro que não. As gravações permanecem um óptimo meio para democratizar o acesso e para registar para a posteridade o que de outra forma se perderia. Aliás essa é a diferença fundamental entre o evento ao vivo. É que a gravação exige, é feita "para sempre". A música ao vivo é a música daquele instante. Alex Ross termina o seu capítulo com a história de uma gravação da Filarmónica de Viena no dia 16 de Janeiro de 1938 dirigida então por Bruno Walter e interpretando a Nona Sinfonia de Mahler. Este foi o ultimo concerto antes dos Nazis esmagarem a Áustria. Alex Ross conta que na assistência nesse dia estava Hans Fantel (critico do New York Times) com o seu pai longe de imaginar que essa seria a ultima vez que ouviria a Filarmónica em companhia do seu pai que haveria de desaparecer enquanto "inimigo do reich" diz Hans Fattel ao ouvir esta gravação recentemente tornada pública "Tive oportunidade de reconhecer e apreciar a aura diferente desse Domingo. Pude sentir a sua intensidade não pré-fabricada um turbilhão emocional muito diferente de muitas outras gravações da Nona de Mahler que tenho ouvido desde então". Obviamente no mundo de hoje ouvir esta gravação é tão fácil quanto ir ao site da Naxos e ... ouvir ... Sim é pago mas vale os Euros se estivermos interessados no documento histórico ou em experimentar a emoção da gravação agora que conhecemos o seu contexto. De certa forma esta liberdade de se procurar e de encontrar abre o espaço ao segundo ponto.
Quanto à "música de plástico que precisa de embalagem" a questão é que na verdade a música já existia sempre existiu, muito antes de uma "industria" a ter formato em pacotes e embalagens. Estes pacotes e embalagens serviram o seu fim, tiveram e têm um papel mas esse papel possivelmente acabou ou sendo menos dramático reduziu-se. A própria tecnologia de gravação que os criou acabou por criar também o instrumento para a sua renovação. Acredito que com as formas de acesso que hoje temos à música vamos incentivar de novo a criatividade, não mais terão artistas de "inventar" músicas para perfazer a duração de um LP ou de um CD e nós enquanto consumidores também poderemos comodamente ouvir mais, ouvir antes de comprar, comparar, receber recomendações e sobretudo estar muito mais abertos a vários tipos de música a que de outras forma dificilmente teríamos acesso porque escondidos atrás das super-produções que recebiam o peso promocional da referida industria. É a liberdade de escolha sem embalagem. Acredito que neste universo mais livre a música clássica irá encontrar o seu lugar entre as outras formas sem torres de marfim, sem complexos de superioridade mas sobretudo sem ser uma "música do passado" mas antes uma música do presente ...
Dois livros citados por Alex Ross neste capitulo e que penso merecem a vossa atenção futura. Um bastante recente: Performing Music in the Age of Recording de Robert Philip e o histórico (porque inevitavelmente citado e o fundamento para bastantes reflexões posteriores: The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction (Penguin Great Ideas) de Walter Benjamin.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Fernando Lopes Graça (1906 - 1994)
Um país que conte num século com músicos da qualidade de Vianna da Motta, Luís de Freitas Branco, Joly Braga Santos e Fernando Lopes Graça entre outros só poderia estar feliz e considerar-se certamente um dos marcos culturais da Europa. Aparentemente poucos entre nós se apercebem da dimensão destes vultos.
Fernando Lopes graça nasceu em Tomar a 17 de Dezembro de 1906 onde iniciou os seus estudos de piano. Ingressa depois no Conservatório Nacional onde viria a ser aluno de Vianna da Motta (piano) e o Padre Tomás Borba (outro dos grandes vultos musicais portugueses do século XX e praticamente desconhecido a não ser de uma minoria) e Luís de Freitas Branco (composição e Ciências Musicais). Viria a terminar o curso do Conservatório em 1931 com a classificação máxima tendo obtido em 1934 uma bolsa de estudo para estudar em Paris com Charles Koechlin.
Porém tal como tinha sido anteriormente proibido de exercer no conservatório Nacional por razões politicas exactamente pelas mesmas razões vê-se impedido de aproveitar essa bolsa deslocando-se no entanto para Paris (1937) a custas próprias para estudar com o referido professor. Volta a Portugal em 1940 sendo então convidado por Tomás Borba para leccionar na Academia de Amadores de Música lugar que guardaria até 1954 altura em que a ditadura lhe retira a licença para leccionar sendo portanto privado de meios de subsistência.
Inspirando-se em Bela Bartok de que era confesso admirador inicia também nessa altura (1940) com Michel Giacometti (há algumas biografias que indicam que este trabalho se iniciou em 1961 - não sei como dirimir entre as duas versões) uma recolha da música popular portuguesa trabalho absolutamente notável e que irá infelizmente em conjunção com um outro facto que relataremos de seguida diminuir a visibilidade da sua obra enquanto compositor. Porém contrariamente a Bartok Lopes Graça muito mais raramente incorporou nas suas obras sinfónicas elementos estilizados desse folclore (a influência existe mas a construção é diferente). Excepção deve-se fazer claro às harmonizações de canções populares que escreveu para vários coros (e outras obras para piano solo como por exemplo As Glosas)
Este ultimo facto leva-nos directamente à segunda razão pela qual muitas vezes se reduz Lopes Graça a um compositor "de intervenção" que sem dúvida foi mas que na minha opinião (e de muitos outros certamente mais relevantes como por exemplo o Maestro António Vitorino d´Almeida) está longe de ser a parte mais relevante da sua obra. É certo que Acordai por exemplo é um marco relevante mas o que dizer então do concerto para Violoncelo obligatto (1969). Na verdade se antes da revolução de 25 de Abril de 1974 se procurava ignorar a obra do compositor por razões politicas depois dessa data a faceta de resistente acabou por diminuir o crédito ao compositor de obras que não possuíam essa faceta.
É que para além do já referido concerto existem uma boa dezena de outras obras absolutamente notáveis. Dessas obras podemos salientar o conjunto de seis sonatas para piano (1931-1984recentemente interpretadas por António Rosado e editadas pela Numérica em colaboração com a câmara Municipal de Matosinhos pela ocasião do aniversário do falecimento do compositor (Ref.: NUM 1124 [Cd Duplo]) ou ainda no que diz respeito a obras para piano "In Memorian Bela Bartok" também interpretadas por António Rosado recentemente e igualmente registadas pela Numérica (Ref.: NUM_1145).
A titulo de curiosidade note-se que esta predilecção por Bartok lhe valeu (para além do óbvio mérito artístico que tinha) a honra de ser convidado pelo governo húngaro para participar no 100º aniversário do nascimento de Bela Bartok (1981). Ainda neste registo António Vitorino d´Almeida faz-nos notar que na sua obra "Requiem pelas vitimas do Fascismo em Portugal" Fernando Lopes Graça começa a obra com exactamente as mesmas notas com que o compositor Húngaro inicia uma das suas obras primas: A Música para Cordas, Percussão e Celesta . António Vitorino d´Almeida não acredita que seja uma coincidência ...
