terça-feira, 28 de junho de 2011

Bobby McFerrin em Guimarães

Os frequentadores mais atentos deste blog já sabem que sou um fã incondicional deste músico. Sem exagero um dos mais talentosos músicos (e comunicadores) de sempre. Ora o Bobby vai estar em Guimarães no dia 3 de Julho no pavilhão multiusos. Infelizmente eu não poderei ir (deixo o lugar para um de vós) mas não deixem mesmo de o preencher ... Como já disse em outro lugar será um concerto que no mínimo alterará a maneira como percepcionam a música, no máximo muda a vossa vida ...

Vejam só o que ele faz com a voz com o Violoncelista Yo-Yo Ma



Ou como numa praça em Leipzig à chuva nos faz cantar Bach



Da primeira vez que vi e ouvi este ultimo vídeo confesso que chorei. Ainda hoje sinto um nó na garganta. A cara de alegria das pessoas com algo que a música nos proporciona é uma experiência inesquecível ... Estou a falar a sério: Não Percam MESMO

E para acabar ouçam esta improvisação sobre uma partita de Bach, absolutamente genial:

domingo, 26 de junho de 2011

Jacqueline du Pré (1945 - 1987)

Há já uns meses que estava a pensar escrever este post mas por uma razão ou outra foi sendo adiado. Até hoje não porque se celebre qualquer aniversário mas simplesmente porque depois de ouvir a sua interpretação do Concerto de Elgar para Violoncelo não quis deixar para amanhã.

Jacqueline du Pré nasceu em Oxford a 26 de Janeiro de 1945 sendo a segunda filha de Derek e Iris du Pré. A mãe era música e professora na Real Academia de Londres o que explica que desde muito cedo Jacqueline tenha começado a aprender Violoncelo de que terá gostado imediatamente conta a história a partir de uma emissão de rádio quando tinha apenas 4 anos.

Rapidamente a jovem violoncelista demonstra uma capacidade fora do comum tanto técnica como interpretativa e é assim que com apenas 10 anos é já aluna de um dos mais conceituados violoncelistas e professores da época William Pleeth (1916-1999) numa das melhores escolas da Europa em Londres (Guildhall School of Music and Drama).

Aos 11 anos torna-se a mais jovem vencedora do prémio Guilhermina Suggia coleccionando depois uma série de sucessos até à estreia em 1961 com 16 anos no Highmore Hall de Londres. Em 1962 interpreta pela primeira vez   o Concerto de Elgar com a Orquestra Sinfónica da BBC dirigida por Rudolf Schwarz. Como sabem este concerto viria a tornar-se a imagem de marca da jovem violoncelista embora se diga que esta não seria a sua obra preferida. Facto é que a gravação de 1965 com a Sinfónica de Londres dirigida por sir John Barbirolli é considerada a referência. É um disco que vale a pena possuir felizmente podem ouvir primeiro e comprar depois graças ao You Tube. A gravação que vos mostrei no inicio deste post é precisamente esta a que agora faço referência.

Em 1966 estuda com Rostropovich em Moscovo. conta a anedota que a primeira vez que Rostropovich ouviu Du Pré ter-se-á levantado, abraçado a jovem e dito: "Toca melhor do que eu". No Concerto Final dirigido pelo próprio Rostropovich o grande violoncelista e professor terá dito: "Sinto que encontrei quem continuará o meu trabalho". Ironia do destino Rostropovich iria sobreviver a Du Pré e participar em várias acções de homenagem.


Nesse mesmo ano conhece Daniel Barenboim com quem viria a casar menos de um ano depois em 1967 em Israel convertendo-se mesmo ao judaísmo para o efeito. Da relação emocional com o maestro viriam a resultar algumas parcerias musicais extraordinárias quer apenas com o maestro quer em música de câmara com o violinista e violetista Pinchas Zuckermann (esse mesmo que conhecemos tão bem da Gulbenkian) e outros músicos amigos do casal como por exemplo Zubin Mehta e Itzahk Perlman quer ainda com Orquestras conduzidas por Barenboim.

