Fará no próximo dia 28 de Julho, Domingo, dois anos que faleceste. Esta semana voltei a ver o filme Contacto inspirado no livro do mesmo nome de Carl Sagan. Quem conhece o filme perceberá o que vou dizer a seguir. Quem não conhece ... o que estão à espera? (dobrado em brasileiro mas ... ). Não tenho antena, não tenho rádio amador, não sei onde estarás no imenso universo, mas no pensamento este post vai direitinho para Vega e espero que te encontre bem. E claro que só poderia ser ao som da música, das músicas que a nossa vida em comum a começar pelo nosso namoro e amizade se fez ao som da música popular brasileira, portuguesa, francesa e inglesa ...
Recordei que me mostraste Caetano (esta canção e este disco ficou riscado de tanto o ouvirmos) e eu fiz-te amar Elis. Que me fizeste ouvir Milton, nós caçadores de nós e juntos ouvimos Brel vezes sem conta - não tinhamos apenas o amor mas o mundo esse esteve mesmo nas nossas mãos juntas. Que a caminho de Sesimbra a cassete (sim o CD estava apenas a começar) de Gilberto Gil já mal funcionava de tanto rodar com umas passagens por Toto Cutugno pelo meio (oops - estava na moda e acreditem ou não continuo a gostar - é vero ).
Lembro-me de passearmos à noite pela praia e tentar imitar só para ti Edith Piaf e fazer-te rir provavelmente com a desafinação que deveria ser suficiente para abrir de novo o mar, tanto mar. Salvou-me Prevert e os seus Sables Mouvants.
Recordo-me que pouco conhecias de Genesis (foram 22 minutos épicos com o Supper´s Ready) e de Pink Floyd; sim - I wish you where here. Recordo-me que ambos éramos fanáticos de Beatles e que concordávamos até na música preferida - The Long and winding Road - um gosto que felizmente passamos ao nosso filho Miguel.
Recordo-me do primeiro concerto que vimos juntos ainda não como namorados - no Coliseu dos Recreios. Trovante, um dos melhores espectáculos ao vivo que ouvi - sim podem dar-me um desconto pode ter sido pela inebriante companhia.
Dos muitos concertos que vimos juntos lembro-me do primeiro abraço quando num concerto do Djavan não namorando já sabíamos no intimo que éramos feitos um para o outro. Lembro-me também na Aula Magna mão na mão a ouvir Nara Leão já totalmente apaixonados - com muito açúcar e afecto. Lembro-me de tantos e tantos concertos de Caetano (sempre Caetano), uns bons outros ainda melhores. E claro aturar juntos a má disposição e voz celestial do grande João Gilberto.
Lembro-me de acordar aos Sábados de manhã depois de teres passado a noite lá em casa, ainda apenas namorados (shiu - é segredo, manas não digam nada) com a Cigarra Simone (e às vezes Lionel Richie - credo).
Anos mais tarde, bastantes anos mais tarde lembro-me dos claustros dos Jerónimos e o privilégio de ouvir contigo Tom Jobim que adoravas. E claro de ler contigo Vinicius e de brincar com a Luz dos teus olhos. E também me lembro de me ofereceres um poema de Carlos Drummond de Andrade dactilografado (sim ainda numa máquina de escrever) - só porque sabias que gostava - e que ficou na minha secretária os cinco anos em que namoramos, as sem-razões do amor :-).
Não se preocupem caros leitores deste blog que também houve música clássica pelo meio (muita mesmo). Nas festas da música no CCB com o nosso filho Miguel, nos concerto na Gulbenkian - lembro-me em particular do privilégio de ter ouvido contigo a Maria João Pires numa das primeiras filas (nuns bilhetes que conseguiste arranjar já não me lembro como) ou uma das primeiras vezes que ouvi o concerto para violino de Tchaikovsky ao vivo e mais tarde no Coliseu a ópera de que tanto gostavas.
Amanhã às 19h como sempre na Igreja de Entre Campo em que tantas vezes nos reencontramos voltaremos a fazê-lo nem que seja por uns espirituais segundos. Amigos e conhecidos, desconhecidos ou não como sempre bem vindos.
Gostaria muito de estar presente mas não consigo, trabalho até às oito.
ResponderEliminarUm abraço, quanto mais tempo passa, mais perto ficam, como na vida. É assim que sinto com as pessoas que deixei de ver
Dulce