sábado, 31 de março de 2012

Scarlatti - As Sonatas para Piano

Quando há uns poucos dias escrevi sobre Carlos Seixas e revi a nossa lista das 100 músicas clássicas (as melhores para começar, sublinhe-se o para começar) invadiu-me o sentimento da injustiça de não ter considerado Seixas em vez de Scarlatti e depois por associação patriótica não ter essa lista nenhum compositor português, que vergonha ! Não estão nem Bontempo nem Joly-Braga Santos nem Lopes Graça ou Freitas Branco entre tantos outros ... Face a essa constatação e para apaziguar a minha consciência já me prometi uma lista das 100 composições portuguesas também para quem queira começar a conhecer a música clássica portuguesa.

Isto dito no nosso objectivo de ir completando as descrições das 100 composições vamos falar hoje das sonatas de piano de Scarlatti. São obras bastante simples do ponto de vista formal, num número avassalador (são mais de 500) quase todas escritas apenas para cravo ou piano-forte embora o conjunto contenha algumas (poucas) para piano e outros instrumentos e 4 para órgão.

Existem três catálogos utilizados (formas de numeração das obras como já explicamos) embora hoje em dia o mais comum seja o do musicólogo Americano Ralph Kirkpatrick (1911-1984), já agora o " L" por vezes ainda utilizado corresponde à compilação (e edição) em 1906 de Alessandro Longo. A diferença das duas metodologias é que enquanto a de Kirkpatrick é cronológica a do Italiano agrupa as composições por "suites" função do seu carácter ou tonalidade. Já agora para conhecerem melhor a obra e a vida deste compositor o livro escrito em 1958 por Kirkpatrick é a referência (aqui fica o link directo para a Amazon).



Claramente é impossível mostrar-vos todas as 550 sonatas assim compilei uma lista sempre com pianistas diferentes duma dezena delas tendo tentado que representassem todo o período temporal e de "temperamento" existentes. É clara em algumas das obras o facto do compositor ter passado uma grande parte da sua vida na península ibérica que lhe dá uma cor nitidamente diferente.

Para acalmar desde já a minha consciência consegui incluir uma pianista portuguesa. Repeti voluntariamente uma das Sonatas (K. 193) para poderem ouvir a diferença entre estas obras interpretadas num cravo - instrumento para o qual muito provavelmente foram compostas - e em piano.

K. 9 interpretada por Daniel Barenboim
K.13 interpretada por Glenn Gould
K. 20 interpretada por Pogorelich
K. 27 interpretada por Michelangeli
K. 135 interpretada por Horowitz (L. 224)
K. 141 interpretada por Marta Argerich
K. 192 e K. 193 interpretada por Gustav Leonhardt
K. 193 interpretada por Anne Queffélec
K. 208 interpretada por Maria João Pires
K. 466 interpretada por Emil Gilels (L. 118)


2 comentários:

  1. Magnífico post, Fernando. Sobretudo depois do outro sobre Carlos Seixas.

    Só não resisto a dizer que o meu sacarlattiano de eleição é Murray Perahia.

    SONATA K212
    http://www.youtube.com/watch?v=6u5JRBTEqiU

    K27, muito mais lenta e bonita que a de Michelangeli (que é o meu favorito em Brahms...) :
    http://www.youtube.com/watch?v=7OhKH2z8gJ0

    e a excelente K96, que faz falta na lista:
    http://www.youtube.com/watch?v=wjPH0Nan9lw

    mas de facto as sonatas de Scarlatti , mesmo que "simples", são no seu conjunto um mundo de emoções e virtuosismo a explorar.

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  2. Obrigado Mário. Sim é verdade o facto de serem simples não faz que sejam "menores" ou desinteressantes. Aliás confesso-lhe que aprecio muito as que conheço sobretudo as mais introspectivas que têm momentos sublimes e como diz muito "emocionais". Aliás desse ponto de vista tal como Seixas algumas das obras de Scarlatti se forem interpretadas como tal passam perfeitamente por obras do período romântico (pelo menos para ouvidos menos treinados :-)). A interpretação que sugere é fantástica!

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