Continuando o registo de obras notáveis (e havíamos prometido uma dezena fácil) claramente não podemos esquecer o Quarteto para Cordas nº 1 com o qual vence o prémio Rainier III do Mónaco de composição que também não consegui localizar (ainda).
Canto de Amor e de Morte, Sinfonia Per Orquestra, Quatorze anotações para quarteto de cordas, sete Lembranças para Vieira da Silva seriam outras obras que recomendamos (entre outras) para quem deseje conhecer melhor o génio deste compositor português.
Não esquecendo claro está toda a sua vasta produção para crianças desde o Álbum do Jovem Pianista até às canções de embalar.
Recomenda-se para quem deseje saber mais sobre a obra do compositor uma visita ao Museu da Música Portuguesa onde se encontra todo o espólio do compositor. No próprio site também se encontram fotografias e documentos online bastante interessantes como por exemplo alguns recortes de imprensa recolhidos pelo próprio Fernando Lopes Graça sobre as várias estreias das suas obras e outras actividades. entre estes documentos escolhemos um artigo de João de Freitas Branco escrito a propósito de uma conferência que Lopes Graça proferiu na "sua" Academia dos Amadores de Música.
Dizia Lopes Graça acerca da música: "«Que hei-de dizer-lhes acerca da Música, que os interesse e que esteja ao meu alcance?» pergunta Lopes-Graça nos anos trinta. A resposta será o seu caminhar resistente reflectido nestas palavras: « Poderia dizer-lhes enfim, como além de uma Arte a considero uma Religião, a minha única religião (...) e como visiono uma única Religião do Futuro, a única Religião de uma Humanidade Livre, Justa e Sábia». - citado de Vidas Lusófonas - Lopes Graça.
Fernando Lopes Graça faleceu na Parede (perto de Lisboa) a 27 de Novembro de 1994.
Outras obras consultadas:
Fernando Lopes graça nasceu em Tomar a 17 de Dezembro de 1906 onde iniciou os seus estudos de piano. Ingressa depois no Conservatório Nacional onde viria a ser aluno de Vianna da Motta (piano) e o Padre Tomás Borba (outro dos grandes vultos musicais portugueses do século XX e praticamente desconhecido a não ser de uma minoria) e Luís de Freitas Branco (composição e Ciências Musicais). Viria a terminar o curso do Conservatório em 1931 com a classificação máxima tendo obtido em 1934 uma bolsa de estudo para estudar em Paris com Charles Koechlin.
Porém tal como tinha sido anteriormente proibido de exercer no conservatório Nacional por razões politicas exactamente pelas mesmas razões vê-se impedido de aproveitar essa bolsa deslocando-se no entanto para Paris (1937) a custas próprias para estudar com o referido professor. Volta a Portugal em 1940 sendo então convidado por Tomás Borba para leccionar na Academia de Amadores de Música lugar que guardaria até 1954 altura em que a ditadura lhe retira a licença para leccionar sendo portanto privado de meios de subsistência.
Inspirando-se em Bela Bartok de que era confesso admirador inicia também nessa altura (1940) com Michel Giacometti (há algumas biografias que indicam que este trabalho se iniciou em 1961 - não sei como dirimir entre as duas versões) uma recolha da música popular portuguesa trabalho absolutamente notável e que irá infelizmente em conjunção com um outro facto que relataremos de seguida diminuir a visibilidade da sua obra enquanto compositor. Porém contrariamente a Bartok Lopes Graça muito mais raramente incorporou nas suas obras sinfónicas elementos estilizados desse folclore (a influência existe mas a construção é diferente). Excepção deve-se fazer claro às harmonizações de canções populares que escreveu para vários coros (e outras obras para piano solo como por exemplo As Glosas)
Este ultimo facto leva-nos directamente à segunda razão pela qual muitas vezes se reduz Lopes Graça a um compositor "de intervenção" que sem dúvida foi mas que na minha opinião (e de muitos outros certamente mais relevantes como por exemplo o Maestro António Vitorino d´Almeida) está longe de ser a parte mais relevante da sua obra. É certo que Acordai por exemplo é um marco relevante mas o que dizer então do concerto para Violoncelo obligatto (1969). Na verdade se antes da revolução de 25 de Abril de 1974 se procurava ignorar a obra do compositor por razões politicas depois dessa data a faceta de resistente acabou por diminuir o crédito ao compositor de obras que não possuíam essa faceta.
É que para além do já referido concerto existem uma boa dezena de outras obras absolutamente notáveis. Dessas obras podemos salientar o conjunto de seis sonatas para piano (1931-1984recentemente interpretadas por António Rosado e editadas pela Numérica em colaboração com a câmara Municipal de Matosinhos pela ocasião do aniversário do falecimento do compositor (Ref.: NUM 1124 [Cd Duplo]) ou ainda no que diz respeito a obras para piano "In Memorian Bela Bartok" também interpretadas por António Rosado recentemente e igualmente registadas pela Numérica (Ref.: NUM_1145).
A titulo de curiosidade note-se que esta predilecção por Bartok lhe valeu (para além do óbvio mérito artístico que tinha) a honra de ser convidado pelo governo húngaro para participar no 100º aniversário do nascimento de Bela Bartok (1981). Ainda neste registo António Vitorino d´Almeida faz-nos notar que na sua obra "Requiem pelas vitimas do Fascismo em Portugal" Fernando Lopes Graça começa a obra com exactamente as mesmas notas com que o compositor Húngaro inicia uma das suas obras primas: A Música para Cordas, Percussão e Celesta . António Vitorino d´Almeida não acredita que seja uma coincidência ...
Continuando o registo de obras notáveis (e havíamos prometido uma dezena fácil) claramente não podemos esquecer o Quarteto para Cordas nº 1 com o qual vence o prémio Rainier III do Mónaco de composição que também não consegui localizar (ainda).
Canto de Amor e de Morte, Sinfonia Per Orquestra, Quatorze anotações para quarteto de cordas, sete Lembranças para Vieira da Silva seriam outras obras que recomendamos (entre outras) para quem deseje conhecer melhor o génio deste compositor português.
Não esquecendo claro está toda a sua vasta produção para crianças desde o Álbum do Jovem Pianista até às canções de embalar.
Recomenda-se para quem deseje saber mais sobre a obra do compositor uma visita ao Museu da Música Portuguesa onde se encontra todo o espólio do compositor. No próprio site também se encontram fotografias e documentos online bastante interessantes como por exemplo alguns recortes de imprensa recolhidos pelo próprio Fernando Lopes Graça sobre as várias estreias das suas obras e outras actividades. entre estes documentos escolhemos um artigo de João de Freitas Branco escrito a propósito de uma conferência que Lopes Graça proferiu na "sua" Academia dos Amadores de Música.
Dizia Lopes Graça acerca da música: "«Que hei-de dizer-lhes acerca da Música, que os interesse e que esteja ao meu alcance?» pergunta Lopes-Graça nos anos trinta. A resposta será o seu caminhar resistente reflectido nestas palavras: « Poderia dizer-lhes enfim, como além de uma Arte a considero uma Religião, a minha única religião (...) e como visiono uma única Religião do Futuro, a única Religião de uma Humanidade Livre, Justa e Sábia». - citado de Vidas Lusófonas - Lopes Graça.
