quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Robert Schumann - Ich will meine Seele tauchen - Dichterliebe (Op. 48)

A quinta canção do ciclo chama-se Ich will meine Seele tauchen (quero mergulhar a minha alma). O post para a canção anterior pode ser lido aqui.

Quero mergulhar a minha alma
no cálice do Lírio 
O Lírio irá exalar 
a canção da minha bem amada.

A canção irá tremer
como o beijo da sua boca 
que uma vez me deu
numa hora maravilhosa.



A tradução a partir do inglês é minha. Para ilustrar esta canção continuamos com Fischer-Dieskau, esta canção começa perto do minuto 5:00 (o video inclui as canções 1 a 6 como já mencionamos em posts anteriores).

terça-feira, 22 de setembro de 2009

conferência de Daniel Barenboim em Lisboa

Na impossibilidade de ouvir o concerto de ontem Segunda-Feira e o recital de amanhã Quarta-Feira não podia perder a conferência na Fundação Gulbenkian de apresentação do seu livro "Tudo está ligado - O Poder da música".

Como já vos disse tenho uma admiração profunda por Daniel Barenboim por tudo aquilo que ele representa, pela coragem das suas ideias e por mesmo assim nunca aceitar compromissos na sua arte, a música mesmo quando (e sobretudo - mas já lá iremos) quando ela - a música - desempenha um papel de mediação ou de transcendência.

Esteve igual a si mesmo quando começou por falar do médio-oriente. Com coragem para explicar que na verdade só haviam duas alternativas e que ambas lhe pareciam impossíveis. Com coragem para dizer que um dos problemas do estado hebraico é não reconhecer que pelo menos terá uma quota parte da responsabilidade do problema palestiniano.

Falou depois do papel da música e disse-nos que esta era impossível de definir porque se o fosse então não valeria a pena interpreta-la. "A música não interessa por aquilo que é mas por aquilo que nós achamos que ela é, por aquilo que desperta dentro de nós, pela nossa interpretação dos sons". Não é assim que não tenha conteúdo mas antes que o seu conteúdo é essencialmente abstracto.

Falou-nos de Furtwangler e disse-nos que com ele a ligação tinha outro sentido pela sua capacidade única intuitiva de ligar várias partes de uma obra. Contou-nos como tinha conhecido Pierre Boulez e disse-nos que nunca tinha visto tamanha facilidade e tanto talento. Citou Celibidache dizendo que a mediocridade nem era um grande problema per se. Problema mesmo é ser contagiosa.

Explicou-nos que a música não pode "servir" para nada a não ser mudar-nos por dentro se aceitarmos o facto de que necessitamos de arte (e não apenas de música) para ser feliz. Fez o paralelo com Hitler e com Estaline e disse-nos que a música para poder ser um instrumento de mudança teria de ser de alguma forma introduzida na nossa vida "física".

Sem papas na língua explicou que o problema da democracia nos dias de hoje era o "marketing" que pouco podia resistir a essa máquina poderosa de superficialidade.

Para vos ser sincero ainda estou a "digerir" o que ouvi. Depois de ler o livro garanto-vos uma descrição mais detalhada. Se podia não ter ido a esta conferência? Se a vida não continuaria ? Podia. Continuava. Mas não seria a mesma coisa :-)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

As 10 mais interessantes pesquisas da semana (2009 - #36)

