Hoje voltamos à nossa lista de 100 obras completando a primeira parte de uma das entradas que dedicamos a Liszt. Falaremos hoje do seu primeiro concerto para Piano e Orquestra.
Antes disso deixem só referir que este compositor é um daqueles cujo papel na história da música é muitas vezes ignorado ou diminuído quando na realidade Liszt foi um homem absolutamente brilhante sendo a sua influência na segunda metade do século XIX absolutamente fundamental.
Este concerto começou a ser concebido em 1830 (os primeiros temas são desta data) tendo decorrido portanto mais de 25 anos até à sua estreia em Weimar a 17 de Fevereiro de 1855 sendo a orquestra dirigida por Berlioz e o solista o próprio Liszt. Imaginem o privilégio daqueles que estiveram nessa sala.
O concerto tem uma preocupação de unidade própria de Liszt sendo constituído por 4 andamentos que são interpretados sem interrupção entre eles (apesar disso não ser explicitamente referido por Liszt entre o primeiro e o segundo andamento essa é claramente a intenção compositor) . O concerto é relativamente curto (um pouco menos de 20 minutos) mas não deixa por isso de transmitir uma dimensão artística notável não só pelo virtuosismo pianistico necessário para a sua execução mas sobretudo pela forma do concerto que ao incluir um ultimo andamento que resume o material anteriormente exposto transmite precisamente aquele sentimento de unidade e integralidade que aprecio especialmente.
O facto do concerto conter 4 andamentos aproxima a sua forma mais de uma sinfonia do que do tradicional concerto o que não nos deve surpreender no inventor do poema sinfónico. Na verdade quase que podemos dizer que este concerto conta uma história, com um inicio e um fim.
O primeiro andamento (Allegro Maestoso) inclui um tema que é recorrente ao longo do concerto. neste primeiro perto do minuto 2 podem ouvir uma das passagens que prefiro, um dialogo sublime entre o piano e um clarinete "infelizmente" cortado pelo reaparecimento do tema agora num modo quase furioso como se quisesse terminar este momento de poesia. O segundo andamento (Quasi adagio) - minuto 6" na interpretação que escolhemos - começa com os violoncelos e os contrabaixos em surdina a exporem o tema que é de seguida retomado pelo piano numa forma suave que aos poucos vai crescendo. O terceiro andamento (Allegretto vivace - Allegro animato) é introduzido por um triângulo. O que hoje pode parecer perfeitamente normal foi na altura severamente criticado ao ponto do nosso amigo, o critico Hanslick o ter apelidado "O Concerto do Triângulo". O quarto andamento (Allegro marziale animato)
como o tempo indica tem quase um carácter de marcha militar. Dizemos quase porque se é verdade que existe aquele ritmo forte que marca uma marcha este andamento não deixa também de como dizia Liszt efectuar o resumo dos restantes andamentos trazendo-os a uma conclusão.
Para a poesia de Liszt pensamos que é adequado escolhermos o "poeta" dos interpretes, Arturo Benedetti Michelangeli com a NHK dirigida por Alexander Rumpf numa gravação ao vivo de 1965.
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