Os dois nocturnos que compõem o Opus 62 foram os últimos publicados durante a vida de Chopin.
O primeiro deles o Nocturno nº 17 em Si Bemol é uma peça extraordinariamente densa, de difícil apreensão (se comparada com outros nocturnos), de ambiente soturno e fechado. Diz James Huneker autor do livro que já citamos Chopin o Homem e a sua Obra que este nocturno no entanto merece mais atenção e louvor do que lhe é normalmente concedido. Deixarei que julguem por vós próprios. Oiçam aqui uma interpretação de Aldo Ciccolini.
Já o nocturno nº 18 em Mi Maior é uma peça que embora mantendo aquela característica comum de alguma melancolia não deixa de transmitir uma certa paz. Como se embora consciente da distância Chopin se sentisse próximo da sua pátria ou dos seus amores com uma parte intermédia bastante apaixonada e ondulante. Lembra-me de certa forma um dos meus poemas preferidos de Prévert de que vos deixo aqui uma tradução minha (com o pedido de desculpa ao poeta).
Uma sugestão. Leiam enquanto ouvem o nocturno interpretado pelo notável Daniel Barenboim aqui.
Areias Movediças
Demónios e Maravilhas
Ventos e Marés
Ao longe o mar já se retirou
Demónios e Maravilhas
Ventos e Marés
E tu,
Como uma alga docemente afagada pelo vento
Nas areias da cama ondulas sonhando
Demónios e Maravilhas
Ventos e Marés
Ao longe o mar já se retirou
Mas nos teus olhos entreabertos
Duas pequenas ondas ficaram
Demónios e Maravilhas
Ventos e Marés
Duas pequenas ondas para me afogarem.
[A versão original, preferível caso dominem o Francês]
Sables Mouvants
Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déja la mer s'est retirée
Démons et merveilles
Vents et marées
Et toi
Comme une algue doucement carressée par le vent
Dans les sables du lit tu remues en revant
Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déja la mer s'est retirée
Mais dans tes yeux entrouverts
Deux petites vagues sont restées
Démons et merveilles
Vents et marées
Deux petites vagues pour me noyer.
Sem comentários:
Enviar um comentário