A carreira de Jacqueline du Pré durou no total pouco mais de 10 anos e isto se contarmos com o ano de 1973 (ano em que se retirou definitivamente) em que fez alguns concertos depois de ter estado parada em 1971 e 1972 porém nesses 10 anos acumulou uma discografia notável, a maioria das quais resultado das parcerias artísticas de que falávamos há pouco.

Dessas gravações será difícil escolher algumas mas vamos tentar dar algumas ideias sem ser exaustivo. Assim poderão por exemplo ouvir alguns dos trios de Beethoven com Barenboim e Zuckerman uma edição da EMI -  - aliás por cerca de 27 Libras poderão adquirir na Amazon a TOTALIDADE das gravações de Du Pré nada menos nada mais do que 17 CDs que por este valor posso considerar um verdadeiro negócio da China.

Continuando com a música de câmara poderiamos recomendar também as sonatas para violoncelo quer de Brahms quer de Beethoven - sempre com  Barenboim e na EMI e logo na anterior compilação todas do período 1968-1969 que são possivelmente os melhores anos da interprete. As sonatas de Franck e Chopin são de 1971 e embora excelentes podem já revelar alguma dificuldade da interprete que viria como já referi a deixar de tocar entre os finais de 1971 e 1972. 

No que diz respeito a concertos para além do já referido Elgar de que existe também uma versão conduzida por Barenboim vale a pena ouvir a interpretação do Concerto de Dvorack (também uma gravação da EMI) ou ainda o Concerto de Schumann . 

Os especialistas podem estranhar não estar a recomendar obras de Bach porém  a verdade é que as que gostaria de recomendar foram gravadas quando Jacqueline tinha apenas 17 anos e embora não sejam más falta-lhes maturidade (podem ouvir aqui um exemplo).

Jacqueline tocava em dois Violoncelos Stradivarius ambos oferecidos pela sua madrinha Ismena Holland. Um deles neste momento é usado por Yo-Yo Ma.

Deixamos de fora propositadamente uma descrição mais detalhada da vida privada de Jacqueline du Pré não por qualquer tipo de receio de tomar partido. Os mais conhecedores certamente saberão - os outros que leiam esta biografia facilmente se aperceberão - que a vida pessoal de Jacqueline além de ser marcada pela doença foi polémica sobretudo após a sua morte devido ao livro da sua irmã (e irmão) depois transformado em filme (Hillary and Jackie). Dizia pois que não se trata de receio de tomar partido simplesmente é impossível conhecer agora o ponto de vista de Jacqueline du Pré e desse ponto vista o livro da irmã até pelos pontos de vista que defende e pelos pormenores que relata deveria ter sido publicado em vida de Jacqueline ... facto é que existem muitos que pensam que o relato de Hillary é bastante parcial e pelo menos em parte motivado pelo ressentimento. 

Em vez dessa polémica um pouco estéril porque sem conclusão possível proponho-vos que conheçam melhor a interprete através de dois filmes The Trout ou o filme Remembering Jacqueline du Pré ambos de Christopher Nupen. No primeiro podemos assistir à preparação de um dos concertos de música de camara com possivelmente a maior concentração de talento puro. Do quinteto que interpretou essa obra de Schubert faziam parte nada menos nada mais do que: Itazhk Perlaman (Violino) considerado um dos maiores violinistas de sempre, Daniel Barenboim (piano) dispensa mais adjectivos, Jacqueline du Pré (Violoncelo), Zubin Mehta (Contrabaixo) o grande maestro que alguns de nós também já tivemos a felicidade de ver dirigir ao vivo e Pinchas Zuckermann (Viola) ... 

Jacqueline du Pré faleceu em Londres a 17 de Outubro de 1987 com apenas 42 anos de idade vitima de esclerose múltipla. Em aproximadamente uma década construiu uma discografia invejável e não deixou dúvidas a ninguém sobre o seu talento e a visão especial que tinha sobre a música. Fiquem com uma entrevista onde fala sobre uma edição do concerto de Elgar que nunca viria a terminar (acho) e do filme (a entrevista é feita pelo autor dos filmes de que vos falamos). 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Entartete Musik: Daniel Barenboim KBE

É um reconhecimento justíssimo pelo papel que Daniel Barenboim tem desempenhado.

