Fez hoje 100 anos que esta obra polémica e verdadeiramente revolucionária se estreou em Paris. Temos previsto um post sobre este acontecimento que vamos celebrar com uma lista, que mais poderia ser ! Serão as 10 estreias menos reveladoras da história. Quer por terem sido extraordinariamente bem sucedidas e as respectivas obras estarem hoje esquecidas na poeira das pautas, quer pela polémica que geraram quer por terem sido assobiadas ou criticadas e serem hoje consideradas como fazendo parte do reportório clássico obrigatório.
Por agora podem ler o meu post sobre esta obra, aqui.
Claro que se tiverem sugestões para esta lista são bem vindas as sugestões!
A única música que precisa de embalagem é a música de plástico.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Henri Dutilleux (1916-2013) In Memoriam
Faleceu ontem um dos maiores vultos da composição francesa do século XX e XXI, Henri Dutilleux. Embora a sua obra seja relativamente reduzida em termos de quantidade a qualidade da mesma não deixa grandes dúvidas sobre a importância que teve, tem e terá certamente na história da música destes dois séculos.
Muitas vezes comparado por sucessão (a Ravel e Debussy por exemplo) ou colocado numa espécie de intermezzo entre Messiaen e Boulez na verdade se existe alguma característica que se possa atribuir totalmente a Dutilleux é ter sido totalmente único na aproximação à composição não hesitando a fugir a convenções mesmo as que estavam na moda.
Talvez por isso a sua música é das poucas que é interpretada regularmente fora de qualquer necessidade programática de modernismo ou de variedade, escolhida apenas pelo seu valor intrínseco. Opinião polémica certamente a que acabo de proferir.
Henri Dutilleux apreciava particularmente a poesia e a literatura e a sua obra tem muitas vezes ligação profunda a essas artes. É reflexo desse gosto a selecção que escolhemos para ilustrar musicalmente este post. Temps Horloge interpretado por Renée Flemming e a Saito Kinen Orchestra dirigida por Seiji Ozawa. Esta interpretação é especialmente relevante pois quando compunha para voz Dutilleux, um perfeccionista absoluto tinha na ideia uma interprete especifica que neste caso era precisamente Renée Flemming.
Pensamos que é também especialmente relevante a escolha pelos dois últimos poemas utilizados na obra. De Robert Desnos temos adequadamente "O Ultimo Poema"
e de Charles Baudelaire "Enivrez-vous".
Muitas vezes comparado por sucessão (a Ravel e Debussy por exemplo) ou colocado numa espécie de intermezzo entre Messiaen e Boulez na verdade se existe alguma característica que se possa atribuir totalmente a Dutilleux é ter sido totalmente único na aproximação à composição não hesitando a fugir a convenções mesmo as que estavam na moda.
Talvez por isso a sua música é das poucas que é interpretada regularmente fora de qualquer necessidade programática de modernismo ou de variedade, escolhida apenas pelo seu valor intrínseco. Opinião polémica certamente a que acabo de proferir.
Henri Dutilleux apreciava particularmente a poesia e a literatura e a sua obra tem muitas vezes ligação profunda a essas artes. É reflexo desse gosto a selecção que escolhemos para ilustrar musicalmente este post. Temps Horloge interpretado por Renée Flemming e a Saito Kinen Orchestra dirigida por Seiji Ozawa. Esta interpretação é especialmente relevante pois quando compunha para voz Dutilleux, um perfeccionista absoluto tinha na ideia uma interprete especifica que neste caso era precisamente Renée Flemming.
Pensamos que é também especialmente relevante a escolha pelos dois últimos poemas utilizados na obra. De Robert Desnos temos adequadamente "O Ultimo Poema"
J'ai rêvé tellement fort de toi,
J'ai tellement marché, tellement parlé,
Tellement aimé ton ombre,
Qu'il ne me reste plus rien de toi,
Il me reste d'être l'ombre parmi les ombres
D'être cent fois plus ombre que l'ombre
D'être l'ombre qui viendra et reviendra
dans ta vie ensoleillée.
e de Charles Baudelaire "Enivrez-vous".
[...]
"Il est l'heure de s'enivrer!
Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps,
enivrez-vous;
enivrez-vous sans cesse!
De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Os 200 anos de Wagner
Faz hoje 200 anos que Wagner nasceu em Leipzig. Especialmente conhecido pelas suas óperas não sendo um compositor que aprecie particularmente não deixa por isso de ser um dos principais compositores do fim do século XIX , aliás um dos mais notáveis compositores de todos os tempos valha a verdade.
