sexta-feira, 27 de julho de 2012

Em memória da Mafalda um ano depois

Fará no próximo dia 28 de Julho um ano que a minha esposa faleceu. Tenho desde essa data, de vez em quando, escrito aqui algumas linhas sobre a Mafalda numa vã tentativa de lhe dizer o que lhe deveria ter dito em vida

Faço-o em antecipação porque não estou seguro de o conseguir fazer depois ou no próprio dia. Faço-o em antecipação porque na verdade desde há uns dias que me atormenta esta proximidade. Sei - ou não fosse de ciências - que é apenas um marco temporal sem qualquer significado especial a não ser o facto da terra ter completado aproximadamente mais uma orbita em torno do sol. Não obstante não consigo deixar de sentir uma angústia crescente e por isso como forma liberatória, uma tentativa de uma noite mais calma, junto algumas poucas linhas.

Sempre fomos muito diferentes embora sempre tenhamos respeitado a forma de ser de cada um. Tivemos as nossas querelas obviamente, as nossas lutas. Eu andava sistematicamente de cabeça no ar e como sempre tu tinhas de me trazer à terra. Nem sempre gentilmente, às vezes com palavras bem duras que não eras de deixar coisas por dizer. Eu protestava contigo por essa inflexibilidade mas no fundo sei (sempre soube) que exprimias assim o teu amor.

O que é mais engraçado nesta história é que quando começamos a namorar tu gentilmente avisaste-me para não me deixar dominar por esse teu feitio. E assim ambos fizemos e dessa independência mutua a única possível para personalidades tão diferentes nasceu um equilíbrio que nem sempre foi fácil de manter mas que ambos procurávamos com afinco: Dele nasceu o mais desejado dos filhos e no que lhe dizia respeito sempre nos reencontramos.

Depois quando começaste a fazer voluntariado voltaste a encontrar uma alegria que parecia te ter escapado um pouco. Paradoxalmente embora tivesses menos tempo para nós acabamos por nos reaproximar. Do teu voluntariado e das situações que viveste guardo inúmeras conversas e momentos e sobretudo procuro não me esquecer do que me dizias e me ensinaste sobre a  morte. Levei muitos anos até conseguir abordar este tema com a mesma tranquilidade com que o fazias, aliás penso que ainda hoje não o consigo na totalidade.

Tínhamos por vezes conversas que poderiam parecer mórbidas ou presságios para os mais supersticiosos mas que na verdade vieram a revelar-se cruciais para que conseguíssemos lidar com a tua maldita doença. Permite-me Mafalda pelo menos aqui uma exclamação de revolta pela injustiça. Nem todas as histórias de amor têm fins felizes. A tua (nossa) não teve e não o merecias mesmo. Duvido que sem essas nossas longas conversas (e não só) tivesse conseguido ultrapassar estes últimos anos, os últimos meses, este ano inteiro sem a tua presença.

Vivemos juntos mais de metade das nossas vidas e confesso-te que me sinto só. Sinto a tua falta mesmo com os meus monólogos intercalados pela imaginação da tua resposta. Vou manter-me fiel ao que combinamos naquele dia em Sintra, não deixarei de viver ou de rir ou de celebrar a vida. Fizeste-me prometer isso e vou cumprir. Não só por te ter prometido mas porque ambos achávamos que essa era a forma certa de viver. Perdoa-me este pequeno parênteses e se aí por cima tiveres net e se puderes ler estas linhas podes rir à vontade e acrescentar: eu bem te disse ...

Prometi o mês passado partilhar aqui um outro poema de Vinicius que tinhas na tua carteira e que não poderia exprimir melhor o que tantas vezes argumentamos...

A morte vem de longe 
Do fundo dos céus 
Vem para os meus olhos 
Virá para os teus 
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida 
A grande esperada!
A desesperada 
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.

No Sábado 28 de Julho às 9:00 da manhã na Igreja de Entrecampos de que Mafalda tanto gosta(va) haverá uma missa. Todos os amigos, conhecidos ou desconhecidos, serão bem vindos.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Haydn - Concertos para Violoncelo - Primeira Parte

Optamos neste caso por vos falar em simultâneo dos dois concertos (embora em dois posts consecutivos) porque embora sejam de natureza totalmente diversa partilham uma história comum no que diz respeito à sua descoberta tardia e às dúvidas subjacentes relativamente à sua autenticidade.

O concerto nº1 em Dó Maior (Hob VIIb/1) foi composto entre 1761 e 1765 para o amigo e violoncelista Joseph Franz Weigl. Foi uma obra que se julgou perdida até 1961 quando se descobriu uma partitura no Museu National de Praga. Embora continuem a existir dúvidas sobre a autoria da obra  a maior parte dos musicólogos hoje em dia considera esta obra como sendo da autoria de Haydn. 

Esta obra foi composta nos primeiros anos da permanência de Haydn na corte do príncipe Esterházy. Este concerto ainda não assume totalmente a forma clássica como haveria de ser cristalizada anos mais tarde por Mozart. O concerto segue antes uma linha mais próxima do concerto barroco sendo que cada um dos três andamentos que o compõem estão na forma de sonata. 

Contrariamente à disposição de um concerto na sua forma clássica (rápido-lento-rápido para quem não se lembre) o primeiro andamento deste concerto é um Moderato para depois termos no segundo andamento um Adagio para o concerto terminar com um frenético Allegro Molto. 

Apesar de ter sido descoberto recentemente como afirmei este concerto rapidamente se tornou uma referência no reportório dos solistas de violoncelo tendo sido interpretado e gravado por praticamente todos os grandes violoncelistas em actividade desde essa data fazendo hoje solidamente parte do reportório. entre outros a grande Jacqueline du Pré ou o inimitável Rostropovich gravaram versões verdadeiramente únicas.

Precisamente para vos ilustrar o primeiro andamento escolhemos uma interpretação de Rostropovich com a Orquestra da Academia de St. Martin in the Fields.



