E não é que apenas um dia depois de ter publicado aqui neste blog um artigo sobre o segundo concerto para piano e Orquestra de Rachmaninoff a Deutsche Grammophon liberta o dito concerto interpretado por Sviatoslav Richter e a Sinfónica de Varsóvia , grátis no Spotify ... o único trabalho que terão é conseguir encontrar o dito ...
Se for para me fazerem surpresas assim podem continuar a espiar ... seus espiões de coração mole :-) :-) :-)
A única música que precisa de embalagem é a música de plástico.
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Rachmaninoff - Um concerto de piano que nunca deixa de me emocionar
Dirão os especialistas que não é a sua melhor obra nem tão pouco o seu melhor concerto para piano e Orquestra. É porém uma obra que nunca deixa de me emocionar, totalmente. Já falamos deste concerto neste blog por várias vezes.
Poderão com legitimidade perguntar: Então porquê esta inusitada repetição? Essencialmente porque hoje ao almoço ao falar com alguém que tinha assistido à interpretação de uma peça deste compositor não me pude impedir de recordar de imediato a ultima vez que ouvi este concerto no CCB. Tanto mais que antes ou depois, sabem como são os nossos neurónios com a idade, perdem precisão mas ganham em associação de ideias voltou-se a falar da mítica sala agora a propósito de um outro género musical ... MPB - e já sabem que também gosto e de Gilberto Gil em particular.
Nesse ultimo concerto estava o pianista António Rosado e na Orquestra o meu filho algures no naipe de Violino. Chorei. Lembro-me que chorei, choro quase sempre - Se o primeiro andamento pela sua mistura entre o romântico e o épico já me toca o coração então o segundo é o toque final. O ultimo é (foi e será) para a desgraça ...
O concerto que deu origem à conversa teve lugar na Casa da Música e não foi o segundo concerto que Valentina Lisitsa interpretou mas antes a Sonata nº 1 em Ré Menor op 28 (embora curiosamente esta pianista interprete uma versão sem orquestra que vou ouvir de seguida) mas hoje deixo-vos de novo com esta obra. Como poderia não o fazer?
Primeiro Andamento
Segundo Andamento
Terceiro Andamento
Poderão com legitimidade perguntar: Então porquê esta inusitada repetição? Essencialmente porque hoje ao almoço ao falar com alguém que tinha assistido à interpretação de uma peça deste compositor não me pude impedir de recordar de imediato a ultima vez que ouvi este concerto no CCB. Tanto mais que antes ou depois, sabem como são os nossos neurónios com a idade, perdem precisão mas ganham em associação de ideias voltou-se a falar da mítica sala agora a propósito de um outro género musical ... MPB - e já sabem que também gosto e de Gilberto Gil em particular.
Nesse ultimo concerto estava o pianista António Rosado e na Orquestra o meu filho algures no naipe de Violino. Chorei. Lembro-me que chorei, choro quase sempre - Se o primeiro andamento pela sua mistura entre o romântico e o épico já me toca o coração então o segundo é o toque final. O ultimo é (foi e será) para a desgraça ...
O concerto que deu origem à conversa teve lugar na Casa da Música e não foi o segundo concerto que Valentina Lisitsa interpretou mas antes a Sonata nº 1 em Ré Menor op 28 (embora curiosamente esta pianista interprete uma versão sem orquestra que vou ouvir de seguida) mas hoje deixo-vos de novo com esta obra. Como poderia não o fazer?
Primeiro Andamento
Segundo Andamento
Terceiro Andamento
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Um procedimento artístico num aeroporto perto de si !
Num post no Facebook hoje o violinista João Andrade deu-nos conta de um procedimento que vamos qualificar como artístico pelos seguranças do aeroporto. Nota de rodapé prévia: Não na fotografia não é o João é outro violinista em outro aeroporto noutro continente. Neste caso pedia casamento à namorada (a rapariga de costas em amarelo) ... enfim um caso diferente de segurança a avaliar em outro post.
Em resumo ao passar pelos seguranças que fazem a verificação da bagagem que se leva na cabine pediram ao João que tocasse alguma coisa. Este procedimento leva-nos de imediato a uma série de conjunturas que talvez fosse prudente averiguar para nos precavermos quanto à segurança nos aeroportos.
Primeira conjuntura: O João escolheu tocar Bach e apesar de (segundo confissão própria) ter apenas interpretado três compassos seguidos de notas aleatórias o processo foi dado por terminado e o João pode seguir com o seu instrumento. Terá sido a escolha do compositor relevante? Vamos supor que em vez de Bach o João tivesse escolhido. sei lá Ysaÿe ou ainda "pior" um compositor claramente revolucionário e não germânico ? Teria sido o resultado idêntico? Existirá nos seguranças uma competência estética ou uma lista do tipo : Bach ou Vivaldi (com excepção do concerto em Lá Menor :-)) sim mas por exemplo Beethoven (perigoso revolucionário) não? E se o João tivesse tocado como lhe sugeriram num dos comentários "Grandola" ? Teria recebido um convite imediato por telefone para ser o próximo ministro da cultura em Portugal?
