quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Música Exacta versus Música Clássica

Tinha ficado prometida esta explicação. Na verdade segundo Bernstein se procurássemos o que distingue o tipo de música de que falámos neste blog de outros tipos de música não é a qualidade (música "boa"), o ser apenas para pessoas cultas (música Erudita), o ser "séria", ou mesmo por oposição à música "ligeira" - também poderíamos tentar o adjectivo "pesada" que não seria muito gratificante :-).

Bernstein refere que na verdade nenhum destes serve e o único que reflecte a natureza intrínseca do tipo de música de que falámos é precisamente o termo "Música Exacta". Porquê ? Porque neste tipo de música o compositor explica na pauta da forma o mais rigorosa possível tudo sobre a peça naipe a naipe, instrumento a instrumento em alguns casos.

Desta forma quando uma orquestra toca uma peça de música clássica toca-a sempre da mesma forma. Bem, mais ou menos da mesma forma, porque por muito que os compositores tentem ser exaustivos há sempre "detalhes" que são deixados à interpretação do maestro. Aliás este tema é polémico e só por si merece uma série de posts que ficam prometidos para daqui a uns dias.

Estejamos mais ou menos de acordo com a liberdade de interpretação, nunca deixa de ser verdade que é a exactidão que caracteriza a música clássica que nos deveria fazer falar de música precisa em vez de música clássica :-). Nós por agora vamos manter-nos teimosamente fieis ao "Clássica".

Lembram-se do que combinamos? Combinamos que quando falássemos do tipo de música diríamos "música clássica" e que quando falássemos do período diríamos "período clássico" o que por vezes dá lugar à bonita expressão: O período clássico da música clássica é ... clássico (bom agora estávamos mesmo a brincar) ...

Para clarificar distinguem-se na música clássica os seguintes períodos (com exemplos):

- Período Medieval (500-1400) : Canto Gregoriano
- Período Renascentista (1400-1600): Josquin des Prés
- Período Barroco (1600-1750): Concerto de Brandenburgo - Johann Sebastian Bach
- Período Clássico (1750-1850): Eine Klein Nachtmusik - Mozart
- Período Romântico (1800-1900): Concerto para Piano e Orquestra Nº1 - Tchaikovski
- Período Contemporâneo (1900-1975) : Shostakovich : Concerto para Violino e Orquestra

Claro que estas datas não são exactas, existem muitas intersecções e pode-se discutir interminavelmente onde começa uma e onde acaba outra. Eu preferi dar-vos datas o mais "redondas" possíveis para que vos possam servir de referência. Á frente de cada período coloquei um link para um video no You Tube, exemplo esse que o mais representativo possível da época e também especialmente bonito e fácil.

O meu objectivo é também conseguir seduzir alguns novos ouvintes, e para os que já conhecem sabe sempre bem ouvir mais uma vez.

4 comentários:

  1. Então e as obras abertas? Onde se incluem?
    A interpretação é de facto um tema sem fim.

    O séc. XX é outro imbróglio. Talvez seja mais correcto dividi-lo em duas partes: os primeiros 50 anos - período moderno, e a segunda metade período contemporâneo. Mesmo assim não sei... não posso é concordar com Schostakovich como exemplo de música contemporânea. Boulez, Risset, Nunes, Sciarrino ou mesmo Stockhausen seriam mais elucidativos do que se faz ultimamente. Não concorda?

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  2. Em relação à primeira parte do seu comentário tenho de admitir que não tenho conhecimento suficiente para o discutir de forma relevante. Se nos pudesse dar a sua visão sobre o assunto acho que seria optimo.

    Em relação ao século XX concordo consigo. Eu procurei simplificar e possivelmente simplifiquei demais. É um bocado como na minha "conversa" sobre música clássica. A minha intenção é revelar a diferença que faz mas tarde. Primeiro a sedução - depois a dificuldade :-). Concordo que Boulez ou Stockausen seriam muito mais representativos mas também muito mais "dificeis" ... a seu tempo lá iremos. Como diz o povo, não se apanham moscas com vinagre passe a dupla metáfora pouco abonatória para a música, músicos e ouvintes.

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  3. Questões demasiado difíceis para serem resumidas em pequenos comentários. Mesmo assim vou tentar.
    A obra aberta ou inacabada (género desenvolvido principalmente por Boulez, Stockhausen, Berio) transfere para o interprete a difícil função de continuar o trabalho do compositor. Cada interpretação é verdadeiramente única, irrepetível. Contudo a liberdade interpretativa não é total, se não estaríamos a falar de outra corrente mais radical ainda, o Indeterminismo. Posso citar como exemplo Klavierstücke XI de Stockhausen. Muito resumidamente, esta peça é constituída por 19 pequenos excertos de música cuja ordem está ao cargo do pianista no momento da interpretação. O interprete depara-se com um conjunto infindável de relações o que o leva a construir a própria forma.O compositor arranja artifícios que obrigam o músico a uma constante re-invenção interpretativa. O tipo de notação pode ser um desses processos. Propositadamente ambígua, para dar azo a uma maior liberdade.

    Repetida duas vezes esta obra nunca será igual. O objectivo primordial será até torna-la irreconhecível. A obra musical vai-se multiplicando por cada interpretação possível.
    Existem muitos outros exemplos no séc. XX, como a famosa 3ª sonata para piano de Boulez.

    Em relação a este tipo de música talvez tenha razão, é de difícil audição para a maioria dos portugueses (até para os músicos que se recusam a toca-la infelizmente). Era assim também no tempo de Bethoven e continuará a ser sempre.

    Para mim é a parte da história da música que mais me interessa - todo o séc. XX.

    Voltando à obra aberta, permita-me que recomende um livro - Umberto Eco, Obra Aberta - e claro está a audição de duas interpretações de Klavierstücke XI - por Herbert Hencke e por Aloys Kontarsky

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  4. Artimanha,

    Muito obrigado por enriquecer de forma tão significativa o meu blog. Se em relação à música de Stockhausen (e porque não sou hipócrita) tenho de confessar a minha dificuldade em gostar "mesmo" já em relação a Umberto Eco vou seguir a sua recomendação de imediato. Note que não ponho em questão o génio dos compositores que cita, simplesmente tenho de admitir honestamente que não consigo sentir nada ao ouvir essas peças. Será provavelmente um problema de falta de cultura - e para isso não há desculpa, há é que estudar para a conseguir - mas uma das razões que me levou a escrever este blog foi também precisamente levar a mais pessoas a capacidade de entenderem o tipo de música de que gostamos. A minha esperança é que algures nesse caminho consiga entender e logo gostar de Stockhausen ou Boulez ... Posts como o seu são sem dúvida um passo importante nesse caminho. E tem razão, quase todos os grandes compositores, pelo menos os que procuraram alguma forma de ruptura foram incompreendidos na sua época ...

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