No segundo andamento só podia mesmo escolher Jacqueline du Pré. Há quem toque este andamento de forma mais perfeita mas ninguém absolutamente ninguém o interpreta com esta sensibilidade.



Para o final escolhi Maisky embora esta versão esteja longe de ser perfeita (demasiado rápida para meu gosto) - mas gosto da dinâmica da camerata baltica que o acompanha.



domingo, 22 de julho de 2012

Estatísticas de 15.07.2012 a 21.07.2012

Na semana de 15 de Julho a 21 de Julho de 2012 tivemos 702 visitas (+1,6%) de 564 (+1,3%) visitantes únicos que no seu conjunto leram 1.090 páginas diferentes (+8,9%) numa média de 1,55 páginas por visita (+7,2%) num tempo médio de 1:40 por visita (+30,1%). 75,8% dos visitantes foram novos, 24,2% repetentes. 


O maior número de visitantes veio do Brasil 358 (-6,3%) seguindo-se Portugal 303 (+10,6%) e num longínquo terceiro a Alemanha com 5 visitas. Por cidades Lisboa reforça o primeiro posto 142 (+14,5%) seguindo-se São Paulo 42 (-28,9%) e em terceiro a invicta Cidade do Porto que recuperou dessa forma o terceiro lugar ao Rio de Janeiro com 31 visitas (+10,7%) 


Os nossos visitantes vieram em 73% (-3%) como resultado de pesquisas, 13% (+2%) de sites que nos referiram e 12% (+1%) de tráfego directo (bookmarks, memória ou outros em que o endereço foi digitado directamente). 

Se excluirmos as páginas de topo e as mensagens a elas relacionadas as mensagens mais lidas esta semana foram (antiga significa que não foi publicada esta semana e nova que o foi):

Porque fico fulo com o anuncio do Óleo Fula (antiga) .... 19 
Duas Listas de 10 Pianistas (nova) ...................... 17 
Telemann - Tafelmusik  (nova) ........................... 16 
4º Estatísticas e Mensagens Populares da Semana (nova)...... 13 
Vivaldi - As 4 Estações (Primavera) (antiga) ............ 11 

No que diz respeito a essas páginas de topo ou mensagens relacionadas a estatística é a seguinte:

As melhores músicas clássicas ........................... 57 
As 25 melhores Sinfonias ................................ 53 
Lista dos melhores Violinistas .......................... 50 
Lista dos Grandes Maestros .............................. 30 
As dez melhores músicas clássicas ....................... 22 


A página de entrada teve 309 visualizações representando 28,4% do tráfego.

sábado, 21 de julho de 2012

Resultados provisórios - Melhor obra para violino solo

Após mais uma semana temos agora 21 votantes num total de 99 votos expressos o que significa uma média de 4,71 votos por votante uma diminuição significativa relativa à semana passada. 

Na frente desta nossa votação com 47% dos votantes a terem preferido esta obra encontramos as sonatas e partitas de Bach - um expoente do período barroco sem dúvida e um expoente da nossa civilização. Em segundo lugar com 38% temos a sonata de Cesar Franck e em terceiro as duas sonatas de Beethoven e Tzigane de Ravel todas com 33% dos votantes.

Da cauda da tabela saíram as Sonatas de Mozart eventualmente fruto da nossa campanha eleitoral. Mantêm-se com apenas um voto Elgar, Korngold, Kreisler e Reger.

No resto meus amigos, 21 votantes? Num dia este blog tem mais de 100 visitantes. Vá votem que não custa nada! O Post com uma descrição de cada uma das obras e com links para o You Tube para que as possam ouvir está aqui.

Classificação a 21.07.2012


Bach - Sonatas e Partitas para Violino.......10 


Cesar Franck - Sonata em Lá Maior............8 


Ravel - Tzigane..............................7 
Beethoven - Sonata Primavera.................7 
Beethoven: Sonata Kreutzer...................7  

Ysaye - Sonatas..............................6 
Paganini - 24 Caprichos......................6  
Chausson - Poéme.............................6 


Prokofiev - Sonata nº1.......................5
Mozart - Sonatas para Violino................5


Locatelli Op. 6 - 12 Sonatas para Violino....4

Brahms - Violin Sonata Nº1 (Sonata da Chuva).3 
Debussy - Sonata para Violino em Sol Menor...3 
Schubert - Sonata em La Maior................3 
Bartok - Sonata nº 1.........................3


Schumann - Violin Sonata Nº 1................2  
Fauré - Sonata nº 1..........................2 
Grieg - Sonata Nº 3 em Dó Menor..............2  
Janacek - Sonata para Violino e Piano........2
Vaughan Williams : Sonata para Violino.......2
Mendelssohn - Sonata em Fá Menor.............2 
 
Max Reger - Violin Sonata Nº1................1
Fritz Kreisler - Caprice Viennois............1
Korngold Violin Sonata.......................1 
Elgar - Violin sonata em Mi Menor............1

Requiem de Mozart na Versão de Robert Levin

Em resposta a um comentário de um nosso leitor que nos perguntava onde poderia ouvir esta versão, bem para começar no You Tube podem ouvir a totalidade desta obra nesta edição basta para isso pesquisarem por Requiem Mozart Levin.

Por exemplo o inicio  - Introitus e Kyrie ou ainda a reconstrução de Dies Irae . Para poderem ter uma ideia das partes que foram ou não compostas por Mozart e aquelas em que Levin tem maior influência recomendamos que leiam: Mozart - Requiem.

Notem porém que Levin não se limitou a completar a obra de Mozart tendo também reorquestrado a obra tentando torná-la menos pesada e equilibrando a parte vocal com a instrumental. Como todas as tentativas de interpretação da obra de um mestre é discutível mas como diria Mozart a música tem de ser uma obra viva e não me parece que uma interpretação deste tipo que procura dar a esta obra uma dimensão ainda mais próxima do talento de Mozart seja negativa. Eu gostei da interpretação que ouvi.

