Este concerto de Schumann é uma obra que data do fim da vida de Schumann aliás foi das ultimas obras que compôs numa relativa sanidade mental. A obra (Op. 129) data de 1850 tendo sido composto num curto espaço de algumas semanas que coincidiram com as primeiras que passou em Dusseldorf depois de ter aceite o cargo de director musical da municipalidade. Schumann estava então feliz e ansioso por exercer as variadíssimas funções que o cargo exigia.
Infelizmente essa alegria foi curta porque em breve o seu estado mental se deteriorou o que ajudado por um antagonismo que criou com os músicos da Orquestra (a sua irritabilidade e falta de competências enquanto maestro terão sido as principais causas) acabaria por o levar à loucura completa e ao internamento no asilo em Enderich não sem antes se ter tentado suicidar nas águas do Reno - a 27 de Fevereiro de 1853.
Schumann nunca chegou a ouvir o seu concerto para violoncelo que apenas foi estreado a 9 de Junho de 1860 em Leipzig na ocasião de um concerto que festejava o seu nascimento.
Não obstante esta estreia póstuma o concerto é uma das peças de referência do reportório violoncelista existindo mesmo alguns violoncelistas celebres como Rostropovich que o preferem a qualquer outro concerto.
O concerto tem em conta as características próprias do instrumento dado que embora Schumann nunca tenha tocado violoncelo depois da lesão que o impediu de continuar a tocar piano chegou a "brincar" um pouco com este instrumento. Além disto esta é uma obra que transcende em muito o concerto "romântico" dado que mais do que uma exibição de capacidades técnicas a obra tem uma preocupação artística e de unidade típica em Schumann. É revelador disso o facto dos três andamentos deverem ser interpretados sem interrupção (diz-se que numa tentativa de evitar os aplausos entre andamentos que nessa época eram a prática comum e que Schumann detestava por achar que destruíam o carácter de unicidade da obra.
O primeiro andamento (Nicht su Schnell) é um andamento em forma de Sonata com a habitual exposição- desenvolvimento e recapitulação de dois temas embora todo o progresso entre estas várias fases seja tão natural e integrado que nos parece um fluxo quase continuo. Um andamento com duas belíssimas melodias perfeitamente integradas.
O segundo andamento (Langsam) tem como principal característica distintiva e bastante incomum um dueto entre o solista e o primeiro violoncelo.
Por fim o terceiro andamento (Sehr Lebhaft) contrastando com os dois primeiros é bastante vivo e alegre tendo perto do fim uma cadenza acompanhada, algo que na altura era totalmente inédito. Hoje em dia alguns solistas substituem esta por uma cadência por eles escolhida e tipicamente não acompanhada pela orquestra. Conhecendo o carácter da obra e do compositor não creio que esta escolha lhe agradasse particularmente.
Respeitando o desejo de unidade propomos apenas os vários andamentos no fim deste post tendo procurado interpretações que incluíssem a obra completa. Posso dizer-vos que temos a sorte de ter três interpretações de violoncelistas de referência.
A primeira que vos propomos é de Rostropovich com a London Symphony Orchestra dirigida por Benjamin Britten no festival de Aldeburgh em 1961 (uma gravação ao vivo).
A segunda que vos proponho é de Jacqueline du Pré com a Chicago Symphony Orchestra dirigida por Daniel Barenboim numa gravação de 1969.
Por fim um mas certamente não por ultimo Pablo Casals numa gravação ao vivo do Festival de Prades de 1953 com a Orquestra do Festival dirigida por Eugéne Ormandy (podem ouvir Casals "cantar" partes deste concerto num estilo próximo de Glenn Gould desse ponto de vista).
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