Fernando Lopes Graça faleceu na Parede (perto de Lisboa) a 27 de Novembro de 1994.
Outras obras consultadas:
- Toda a música que eu conheço - António Vitorino d´Almeida Vol. 2 (Oficina do Livro)
- Dez compositores Portugueses - Manuel Pedro Ferreira (D. Quixote)
- Atrium - Compositores Portugueses
- Site da Academia de Santa Cecilia (Textos do Professor Henrique da Luz Fernandes)
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Listen to This - Capitulo 2 : Chaconna, Lamento, Walking Blues - Bass Lines of Music History
Como vos tínhamos prometido vamos fazer uma análise alargada deste livro capitulo por capitulo. Podem ler aqui a sinopse do Primeiro Capitulo.
Neste segundo capítulo o autor começa por nos falar da Chaconne uma dança tida por ser obra do diabo tal a reacção que provocaria nas pessoas - a libertação e desinibição que provocariam (ou provocam). Os leitores mais atentos estarão a pensar: Estamos a falar da mesma Chaconne que conheço da partita de Bach? Sim estamos só que Bach desenvolveu a estrutura dessa Dança ao ponto de a tornar simplesmente outra coisa ... Perfeita mas outra coisa. A Chaconne do Diabo, a original essa está mais próxima do que poderão ouvir com Jordi Savall por exemplo.
Fala então Alex Ross do significado intrínseco da música quando aborda uma outra forma musical que percorre toda a evolução humana desde a Renascença: O baixo continuo ou ostinato em particular a sua forma Basso Lamento. Se a Chaconne evoluiu ao longo do tempo na interpretação do seu carácter emocional o Basso Lamento é exactamente o oposto. Essa sequência de notas descendentes num intervalo de quarta podem ser encontradas em toda a música clássica e música popular (desde a renascença aos nossos dias) significando exactamente a mesma coisa: Lamento e Dor.
Diz o autor que, citando Peter Kivy no seu livro Sound Sentiment , pode muito bem ser que esta forma represente (imite) a forma humana do choro. Por outras palavras o significado em música pode resultar da envolvente (da imitação) ou da convenção. No primeiro caso seriam universais no segundo dependeriam de um particular contexto cultural.
Alex Ross descreve então a importância que o Basso Lamento teve no inicio da popularidade da ópera como forma de enfatizar o significado das palavras forma que podemos encontrar ainda hoje no Rock dos Led Zepplin passando pela Nona de Beethoven (a expressão "não esses tons não" com que se inicia o hino da alegria) referem-se precisamente a essa sequência de notas ou pelos blues.
Um capitulo interessante que debate se a música tem um significado por si ou se antes pelo contrário é fundamentalmente abstracta sendo culturais todas as associações que fazemos quanto às emoções que ela pretende transmitir.
Neste segundo capítulo o autor começa por nos falar da Chaconne uma dança tida por ser obra do diabo tal a reacção que provocaria nas pessoas - a libertação e desinibição que provocariam (ou provocam). Os leitores mais atentos estarão a pensar: Estamos a falar da mesma Chaconne que conheço da partita de Bach? Sim estamos só que Bach desenvolveu a estrutura dessa Dança ao ponto de a tornar simplesmente outra coisa ... Perfeita mas outra coisa. A Chaconne do Diabo, a original essa está mais próxima do que poderão ouvir com Jordi Savall por exemplo.
Fala então Alex Ross do significado intrínseco da música quando aborda uma outra forma musical que percorre toda a evolução humana desde a Renascença: O baixo continuo ou ostinato em particular a sua forma Basso Lamento. Se a Chaconne evoluiu ao longo do tempo na interpretação do seu carácter emocional o Basso Lamento é exactamente o oposto. Essa sequência de notas descendentes num intervalo de quarta podem ser encontradas em toda a música clássica e música popular (desde a renascença aos nossos dias) significando exactamente a mesma coisa: Lamento e Dor.
Diz o autor que, citando Peter Kivy no seu livro Sound Sentiment , pode muito bem ser que esta forma represente (imite) a forma humana do choro. Por outras palavras o significado em música pode resultar da envolvente (da imitação) ou da convenção. No primeiro caso seriam universais no segundo dependeriam de um particular contexto cultural.
Alex Ross descreve então a importância que o Basso Lamento teve no inicio da popularidade da ópera como forma de enfatizar o significado das palavras forma que podemos encontrar ainda hoje no Rock dos Led Zepplin passando pela Nona de Beethoven (a expressão "não esses tons não" com que se inicia o hino da alegria) referem-se precisamente a essa sequência de notas ou pelos blues.
Um capitulo interessante que debate se a música tem um significado por si ou se antes pelo contrário é fundamentalmente abstracta sendo culturais todas as associações que fazemos quanto às emoções que ela pretende transmitir.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Joly Braga Santos (1924 - 1988)
Joly Braga Santos nasceu em Lisboa a 14 de Maio de 1924 tendo começado por estudar violino com apenas 6 anos e composição a partir dos 10. Foi aluno de Luis de Freitas Branco e professor do Maestro António Vitorino d´Almeida. Estudou também fora de Portugal tanto composição com Virgilio Mortari como direcção de Orquestra com Herman Scherchen e Antonino Votto. Na sua formação enquanto maestro não é de excluir também a enorme contribuição de Pedro de Freitas Branco (irmão de Luís de Freitas Branco e igualmente um dos grandes músicos portugueses do século XX).
De todas as biografias que consegui encontrar na net o que é público da sua vida não musical é escasso. Se houver quem me possa indicar alguma fonte de informação adicional ficaria grato. Sabemos que teve uma filha Maria da Piedade a quem dedicou a sua Sexta e ultima sinfonia (conhecemos o livro 10 Compositores Portugueses da Quixote que esperamos nos permita completar um pouco mais esta parte).
Musicalmente Joly Braga Santos foi juntamente com Luis de Freitas Branco o grande sinfonista português. Penso mesmo que terá nesse capítulo superado o seu mestre. Penso mesmo que não seria de um patriotismo exagerado considerar Joly Braga Santos um dos grandes expoentes musicais mundiais do século XX mesmo considerando que neste século temos outros génios como Stravinsky ou Schostakovich. Sustento que Joly Braga Santos se lhes pode comparar na qualidade e genialidade. Ter sido votado pela UNESCO um dos 10 compositores mais significativos da sua época é sinal que esse reconhecimento é mundial.
Joly Braga Santos sempre se caracterizou por um gosto apurado da forma não desdenhando a monumentalidade. Pensava ainda que a música deveria ser feita para agradar (mas sem cair na banalidade fácil). Embora com o tempo e com o contacto com outras escolas europeias o seu estilo e forma de compor se tenha modificado e refinado o compositor nunca perdeu essas características que no que me diz respeito me fazem apreciar a sua música.
Embora tenha composto inúmeras outras obras é sem dúvida na forma sinfónica que pensamos melhor se exprime o seu enorme talento.