Entartete Musik: Daniel Barenboim KBE

Para quem não lia o meu blog em Janeiro de 2009 e perdeu este post (shame on you) aqui fica a transcrição de um fabuloso discurso de aceitação do prémio da fundação Wolf em pleno Knesset (parlamento do estado de Israel)

I would like to express my deep gratitude to the Wolf Foundation for the great honor that is being bestowed upon me today. This recognition is for me not only an honor, but also a source of inspiration for additional creative activity.

Queria exprimir a minha profunda gratidão à Fundação Wolf pela grande honra que me concedeu hoje. Este reconhecimento não é para mim apenas uma honra, mas também uma fonte de inspiração para aumentar a minha actividade criativa.

It was in 1952, four years after the Declaration of Israel’s Independence, that I, as a 10-year-old boy, came to Israel with my parents from Argentina.

Foi em 1952, quatro anos após a declaração de indepência de Israel que eu, então com 10 anos vim para Israel com os meus pais vindo da Argentina.

The Declaration of Independence was a source of inspiration to believe in ideals that transformed us from Jews to Israelis. This remarkable document expressed the commitment (I quote): “The state of Israel will devote itself to the development of this country for the benefit of all its people; It will be founded on the principles of freedom, justice and peace, guided by the visions of the prophets of Israel; It will grant full equal, social and political rights to all its citizens regardless of differences of religious faith, race or sex; It will ensure freedom of religion, conscience, language, education and culture” (end of quote).

A Declaração de Independencia foi uma fonte de inspiração para acreditar em ideais que nos transformaram a nós Judeus em Israelistas. Este documento notável exprimia o compromisso e passo a citar a constituição de Israel : " O Estado de Israel consagrará o desenvolvimento deste país para o benefício de todo o seu povo; será fundado nos princípios da liberdade, justiça e paz, guiado pelas visões dos profetas de Israel; Garantirá direitos iguais, sociais e políticos a todos os cidadãos sem prejuízo das diferenças de fé, raça ou sexo; Garantirá liberdade de religião, consciência, linguagem educação e cultura". Fim de citação

The founding fathers of the State of Israel who signed the Declaration also committed themselves and us (and I quote): “To pursue peace and good relations with all neighboring states and people” (end of quote).

Os fundadores do estado de Israel que assinaram a declaração também se comprometeram (e a nós também) e volto a citar "Prosseguir a paz e boas relações com todos os estados vizinhos e povos", fim de citação.

I am asking today with deep sorrow: Can we, despite all our achievements, ignore the intolerable gap between what the Declaration of Independence promised and what was fulfilled, the gap between the idea and the realities of Israel?

Pergunto-vos hoje, profundamente triste: Podemos nós, não obstante tudo o que de bom realizamos, ignorar o fosso existente entre o que esta declaração de independência prometia e o que foi realizado, o fosso entre a ideia e a realidade do estado de Israel ?

Does the condition of occupation and domination over another people fit the Declaration of Independence? Is there any sense in the independence of one at the expense of the fundamental rights of the other?

Será que a condição de ocupação e domínio sobre um outro povo está de acordo com a declaração de independência ? Existe algum sentido para a independência de um à custa dos direitos fundamentais do outro?

Can the Jewish people whose history is a record of continued suffering and relentless persecution, allow themselves to be indifferent to the rights and suffering of a neighboring people?

Pode o povo Judeu cuja história é um registo continuo de sofrimento e permanente perseguição permitir-se ser indiferente aos direitos e sofrimento de um povo vizinho?

Can the State of Israel allow itself an unrealistic dream of an ideological end to the conflict instead of pursuing a pragmatic, humanitarian one based on social justice?

Pode o Estado de Israel permitir-se um sonho irrealista de um fim ideológico para o conflito em vez de perseguir um fim pragmático baseado na humanidade e justiça social?