Para quem desejar adquirir esta obra para a ouvir na sua totalidade por exemplo na Amazon têm o seguinte disco:

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Duas Listas de 10 Pianistas

Vianna da Motta - Outro pianista que
poderia estar na nossa lista
Ontem no post de um amigo no facebook fiquei a conhecer uma lista de 10 pianistas, publicada pela revista Limelight que segundo um conjunto de grandes pianistas de hoje terão sido os 10 mais influentes pianistas de todos os tempos. Já sabem que não consigo resistir a listas quanto mais a listas de 10 !






Posso dizer-vos que não tenho qualquer reserva relativamente a essa lista. Admito que não conhecia o 10º Artur Schnabel (1882-1951) e que o primeiro da lista Rachmaninov (1873-1943) nunca o pude ouvir suficientemente para poder apreciar enquanto instrumentista (enquanto compositor um dos seus concertos para piano é uma das obras que mais me emociona).

O desafio que me lancei foi de construir uma lista de outro conjunto de 10 pianistas igualmente relevantes embora isto me lembre aqueles períodos de infância na escolha das equipas em que o dono da bola escolhia primeiros todos os jogadores da sua equipa, ou seja a minha lista incluíria certamente muitos dos outros mas pronto uma segunda Lista de 10 tem muito mais piada ! E acreditem que não só os há como ainda vou ter de deixar alguns de fora ...

Sem qualquer ordem por agora desde logo me veio à cabeça Claudio Arrau. Em termos humanos e artísticos dificilmente se poderá argumentar que não é um dos instrumentistas mais relevantes do século XX. Desde logo oiçam uma entrevista do pianista neste nosso outro post, precisamente sobre Claudio Arrau.

Continuando sem ordem nenhuma em particular o segundo que me veio à memória foi Van Cliburn. A sua vitória no primeiro concurso Tchaikovsky em plena Guerra Fria em pleno Moscovo com o juri a revelar a dimensão dos génios que o compunham dificilmente o poderia retirar de uma lista dos pianistas mais significativos do século XX. Mas Van Cliburn não foi apenas esse heroi improvável do Ocidente, foi também um notável interprete de Tchaikovsky e de precisamente Rachmaninoff. Só por isso e pela sua não cedência ao tocar por tocar merecia estar numa lista deste tipo.

Lembrei-me depois de Nelson Freire outro nome que claramente também podia fazer parte desta lista quanto mais não fosse pelas suas interpretações de Beethoven ou de Chopin.

Pensei também em Lang Lang passe todo o folclore à volta do pianista chinês a verdade é que como em todos os grandes artistas há qualquer coisa diferente nele. Algo que o faz saír da "simples" excelência para atingir o patamar dos verdadeiramente sublimes ou únicos.

Marta Argerich - Não havia uma única mulher na nossa lista senão. Na "deles" também não há o que só por si já é uma vantagem da nossa. Melhor do que vos dizer qualquer coisa é convidar-vos a ouvir e ver o Terceiro Concerto de Rachmaninoff .

Ultrapassando a metade da lista em sexto proponho Vladimir Askhenazy . O que vos posso dizer deste Islandês (desde 1968) ? Nada o melhor é mesmo ouvirem este Nocturno de Chopin por ele interpretado. assim mesmo sem mais nada, uma música simples mas vão perceber porque razão este homem tem de estar nesta lista.

Depois Ignace Paderewski (1860-1941), pianista e primeiro-ministro da República Polaca antes da barbara invasão Nazi e depois no exilio em Londres. Podem ouvir e ver uma interpretação magistral de Liszt se tiverem duvidas.

Em oitavo (mas como digo sem ordem particular) Daniel Barenboim - Nem vale a pena falar mais. Pianistas influentes do século XX? E não é pela sua actividade extra-musical , é mesmo enquanto pianista que merece estar nesta lista embora seja verdade que a influência artística possa provir mais do talento enquanto maestro.

Em penúltimo na nossa lista Arturo Michelangeli : Como poderíamos deixar de fora um dos poetas do piano?

E por fim Robert Casadesus - Estamos no século XX e este pianista trabalha com ravel ajudando a transformar a música para sempre ... Termino as minhas sugestões musicais a propósito ou a despropósito desta lista com Ravel - Sonatina.

E como disse haveria mais - mesmo não quebrando a regra de não incluir pianistas sem gravações substanciais e dessa forma excluindo Vianna da Motta que doutra forma teria de estar nesta lista - há certamente uma outra boa dezena de nomes relevantes.

Caros leitores querem aceitar o desafio de sugerirem nomes para a terceira equipa? Só para vos ajudar em nenhuma das listas está Kissin ou Helene Grimaud por exemplo, nem tão pouco Gershwin ou Bernstein ... estão a ver é fácil só assim de repente já vos dei quatro nomes - Still six more to go :-) - Your turn now :-)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Publicidade e a Arte - Carta Aberta aos meus colegas Marketeers

Vem este post a propósito de um comentário de um dos nossos mais antigos leitores, lalage, que nos perguntava se seguíamos o blog De Rerum Natura . Confesso que não seguia mas esse pecado foi rapidamente eliminado.

O tema do post que motivou o comentário de lalage era a utilização de música clássica em publicidade. Nós já tínhamos falado disso a propósito do anúncio do óleo Fula.

Daniel Barenboim no seu livro "Está tudo ligado" de que por acaso (bom não bem por acaso dado sermos fanáticos apoiantes do maestro) também já havíamos falado precisamente a propósito da sua presença em Portugal quando do lançamento do livro e também obviamente pelo seu trabalho com a  West Divã Orquestra pela Paz.

