Esta sinfonia termina a série de posts sobre as sinfonias de Tchaikovsky. Podem ler o artigo sobre a quinta sinfonia aqui.
Esta sinfonia foi composta entre Fevereiro e Agosto de 1893 tendo sido a ultima obra publicada do compositor (as restantes são obras publicadas após a sua morte). A Sexta Sinfonia foi também a ultima obra que o compositor dirigiu, precisamente a estreia da mesma em São Petersburgo no dia 28 de Outubro de 1893, uns escassos dias antes da sua morte. A sinfonia é dedicada ao seu sobrinho Vladimir Davydov.
As circunstâncias que a envolvem, a própria característica da composição - sombria quase sempre com explosões de fúria e de grande lirismo só poderiam levar a imaginação humana a atribuir-lhe um significado quase autobiográfico.
Os poucos factos que se conhecem e que nos podem ajudar na procura de uma verdade mais factual ainda que porventura menos romântica são relativamente escassos. Sabe-se que o próprio compositor a nomeou de "Pathétique" (apesar de ter sido aparentemente sobre proposta do irmão Modest). A palavra portuguesa "Patética" no seu uso actual não traduz a intenção do compositor que nos queria dar com esta indicação a noção de que esta era uma obra para ser ouvida "com o coração", uma obra que pretendia desencadear emoções fortes.
A segunda pista que temos quanto ao "programa" de Tchaikovsky relativo a esta peça pode encontrar-se numa carta que enviou ao seu sobrinho explicando
"Sabes que destruí uma sinfonia que estava a compor este Outono. Durante a minha viagem tive uma ideia para uma outra sinfonia, desta vez com um programa, mas um programa que vai ser um enigma para todos - Deixa-los adivinhar; a sinfonia terá o nome "Sinfonia com Programa" ... O Programa em si mesmo estará cheio de subjectividade e chorei bastantes vezes na minha viagem enquanto a compunha mentalmente.[...]"
Como podem ver por esta carta Tchaikovsky chegou a pensar num outro nome para a sinfonia mas resolveu aceitar a sugestão do irmão dado que este outro nome apenas iria chamar a atenção para o programa subjacente que não pretendia revelar pelo menos não no imediato. Embora em quatro andamentos esta sinfonia tem como elemento distintivo ultimo andamento lento.
O primeiro andamento (Adagio—Allegro non troppo) em Si Menor é uma verdadeira montanha russa de emoções cheia de tensão de passagens sombrias lentas, outras igualmente sombrias mas rápidas que formam um conjunto notável com duas belíssimas melodias sobretudo o segundo tema do desenvolvimento. Podem ouvir aqui a primeira parte do primeiro andamento e aqui a segunda parte.
O segundo andamento (Allegro con grazia) em Ré Maior é uma extraordinária melodia que contrasta com o primeiro andamento e que serve de contraponto à tensão exercida. É um movimento relativamente alegre no tom mas que nunca deixa a sensação do destino que se pode abater a qualquer instante. Acalma mas não o suficiente para nos tranquilizar completamente. Podem ouvir aqui este segundo andamento.
O terceiro andamento (Allegro molto vivace) em Sol Maior é uma espécie de marcha sem no entanto ser verdadeiramente triunfante, tal como o segundo andamento poderia ser uma alegre valsa sem nunca realmente o ser, nem pelo tempo que não é exactamente o de uma valsa nem pelo espírito. Numa interpretação pessoal diria que Tchaikovsky nestes dois movimentos procura transmitir-nos metaforicamente a instabilidade, o frágil equilíbrio em que repousa a nossa felicidade e o todo poderoso e tenebroso destino ao qual sempre nos abandonamos. Podem ouvir aqui este andamento cheio de energia e muito especial. Aliás este andamento acaba de tal forma que muitas vezes as pessoas acreditam que a sinfonia acabou.
O quarto andamento (Finale. Adagio lamentoso) em Si Maior retoma assim novamente o tom lúgubre do primeiro andamento. A vitória do tenebroso destino, quando se pensava a vitória. As partituras para Orquestra são bastante originais dado que a melodia é partilhada pelos primeiros e segundos violinos (efeito aliás reproduzido noutros naipes). Podem ouvir este quarto andamento aqui.
o inicio do quarto andamento lembra-me sempre o inicio da opera eugene onegin. será que estarao relacionados? nem que seja na paixao que o compositor dedicou a essas duas obras que parecem ser as mais autobiograficas da sua carreira?
ResponderEliminar:))))
ResponderEliminarmdsol: bem vinda de novo. Sim a sexta também me deixa sempre um grande sorriso :-)
ResponderEliminarDaniel: É possível que estejam relacionadas. Eu sou apenas um amador e por isso o que vou dizer de seguida tem de ser consumido com algum espírito critico mas eu vejo as coisas da seguinte forma: Eugene Onegin foi escrito em simultâneo praticamente com a quarta Sinfonia. Ela também uma sinfonia que aborda o tema do Destino, exactamente o mesmo tema da Sexta e de certa forma também o tema principal do libreto da ópera. Ou seja mesmo não sendo autobiográfico (e há quanto a isso uma disputa considerável de opiniões) o certo é que existe algo que relaciona muito fortemente estas três obras: O tema - O destino,o fim certo de todas as coisas se quisermos, e por isso é normal que exista algum relacionamento na forma também.
Obrigado pela indicação e parabéns pelo Blog,perfeito.
ResponderEliminarObrigado pelo elogio Ubiratan. Na verdade está longe de merecer o mesmo mas de qualquer forma obrigado pela sua gentileza. Quanto a esta sinfonia vale mesmo a pena ser ouvida vezes sem conta !
Eliminar