I believe that, despite all the objective and subjective difficulties, the future of Israel and its position in the family of enlightened nations will depend on our ability to realize the promise of the founding fathers as they canonized it in the Declaration of Independence.

Acredito que, apesar de todas as dificuldades objectivas e subjectivas, o futuro de Israel e a sua posição na família de nações desenvolvidas dependerá na nossa capacidade de realizar a promessa dos nossos pais fundadores tal como estão canonizadas na Declaração de Independência.

I have always believed that there is no military solution to the Jewish-Arab conflict, neither from a moral nor a strategic one, and since a solution is therefore inevitable I ask myself: Why wait? It is for this very reason that I founded with my late friend Edward Said a workshop for young musicians from all the countries of the Middle East—Jews and Arabs.

Sempre acreditei que não existe solução militar para o conflito israelo-arabe, nem do ponto de vista moral nem do ponto de vista estratégico e como uma solução é inevitável pergunto-me: Porquê esperar? É por essa razão que fundei com o meu falecido amigo Edward Said um workshop para jovens músicos de todos os países do Médio-Oriente - Judeus e Árabes.

Despite the fact that, as an art, music cannot compromise its principles, and politics, on the other hand, is the art of compromise, when politics transcends the limits of the present existence and ascends to the higher sphere of the possible, it can be joined there by music. Music is the art of the imaginary par excellence, an art free of all limits imposed by words, an art that touches the depth of human existence, an art of sounds that crosses all borders. As such, music can take the feelings and imagination of Israelis and Palestinians to new unimaginable spheres.

Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas.

I have therefore decided to donate the monies of the prize to music education projects in Israel and in Ramallah.

Decidi assim doar o montante deste prémio para a realização de projectos de educação musical em Israel e em Ramallah.



Ler mais: http://guiadamusicaclassica.blogspot.com/2009/01/daniel-barenboim-msica-israel-e-paz.html#ixzz1QCwgGrLc
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Prokofiev (1891-1953) : Quarta Parte - A Arte do Medo

O "subtítulo" deste post é o mesmo que Alex Ross utiliza no seu livro "The Rest is Noise" quando fala da música na União Soviética nos tempos de Stalin. É obviamente uma leitura que recomendo e embora neste post se abordem aspectos não contidos nesse livro algumas das coisas que vos vamos contar são retiradas da referida obra. Por outro lado em toda esta série de posts sobre Prokofiev utilizamos como referência principal o site Prokofiev.org que tem uma biografia extensa e bem organizada do compositor (além de muita outra informação complementar pelo que se recomenda a visita ao dito site, claro).

É importante pois considerar que o retorno de Prokofiev à Rússia coincide praticamente com a chegada ao poder do ditador Stalin, ditador esse que influenciaria pelo medo toda uma geração de compositores russos. Nessa Russia Prokofiev coabitaria com Schostakovich com quem nunca se deu bem excepto possivelmente nos últimos meses de vida quando aparentemente chegaram a um entendimento mutuo. Schostakovich que como é sabido mais do que qualquer outro sentiu esse medo não porque tenha ousado desafiar o sistema (discutível este ponto mas é o que acho) mas porque esse pavor está documentado não só nas suas obras mas também em algumas frases do compositor ...

Prokofiev não se estabeleceu de imediato em Moscovo, nos primeiros anos fazia uma espécie de vai-vem entre Paris e a capital russa tendo de imediato recebido algumas encomendas do estado soviético. Estas primeiras obras sofreram a praxe imposta a todos os compositores que desejavam entrar no "Realismo Socialista". Demasiado Sofisticado, Demasiado Simples, Não suficientemente realista, Mortos não dançam (dito a respeito de Romeu e Julieta)  ... Porém contrariamente a Schostakovich que procurava despachar os compromissos "oficiais" o mais rapidamente possível, Prokofiev esmerava-se em cada desafio proposto.