Fechando os longos  parênteses introdutórios que têm vindo a tornar-se hábito por aqui (as minhas desculpas) como vos tinha dito a utilização de música clássica em publicidade ou mais geralmente em comunicação ou  pela mesa razão a utilização de qualquer outro tipo de arte não me parece forçosamente errada.

O que está errado isso sim  não é portanto a dessacralização do objecto artístico ou o insulto aparente ao seu autor mas antes a estupidez da utilização sem critério - algum critério que aproveite o fundamento da obra de arte e o coloque ao serviço do que se pretende comunicar.

A utilização sem critério, sem contexto, para além da ignorância que deixa perceber (mas essa é desculpável) demonstra uma outra coisa que essa sim é um pecado mortal: A Preguiça. Porque não tenham dúvida que em todos os maus exemplos citados com algum trabalho seria possível encontrar uma obra musical mais adequada a transmitir o que se pretende, com ganhos para todas as partes: Para a peça de comunicação que ficaria francamente melhor e para a arte em si que ganharia dessa forma uma forma de divulgação que doutra forma dificilmente atingiria.

É verdade que depois será difícil ouvi-la (a obra de arte) da mesma forma mas acreditem que se a obra for mesmo boa ao fim de um tempo esta permanecerá, muito mais conhecida, enquanto o anuncio em si cairá no esquecimento. A não ser claro que o anuncio seja ele também uma obra de arte que suplante a própria música (não é impossível, não sendo propriamente música clássica quem não se lembra do anuncio da Regisconta e aquela máquina?). A questão é que nesse caso e em outros trabalhou-se para que a música não estivesse ali simplesmente para servir de fundo. Faz parte da peça de comunicação e foi escolhida por um motivo.

Por outras palavras caros publicitários e colegas de profissão, caros marketeers. Querem utilizar obras de arte musicais ou outras nas vossas produções de comunicação? Óptimo. Grande ideia. Façam então o obséquio de o merecer e de trabalharem por isso não vos limitando a escolher a música de fundo da casa de banho. Se quiserem comunicar um seguro desde já vos digo que Beethoven está pronto para assinar um contrato com a batida do destino da sua 5ª ... Façam por o merecer, façam por o merecer ... E por Amor de Deus deixem o Vivaldi e as Quatro Estações em Paz, ou pelo menos se entenderem falar da morte usem o Inverno e não a Primavera sempre faz mais sentido.

Não saber, não ter conhecimento, não está errado per se. O que está errado isso sim é a recusa de aprender e glorificação da ignorância. Isso sim está errado.

domingo, 15 de julho de 2012

Telemann - Tafelmusik

Num dos primeiros post deste blog (de Novembro de 2007 vejam lá) já vos tinha falado desta obra deste compositor alemão do período barroco contemporâneo de Bach. Porém não estou satisfeito com o que na altura vos disse e por isso resolvi voltar ao tema até porque esta obra faz parte das minhas 100 recomendações.

Telemann era contemporâneo de Bach e acreditem ou não no seu tempo era considerado um compositor bem mais relevante do que Bach ao ponto de ter conseguido sempre melhores posições, maior número de publicações e melhores salários e sobretudo uma reputação muitíssimo melhor enquanto músico. Não foi aliás nessa época o único músico a suplantar Bach já que Christoph Graupner também o fez. Aliás a bem dizer se Bach obteve o posto em Leipzig que acabou por o levar à fama um século mais tarde foi porque tanto Telemann como Graupner não quiseram esse mesmo lugar. Curiosamente Telemann era aliás amigo pessoal de Bach tendo sido padrinho de um dos filhos do compositor (precisamente o mais conhecido Carl Emanuel Bach).

Uma reacção a esta circunstância quase tão absurda como o facto que relatamos é reduzir estes dois compositores à insignificância, uma espécie de vingança uns quatro séculos depois ... Injustificada pois qualquer um destes dois músicos (sobretudo Telemann) tem o seu lugar na história da música.

Claro que Telemann também ajudou pelo facto de mais do que outro qualquer músico da época se ter preocupado com o seu marketing pessoal e da sua obra. Muitas vezes erradamente esse argumento é utilizado do ponto de vista negativo para denegrir a qualidade intrínseca das suas obras como se uma coisa proibisse a outra.

Acresce que Telemann foi um compositor extraordinariamente prolífico (aliás faz parte do Guiness Book of Records como sendo o compositor com mais obras publicadas) o que também não terá contribuído favoravelmente para a sua reputação qualitativa.

Fechando o longo parênteses e falando da obra em questão ela foi publicada em 1733 sendo constituída quase certamente por obras que não foram compostas para este fim. A obra está dividida em três partes cada uma constituída por 6 peças que forma uma espécie de suite. Cada uma das suites é concebida para formações com dimensões diferentes progredindo de obras para Orquestras de Câmara passando por obras para quartetos e trios e sonatas para instrumentos solo terminando de novo com uma orquestração para o mesmo conjunto orquestral do inicio.

Este conjunto de obras demonstra a enorme versatilidade de Telemann quer de estilos quer de formas que incluem estilos Polacos, Franceses e Italianos além da variedade orquestral e instrumental já referida.

Como vos explicamos o nome Tafelmusik significa "música de mesa" embora seja um pouco excessivo qualifica-la como música ambiente na verdade destinava-se a ser interpretada em ocasiões festivas.

Quando foi publicada a obra foi desde logo subscrita por mais de 200 pessoas entre nobres, clero e outros compositores (entre os quais Handel). Aliás o facto das encomendas terem nessa altura vindo um pouco de toda a Europa é ao mesmo tempo um elogio à capacidade de Telemann enquanto compositor mas também enquanto marketeer: Nessa altura um evento deste tipo pan-europeu estava longe de ser fácil. esta obra assegurou a Telemann considerável rendimento e desafogo financeiro.

Para vos demonstrar a latitude de estilos e de orquestração que esta obra inclui resolvi incluir bocados de cada uma das partes (também chamadas "suites" ou "produções").