Pesquisas da Semana
  1. auf flugeln des gesanges tradução: Sim temos a tradução desta canção de Mendelssohn neste blog mais precisamente neste post.
  2. compositor barroco lully : Jean Baptiste Lully foi um dos mais representativos compositores do barroco francês. Pode ler aqui uma curta biografia.
  3. grande valsa -brilhante - chopin : Falamos desta valsa aqui numa não menos brilhante interpretação do nosso maestro António Vitorino de Almeida.
  4. karl richter : Falámos deste maestro a 15 de Outubro de 2007 na data do que seria o seu aniversário se não tivesse falecido tão novo com apenas 54 anos em 1981.  Grande especialista de Bach, Karl Richter procurou encontrar um Bach mais puro mais livre de alguns maneirismos românticos que aos poucos se tinham introduzido.
  5. músicas de vivaldit para ouvir da primavera no kboing : Lá está esta é uma das pesquisas que acabou por me ensinar uma coisa. kboing é uma rádio online brasileira. Enfim a selecção de música clássica não é propriamente fantástica e a denominação de algumas obras é um pouco "criativa" mas enfim é uma forma possível de ouvir música. No que diz respeito à pesquisa do nosso leitor, sim há Vivaldi e sim há as quatro estações e mais p+recisamente a primavera só que terá de procurar por "Four Seasons" já que a denominação não foi traduzida contrariamente a outros trechos (aliás quando há pouco me queixava de alguma criatividade este é um dos aspectos que pode dificultar um pouco encontrar uma peça específica). Aliás esta pesquisa de certa forma fez-me seleccionar um tema que creio poderá ser útil para todos: Rádios de Música Clássica (ou com música clássica) online. Fica aqui a promessa que durante esta semana vamos aqui oferecer uma lista.
  6. nascimento de tchaikovsky : Tchaikovsky nasceu a 7 de Maio de 1840 em Votinsk. O pai era engenheiro de minas. Podem ler mais sobre a vida deste compositor nesta biografia.
  7. nona sinfonia de schubert : Uma das sinfonias que está na corrida para o título da "nossa sinfonia preferida". Está na corrida mas está atrasada um pouco como o meu Sporting, desculpem a intromissão desportiva mas ainda estou em estado de choque pela vitória tangêncial de há umas horas ... Fãs de Schubert leiam aqui o que dissemos sobre esta obra, uni-vos e votai :-)
  8. o fidelio opera: De vez em quando há neste blog uma pesquisa sobre a única ópera que Beethoven compôs. Falámos dela aqui.
  9. sarah chang se casou: Que eu saiba não. Pelo menos no site oficial não existe menção ao facto. confesso que não ligo muito a estes aspectos mas se algum leitor tiver mais informações sinta-se à vontade. Já que uma vez procuramos identificar a namorada de Beethoven podemos perfeitamente especular sobre o eventual marido de Sarah Chang, quem sabe fazer uma fotonovela ?
  10. vida e obra do compositor oscar rieding: Oskar Rieding foi um compositor e violinista alemão mas que se radicou e viveu durante a maior parte da vida na Hungria. Aliás do ponto de vista de composição a sua maior contribuição foi sem dúvida para a música hungara quer pela suas obras quer pela regência da Orquestra da Ópera de Budapeste. Além disso foi um proeminente professor tendo composto alguns concertos de violino para estudantes alguns dos quais (em particular o Op. 35) continuam a fazer parte do reportório dos jovens alunos de violino.

Pesquisas Recorrentes

  • Biografia de Cláudio Monteverdi: Leiam aqui uma curta biografia.
  • Biografia de Henry Purcell : Temos efectivamente uma biografia de Henry Purcell no nosso blog. Podem ler aqui.
  • Biografia de Vivaldi : Leia aqui uma biografia com aspectos principais da vida deste compositor do período barroco.
  • Biografia de Jean-Pierre Rampal : Leia aqui uma biografia deste flautista do século 20 que devolveu à flauta o estatuto perdido de instrumento solista.
  • O que é a música clássica: Leia aqui uma resposta possível.
  • O que é um concerto grosso : Leiam aqui uma curta definição com links para alguns exemplos.
  • Sinfonias de Beethoven : Efectivamente analisamos as nove sinfonias de Beethoven recorrendo em parte aos textos de Berlioz. Neste post fizemos uma lista de todos os posts relativos a essas obras.
  • Grandes Maestros : Vejam aqui a lista
  • Grandes Violinistas: Vejam aqui a lista

Estatisticas

Tivemos esta semana 485 visitas (+6,36%) das quais 309 de Portugal (+2,66%) e 143 do Brasil (+17,21%). No terceiro lugar a França com 7 visitas. Depois da surpresa da semana passada em que Ponta delgada pela primeira vez destronou a cidade de Lisboa esta semana Lisboa voltou ao primeiro posto com 82 visitas (+18,84%) em segundo lugar ficou precisamente  Ponta Delgada  com 57 visitas e em terceiro lugar a Invicta cidade do Porto com 53 (+20,45%).
Destas 126 foram directas (-3,08%), 152  foram através de sites de referência (+4,83%) enquanto 207 foram de motores de pesquisa (+14,36%).

domingo, 20 de setembro de 2009

Daniel Baremboim em Lisboa


Há uns meses atrás neste blog fiz um post sobre Daniel Barenboim, maestro e pianista que admiro muito enquanto artista e enquanto activista pela paz. Volto a escrever agora sobre este grande artista por duas razões:

A primeira porque vai estar em Lisboa para dois concertos um já na segunda-feira com a Orquestra Gulbenkian e um segundo no Grande Auditório da fundação onde vai actuar a solo na Quarta-feira sempre com programas em que vai interpretar Chopin.