Entre os seus primeiros sucessos enquanto compositor Soviético encontram-se o seu Segundo Concerto para Violino escrito para Robert Soetens mas que ganhou fama quando passou a fazer parte do reportório de Heifetz (é de Heifetz a interpretação que sugerimos no link). Se preferirem ouvir a estreia em Londres em 1936 precisamente por Robert Soentens podem ouvir aqui uma gravação da BBC.

Porém o primeiro sucesso esmagador de Prokofiev e que lhe valeu o seu primeiro prémio Stalin foi a Banda Sonora do filme Alexander Nevsky (também adaptado a Cantata - alíás esta é uma caracteristica de Prokofiev  maioria dos seus trabalhos para Ballet ou filme existem em outras formas, suites sinfónicas, cantatas, ... ). Podem ver e ouvir uma versão completa deste filme (em Italiano) aqui ... a música e os coros esses estão na língua original não se preocupem. Vale a pena verem esta obra prima de Eisenstein ... A este sucesso seguiram-se vários outros nesta área e também no teatro.

Entretanto tinha passado mais ou menos desapercebido aquela que é hoje uma das obras de Prokofiev mais vezes interpretada: Pedro e o Lobo (1936) uma encomenda especialmente destinada a crianças.

No entanto neste final de década Prokofiev já se tinha apercebido das consequências de ter aceite voltar à União Soviética. A garantia de encomendas e de rendimentos tinham um preço e esse preço era a submissão. Em particular com a aliança táctica da União Soviética à Alemanha Nazi as relações entre a nação soviética e a França, Reino Unido e Estados Unidos deixaram de ser necessárias, pior do que isso passaram a ser um problema. Desta forma a liberdade que Prokofiev gozava para se deslocar ao Ocidente enquanto embaixador da música Soviética foi bruscamente terminado.

Estes problemas implicaram o cancelamento e alteração de uma obra Semyon Kotko que representava os alemães numa luz pouco favorável e respectivo assassinato pelo poder do produtor e amigo de Prokofiev Vsevolod Meyerhold. O preço a pagar poderia ainda tornar-se mais elevado dada a origem Espanhola da mulher de Prokofiev e a desconfiança doentia que Stalin tinha dos estrangeiros ... Aliás esta ópera mesmo depois das alterações a que foi submetida foi rapidamente proibida só tendo sido politicamente reabilitada em ... 1970!

Apesar de tudo (ou se calhar por causa disso tudo)   Prokofiev continuava a compor tendo em 1939 terminado nada menos do que a já referida ópera, três sonatas para piano e a Sonata para Violino e Piano nº1 em Fá Menor. (a interpretação que proponho é de Oistrak e Richter, seria difícil melhor ... ) Aproximava-se no entanto o tempo da Guerra e isso é assunto para o próximo episódio ...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Prokofiev (1891 - 1953) - Terceira Parte

Prokofiev - Segunda Parte,   Prokofiev - Primeira Parte

Quando Prokofiev saiu da Rússia passou por Tóquio onde era relativamente conhecido e onde deu alguns concertos antes de rumar aos Estados Unidos com passagem pelo Hawai mas essencialmente Prokofiev estava falido.

A recepção nos Estados foi mista, por um lado relativamente aclamado pelo público por outro lado crucificado pela critica que o apelidava compositor "bolchevista". Alguns sucessos em recitais amenizaram um pouco esses dois anos na América ajudado também por ter conhecido  Lina que viria a tornar-se sua mulher.

A ultima obra que compôs "The Love for Three Oranges" uma ópera encomendada pela ópera de Chicago já foi estreada com Prokofiev na Europa, um pouco ironicamente dado que esta obra foi um sucesso imediato.

A primeira cidade onde esteve foi Paris (1920) onde obviamente iria procurar Diaghilev (lembram-se de Stravinsky e dos  Bailados Russos?) que de imediato lhe pediu para encenar o seu ballet "The Buffoon". Em 1921voltou aos Estados Unidos onde estreou em Dezembro de 1921 o seu Terceiro Concerto para Piano. De novo a recepção foi mista tendo começado por ser entusiasticamente recebido mas gradualmente perdido fulgor pelas constantes referências à sua "origem" soviética.