Da primeira produção e como exemplo da música orquestral presente neste conjunto escolhi a abertura em Mi Menor (relembro que além da introdução a conclusão também é orquestral).



Da segunda produção e como exemplo da música de câmara escolhi o andante para quarteto em Ré Menor.

 

Da terceira produção escolhi a sonata para Oboe e Cravo como exemplo da música para solistas.

Estatísticas e Mensagens Populares da Semana (08.07.2012 a 14.07.2012)

Retomamos hoje os nossos posts regulares sobre algumas estatísticas interessantes deste blog.  Irei tentar que sejam semanais logo veremos se conseguimos manter essa frequência.

Na semana de 8 de Julho a 14 de Julho de 2012 tivemos 691 visitas de 557 visitantes únicos que no seu conjunto leram 1.001 páginas diferentes numa média de 1,45 páginas por visita num tempo médio de 1:17 por visita. 75,7% dos visitantes foram novos, 24,3% repetentes.

O maior número de visitantes veio do Brasil (382) seguindo-se Portugal (274) e num longínquo terceiro a França (6). Por cidades Lisboa continua a ser a principal fonte de visitas (124) seguindo-se São Paulo (59) e em terceiro o Rio de Janeiro (37).

Os nossos visitantes vieram em 76% como resultado de pesquisas, 11% de sites que nos referiram e 11% também de tráfego directo (bookmarks, memória ou outros em que o endereço foi digitado directamente).

Se excluirmos as páginas de topo e as mensagens a elas relacionadas as mensagens mais lidas esta semana foram:

Rhapsody in Blue ............... 14
Vivaldi as Quatro Estações ..... 12
Dia Mundial da Música (2011) ... 11
Clara Haskil ................... 10
Paris e Helena ................. 10 


No que diz respeito a essas páginas de topo ou mensagens relacionadas a estatística é a seguinte:


As melhores músicas clássicas ....... 47
Lista dos melhores Violinistas ...... 44
As 25 melhores Sinfonias ............ 40
Lista dos Grandes Maestros .......... 26
As dez melhores músicas clássicas ... 22

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Rhapsody in Blue - George Gershwin

O debate se esta obra se deve classificar com Jazz ou como música clássica nunca estará verdadeiramente terminado. A bem dizer isso não me interessa muito já que os títulos ou as classificações apenas são úteis enquanto taxonomia quando nos ajudam a entender a forma como as coisas se organizam. Se nas ciências essa forma deve obedecer a critérios rigorosos,  já nas artes há uma certa liberdade poética e de sentimento que nos pode permitir - a nosso belo prazer - definir algumas coisas como nos manda o coração. No meu caso esta obra é tanto uma peça de Jazz como uma música clássica.

Foi composta nos primeiros dias do ano de 1924 reza a lenda em apenas algumas semanas sobre a pressão da ideia ser "roubada" por um outro produtor. Na verdade a obra foi uma encomenda de Paul Whiteman o maestro de uma banda de Jazz e que tinha uns meses antes discutido com Gerswin a possibilidade de se fazer um concerto de raíz profundamente americana e que provasse que o Jazz era digno de uma sala de concerto. Ironia suplementar Paul Whiteman até tinha formação clássica, violinista que fora da Orquestra Sinfónica de Denver.

A orquestração da obra não é de Gershwin (pelo menos a da estreia não foi) mas sim de Ferde Grofé sendo também tema de debate se naquela altura Gershwin teria ou não capacidade técnica para ele próprio escrever a orquestração. É preciso enquadrar este facto na realidade de um compositor da Broadway que Gershwin também era. Normalmente o trabalho de orquestração não era feito pelos compositores das "canções" - Berlin, Kern ou Rodgers raramente orquestravam - mas sim por técnicos especialistas. O tempo dos compositores era demasiado precioso para algo que era essencialmente visto não como um trabalho criativo mas antes como um trabalho técnico. É assim razoável admitir que este modelo fosse aplicado nesta encomenda sobretudo dado o escasso tempo existente para a completar.

A obra está dividida em três partes embora não estejam identificadas como tal. A primeira parte é uma parte  rápida e alegre, a parte mais extensa, a segunda é uma parte lenta normalmente chamada o tema do amor pelo seu carácter doce para depois terminar de novo num final épico. Os leitores mais fieis deste blog não deixarão de notar nesta estrutura a forma normal de um concerto clássico com os andamentos rápido-lento-rápido. Podemos identificar claramente cinco temas que são apresentados logo nos primeiros compassos da obra.


A estreia a 12 de Fevereiro de 1924 recebeu um acolhimento fantástico por parte do público menos fantástico por parte da critica que nitidamente não conseguiu ultrapassar a barreira do género. Aliás nem de um lado nem do outro da barricada já que os especialistas do Jazz também não foram propriamente entusiasta da obra. Na estreia da obra estava presente uma plateia que hoje seria considerada impossível com alguns dos grandes vultos musicais da época: Heifetz, Kreisler, John Sousa e Rachmaninoff por exemplo. Na estreia com Gershwin ao piano a cadencia final foi verdadeiramente improvisada pelo que é impossível saber hoje como foi exactamente interpretada embora se admita que as versões que se seguiram interpretadas por Gershwin possam ser semelhantes.

Mas chega de palavras fiquem com a primeira parte da obra interpretada por Bernstein e a Filarmónica de Nova Iorque.





Deixo-vos também a titulo de comparação uma das versões interpretadas pelo compositor.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mozart - As Sonatas para Violino

Inspirado pelo sentimento de urgência na reparação de uma injustiça colectiva que estamos a cometer neste blog vejo-me forçado a fazer campanha eleitoral por Mozart. Eu até não queria (não que Mozart não mereça antes pelo contrário, não deveria era precisar mas isso é outra história), mas dizia eu não queira porque, pecado capital para um amador de música clássica Mozart não me enche as medidas.