É autor de um dos extractos mais facilmente reconhecível e mais vezes interpretado na música clássica, a celebre cavalgada das valquírias da segunda ópera do ciclo Der Ring des Nibelungen (nesta gravação uma interpretação da Filarmónica de Viena dirigida por Furtwangler).
Apesar do aspecto sempre cheio de grandiloquência da sua música Wagner também compôs algumas obras mais intimistas entre as quais gostava de citar Siegfried Idyll que Wagner teria pretendido que não fosse publicado - dedicada à sua mulher e interpretada em jeito de serenata de presente pelo nascimento do seu filho e que por isso, hoje que festejamos um aniversário nos parece uma forma adequada de terminar este post.
É autor de um dos extractos mais facilmente reconhecível e mais vezes interpretado na música clássica, a celebre cavalgada das valquírias da segunda ópera do ciclo Der Ring des Nibelungen (nesta gravação uma interpretação da Filarmónica de Viena dirigida por Furtwangler).
Apesar do aspecto sempre cheio de grandiloquência da sua música Wagner também compôs algumas obras mais intimistas entre as quais gostava de citar Siegfried Idyll que Wagner teria pretendido que não fosse publicado - dedicada à sua mulher e interpretada em jeito de serenata de presente pelo nascimento do seu filho e que por isso, hoje que festejamos um aniversário nos parece uma forma adequada de terminar este post.
domingo, 12 de maio de 2013
Demasiado cedo, Demasiado Rápido
Hoje antes de um artigo sobre música propriamente dita deixo-vos um post sobre jovens talentos. Uma opinião da Pianista Mitsuko Uchida sobre a forma como os pais e a própria industria ao levarem jovens demasiado cedo e de forma demasiado rápida à fama podem prejudicar o seu desenvolvimento artístico.
Diz ela que como em outras coisas na vida, mais devagar é melhor. Subscrevo em parte, embora dependa também muito (e sobretudo) da estrutura e maturidade do jovem. Porque também com 12 anos a idade não se mede pelo bilhete de identidade ...
Serve aliás como exemplo a própria Mitsuko ela também jovem prodígio e que sobreviveu a esse cenário de potencial catástrofe. Creio que a razão está no que ela explica sobre a forma como via o seu sucesso ...
Artigo do Independent para ler neste link.
Diz ela que como em outras coisas na vida, mais devagar é melhor. Subscrevo em parte, embora dependa também muito (e sobretudo) da estrutura e maturidade do jovem. Porque também com 12 anos a idade não se mede pelo bilhete de identidade ...
Serve aliás como exemplo a própria Mitsuko ela também jovem prodígio e que sobreviveu a esse cenário de potencial catástrofe. Creio que a razão está no que ela explica sobre a forma como via o seu sucesso ...
Artigo do Independent para ler neste link.
sábado, 11 de maio de 2013
A semana passada foi semana de Diapason
Não tive ocasião de vos falar da Diapason nesta semana, as minhas desculpas. Destaco obviamente o tema de capa um excelente artigo sobre os 100 anos da Sagração da Primavera, aquele escândalo que mudou tanta coisa na música e também um artigo muito interessante sobre o Barco Fantasma de Wagner, claro a outra celebração deste ano ou melhor deste mês de Maio. Aliás estes dois dias 22 de Maio, centenário do nascimento de Wagner e 29 de Maio centenário da Sagração da Primavera serão festejados condignamente aqui neste blog.
De resto nesta Diapason um outro artigo engraçado sobre os 100 anos do Theatre des Champs Elysées totalmente baseado em fotografias com algumas muito interessantes, por exemplo uma retratando uma ovação em pé de um recital de Clara Haskil e Arthur Grumiaux.
Por fim o disco dificilmente poderia ser melhor. Como sempre uma excelente selecção com Rostropovich nos concertos de Violoncelo de Saint Saens e Schumann e nas variações Rococo de Tchaikovsky e Britten que aparece neste CD tanto enquanto maestro dirigindo o Concerto para Violoncelo de Schumann mas também enquanto pianista numa obra também de Schumann Fünf Stücke in Volkston (ou seja "cinco peças ao estilo popular") (Op. 102).
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Faz hoje um ano ...
Faz hoje apenas um ano que faleceu Bernardo Sassetti e ao mesmo tempo parece tão longe e tão perto.
domingo, 5 de maio de 2013
Chabrier, Poulenc, Charles Ives e Britten
Fui ouvir no Sábado a Orquestra Sinfónica da Escola Superior de Música de Lisboa com um programa que incluía obras dos compositores que menciono no titulo deste post. Hoje à noite às 22h no São Luís este programa será repetido integrado no Festival da ESML.