De volta à Europa em vez de Paris preferiu desta vez os Alpes talvez procurando recriar as condições do ano criativamente fantástico de 1918 ou talvez para estar perto de Lina sua futura mulher e que tinha conhecido nos Estados Unidos. entre 1922 e 1923 trabalhou na sua ópera The Fiery Angel que nunca seria estreada em vida do compositor (foi estreada em 1955 em Veneza). Em Setembro de 1923 casa com Lina mas e vê-se forçado a declinar um convite para voltar à Russia onde entretanto o seu amigo Miaskovsky lhe assegurava que as suas obras eram continuamente interpretadas.

No final de 1923 volta a Paris em grande parte porque estava por nascer o seu primeiro filho e também porque o estado de saúde da sua mãe se tinha agravado - infelizmente viria a falecer em Dezembro do ano seguinte (1924). Claro que com tamanha carga emocional a sua capacidade para compor não foi muita. Por encomenda de Koussevitzky dedica-se à sua Segunda Sinfonia obra de que nunca gostaria e que foi mal recebida pelo critica e pelo público.

Porém Diaghilev viu e gostou o que  foi suficiente para encomendar um novo ballet Le Pas d´Acier . Prokofiev tornava-se cada vez mais conhecido na Europa mas desejava voltar à Rússia o acabou por fazer em 1927 com uma tournée de 2 meses que foi um grande sucesso.

De retorno a Paris o falhanço da segunda sinfonia atormentava-o um pouco mas o sucesso do bailado Le Pas d´Acier leva-o a primeiro considerar uma suite sinfónica para depois acabar por se decidir numa sinfonia completa baseada nesse mesmo material. Esta terceira sinfonia é estreada em Paris a 17 de Maio de 1929 sendo um sucesso. Prokofiev que tinha ficado um pouco desconfiado das suas capacidades para este género considera mesmo que "consegui aprofundar muito a minha linguagem musical".

Entretanto Diaghilev tinha encomendado um novo ballet (L´Enfant Prodigue) que infelizmente viria a marcar o fim da colaboração entre os dois pelo falecimento do primeiro em Veneza depois de uma estreia marcada por problemas extra-musicais apesar da boa recepção do público e da critica.

Baseado nesta mesma obra Prokofiev compõe a sua quarta sinfonia que propoe a Koussevitzky por ocasião do 50º aniversário da Orquestra Sinfónica de Boston. O empréstimo foi de tal maneira criticado que Prokofiev viria a rever substancialmente esta obra em 1947.

No inicio da década de 30 o conflito entre o Oeste e o Este agudizava-se. No oeste cresciam as ondas nacionalistas e fascistas e na União Soviética Stalin tinha acabado de tomar as rédeas do poder. Facto é que neste ambiente Prokofiev era recebido com cada vez maior hostilidade, hostilidade essa que não deixava de passar para o plano artístico. Como exemplo desse facto a recepção ao Quinto concerto para Piano - morna para ser simpático. O Quarto Concerto para piano nem sequer foi estreado nessa altura mas isso por outra razão.

Prokofiev cada vez aos poucos resolvia-se a voltar à União Soviética clamando-se "Não Politico" mas não deixando de afirmar que um governo que lhe garante a publicação das suas obras e a sua interpretação está bem para mim (ou se preferirem - serve para mim). Não percam a próxima parte desta biografia que relata a vida de Prokofiev na União Soviética de Staline um período a que Alex Ross apelidou "A arte do medo"


Sergei Prokofiev (1891-1953) - Primeira Parte

Sergei Prokofiev nasceu em Sontsovka uma cidade que hoje faz parte da Ucrânia a 23 de abril de 1891. O seu pai era um engenheiro agrónomo sendo que a mãe era bastante culta tendo um elevado sentido artístico e gosto pelas artes sendo uma pianista bastante razoável.