Antes que comecem a maldizer o autor deste blog uma explicação prévia. Não está em causa obviamente a genialidade do compositor. Aliás quem seria eu para a isso me atrever. É simplesmente porque em Mozart tudo é sempre tão certo, tão puro, tão claro e transparente (aliás essa é a grande dificuldade que se coloca a quem interpreta Mozart). Eu gosto de obras mais arriscadas, com mais arabescos, mais românticas se quisermos ou mais barrocas se preferirmos um passo para o passado. O período clássico e o seu expoente máximo, a perfeição da forma atingida por Haydn e Mozart nem sempre me conseguem comover. Há obviamente excepções ... Aqui fica desta forma assinalada a minha má vontade ao realizar esta campanha desculpem este longo desabafo.

Mozart escreveu como se sabe mais de trinta sonatas para violino e piano embora entre estas se encontrem 16 que são trabalhos da sua mais tenra infância e que na realidade são mais sonatas para piano com acompanhamento de violino do que o inverso. Esquecendo essas ficamos com as Sonatas Nº17 a Nº 36 das quais algumas estão incompletas ou foram completadas após a morte do compositor por alunos ou estudiosos. Em nome da verdade mesmo estas obras poderiam ser no minimo ser consideradas obras onde o piano é igualmente importante ou mesmo mais importante que o Violino. Porém hoje em dia são apresentadas desta forma e por isso as apresento nesta lista.

Escolher entre o conjunto que resta é muito difícil senão impossível. Como em outras cmapanhas eleitorais vamos escolher os andamentos que nos parecem ser melhores promessas para o vosso voto. Começamos assim com o segundo andamento (Allegro) da K.301 em Sol Maior a Sonata nº 18 composta em 1778 em Manheim e dedicada a Maria Elisabeth eleitora do Palatinado.

 

A segunda proposta é a sonata K. 302 em Mi Bemol Maior composta apenas uns meses depois e dedicado à mesma princesa fazendo portanto parte do mesmo ciclo intitulado "Sonatas do Palatinado".




Já num ciclo diferente a sonata K.454 em Si Bemol Maior composta em 1784 em Viena e dedicada a Regina Strinasacchi um virtuoso do violino.

 

E claro que depois do post sobre Clara Haskil não poderiamos terminar sem incluir uma sonata de Mozart interpretada por esta excelente dupla no caso a K. 526 em Lá Maior e escrita em 1788 eventualmente para o mesmo virtuoso violinista que a anterior.



Depois destes exemplos parece-me que pelo menos mais alguns votos terão de fluir para as obras de Mozart!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Resultados Provisórios - Melhor obra para Violino Solo

Após mais uma semana temos agora 12 votantes num total de 75 votos expressos o que significa uma média de 6,25 votos por votante um aumento relativo à semana passada. 


Na frente desta nossa votação com 50% dos votantes a terem preferido estas obras encontramos três obras totalmente diferentes na sua natureza: As sonatas e partitas de Bach - um expoente do período barroco sem dúvida um expoente da nossa civilização, a Sonata de Cesar Franck uma certa surpresa embora seja uma obra lindíssima e uma das minhas preferidas, uma representação do "outburst" do romantismo e por fim Tzigane que é uma obra que desafia um pouco qualquer qualificação, uma obra do período pós-romântico, das escolas nacionais, uma obra francesa sem dúvida mas com sonoridade do leste, uma obra bastante misteriosa portanto.


Na cauda da tabela sem surpresa ficam os compositores menos conhecidos mas ficam também algumas francas injustiças em particular meus amigos - As Sonatas para Violino de Mozart? - Só um voto? Certo bem sei que o piano foi talvez o instrumento onde melhor se exprimia mas ainda assim, ainda assim. Obrigam-me assim a iniciar a campanha eleitoral precisamente com um post sobre essas Sonatas, um pouco à contre-coeur porque gostaria de ajudar Debussy, Mendelssohn ou Elgar a subir um pouco, ficará para depois. Assim dentro de momentos voltaremos com umas sonatas de Mozart especialmente para si, caro votante.


No resto meus amigos, 12 votantes? Num dia este blog tem mais de 100 visitantes. Vá votem que não custa nada! O Post com uma descrição de cada uma das obras e com links para o You Tube para que as possam ouvir está aqui.


Bach - Sonatas e Partitas para Violino.......6 
Cesar Franck - Sonata em Lá Maior............6
Ravel - Tzigane..............................6
Beethoven - Sonata Primavera.................5
Beethoven: Sonata Kreutzer...................5 

Ysaye - Sonatas..............................5 
Prokofiev - Sonata nº1.......................5
Paganini - 24 Caprichos......................4 
Chausson - Poéme.............................4

Locatelli Op. 6 - 12 Sonatas para Violino....3
Brahms - Violin Sonata Nº1 (Sonata da Chuva).3
Debussy - Sonata para Violino em Sol Menor...3
Schubert - Sonata em La Maior................2
Schumann - Violin Sonata Nº 1................2 
Fauré - Sonata nº 1..........................2
Grieg - Sonata Nº 3 em Dó Menor..............2 

Janacek - Sonata para Violino e Piano........2
Bartok - Sonata nº 1.........................2 
Vaughan Williams : Sonata para Violino.......2

Mozart - Sonatas para Violino................1 
Mendelssohn - Sonata em Fá Menor.............1 
Max Reger - Violin Sonata Nº1................1
Fritz Kreisler - Caprice Viennois............1
Korngold Violin Sonata.......................1 
Elgar - Violin sonata em Mi Menor............1


Clara Haskil (1895-1960)

O post de hoje é dedicado a Clara Haskil pianista que este mês é capa da Diapason. Uma pianista que o titulo do artigo biográfico que lhe é dedicado sub-titula "sofrimento e paixão". Sub-titulo sem dúvida justificado por uma vida dura mas na qual nunca deixou de conseguir demonstrar a sua paixão. Por acaso tínhamos falado já brevemente desta pianista na Biografia de Arthur Grumiaux com quem realizou o seu ultimo concerto mas vamos começar pelo inicio.