A Primeira Sinfonia foi composta em 1947 logo após a segunda guerra mundial e dedicada precisamente "Aos Herois e Martires da Ultima Guerra Mundial". Infelizmente não consigo encontrar no You Tube extractos desta sinfonia. Esta primeira sinfonia em Ré tem três andamentos num formato mais típico dos concertos do que das sinfonias (andamento rápido-lento-rápido).
A Segunda Sinfonia em Si menor foi composta no ano subsequente 1948 sendo esta já em quatro andamentos. Propomos aqui o terceiro dirigido por Alvaro Cassuto na gravação integral das sinfonias de Joly Braga Santos efectuada para a Naxos. Esta é a única das suas sinfonias de que não conhecemos a dedicatória.
A terceira Sinfonia foi composta em 1949 sendo dedicada a Luís de Freitas Branco. Esta sinfonia em dó maior é no entanto marcada por uma maioria de temas introspectivos e relativamente calmos. Propomos que oiçam o inicio do primeiro dos quatro andamentos que compõem a sinfonia, sempre na direcção de Alvaro Cassuto agora com a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
A quarta Sinfonia dedicada à Juventude Musical Portuguesa foi a primeira a incorporar coro e ultima do primeiro ciclo dado que após ter composto esta sinfonia Joly Braga Santos fez uma espécie de interregno sabático. Composta em 1950 e estreada em 1951 tem um final que de certa forma (talvez pelo coro) lembra a nona de Beethoven. Oiçam aqui o final da sinfonia dirigida por Alvaro Pereira.
A quinta sinfonia foi composta apenas em 1966 sendo intitulada "Virtus Lusitanae" . Propomos aqui o quarto e ultimo andamento numa interpretação da Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida por Alvaro Cassuto.
A sexta Sinfonia foi composta em 1972 e é dedicada á sua filha Maria da Piedade como já referimos. Trata-se de uma sinfonia em seis andamentos de que vos propomos um extracto aqui.
Depois de ouvirem apenas estas seis sinfonias certamente concordarão comigo quanto ao génio de Joly Braga Santos ao nível dos grandes compositores do século XX.
Joly Braga Santos faleceu em Lisboa a 18 de Julho de 1988
De todas as biografias que consegui encontrar na net o que é público da sua vida não musical é escasso. Se houver quem me possa indicar alguma fonte de informação adicional ficaria grato. Sabemos que teve uma filha Maria da Piedade a quem dedicou a sua Sexta e ultima sinfonia (conhecemos o livro 10 Compositores Portugueses da Quixote que esperamos nos permita completar um pouco mais esta parte).
Musicalmente Joly Braga Santos foi juntamente com Luis de Freitas Branco o grande sinfonista português. Penso mesmo que terá nesse capítulo superado o seu mestre. Penso mesmo que não seria de um patriotismo exagerado considerar Joly Braga Santos um dos grandes expoentes musicais mundiais do século XX mesmo considerando que neste século temos outros génios como Stravinsky ou Schostakovich. Sustento que Joly Braga Santos se lhes pode comparar na qualidade e genialidade. Ter sido votado pela UNESCO um dos 10 compositores mais significativos da sua época é sinal que esse reconhecimento é mundial.
Joly Braga Santos sempre se caracterizou por um gosto apurado da forma não desdenhando a monumentalidade. Pensava ainda que a música deveria ser feita para agradar (mas sem cair na banalidade fácil). Embora com o tempo e com o contacto com outras escolas europeias o seu estilo e forma de compor se tenha modificado e refinado o compositor nunca perdeu essas características que no que me diz respeito me fazem apreciar a sua música.
Embora tenha composto inúmeras outras obras é sem dúvida na forma sinfónica que pensamos melhor se exprime o seu enorme talento.
A Primeira Sinfonia foi composta em 1947 logo após a segunda guerra mundial e dedicada precisamente "Aos Herois e Martires da Ultima Guerra Mundial". Infelizmente não consigo encontrar no You Tube extractos desta sinfonia. Esta primeira sinfonia em Ré tem três andamentos num formato mais típico dos concertos do que das sinfonias (andamento rápido-lento-rápido).
A Segunda Sinfonia em Si menor foi composta no ano subsequente 1948 sendo esta já em quatro andamentos. Propomos aqui o terceiro dirigido por Alvaro Cassuto na gravação integral das sinfonias de Joly Braga Santos efectuada para a Naxos. Esta é a única das suas sinfonias de que não conhecemos a dedicatória.
A terceira Sinfonia foi composta em 1949 sendo dedicada a Luís de Freitas Branco. Esta sinfonia em dó maior é no entanto marcada por uma maioria de temas introspectivos e relativamente calmos. Propomos que oiçam o inicio do primeiro dos quatro andamentos que compõem a sinfonia, sempre na direcção de Alvaro Cassuto agora com a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
A quarta Sinfonia dedicada à Juventude Musical Portuguesa foi a primeira a incorporar coro e ultima do primeiro ciclo dado que após ter composto esta sinfonia Joly Braga Santos fez uma espécie de interregno sabático. Composta em 1950 e estreada em 1951 tem um final que de certa forma (talvez pelo coro) lembra a nona de Beethoven. Oiçam aqui o final da sinfonia dirigida por Alvaro Pereira.
A quinta sinfonia foi composta apenas em 1966 sendo intitulada "Virtus Lusitanae" . Propomos aqui o quarto e ultimo andamento numa interpretação da Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida por Alvaro Cassuto.
A sexta Sinfonia foi composta em 1972 e é dedicada á sua filha Maria da Piedade como já referimos. Trata-se de uma sinfonia em seis andamentos de que vos propomos um extracto aqui.
Depois de ouvirem apenas estas seis sinfonias certamente concordarão comigo quanto ao génio de Joly Braga Santos ao nível dos grandes compositores do século XX.
Joly Braga Santos faleceu em Lisboa a 18 de Julho de 1988
sábado, 25 de dezembro de 2010
O estado e a arte
Quero dizer-vos que este post num dia de Natal é eventualmente estranho mas hoje parece-me um bom dia para partilhar convosco uma dúvida que me assaltou nestes últimos tempos em grande parte depois deste post e dos comentários do João Paulo Magalhães que desde já agradeço pelo enriquecimento que proporcionaram a este blog e a todos nós.
Confesso que à partida a minha opinião sobre este tema era que o estado tinha um papel a desempenhar no apoio das artes e dos artistas subvencionando produções, instituições e artistas individuais para que estes pudessem apresentar ao público as suas criações. Pensava desta forma não obstante considerar de igual forma que esta lógica tinha ao longo do tempo criado uma arte excessivamente intelectualizada e conceptualizada ao alcance apenas de meia-dúzia de especialistas e que pouco tinha a ver com a sensibilidade do público mesmo considerando a parte do mesmo que se interessa por arte.
Tinha portanto uma opinião semelhante à da Gi que considera dever existir um justo equilíbrio. O João por seu lado pensa que tudo deve ser deixado ao mercado incluindo neste o mecenato privado porque, argumenta, neste caso há um julgamento de gosto individual baseado no mérito ou pelo menos fundamentado na absoluta e total voluntariedade do acto ao invés da subsidiação pública.