Prokofiev teve uma infância que se aproxima do sonho. Pais carinhosos, boas condições de vida, incentivo e educação artística. Prokofiev relembra da sua infância as sonatas de Beethoven que ouvia a sua mãe tocar ao piano. A sua mãe não procurou que Prokofiev tivesse uma educação musical formal desde cedo embora o encorajasse a descobrir a música por si próprio. Assim que teve 8 anos a mãe resolveu levá-lo a São Petersburgo e a Moscovo para ouvirem algumas obras musicais que o influenciaram tão profundamente que de volta a casa compõe uma ópera chamada "O Gigante".

Nessa visita a mãe consegue uma entrevista com um professor do Conservatório que acaba por conseguir convencer um outro colega a dar aulas a Prokofiev na casa dos seus pais. este professor um jovem pianista e compositor Reinhold Gliere conseguiu estabelecer uma excelente relação com Prokofiev ao ponto de passados dois Verões este estar pronto para ingressar no conservatório e ter composto uma sinfonia e mais de 70 obras para piano.

Assim em 1904 Prokofiev e a mãe partem para S. Petersburgo para que o jovem se possa inscrever no Conservatório. Prokofiev é aceite ganhando rapidamente a fama de "Enfant Terrible" muito pela atitude de constante critica dos colegas e professores. Na verdade Prokofiev não se revia no relativo conservadorismo da maioria dos professores e colegas. O único colega com o qual durante esses anos se viria a identificar foi com Miaskovsky o pai da sinfonia Russa e bastante mais velho que Prokofiev.

Além de estudar composição actividade na qual no Conservatório pelas razões anteriormente explicadas nunca conseguiu grande destaque Prokofiev seguiu também Piano disciplina onde mereceu os maiores elogios dos seus professores por exemplo Glazunov dizia-nos em 1909 : "Preparação técnica excepcionalmente brilhante. Interpretação única, original nem sempre no melhor dos gostos artísticos".

Terminando os seus estudos em 1909 Prokofiev continuou no entanto no Conservatório seguindo os cursos de Piano . Em 1910 com a morte do pai decide que tem de repor a sua estrela enquanto compositor. Pensamos que não é por acaso que o faz com o seu primeiro Concerto para Piano (Op. 10 em Ré Bemol) que estreia em 1912.  Ainda nesse ano compõe o seu Segundo Concerto para Piano (Op. 16 em Sol Menor) que seria de novo recebido com bastante polémica.

Prokofiev estava então no seu ultimo ano no Conservatório e sabendo que no que dizia respeito à composição nunca iria obter a aprovação dos seus professores resolve dedicar-se a vencer o prémio Anton Rubinstein atribuído ao melhor aluno pianista. Na audição final que Prokofiev vence não o faz sem desafiar a tradição mais uma vez ao ousar interpretar uma obra sua, o Primeiro Concerto para Piano.

Próximo post : Os anos da Maturidade

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Google e Pessoa

Pode ser só para endereços em Portugal (há casos em que as homenagens são locais) mas não resisto a partilhar a Home Page do Google de hoje ... e não é necessário dizer mais.


O Sopro da Alma de Tiago Cabrita

Enquanto não termino a terceira parte da biografia de Prokofiev que será um dos próximos posts sugiro mais uma obra de um jovem compositor português Tiago Cabrita. Estamos agora numa maré de música contemporânea e nas palavras que roubo do Sérgio, ora tomem lá e digam-me se não é boa?




sábado, 11 de junho de 2011

Assim, do tempo em que me falavas de Nuno da Rocha

Como vos disse aqui fui assistir à estreia absoluta de duas obras de compositores portugueses. De uma delas por gentileza do compositor temos uma gravação que transformei num pequeno filme. Espero que gostem tanto quanto eu.

Não resisto a citar Nuno da Rocha  : "Assim, do tempo em que me falavas" é uma memória passada da minha infância. Da missa como cerimónia e como desconhecido para uma criança. Das coisas que ficam para sempre. Das coisas que ainda não se entendiam. É uma memória da pessoa que partiu e que me ensinou a ter fé sem saber porquê".