Clara Haskil nasceu a 7 de Janeiro de 1895 em Bucareste numa família judaica. A sua mãe Berthe era pianista amadora. Porém rapidamente a sua vida transforma-se em tragédia. O apartamento onde residia com a família incendeia-se, o pai morre vitima de pneumonia.

O irmão mais velho toma então conta da jovem e é graças a ele que Clara ainda muito jovem muda-se para Viena para estudar com Richard Robert. Estamos então no inicio do século XX e os três anos que Clara passa em Viena registam uma evolução absolutamente notável. Tanto assim é que o seu professor a recomenda a Fauré.

Muda-se então para Paris para se inscrever no Conservatório na classe de Cortot mas as relações com o professor não são as melhores apesar de terminar o conservatório em 1910. Curiosamente Clara além de interpretar magistralmente o piano era também uma excelente violinista tendo também obtido um prémio em 1909 na primeira fase da sua carreira. Mais tarde esta ambivalência vai permitir-lhe alguns momentos de grande significado musical ao trocar de instrumento com Arthur Grumiaux que ele também era excelente violinista e pianista (no seu caso por esta ordem).

Porém quando a sua carreira parece começar a despontar com contratos um pouco por toda a Europa a jovem pianista tem de se submeter a um tratamento de vários anos (entre 1914 e 1918) à escoliose que a  afligia.

Deve então uma vez terminada a guerra e terminados os tratamentos recomeçar a carreira. Mas se o seu temperamento já não era fácil e a sua auto-confiança diminuta os anos de sofrimento, um irmão cada vez mais tirano e a própria vida difícil do período entre as duas grandes guerras não melhoram o panorama. Não abundam assim as oportunidades e quando estas existem o próprio carácter da pianista pouco exuberante ou simpático com o público, um pavor do palco extremo tornam os concertos não tão bem sucedidos como provavelmente mereciam musicalmente. Certamente inibem os produtores de considerar repetir contratos.

Ainda assim realiza duas tournées aos Estados Unidos (1924-1925), interpreta com Ysase no centenário da morte de Beethoven (1927), encontra Dinu Lipatti seu compatriota e com quem estabelecerá grande amizade e formará uma das suas mais relevantes parcerias musicais (as outras sendo Grumiaux e Pablo Casals). Será também nesse período que conhecerá a princesa de Polignac que irá desempenhar um papel preponderante na sua sobrevivência durante a Segunda Guerra Mundial: Sim porque a dureza da vida da pianista não tinha ainda acabado.

Quando a guerra se inicia Clara Haskil vive em Paris rapidamente compreendendo que deve fugir para a Zona Livre quando a França capitula. Na verdade dadas as suas origens o seu destino estaria doutra forma traçado.

Deixem-me a este propósito arriscando um post mais longo do que o costume abrir um pequeno parenteses sobre esta época negra da nossa história. Estamos quase a metade do século XX e um grupo de pessoas com base numa teoria absurda apoiando-se no medo e na violência e em pseudo-lógica da ausência de alternativas e focalizando os problemas no "exterior", nos "outros" conseguiu conduzir numa Europa civilizada um genocídio de que não havia memória e que certamente acreditaríamos ser impossível. É bom que não esqueçamos isto porque obviamente a história recente e alguns sintomas actuais parecem-me infelizmente demasiado próximos. Não esqueçamos que entre a barbárie e a civilização se encontra uma linha muito ténue: a linha da nossa consciência e a nossa coragem de dizer: Não! ...

Parenteses fechado Clara consegue fugir graças à ajuda da princesa Polignac juntando-se aos elementos da Orquestra Nacional que foge em pequenos grupos para se juntar em Marselha então na Zona Livre. É aqui que conhece Casals com quem dará alguns concertos privados. Porém apenas um ano depois (em 1942) novo problema de saúde (um tumor) obriga-a a uma rocambolesca operação feita às escondidas por um cirurgião vindo de Paris pago pelos seus amigos.

Em Setembro de 1942 é detida pela policia sendo libertada depois de nova intervenção da Princesa de Polignac. Decide então que é tempo de partir para a Suiça o que acaba por fazer num dos últimos dias em que a fronteira com esse país esteve aberta. Viverá na Suiça até à sua morte em 1960 acabando por adquirir nacionalidade Suiça.

Até ao fim da Guerra não obstante o seu talento Clara Haskil não tinha efectuado uma única gravação comercial. Mesmo considerando a época em causa esta ausência é estranha mas facilmente explicada pelos acontecimentos que relatei.

Na Suiça renasce então pela terceira vez (este termo renascimento é o utilizado no artigo da Diapason que utilizo por o considerar perfeitamente adequado). Na Suiça encontra então Michel Rossier que a ajudará a relançar a sua carreira juntamente com Casals (que a convida para o primeiro dos festivais em Prades), Grumiaux, Charles Chaplin (que diz que conheceu na vida três génios, Chruchill, Einstein e Clara) e claro o seu compatriota Lipatti.

Multiplicam-se então os concertos com as maiores orquestras e maestros. A Philips oferece-lhe um contrato de exclusividade discográfico.

Porém tal como toda a sua vida quando tudo parecia estar a caminhar bem a sua saúde deteriora-se e em 1960 termina de forma brutal quando em Bruxelas ao sair de um comboio tropeça e caindo desamparada acaba por falecer no hospital a 6 de Dezembro de 1960.

Para ilustrar o génio desta pianista obviamente apenas poderia escolher Mozart do qual aliás continua a ser considerada uma das grandes referências em termos de interpretação. Aliás a bem dizer ela detestaria esta ultima frase. Dizia na verdade Clara Haskil : " Eu não concebo Mozart, toco-o tal como está escrito". Modéstia certamente mas reveladora da sua forma de estar na música e na visão que tinha do interprete.