Para começar esta reflexão pelo seu inicio teria que conseguir responder a uma outra pergunta para a qual também não tenho uma resposta que me satisfaça completamente: Para que é a arte necessária, se é que é necessária ... Se entendermos por necessária o que nos mantém organicamente vivos então efectivamente a arte é algo que pode ser perfeitamente dispensado. Porém creio que o ser humano se distingue precisamente pela sua capacidade em pensar, em reflectir na sua necessidade de se exprimir. Neste segundo sentido mais lato a arte é fundamental.
Partindo deste ponto ou seja assumindo que a arte é uma forma de expressão da nossa necessidade de expressão (que pode ser de coisas tão tangíveis como a revolta contra a opressão ou tão intangíveis como a fé ou o amor) será que é necessário que o estado assegure este direito? E se for necessário que o assegure como o deverá fazer? Pelo que vos mostrei da nossa constituição a resposta à primeira pergunta é sim: Constitucionalmente o estado tem o dever de nos garantir o acesso e os meios de expressão.
Continuando a admitir como correcta a anterior dedução: O estado tem o dever de nos assegurar o direito de acesso à cultura ou arte a questão que se coloca de seguida é como o deverá fazer. Neste momento em Portugal e na maioria das democracias europeias fá-lo de forma mais ou menos centralizada pelo lado da oferta subsidiando produções artísticas segundo critérios de qualidade avaliados por júris. Este processo assegura que existe produção e logo oferta artística a preços acessíveis a todos os que desejem usufruir dessa forma de expressão.
Será que esta forma funciona? Será que é a melhor forma de garantir que a necessidade que estabelecemos é satisfeita? É indiscutível que esta forma garante que existe produção artística. É também indiscutível que a garante para formas de arte que teriam no panorama actual muita dificuldade em subsistir doutra forma. O João Paulo pensa que é precisamente esse o problema. Dessa forma desconecta-se da realidade e ao invés de criar liberdade cria a necessidade de satisfazer júris e burocratas tornando-se dessa forma maniqueísta e propositadamente complexa (ou aparentemente complexa), formal e destituída precisamente da capacidade de exprimir e de ser entendida. Substituímos assim a subserviência dos artistas ao poder religioso dos períodos da renascença e barroco ao poder dos burocratas e dos "juris dos seus pares" ...
Invertendo a lógica actual existiria outra solução? Sim existe. Não é óbvia nem é claro que seja a melhor mas valha a verdade talvez valesse a pena pensar nela - pelo menos tem o mérito de ser bem mais democrática e sobretudo de assegurar a sua relação com as pessoas. Bom a outra forma seria obviamente investir na procura. Como ? Simples: Apostando na formação e na educação artística nas escolas neste momento considerada quase como um apêndice e proporcionando incentivos fiscais ao mecenato individual a pequena escala. Haveria assim mais público, público mais conhecedor, mais artistas e uma liberdade total na produção - desde que houvesse público ... Mas existindo formação e educação de qualidade não seria isso quase que garantido para as formas de expressão com qualidade ?
Sinceramente não sei. Como disse num comentário ao João estou com muitas dúvidas e contrariamente a quem sabemos tenho muitas e engano-me bastante. Assim aqui fica para debate e reflexão o estado actual das mesmas.
Confesso que à partida a minha opinião sobre este tema era que o estado tinha um papel a desempenhar no apoio das artes e dos artistas subvencionando produções, instituições e artistas individuais para que estes pudessem apresentar ao público as suas criações. Pensava desta forma não obstante considerar de igual forma que esta lógica tinha ao longo do tempo criado uma arte excessivamente intelectualizada e conceptualizada ao alcance apenas de meia-dúzia de especialistas e que pouco tinha a ver com a sensibilidade do público mesmo considerando a parte do mesmo que se interessa por arte.
Tinha portanto uma opinião semelhante à da Gi que considera dever existir um justo equilíbrio. O João por seu lado pensa que tudo deve ser deixado ao mercado incluindo neste o mecenato privado porque, argumenta, neste caso há um julgamento de gosto individual baseado no mérito ou pelo menos fundamentado na absoluta e total voluntariedade do acto ao invés da subsidiação pública.
Para começar esta reflexão pelo seu inicio teria que conseguir responder a uma outra pergunta para a qual também não tenho uma resposta que me satisfaça completamente: Para que é a arte necessária, se é que é necessária ... Se entendermos por necessária o que nos mantém organicamente vivos então efectivamente a arte é algo que pode ser perfeitamente dispensado. Porém creio que o ser humano se distingue precisamente pela sua capacidade em pensar, em reflectir na sua necessidade de se exprimir. Neste segundo sentido mais lato a arte é fundamental.
Partindo deste ponto ou seja assumindo que a arte é uma forma de expressão da nossa necessidade de expressão (que pode ser de coisas tão tangíveis como a revolta contra a opressão ou tão intangíveis como a fé ou o amor) será que é necessário que o estado assegure este direito? E se for necessário que o assegure como o deverá fazer? Pelo que vos mostrei da nossa constituição a resposta à primeira pergunta é sim: Constitucionalmente o estado tem o dever de nos garantir o acesso e os meios de expressão.
Continuando a admitir como correcta a anterior dedução: O estado tem o dever de nos assegurar o direito de acesso à cultura ou arte a questão que se coloca de seguida é como o deverá fazer. Neste momento em Portugal e na maioria das democracias europeias fá-lo de forma mais ou menos centralizada pelo lado da oferta subsidiando produções artísticas segundo critérios de qualidade avaliados por júris. Este processo assegura que existe produção e logo oferta artística a preços acessíveis a todos os que desejem usufruir dessa forma de expressão.
Será que esta forma funciona? Será que é a melhor forma de garantir que a necessidade que estabelecemos é satisfeita? É indiscutível que esta forma garante que existe produção artística. É também indiscutível que a garante para formas de arte que teriam no panorama actual muita dificuldade em subsistir doutra forma. O João Paulo pensa que é precisamente esse o problema. Dessa forma desconecta-se da realidade e ao invés de criar liberdade cria a necessidade de satisfazer júris e burocratas tornando-se dessa forma maniqueísta e propositadamente complexa (ou aparentemente complexa), formal e destituída precisamente da capacidade de exprimir e de ser entendida. Substituímos assim a subserviência dos artistas ao poder religioso dos períodos da renascença e barroco ao poder dos burocratas e dos "juris dos seus pares" ...
Invertendo a lógica actual existiria outra solução? Sim existe. Não é óbvia nem é claro que seja a melhor mas valha a verdade talvez valesse a pena pensar nela - pelo menos tem o mérito de ser bem mais democrática e sobretudo de assegurar a sua relação com as pessoas. Bom a outra forma seria obviamente investir na procura. Como ? Simples: Apostando na formação e na educação artística nas escolas neste momento considerada quase como um apêndice e proporcionando incentivos fiscais ao mecenato individual a pequena escala. Haveria assim mais público, público mais conhecedor, mais artistas e uma liberdade total na produção - desde que houvesse público ... Mas existindo formação e educação de qualidade não seria isso quase que garantido para as formas de expressão com qualidade ?
