sábado, 8 de novembro de 2014

10 Coisas que deveriam mudar nas salas de concerto

Este post é totalmente inspirado na opinião do maestro Baldur Brönnimann e previnem-se desde já os estimados leitores que o mesmo contém opiniões polémicas. Em alguns casos - em particular aqueles que não subscrevo  - introduzi alguns comentários pessoais que estão devidamente identificados como tal (a azul). Aceitam-se obviamente criticas e opiniões polémicas desde que devidamente respeitosas dos restantes leitores (ou seja não serão admitidos comentários inflamatórios ou insultuosos dirigidos a outros leitores). E agora sem mais apresentações aqui ficam as 10 coisas.


  1. O publico deveria poder aplaudir entre andamentos : Diz o maestro que esta é uma expressão natural de contentamento. Muitos não sabem mas este é uma proibição do inicio do século XX. Antes era perfeitamente aceite o aplauso entre andamentos. Aliás na ópera por exemplo continua a ser aceite após uma ária particularmente bem cantada por exemplo. A teoria é que o aplauso rompe a estrutura e o ambiente da obra. Por mim há andamentos a seguir aos quais custa tanto não aplaudir. Subscreve-se a opinião do maestro.
  2. As Orquestras deveriam afinar nos bastidores : O maestro diz que certas obras apenas resultam devidamente após o silêncio e que o impacto da surpresa perde-se pelo conhecimento prévio de alguns acordes da mesma. 
  3. Deveria ser permitida a utilização de telemóveis em modo silencioso : Não para falar diz o maestro claro mas para tweetar , gravar. Diz o maestro que se as pessoas pagam o bilhete têm o direito de falar acerca do concerto e mesmo partilhar com outros a experiência que estamos a viver.  Espero que esta incendeie a audiência deste blog. No que me diz respeito desde que seja em silencio não me incomoda e numa sociedade com o curto tempo de atenção que temos a aceitação dos telemóveis desde que não incomodem os vizinhos parece-me apenas uma má (péssima) ideia. 
  4. Os programas deveriam ser menos previsíveis :  Diz o maestro que os programas não deveriam ser completos para salvaguardar o efeito surpresa. Se a surpresa vem do programa incluir ou não todas as obras a serem interpretadas e não a surpresa intrínseca a cada interpretação individual então estamos mesmo mal. 
  5. Deveria ser permitido levar as bebidas para a sala de concerto : Diz o maestro que isto acontece  nos concertos de pop e o maestro não vê razão para que não aconteça o mesmo nos concertos de música clássica.  E talvez pipocas não? Também são permitidas nos cinemas. Sinceramente até estou de acordo que se deve tornar menos formal o acesso à música clássica porém como em todas as coisas existe um limite. Neste caso o limite é fixado pela medida em que estes elementos exógenos perturbam o acesso à música.
  6. Os músicos deveriam falar com o publico quer no bar quer mesmo nos bastidores : Diz o maestro que os músicos deveriam sentir a obrigação de falar com quem gosta de música pelo menos tanto como eles. Aqui concordo em absoluto. Seria uma forma interessante de precisamente aproximar a música do espectadores sem perturbar o essencial.
  7. As orquestras não deveriam actuar com fraques: É demasiado desactualizado diz o maestro. Cria uma barreira artificial. Sim também concordo. Uma forma de vestir menos formal ajudaria a reduzir a distância.
  8. Os concertos deveriam ser mais fáceis para as famílias: Além de lugares especiais o maestro pensa que devem existir locais onde podem ser deixados bebés além de regras mais permissivas sobre entradas e saídas da sala. Um ponto onde me parece que junto a boas ideias outras parecem-me quase tão absurdas como dificilmente realizáveis.
  9. As salas de concerto deveriam utilizar tecnologia de ponta : Para proporcionar uma experiência diferente incluindo conteúdo extra, ecrãs para melhorar a visibilidade e mesmo amplificação em salas  Nada contra excepto relativamente à amplificação.
  10. Cada programa deveria conter pelo menos uma obra contemporânea : Pensa o maestro que devemos interpretar a música do nosso tempo. Não me parece uma boa ideia. Tudo o que sejam soluções por quotas.

