Erik Satie foi um músico muito difícil de definir. Se tivéssemos de escolher uma única palavra para o definir escolheríamos revolução. E em homenagem à França, em homenagem às promessas que alguns reputam de impossíveis ou irrealizáveis deitando por terra 80 anos de evolução ao abrigo de um liberalismo de que por vezes não entendem totalmente as consequências, em homenagem a Satie habitante sempre de uma "banlieue" pobre de Paris, em homenagem ao revolucionário membro do Partido Socialista Radical e sobretudo em homenagem a quem em 1903 sem ter praticamente nada empregava uma boa parte do seu tempo no auxilio dos menos afortunados do que ele, em homenagem a tudo isso deixo-vos:
Vexations de Erik Satie
Com algumas pequenas explicações:
1) Não sou (infelizmente?) revolucionário como Satie mas não posso deixar de protestar publicamente contra a destruição de um estado social só porque dá jeito a quem já não sabe muito bem como resolver um problema que criaram, não com o estado social mas com a destruição de alguns valores que precisamente o suportam (o estado social).
2) A homenagem com esta obra que consiste em 180 notas repetidas 840 vezes é uma dupla metáfora para que fique claro a minha intenção. Em primeiro lugar esta obra faz a o papel daquilo que nos dizem nos jornais como se pela repetição infindável se tornasse mais verdade. Um pouco como Blaise Pascal defendia para a fé mas também nesse particular como aqui é uma má solução. A repetição é apenas isso mesmo repetição. Torna as coisas familiares aos nossos ouvidos, é um óptimo happening mas não se torna verdade. Espero que tenhamos a sensatez para ouvir para além dos soundbytes com que nos bombardeiam diariamente.
3) Mas dizia é uma dupla metáfora porque sendo das obras mais longas que conheço (a execução total das 840 repetições pode durar de 16 a mais de 24 horas) essa duração é a melhor expressão relativa da nossa capacidade de memória e de nos relembrarmos ou estudarmos como era a sociedade antes desse "horrível" edifício que é o estado social. Porque não tenhamos dúvidas que é para aí que se caminha se persistirmos ...
Boa analogia, Fernando.
ResponderEliminarObrigado Gi.
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