E claro que não poderia deixar de vos mostrar a parceria com Grumiaux. Foi para tocar com ele em Bruxelas que Clara Haskil acabou por falecer. Com Mozart também obviamente !

sábado, 7 de julho de 2012

Gluck - Páris e Helena

Hoje às 21:30 em Alcobaça no Cine Teatro João d´Oliva Monteiro inserido no festival Cister Música irei assistir à estreia em Portugal da ópera de Gluck , Páris e Helena. Já tinha assistido à versão não encenada no Grande Auditório da Escola Superior de Música mas agora vou ter a hipótese de assistir à estreia em Portugal da versão encenada. Do programa deixo-vos aqui a ficha técnica retirada da página de programação do mês de Julho do Festival.
Fica também a recomendação para lhe darem a devida atenção.

Estúdio de Ópera da Escola Superior de Música de Lisboa 
Nicholas McNair, direção artística 


Clara Andermatt
encenação 


Carmen Matos, Carla Simões, Sara Carolina Marques, Sónia Alcobaça
solistas 


Coro do Estúdio de Ópera da Escola Superior de Música de Lisboa 
Clara Alcobia Coelho, direção 


Orquestra de Música Antiga da Escola Superior de Música de Lisboa 
Pedro Castro, direção musical 


Rui Horta, cenografia e desenho de luz 


Aleksandar Protic, figurinos 


Coprodução: Escola Superior de Música de Lisboa, ACCCA - Companhia Clara Andermatt, O Espaço do Tempo e São Luiz Teatro Municipal


Já sabem - de tiverem oportunidade - deixem as pantufas em casa e vão à opera que ao vivo é MESMO outra coisa !

Quanto à opera propriamente dita ela segue as mais conhecidas Orfeo e Euridice e mesmo Alceste tendo sido estreada em Viena a 3 de Novembro de 1770 sendo o libretto de Ranieri de' Calzabigi que já tinha colaborado nas anteriores óperas do compositor.

Embora sendo a menos conhecida e a menos interpretada das três obras não deixa de ser uma obra belíssima seguindo a procura de simplicidade e pureza típica de Gluck e tantas vezes (mal) confundida com falta de expressividade.

A ópera que conta a história da chegada de Páris e da sedução de Helena até à sua partida para Tróia contem não obstante algumas árias que certamente terão já ouvido porque são regularmente interpretadas em recitais (de forma isolada). Dessas escolhemos duas para vos ilustrar a obra.

Em primeiro lugar "O del mio dolce ardor" a declaração de amor de Páris no primeiro acto.




A segunda ária que escolho é uma gravação de Claudia Muzzio de 1923 (só por si é um documento histórico) Spiagge Amate.




Estas duas árias dão uma ideia da dificuldade em encontrar  cantores para este papel dado este ter sido concebido sobretudo para um Soprano Castrato.

Repetindo a primeira ária não queria deixar-vos sem a comparação da grande Teresa Berganza na primeira destas duas árias, simplesmente sublime (não que os dois outros exemplos não sejam excelentes note-se).

terça-feira, 3 de julho de 2012

Lavoisier

De novo porque nada se deve perder e embora tudo se transforme também existem constantes, de novo os Lavoisier desta vez no vinyl em alcantara. Um local de memórias boas, de memórias e de saudade. Em verdade vos digo tudo se transforma. Hoje terca as 22h, nao percam se puderem.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Reconhecimento inesperado

De vez em quando neste mundo da blogosfera acontecem coisas que nos espantam por vezes negativamente outras (felizmente muito mais frequentemente) pela positiva. O acontecimento que vos reporto hoje cai nesta segunda categoria de coisas extraordinariamente agradáveis e motivantes.



O outro dia ao ver as estatísticas do meu blog (deformação profissional já confessada faço isso com frequência) deparei-me com uma visitas vindas de uma universidade brasileira a partir de um link especifico.

Sendo mais curioso do que o João Ratão fui espreitar. E deparo-me com a recomendação documentada na imagem. Confesso-vos que o teclado ficou babado - positivamente babado. Uma recomendação de um professor de uma universidade brasileira, de uma Escola de Música e Artes Cénicas !  Professor Rodrigo Carvalho muitíssimo obrigado, alunos da Universidade Federal de Goiás estejam à vontade. Certamente poderão ensinar-me muito mais do que eu. Em todo o caso serão sempre bem vindos ...

domingo, 1 de julho de 2012

Melhor peça para violino

Meus amigos, passada que está uma semana temos 6 votantes e 27 votos registados, ou seja cada votante escolheu em média  4,5 obras o que me parece razoável (entre 4 e 5 obras das 25 é uma selecção possível). O que não me parece nada bem é o número de votantes. Confesso que estou um pouco "aborrecido" com a vossa inércia eleitoral :-). Será que o governo deste blog vos desagrada ao ponto de não acreditarem nos resultados? Ou será que o violino vos é indiferente?

Ou ainda será que não conseguem votar em consciência? Não se esqueçam que neste post têm uma descrição das obras e pointers para o You Tube para poderem ouvir e depois votar de forma informada!

Quanto a resultados ainda é cedo para fazer uma lista mas neste momento existe um líder com 3 votos (a Sonata Kreutzer de Beethoven) em segundo nada menos que 6 obras com 2 votos (as Partitas e Sonatas de Bach, as Sonatas de Locatelli, os Caprichos de Paganini, a Sonata de Cesar Franck, a Tzigane de Ravel e as Sonatas de Ysaye) em terceiro com um voto estão mais 11 obras e sem nenhum voto outras sete obras.

A partir de segunda iniciarei o período de campanha eleitoral para as obras mais desfavorecidas :-) :-) :-)

Oportunidades na Amazon