7 comentários:

  1. O meu estômago quer sair-me pelo umbigo. Esta lista podia fazer parte de um dos meus piores pesadelos. Os concertos de música clássica são o único sítio onde ainda se valoriza uma reverência, um respeito pela obra que não se vê em mais lado nenhum. E o afinar dos instrumentos é o disparo de serotonina, é chegar à árvore de Natal e ver os presentes, aquele prazer que antecede algo de muito bom e que por isso condensa toda a perfeição da expectativa, algo que tanto sentia na infância, mas que em adulta só me resta mesmo na música. E a distância é maravilhosa. Haja distância, que assim só há proximidade quando vale a pena, ou se quer mesmo percorrer essa distância. Estamos sempre a levar com uns e outros em cima. Na música há espaço. Nunca deixei de falar com um músico quando quis. Tive sorte, ou muita vontade. Mas que haja espaço, quer entre sons quer entre pessoas, que haja um sítio no mundo com ecrãs de telemóvel sem luz. Além disso: Eu a deixar o meu violoncelo no bengaleiro e os outros a entrarem com telemoveis ligados? Não faz sentido. Pela mesma razão que uma pessoa não pode ir com o seu instrumento para uma sala de concerto, um telemóvel não pode entrar ligado.
    Bonito era haver um convívio no fim dos concertos. Com ou sem músicos, gostava muito de ver isso acontecer. Mas transformar os concertos em classical jam sessions, por favor. Esperem que eu morra. São só mais setenta anos.

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    1. SIm Humming percebo e na maioria dos casos subscrevo. Acho que o afinar é o preludio ... o convívio com os músicos acho que seria uma boa ideia. O traje para mim poderia ser outro desde que fosse um traje e não uma indumentária ad lib. O aplauso entre andamentos é um tema discutível . Era assim no tempo da maioria das obras que hoje ouvimos. A integridade da obra é uma construção do romantismo. Penso que em alguns casos faz sentido em outros não ... Enfim no global eu não partilho a maioria das mudanças mas que haveriam algumas pequenas mudanças saudáveis lá isso ...

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    2. Sim, sim. A minha reacção foi à lista em si e não aos comentários do Fernando Vasconcelos, que tem uma posição mais equilibrada do que a minha e que invejo. Gostei do post.
      Mas a necessidade dos aplausos do público (e eu sei o que isso é, porque já senti vontade de explodir ali em palmas após um andamento perfeito), não deve superar a necessidade de concentração e encadeamento dos músicos. Interessante seria saber o que estes pensam da interrupção dos aplausos, do furor do público, enquanto trabalham com concentração.

      Bom domingo!

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    3. Sim entendi e percebo ... mas note que antes de Mahler essencialmente, os aplausos entre andamentos eram permitidos e pelo menos até ao inicio do romantismo por vezes conduziam à repetição do mesmo. A noção de integridade da obra e a "disrupção" na mesma provocada pelos aplausos ou outras manifestações é que acabaram por trazer o actual protocolo. Como sabe as obras até quase ao final do classicismo não tinham tais "presunções" de identidade ... mas enfim também não tenho a certeza que a mudança tenha sido para pior ... em termo de comparação veja-se por exemplo a ópera onde ainda hoje é possível aplaudir até durante a execução da obra.

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  2. 3,4, 5 e 10 são detestáveis, acho. Bebidas fazem barulho (slurp), entornam, distraem. Telemóveis só se não emitirem nem som nem luzes (écran a negro), ou seja, praticamente inuteis ( teriam de dispor de um modo de gravação automático); E depois, com que argumentos proibir portáteis, ipads e maquinas fotográficas?.

    As outras duas são desonestas e uma patifaria feita ao ouvinte. Eu escolho o que quero ouvir. Quando há uma obra contemporânea na 1ª parte e uma clássica depois do intervalo, é frequente eu só entrar para a segunda parte. Carrapatoso, Nunes, Cage ou Berio estragam-me o concerto. Não se educa ninguém à força a gostar do que não quer. Anda por aí uma moda ainda mais detestável - alternar andamentos. Por exemplo, inserir entre a Water Music de Handel partes, sei lá, de Stockhausen. Devia haver uma lei que proíbisse isso.

    Ao preço a que os bilhetes das boas salas são, quem compraria "às cegas" sem conhecer o programa ? era um fiasco.

    Quanto ao traje, acho bem a situação actual: quem quer, e sobretudo no classicismo, usa fato. Na música religiosa, idem. E fica bem. Mas na música barroca ou em Bernstein, Britten,Philip Glass, outras opções são aceitáveis, mais informais ou coloridas.

    Até agora fui educadinho, acho, Fernando. Mas esse sr. Brönnimann parece-me...bem...é melhor não dizer :D

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    1. Pois acho que subscrevo todos os seus comentários incluindo o epiteto do sr. maestro. Penso que há na verdade que tornar a música clássica mais próxima do público mas isso não se consegue tornando-a igual às demais. Consegue-se removendo algumas barreiras que essas sim são absurdas. Veja-se a "festa da música" por exemplo. Mantêm-se a maioria das regras mas aligeira-se ligeiramente alguns protocolos. Para mim é por aí que se deve ir ...

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    2. Exacto. Admito perfeitamente que se aplauda entre andamentos de um concerto, sonata, sinfonia ou obra lírica, se a execução tiver sido não apenas de alto nível, mas estratosférica. É raro, mas acontece. Aconteveu-me com Mahler, por exemplo, uma enorme frustração de não poder saltar da cadeira em aplauso após o Urlicht.

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