A segunda razão prende-se com a apresentação do livro de Daniel Barenboim "Está tudo ligado - O poder da música" editado em Portugal pela  Editorial Bizâncio que será apresentado também na Fundação Calouste Gulbenkian na Terça-Feira às 18:30.

Neste livro que Barenboim diz não ser nem para músicos nem para não-músicos mas antes para quem "com uma mente curiosa pretenda descobrir os paralelos entre a música e vida e a sabedoria que se torna então audível para o ouvido pensante". Barenboim não hesita em endereçar questões incomodas como a interpretação de Wagner em Israel falando também do seu projecto de Orquestra West-Eastern Divan Orchestra explicando como a convivência musical entre israelitas, árabes e palestianos os ajuda a compreenderem-se melhor (este texto foi retirado e adaptado da nota de imprensa inglesa a propósito do livro).

No que me diz respeito a minha admiração pelas posições de Barenboim é absoluta. E por isso para todos os que não leram e não tiveram a curiosidade de ler o post que vos recomendei no inicio deste post volto a citar-vos o fantástico discurso de Daniel Barenboim em pleno Knesset na aceitação do prémio da Wolf Foundation.


Queria exprimir a minha profunda gratidão à Fundação Wolf pela grande honra que me concedeu hoje. Este reconhecimento não é para mim apenas uma honra, mas também uma fonte de inspiração para aumentar a minha actividade criativa.

Foi em 1952, quatro anos após a declaração de indepência de Israel que eu, então com 10 anos vim para Israel com os meus pais vindo da Argentina.
A Declaração de Independencia foi uma fonte de inspiração para acreditar em ideais que nos transformaram a nós Judeus em Israelistas. Este documento notável exprimia o compromisso e passo a citar a constituição de Israel : " O Estado de Israel consagrará o desenvolvimento deste país para o benefício de todo o seu povo; será fundado nos princípios da liberdade, justiça e paz, guiado pelas visões dos profetas de Israel; Garantirá direitos iguais, sociais e políticos a todos os cidadãos sem prejuízo das diferenças de fé, raça ou sexo; Garantirá liberdade de religião, consciência, linguagem educação e cultura". Fim de citação
Os fundadores do estado de Israel que assinaram a declaração também se comprometeram (e a nós também) e volto a citar "Prosseguir a paz e boas relações com todos os estados vizinhos e povos", fim de citação.
Pergunto-vos hoje, profundamente triste: Podemos nós, não obstante tudo o que de bom realizamos, ignorar o fosso existente entre o que esta declaração de independência prometia e o que foi realizado, o fosso entre a ideia e a realidade do estado de Israel ?
Será que a condição de ocupação e domínio sobre um outro povo está de acordo com a declaração de independência ? Existe algum sentido para a independência de um à custa dos direitos fundamentais do outro?
Pode o povo Judeu cuja história é um registo continuo de sofrimento e permanente perseguição permitir-se ser indiferente aos direitos e sofrimento de um povo vizinho?
Pode o Estado de Israel permitir-se um sonho irrealista de um fim ideológico para o conflito em vez de perseguir um fim pragmático baseado na humanidade e justiça social?
Acredito que, apesar de todas as dificuldades objectivas e subjectivas, o futuro de Israel e a sua posição na família de nações desenvolvidas dependerá na nossa capacidade de realizar a promessa dos nossos pais fundadores tal como estão canonizadas na Declaração de Independência.
Sempre acreditei que não existe solução militar para o conflito israelo-arabe, nem do ponto de vista moral nem do ponto de vista estratégico e como uma solução é inevitável pergunto-me: Porquê esperar? É por essa razão que fundei com o meu falecido amigo Edward Said um workshop para jovens músicos de todos os países do Médio-Oriente - Judeus e Árabes.
Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas.
Decidi assim doar o montante deste prémio para a realização de projectos de educação musical em Israel e em Ramallah.
É este homem fantástico que vai estar na Gulbenkian para falar-nos do seu livro. Se estiver minimamente perto deste discurso será provavelmente um momento que não vou esquecer.

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