Sinceramente não sei. Como disse num comentário ao João estou com muitas dúvidas e contrariamente a quem sabemos tenho muitas e engano-me bastante. Assim aqui fica para debate e reflexão o estado actual das mesmas.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Mensagem de Natal 2010
Diz-se muitas vezes que “O Natal é sempre que um homem quiser” ao ponto de se ter tornado kitsch dizê-lo, quase ridículo mesmo – pensamos por vezes. Talvez porque as palavras de tantas vezes repetidas parecem perder o seu verdadeiro poder ou mesmo significado. Porque na verdade haveria poucas palavras tão poderosas e tão certas como as anteriores. Se necessário fosse uma prova desse poder poderia contar-vos a história que Ernest Heminghay por volta de 1920 escreveu, num desafio, numa aposta entre amigos : a mais curta história de sempre com apenas seis palavras*.
Por outras palavras a força das mesmas está tanto na alegria e sinceridade com que as escrevemos como também no espírito aberto e na atenção que lhes concedemos ao lê-las para que sejam sempre novas. É assim acreditem com muita sinceridade que vos deixo os votos de Um Santo Natal junto dos que vos são próximos e um 2011 cheio de fronteiras vencidas. Todas as fronteiras que vos ditar a vossa vontade. Nas palavras de Miguel Torga:
Ter um destino é não caber
no Berço onde o corpo nasceu
É transpor as fronteiras uma a uma
e morrer sem nenhuma
Deixo-vos como prometido com música desta vez do compositor franco-suíço Honneger. Falamos ontem do Rei David a obra que o projectou para o sucesso. A obra com que hoje vos deixamos, a Cantata de Natal (1953) é por oposição uma obra do fim da sua vida quando o compositor já se encontrava com uma saúde bastante debilitada e sem dúvida o seu ultimo grande sucesso ao ponto de ser possivelmente uma das suas obras mais vezes interpretadas nos nossos dias (juntamente com o Rei David). Fiquem assim com o final desta magnifica obra:
Por outras palavras a força das mesmas está tanto na alegria e sinceridade com que as escrevemos como também no espírito aberto e na atenção que lhes concedemos ao lê-las para que sejam sempre novas. É assim acreditem com muita sinceridade que vos deixo os votos de Um Santo Natal junto dos que vos são próximos e um 2011 cheio de fronteiras vencidas. Todas as fronteiras que vos ditar a vossa vontade. Nas palavras de Miguel Torga:
Ter um destino é não caber
no Berço onde o corpo nasceu
É transpor as fronteiras uma a uma
e morrer sem nenhuma
Deixo-vos como prometido com música desta vez do compositor franco-suíço Honneger. Falamos ontem do Rei David a obra que o projectou para o sucesso. A obra com que hoje vos deixamos, a Cantata de Natal (1953) é por oposição uma obra do fim da sua vida quando o compositor já se encontrava com uma saúde bastante debilitada e sem dúvida o seu ultimo grande sucesso ao ponto de ser possivelmente uma das suas obras mais vezes interpretadas nos nossos dias (juntamente com o Rei David). Fiquem assim com o final desta magnifica obra:
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Le Roi David - Honegger
(Por razões pessoais este post foi escrito no dia 5 de dezembro mas só agora o estou a publicar). Assim os ontem referem-se obviamente ao dia 4 de Dezembro.
Confesso que neste momento tenho dois posts em rascunho que me estão a dar muito trabalho e que tenho muita vontade de vos mostrar mas que simplesmente ainda não estão prontos ... Um é sobre o segundo capitulo do Livro de Alex Ross e o outro sobre Joly Braga Santos - post este que faz parte da sequência que estou a fazer sobre compositores portugueses do fim do século XIX e do século XX. Ontem depois de ouvir o Maestro António Vitorino d´Almeida falar de Joly Braga Santos (de que foi aluno) fiquei ainda com mais vontade de acabar esse post. Veremos quando terei ocasião de o terminar.
Por agora queria falar-vos ainda que de forma bastante sucinta de Honegger e da sua obra "Le Roi David" que fui ver ontem ao grande auditório da Escola Superior de Música. Honegger foi um músico franco-suíço nascido na cidade de Le Havre em 1892 de pais suíços. Honegger viveu uma parte substancial da sua vida em Paris fazendo parte do "grupo dos seis", um grupo um pouco à imagem dos "cinco" russos e que foi responsável pela criação nesse inicio de século XX de uma linguagem musical francesa. Bem pelo menos foi responsável pela semente dado que o grupo manteve-se coeso relativamente pouco tempo.
Honegger após uma breve ligação com a soprano Claire Croiza foi casado durante o restante da sua vida com a pianista Andrée Vaurabourg. Curiosamente e porque Honegger necessitava de completa solidão para compor raramente viveram juntos. A obra de que vos falo aqui foi composta em 1921 sendo uma encomenda para um espectáculo de René Morax (director de um teatro Suiço). Honneger revê a obra posteriormente para a adaptar à forma de oratório com um recitador sendo esta a forma em que é hoje interpretada. Enquanto compositor Honneger sempre se revelou pelo seu grande sentido da estrutura. Foi esta obra que projectou em grande parte o compositor Suiço mas nascido em França (Le Havre) e tendo vivido uma larga parte da sua vida em Paris cidade onde nasceu e que amava mais do que qualquer outra.
Esta obra inicialmente composta como música incidental da referida peça de teatro e composta em apenas algumas semanas depois revista e orquestrada para Orquestra como referimos divide-se em três partes e 27 cânticos. Proponho que oiçam aqui uma parte desta obra pela Orquestra da Suiça Romande e coro da Igreja Nacional Vaudoise.
Fica prometido para mais tarde uma biografia completa do compositor tanto mais que amanhã no nosso post de Natal também teremos uma obra de Honneger.
Confesso que neste momento tenho dois posts em rascunho que me estão a dar muito trabalho e que tenho muita vontade de vos mostrar mas que simplesmente ainda não estão prontos ... Um é sobre o segundo capitulo do Livro de Alex Ross e o outro sobre Joly Braga Santos - post este que faz parte da sequência que estou a fazer sobre compositores portugueses do fim do século XIX e do século XX. Ontem depois de ouvir o Maestro António Vitorino d´Almeida falar de Joly Braga Santos (de que foi aluno) fiquei ainda com mais vontade de acabar esse post. Veremos quando terei ocasião de o terminar.
Por agora queria falar-vos ainda que de forma bastante sucinta de Honegger e da sua obra "Le Roi David" que fui ver ontem ao grande auditório da Escola Superior de Música. Honegger foi um músico franco-suíço nascido na cidade de Le Havre em 1892 de pais suíços. Honegger viveu uma parte substancial da sua vida em Paris fazendo parte do "grupo dos seis", um grupo um pouco à imagem dos "cinco" russos e que foi responsável pela criação nesse inicio de século XX de uma linguagem musical francesa. Bem pelo menos foi responsável pela semente dado que o grupo manteve-se coeso relativamente pouco tempo.