Não conhecia a obra de Emmanuel Chabrier (1841-1894) que ouvimos mas confesso que gostei da Suite Pastorale (1888) estreada pela primeira vez em Angers a 4 Novembro de 1888 com a Orquestra dirigida pelo próprio compositor.
Seguiu-se o concerto para Piano e Orquestra de Francis Poulenc (1899-1963). Este concerto para piano composto em 1949 não é muito frequentemente interpretado o que é uma pena considerando as belissimas melodias que contém e uma densidade emocional muito interessante com um segundo andamento que está certamente entre os mais belos adágios dos concertos para piano.
Na segunda parte uma obra de Charles Ives , The Unanswered Question (1906) foi mais uma surpresa interessante.
Por fim podemos ouvir a Sinfonia da Requiem uma obra de Britten de 1940 uma obra que nos deixa absolutamente surpreendidos e emocionalmente esgotados tal a profundidade e energia libertada pela obra.
Não conhecia a obra de Emmanuel Chabrier (1841-1894) que ouvimos mas confesso que gostei da Suite Pastorale (1888) estreada pela primeira vez em Angers a 4 Novembro de 1888 com a Orquestra dirigida pelo próprio compositor.
Seguiu-se o concerto para Piano e Orquestra de Francis Poulenc (1899-1963). Este concerto para piano composto em 1949 não é muito frequentemente interpretado o que é uma pena considerando as belissimas melodias que contém e uma densidade emocional muito interessante com um segundo andamento que está certamente entre os mais belos adágios dos concertos para piano.
Na segunda parte uma obra de Charles Ives , The Unanswered Question (1906) foi mais uma surpresa interessante.
Por fim podemos ouvir a Sinfonia da Requiem uma obra de Britten de 1940 uma obra que nos deixa absolutamente surpreendidos e emocionalmente esgotados tal a profundidade e energia libertada pela obra.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Schumann - Concerto para Violoncelo em Lá Menor
Este concerto de Schumann é uma obra que data do fim da vida de Schumann aliás foi das ultimas obras que compôs numa relativa sanidade mental. A obra (Op. 129) data de 1850 tendo sido composto num curto espaço de algumas semanas que coincidiram com as primeiras que passou em Dusseldorf depois de ter aceite o cargo de director musical da municipalidade. Schumann estava então feliz e ansioso por exercer as variadíssimas funções que o cargo exigia.
Infelizmente essa alegria foi curta porque em breve o seu estado mental se deteriorou o que ajudado por um antagonismo que criou com os músicos da Orquestra (a sua irritabilidade e falta de competências enquanto maestro terão sido as principais causas) acabaria por o levar à loucura completa e ao internamento no asilo em Enderich não sem antes se ter tentado suicidar nas águas do Reno - a 27 de Fevereiro de 1853.
Schumann nunca chegou a ouvir o seu concerto para violoncelo que apenas foi estreado a 9 de Junho de 1860 em Leipzig na ocasião de um concerto que festejava o seu nascimento.
Não obstante esta estreia póstuma o concerto é uma das peças de referência do reportório violoncelista existindo mesmo alguns violoncelistas celebres como Rostropovich que o preferem a qualquer outro concerto.
O concerto tem em conta as características próprias do instrumento dado que embora Schumann nunca tenha tocado violoncelo depois da lesão que o impediu de continuar a tocar piano chegou a "brincar" um pouco com este instrumento. Além disto esta é uma obra que transcende em muito o concerto "romântico" dado que mais do que uma exibição de capacidades técnicas a obra tem uma preocupação artística e de unidade típica em Schumann. É revelador disso o facto dos três andamentos deverem ser interpretados sem interrupção (diz-se que numa tentativa de evitar os aplausos entre andamentos que nessa época eram a prática comum e que Schumann detestava por achar que destruíam o carácter de unicidade da obra.
O primeiro andamento (Nicht su Schnell) é um andamento em forma de Sonata com a habitual exposição- desenvolvimento e recapitulação de dois temas embora todo o progresso entre estas várias fases seja tão natural e integrado que nos parece um fluxo quase continuo. Um andamento com duas belíssimas melodias perfeitamente integradas.
O segundo andamento (Langsam) tem como principal característica distintiva e bastante incomum um dueto entre o solista e o primeiro violoncelo.
