terça-feira, 29 de novembro de 2011

A propósito do que alguém disse sobre o Teatro

Alguém, quem vamos manter anónimo, porque anónimo merece ficar (pelo menos no que diz respeito à autoria dessas desgraçadas palavras) disse que o Teatro não é especial, que não pode ficar acima das sacro-santas restrições financeiras que se agitam por aí como se essas fossem a solução aos nossos problemas. Antes fossem, antes fossem.

Na realidade não pode nem quer penso que alguém o deseje. Porém também não se pode tratar a arte e a cultura e do ponto de vista mais geral a intelectualidade como se fosse uma espécie de luxo de que nos poderíamos abster por uns momentos para retomar mais tarde como se a questão económica nos devesse consumir toda a atenção. É que não vai tardar quem apareça por aí a dizer que nos devemos deixar de pensar em ideologias para nos concentrarmos no essencial. No essencial que é? Existe algo mais essencial do que as ideias? Ou achais que hoje o que nos propõem como solução é suficiente?

Vem esta nota a propósito do que li hoje no blog do Alex Ross uma excelente entrevista que este fez ao Esa-Pekka Salonen (a propósito do seu prémio Grawemeyer Award - ironia alguém que achava que a arte era efectivamente especial :-)) em que o grande maestro finlandês nos diz:

"The sad fact is that we are witnessing a fierce anti-intellectual period in Western culture, both here and in Europe. Populist right-wing movements are attacking the arts and enlightened critical thinking everywhere, and the epithet "elitist" is being used as the favorite blunt instrument by those politicians. So far I haven't seen the anti-Wall Street/London City protest movement forming any direct cultural positions, but I cannot see how classical music with its very modest commercial dimensions would be seen as an enemy by anybody who is willing and able to look beyond the uninformed use of the word "elitist.""


Este raciocínio contra a arte e mais geralmente contra as minorias, contra o que nos é exterior ou estranho, contra os "outros" como se pelo menos numa dimensão das nossas vidas não fizéssemos parte dessa minoria não é novo , não é novo mas normalmente funciona em tempos de crise em que é mais fácil colocar o problema de fora e culpar os demais - facilmente explorável por políticos pouco escrupulosos e por uma comunicação social ainda menos critica.

Normalmente tem um triste fim. Gostaria de acreditar que em média os povos da Europa tenham hoje mais informação e mais base cultural do que em 1935 aproximadamente ... Agora sim iremos ver se o investimento em educação valeu a pena. Iremos também perceber se afinal de contas esses estudos que provam a superioridade de alguns sistemas de ensino da Europa Ocidental são realmente substantivos. Por esta razão espero sinceramente que sejam pelo menos em parte verdade, sobretudo no que diz respeito à História, só para ver se conseguimos evitar repetir os mesmos erros ... de novo.

O Teatro, a Música, o Cinema, a Arte  são especiais sim senhor. Não por darem abrigo a um conjunto minoritário de excêntricos mas por nos abrirem janelas para outras formas de pensar e de ver o mundo. E essas acreditem são pelo menos tão necessárias quanto as medidas de recuperação económico-financeiras.

A propósito podem ler a transcrição da resposta ao tal anónimo pelo Bruno Nogueira no País do Burro.   




5 comentários:

  1. Caro Fernando,

    É esta "cultura do burro", como diz, que é preciso combater. Não aquela que enriquece o País. Esse indivíduo que comentou sobre o Teatro... de certeza nunca fez nada de útil na sua insignificante existência. Não sou grande apreciador de teatro, mas como pessoa ligada às artes nunca me passaria pela ideia desejar que este desaparecesse.

    Parece-me que a ideia de aniquilação da cultura só pode germinar na ideia de quem nunca fez nada de útil (como por exemplo os srs. da finança). Creio que qualquer pessoa que ao menos já tenha feito algo culturalmente interessante (ex. artes plásticas, música, teatro, etc) independentemente "erudito" ou não, jamais pode desejar tal fim à cultura que o rodeia.

    Pessoalmente, chocou-me (ao entrar para a universidade) constatar que nas instituições que deveriam promover o conhecimento e que deveriam ser um meio para "usar e abusar" na obtenção de ferramentas para o futuro, se exalta quem nada faz: "quanto maior o insucesso, maior o prestígio". Depois queixam-se que os outros países tenham má impressão a nosso respeito...

    cumprimentos,

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  2. É isso mesmo Luís. É a redução total ao absurdo dos números sem qualquer bom senso. É a desculpa para o exercício de politica ou de sentido critico.

    MFC: Poderá rezar mas não será boa a missa ... :-)

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  3. Gostei de ler. E é bem preciso que alguém diga o que o Fernando disse nesta sua publicação. Assusta, a estreiteza de vistas!

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  4. Ana Paula: Obrigado. Não sei se alguém nos ouvirá mas nunca se sabe. Às vezes as grandes mudanças começam com pequenas alterações certeiras. Não que tenha essa pretensão mas poderá ser que inspiremos alguém que as tenha.

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