Honegger após uma breve ligação com a soprano Claire Croiza foi casado durante o restante da sua vida com a pianista Andrée Vaurabourg. Curiosamente e porque Honegger necessitava de completa solidão para compor raramente viveram juntos. A obra de que vos falo aqui foi composta em 1921 sendo uma encomenda para um espectáculo de René Morax (director de um teatro Suiço). Honneger revê a obra posteriormente para a adaptar à forma de oratório com um recitador sendo esta a forma em que é hoje interpretada. Enquanto compositor Honneger sempre se revelou pelo seu grande sentido da estrutura. Foi esta obra que projectou em grande parte o compositor Suiço mas nascido em França (Le Havre) e tendo vivido uma larga parte da sua vida em Paris cidade onde nasceu e que amava mais do que qualquer outra.
Esta obra inicialmente composta como música incidental da referida peça de teatro e composta em apenas algumas semanas depois revista e orquestrada para Orquestra como referimos divide-se em três partes e 27 cânticos. Proponho que oiçam aqui uma parte desta obra pela Orquestra da Suiça Romande e coro da Igreja Nacional Vaudoise.
Fica prometido para mais tarde uma biografia completa do compositor tanto mais que amanhã no nosso post de Natal também teremos uma obra de Honneger.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Bilhetes ainda sem comentários ...
Então estais distraídos ? Oferecem-se bilhetes e não há sequer um único participante? O programa não é assim tão mau :-) ... Brinco claro, o programa é excelente ! Só restam umas horas ... Leiam isto e participem !
Barenboim - Na defesa da cultura em Itália
Retirado do Guardian:
Barenboim was made principal guest conductor of La Scala four years ago, with the title of maestro scaligero. Before raising his baton at the start of Richard Wagner's Die Walküre (The Valkyrie), the Israeli conductor turned to Italy's president, Giorgio Napolitano, who was in the audience, and said: "For that title, and also in the names of the colleagues who play, sing, dance and work, not only here but in all theatres, I am here to tell you we are deeply worried for the future of culture in the country and in Europe."
He then read out the ninth article of the Italian constitution, which says that the republic promotes "the development of culture and scientific and technical research". The same article also promises that governments will safeguard the country's "historical and artistic heritage". The audience broke into applause, with Napolitano joining in.
Em Itália a cultura é considerada como algo que vale a pena defender e o presidente não se esquiva em manifestações dúbias, aplaude. No exterior imagine-se houve distúrbios por causa destes anunciados cortes ... Não que defenda a violência, que não defendo, nem acho que seja solução para absolutamente nada mas tenho de confessar que não deixo de ter um certo prazer em perceber a emoção que uma decisão deste género provoca.
Quanto a Barenboim e ao que ele diz citando a constituição portuguesa que bem que nos faria alguém que tivesse a estatura para se levantar desta forma. A propósito a nossa constituição no Artigo 73 também diz que:
3. O Estado promove a democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comunicação social, as associações e fundações de fins culturais, as colectividades de cultura e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais.
e depois no artigo 75:
1. Todos têm direito à fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.
2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais:
a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de acção cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio;
b) Apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e colectiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade;
c) Promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum;
d) Desenvolver as relações culturais com todos os povos, especialmente os de língua portuguesa, e assegurar a defesa e a promoção da cultura portuguesa no estrangeiro;
e) Articular a política cultural e as demais políticas sectoriais.
Barenboim was made principal guest conductor of La Scala four years ago, with the title of maestro scaligero. Before raising his baton at the start of Richard Wagner's Die Walküre (The Valkyrie), the Israeli conductor turned to Italy's president, Giorgio Napolitano, who was in the audience, and said: "For that title, and also in the names of the colleagues who play, sing, dance and work, not only here but in all theatres, I am here to tell you we are deeply worried for the future of culture in the country and in Europe."
He then read out the ninth article of the Italian constitution, which says that the republic promotes "the development of culture and scientific and technical research". The same article also promises that governments will safeguard the country's "historical and artistic heritage". The audience broke into applause, with Napolitano joining in.
Em Itália a cultura é considerada como algo que vale a pena defender e o presidente não se esquiva em manifestações dúbias, aplaude. No exterior imagine-se houve distúrbios por causa destes anunciados cortes ... Não que defenda a violência, que não defendo, nem acho que seja solução para absolutamente nada mas tenho de confessar que não deixo de ter um certo prazer em perceber a emoção que uma decisão deste género provoca.
Quanto a Barenboim e ao que ele diz citando a constituição portuguesa que bem que nos faria alguém que tivesse a estatura para se levantar desta forma. A propósito a nossa constituição no Artigo 73 também diz que:
3. O Estado promove a democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comunicação social, as associações e fundações de fins culturais, as colectividades de cultura e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais.
e depois no artigo 75:
1. Todos têm direito à fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.
2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais:
a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de acção cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio;
b) Apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e colectiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade;
c) Promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum;
d) Desenvolver as relações culturais com todos os povos, especialmente os de língua portuguesa, e assegurar a defesa e a promoção da cultura portuguesa no estrangeiro;
e) Articular a política cultural e as demais políticas sectoriais.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Passatempo - Dois bilhetes para a Gulbenkian
Devido a uma generosa contribuição de uma leitora que deseja manter anonimato (e que não pode comparecer ao evento) temos dois bilhetes - um "normal" e um jovem a atribuir ao leitor que nos disser qual o programa do concerto e nos escrever a melhor frase sobre o mesmo através de comentários ao post. A decisão do júri será célere e sem apelo até às 23:55 de amanhã sendo admitidas todas as participações até essa hora.
Os bilhetes são para a próxima sexta-feira dia 10 de Dezembro na Gulbenkian às 19h. A entrega dos bilhetes ao vencedor será acordada com o mesmo.
Os bilhetes são para a próxima sexta-feira dia 10 de Dezembro na Gulbenkian às 19h. A entrega dos bilhetes ao vencedor será acordada com o mesmo.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
La Musique de Charles Baudelaire
Estava ontem em casa da minha mãe quando por acaso apanhei numa mesa um livro de poesia. Era uma pequena antologia de poesia francesa. Abro por acaso e leio:
Lindo poema de Charles Baudelaire que descreve na perfeição como sinto a música. Tento então uma tradução livre que me perdoe o poeta ...
La Musique
La musique souvent me prend comme une mer!
Vers ma pâle étoile,
Sous un plafond de brume ou dans un vaste éther,
Je mets à la voile;
La poitrine en avant et les poumons gonflés
Comme de la toile
J'escalade le dos des flots amoncelés
Que la nuit me voile;
Je sens vibrer en moi toutes les passions
D'un vaisseau qui souffre;
Le bon vent, la tempête et ses convulsions
Sur l'immense gouffre
Me bercent. D'autres fois, calme plat, grand miroir
De mon désespoir!
Lindo poema de Charles Baudelaire que descreve na perfeição como sinto a música. Tento então uma tradução livre que me perdoe o poeta ...
A Música
A Música muitas vezes é como um mar!