Por fim o terceiro andamento (Sehr Lebhaft) contrastando com os dois primeiros é bastante vivo e alegre tendo perto do fim uma cadenza acompanhada, algo que na altura era totalmente inédito. Hoje em dia alguns solistas substituem esta por uma cadência por eles escolhida e tipicamente não acompanhada pela orquestra. Conhecendo o carácter da obra e do compositor não creio que esta escolha lhe agradasse particularmente.
Respeitando o desejo de unidade propomos apenas os vários andamentos no fim deste post tendo procurado interpretações que incluíssem a obra completa. Posso dizer-vos que temos a sorte de ter três interpretações de violoncelistas de referência.
A primeira que vos propomos é de Rostropovich com a London Symphony Orchestra dirigida por Benjamin Britten no festival de Aldeburgh em 1961 (uma gravação ao vivo).
A segunda que vos proponho é de Jacqueline du Pré com a Chicago Symphony Orchestra dirigida por Daniel Barenboim numa gravação de 1969.
Por fim um mas certamente não por ultimo Pablo Casals numa gravação ao vivo do Festival de Prades de 1953 com a Orquestra do Festival dirigida por Eugéne Ormandy (podem ouvir Casals "cantar" partes deste concerto num estilo próximo de Glenn Gould desse ponto de vista).
Infelizmente essa alegria foi curta porque em breve o seu estado mental se deteriorou o que ajudado por um antagonismo que criou com os músicos da Orquestra (a sua irritabilidade e falta de competências enquanto maestro terão sido as principais causas) acabaria por o levar à loucura completa e ao internamento no asilo em Enderich não sem antes se ter tentado suicidar nas águas do Reno - a 27 de Fevereiro de 1853.
Schumann nunca chegou a ouvir o seu concerto para violoncelo que apenas foi estreado a 9 de Junho de 1860 em Leipzig na ocasião de um concerto que festejava o seu nascimento.
Não obstante esta estreia póstuma o concerto é uma das peças de referência do reportório violoncelista existindo mesmo alguns violoncelistas celebres como Rostropovich que o preferem a qualquer outro concerto.
O concerto tem em conta as características próprias do instrumento dado que embora Schumann nunca tenha tocado violoncelo depois da lesão que o impediu de continuar a tocar piano chegou a "brincar" um pouco com este instrumento. Além disto esta é uma obra que transcende em muito o concerto "romântico" dado que mais do que uma exibição de capacidades técnicas a obra tem uma preocupação artística e de unidade típica em Schumann. É revelador disso o facto dos três andamentos deverem ser interpretados sem interrupção (diz-se que numa tentativa de evitar os aplausos entre andamentos que nessa época eram a prática comum e que Schumann detestava por achar que destruíam o carácter de unicidade da obra.
O primeiro andamento (Nicht su Schnell) é um andamento em forma de Sonata com a habitual exposição- desenvolvimento e recapitulação de dois temas embora todo o progresso entre estas várias fases seja tão natural e integrado que nos parece um fluxo quase continuo. Um andamento com duas belíssimas melodias perfeitamente integradas.
O segundo andamento (Langsam) tem como principal característica distintiva e bastante incomum um dueto entre o solista e o primeiro violoncelo.
Por fim o terceiro andamento (Sehr Lebhaft) contrastando com os dois primeiros é bastante vivo e alegre tendo perto do fim uma cadenza acompanhada, algo que na altura era totalmente inédito. Hoje em dia alguns solistas substituem esta por uma cadência por eles escolhida e tipicamente não acompanhada pela orquestra. Conhecendo o carácter da obra e do compositor não creio que esta escolha lhe agradasse particularmente.
Respeitando o desejo de unidade propomos apenas os vários andamentos no fim deste post tendo procurado interpretações que incluíssem a obra completa. Posso dizer-vos que temos a sorte de ter três interpretações de violoncelistas de referência.
A primeira que vos propomos é de Rostropovich com a London Symphony Orchestra dirigida por Benjamin Britten no festival de Aldeburgh em 1961 (uma gravação ao vivo).
A segunda que vos proponho é de Jacqueline du Pré com a Chicago Symphony Orchestra dirigida por Daniel Barenboim numa gravação de 1969.
Por fim um mas certamente não por ultimo Pablo Casals numa gravação ao vivo do Festival de Prades de 1953 com a Orquestra do Festival dirigida por Eugéne Ormandy (podem ouvir Casals "cantar" partes deste concerto num estilo próximo de Glenn Gould desse ponto de vista).
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