Nuno da Rocha o compositor iniciou em 2008 o curso de composição da ESML sendo neste momento aluno finalista desse mesmo curso sobre a orientação de António Pinho Vargas.

Foram solistas José Valente no acordeão, Bernardo Nabais, Mariana Portela, Simão Nobre e João Rei nas vozes. A Orquestra de Cordas é constituída por alunos e professores do Instituto Gregoriano e da Escola Superior de Música de Lisboa.

A informação biográfica e da obra foi retirada e adaptada do programa de sala sem autorização dos seus autores. A imagem do compositor foi retirada do site oficial também sem permissão. Caso exista alguma imprecisão ou problema ...

Podem também ouvir a missa na página de Facebook do Compositor.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Alex Ross: The Rest Is Noise: Mistranslation or confession?

Uma tradução que resultou numa confissão? Bem estava quase no local certo para isso :-)

Alex Ross: The Rest Is Noise: Mistranslation or confession?

Só Dia de Portugal ou talvez não ...

Confesso que sou mais de Pessoa do que de Camões, não que não aprecie este ultimo mas porque prefiro o primeiro. Atrevia-me quase a sugerir que este dia 10 de Junho se deveria chamar, Dia de Portugal, Camões e Pessoa e das Comunidades Portuguesas ou talvez mais simplesmente apenas Dia de Portugal. Acho que é desnecessário acrescentar mais, cada um de nós que se sente português não forçosamente apenas aqueles que têm a nossa nacionalidade num qualquer documento, acrescentará como sub-titulo o que lhe aprouver neste dia.

É bonito que o nosso dia nacional festeje um poeta, é possivelmente uma das raras circunstâncias onde damos mais valor a um elemento cultural  do que a um politico ou desportista e por isso já me arrependi. Que fique Camões no titulo deste dia como representante de todos os artistas portugueses antes que alguém se lembre de chamar a este dia, Dia de Portugal de Camões e de Mourinho e das Comunidades Portuguesas.

Como sempre nós festejamos com música e por isso pensamos que a Sinfonia "Á Pátria" de Vianna da Motta hoje é especialmente adequada (por variadas razões quanto mais não seja porque inspirada em versos de Camões, aliás e ainda a propósito quantos de vós sabem que Vianna da Motta compôs Evocação dos Lusíadas?). Felizmente podemos ouvi-la na integra no You Tube. Não se esqueçam de se gostarem adquirirem uma qualquer gravação da obra no formato que vos aprouver claro está ... Por exemplo no ITunes têm uma interpretação pela Filarmónica de S. Petersburgo dirigida por Mário Mateus.

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6

E pronto já estou com vontade de escrever uma biografia de Vianna da Motta ... e não consigo encontrar o documentário de José Barahona ... Agora vou tratar de um post sobre outro autor Português ... Fiquem com Á Pátria ...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Concerto Compositores Portugueses Sec. XXI

No Domingo antes ou depois de votarem (bem obviamente) - recomendo que seja depois para não estarem stressados não percam este concerto de música sacra de compositores portugueses do século XXI com a estreia absoluta de duas obras uma de Sérgio Azevedo (Missa Brevis) e uma outra missa de Nuno da Rocha intitulada "Assim, do tempo em que me falavas". Só o nome desta ultima missa é inspirador ... Entrada Livre. Não deixem de estar presentes se puderem.

Concerto Compositores Portugueses Sec. XXI

Eventos por categoria - 6º Programa Orquestras ESML - Orquestra Sinfónica

Sábado, 21h no Auditório da Escola Superior de Música de Lisboa (Auditório Viana da Mota) se puderem não deixem escapar a oportunidade de ouvir a Orquestra Sinfónica da ESML e a solista Ângela Carneiro que interpretará o Concerto nº1 para Violoncelo e Orquestra de Shostakovich. Obras de Ravel e Honegger completam o programa. A entrada é livre sujeita à lotação da sala.

Bem sei que ali perto no Estádio da Luz toca-se outra música mas ... bem eu estarei no auditório!

Eventos por categoria - 6º Programa Orquestras ESML - Orquestra Sinfónica

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