Onde navego direito à minha pálida estrela
Num tecto de bruma ou num vasto vazio
parto para onde a vela me levar;
Com esperança e pulmões cheios de ar
Como velas enfunadas
Subo as costas das vagas amontoadas
que a noite me esconde
Sinto em mim vibrar todas as paixões
de um navio que sofre;
O vento bom, a tempestade e as suas convulsões,
No imenso abismo adormecem-me
Outras vezes, a calmaria, grande espelho
do meu desespero!
domingo, 5 de dezembro de 2010
António Vitorino de Almeida - O Meu Livro de Música
A vida normalmente tem destas coisas. Vem por ciclos. acontece que o meu ultimo post neste blog há já alguns dias - peço desculpa mas por razões pessoais tem me sido completamente impossível manter um ritmo mais estável - foi sobre o Maestro António Vitorino de Almeida sendo que este de hoje também vai ser: O tal ciclo de que falava.
Acabei de chegar do lançamento do seu novo livro "O Meu Livro de Música" que apesar da sua aparência infantil é um daqueles livros que se pode ler de várias formas. Não é um livro só para crianças - embora possa ser lido (e deva ser lido) por crianças, não é um livro para músicos embora possa ser lido (e deva ser lido) por músicos). É um livro que de certa forma, aliás em muitas formas, se enquadra perfeitamente no espírito deste blog. Também nós acreditamos que é possível dar a liberdade de escolha proporcionando a quem não conhece a "música clássica" (entre aspas porque sabemos que é um termo incorrecto) uma oportunidade de conhecer uma nova forma de arte. E acreditem que há nessa descoberta um valor espiritual e humano a recolher.
O livro descreve uma visita ficcionada de um compositor - o próprio autor - a uma escola. História ficcionada não porque não seja composta de elementos reais mas porque condensa uma série de acontecimentos que ocorreram nas visitas do Maestro às várias escolas deste país. Como em muitas obras do maestro o humor está sempre presente mas o livro sobre esta aparência ligeira é mesmo muito sério.
Disse o maestro na apresentação do livro que em Trás-os-Montes na bela cidade de Chaves há um petisco inigualável: Um bom presunto com um bom copo de verde. Disse ainda que no entanto seria um pouco limitativo passar toda a vida a comer apenas isso - que experiências culinárias mais elaboradas ou simplesmente diferentes deveriam fazer parte da nossa dieta cultural. Acrescentou então que a formação estética está profundamente ligada à formação ética.
Não poderia concordar mais. Em minha opinião - e estas já são minhas palavras não do maestro - simplesmente porque nessa formação estética aprendemos sempre a percepcionar a diferença como algo que temos de valorizar aprendemos também que existem regras que têm de ser cumpridas e que mesmo a sua violação - sim porque em arte também se violam regras ou não haveria evolução - mas mesmo essa violação dizia é feita de forma construtiva e num sentido de progressão e de beneficio para todos e não apenas para a auto-satisfação do seu autor. Aliás sustento que nas formas de arte em que esses princípios éticos de evolução estética se abandonaram (e penso que há casos desses) o resultado foi exactamente o mesmo que em outros domínios da actividade humana. Perdoem-me o longo parênteses mas vinha mesmo a propósito ... só espero que este blog contribua na medida das minhas parcas possibilidades para a vossa educação estética.
Pedi ao maestro que me autografasse o meu exemplar com um "direito ao silêncio" . Para entenderem totalmente o âmbito do pedido creio que terão de adquirir o livro ... Não pensem que se trata aqui de uma chantagem barata simplesmente creio mesmo que o livro merece uma leitura e na verdade não há música sem silêncio ou melhor o silêncio que antecede ou precede a música ainda faz parte dela. Sem esse silêncio temos simplesmente uma sequência sem significado de sons. E infelizmente no nosso mundo sobre constantemente bombardeados de sons que acabamos por confundir com música ... com a forma de Arte Maior de que vos falava.
O livro é simples de ler como vos disse tem vários níveis de leitura podendo ser lido por uma criança ou por um adulto com igual prazer. Ilustrações de Tiago Albuquerque que são também muito interessantes. Um excelente presente de Natal sem margem para dúvida.
Acabei de chegar do lançamento do seu novo livro "O Meu Livro de Música" que apesar da sua aparência infantil é um daqueles livros que se pode ler de várias formas. Não é um livro só para crianças - embora possa ser lido (e deva ser lido) por crianças, não é um livro para músicos embora possa ser lido (e deva ser lido) por músicos). É um livro que de certa forma, aliás em muitas formas, se enquadra perfeitamente no espírito deste blog. Também nós acreditamos que é possível dar a liberdade de escolha proporcionando a quem não conhece a "música clássica" (entre aspas porque sabemos que é um termo incorrecto) uma oportunidade de conhecer uma nova forma de arte. E acreditem que há nessa descoberta um valor espiritual e humano a recolher.
O livro descreve uma visita ficcionada de um compositor - o próprio autor - a uma escola. História ficcionada não porque não seja composta de elementos reais mas porque condensa uma série de acontecimentos que ocorreram nas visitas do Maestro às várias escolas deste país. Como em muitas obras do maestro o humor está sempre presente mas o livro sobre esta aparência ligeira é mesmo muito sério.
Disse o maestro na apresentação do livro que em Trás-os-Montes na bela cidade de Chaves há um petisco inigualável: Um bom presunto com um bom copo de verde. Disse ainda que no entanto seria um pouco limitativo passar toda a vida a comer apenas isso - que experiências culinárias mais elaboradas ou simplesmente diferentes deveriam fazer parte da nossa dieta cultural. Acrescentou então que a formação estética está profundamente ligada à formação ética.
Não poderia concordar mais. Em minha opinião - e estas já são minhas palavras não do maestro - simplesmente porque nessa formação estética aprendemos sempre a percepcionar a diferença como algo que temos de valorizar aprendemos também que existem regras que têm de ser cumpridas e que mesmo a sua violação - sim porque em arte também se violam regras ou não haveria evolução - mas mesmo essa violação dizia é feita de forma construtiva e num sentido de progressão e de beneficio para todos e não apenas para a auto-satisfação do seu autor. Aliás sustento que nas formas de arte em que esses princípios éticos de evolução estética se abandonaram (e penso que há casos desses) o resultado foi exactamente o mesmo que em outros domínios da actividade humana. Perdoem-me o longo parênteses mas vinha mesmo a propósito ... só espero que este blog contribua na medida das minhas parcas possibilidades para a vossa educação estética.
Pedi ao maestro que me autografasse o meu exemplar com um "direito ao silêncio" . Para entenderem totalmente o âmbito do pedido creio que terão de adquirir o livro ... Não pensem que se trata aqui de uma chantagem barata simplesmente creio mesmo que o livro merece uma leitura e na verdade não há música sem silêncio ou melhor o silêncio que antecede ou precede a música ainda faz parte dela. Sem esse silêncio temos simplesmente uma sequência sem significado de sons. E infelizmente no nosso mundo sobre constantemente bombardeados de sons que acabamos por confundir com música ... com a forma de Arte Maior de que vos falava.
O livro é simples de ler como vos disse tem vários níveis de leitura podendo ser lido por uma criança ou por um adulto com igual prazer. Ilustrações de Tiago Albuquerque que são também muito interessantes. Um excelente presente de Natal sem margem para dúvida.
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