Segunda conjuntura: Será que os seguranças têm noção que um violino mal tocado é efectivamente uma arma perigosa? Estou a ver o terror dos passageiros a receberem a noticia de um dos passageiros já em pleno voo : "Bem aproveitando este longo voo de três horas vou dar-vos o prazer de poderem ouvir a minha primeira tentativa de interpretação consecutiva do Moto Perpetuo que acabei de aprender. Vão ver como é bom". Palpita-me que após 15 minutos contrariando todas as normas internacionais o "instrumentista" conseguiria provavelmente desviar o avião para onde lhe aprouvesse. Enfim não tão letal como a famosa anedota mortal dos Monty Phyton mas fica lá perto,
Terceira Conjectura: Será que após este incidente as aulas de violino em territórios potencialmente perigosos estão a ser devidamente monitorizadas? É que estão a ver os narcotraficantes e terroristas a aprenderem este truque? Eu bem que achei esquisito alguns anúncios que tenho visto recentemente oferecendo palácios a professores de violino. Achei que eram obras beneméritas agora está tudo explicado. Será que os satélites espiões têm agora na sua lista de alvos as escolas de violino? Será que a NSA agora também ouve os posts colocados no You Tube por supostos alunos de violino?
Quarta Conjectura: Três compassos João? A tua sorte é que em três compassos de Bach pode estar o mundo inteiro.
E pronto com esta conversa toda - que vos escrevi ao som de Bach claro - só vos posso deixar com o dito cujo. Fosse este um post de culinária e diria algo do tipo: Bach com Arroz do mesmo, não sendo ficará ainda assim numa pequena liberdade poética: Posta de Bach com Partita do mesmo!
Em resumo ao passar pelos seguranças que fazem a verificação da bagagem que se leva na cabine pediram ao João que tocasse alguma coisa. Este procedimento leva-nos de imediato a uma série de conjunturas que talvez fosse prudente averiguar para nos precavermos quanto à segurança nos aeroportos.
Primeira conjuntura: O João escolheu tocar Bach e apesar de (segundo confissão própria) ter apenas interpretado três compassos seguidos de notas aleatórias o processo foi dado por terminado e o João pode seguir com o seu instrumento. Terá sido a escolha do compositor relevante? Vamos supor que em vez de Bach o João tivesse escolhido. sei lá Ysaÿe ou ainda "pior" um compositor claramente revolucionário e não germânico ? Teria sido o resultado idêntico? Existirá nos seguranças uma competência estética ou uma lista do tipo : Bach ou Vivaldi (com excepção do concerto em Lá Menor :-)) sim mas por exemplo Beethoven (perigoso revolucionário) não? E se o João tivesse tocado como lhe sugeriram num dos comentários "Grandola" ? Teria recebido um convite imediato por telefone para ser o próximo ministro da cultura em Portugal?
Segunda conjuntura: Será que os seguranças têm noção que um violino mal tocado é efectivamente uma arma perigosa? Estou a ver o terror dos passageiros a receberem a noticia de um dos passageiros já em pleno voo : "Bem aproveitando este longo voo de três horas vou dar-vos o prazer de poderem ouvir a minha primeira tentativa de interpretação consecutiva do Moto Perpetuo que acabei de aprender. Vão ver como é bom". Palpita-me que após 15 minutos contrariando todas as normas internacionais o "instrumentista" conseguiria provavelmente desviar o avião para onde lhe aprouvesse. Enfim não tão letal como a famosa anedota mortal dos Monty Phyton mas fica lá perto,
Terceira Conjectura: Será que após este incidente as aulas de violino em territórios potencialmente perigosos estão a ser devidamente monitorizadas? É que estão a ver os narcotraficantes e terroristas a aprenderem este truque? Eu bem que achei esquisito alguns anúncios que tenho visto recentemente oferecendo palácios a professores de violino. Achei que eram obras beneméritas agora está tudo explicado. Será que os satélites espiões têm agora na sua lista de alvos as escolas de violino? Será que a NSA agora também ouve os posts colocados no You Tube por supostos alunos de violino?
Quarta Conjectura: Três compassos João? A tua sorte é que em três compassos de Bach pode estar o mundo inteiro.
E pronto com esta conversa toda - que vos escrevi ao som de Bach claro - só vos posso deixar com o dito cujo. Fosse este um post de culinária e diria algo do tipo: Bach com Arroz do mesmo, não sendo ficará ainda assim numa pequena liberdade poética: Posta de Bach com Partita do mesmo!
Shinichi Suzuki - Verdade ou mentira ? A única certeza é o mau jornalismo
Em Janeiro de 2009 contava-vos a história do homem que democratizou o ensino de um instrumento e provavelmente inspirou dezenas de outros a fazerem o mesmo, neste artigo sobre Shinichi Suzuki (1898-1998).
Esta semana leio no dia 25 de Outubro este artigo do teoricamente insuspeito Telegraph. O meu primeiro comentário relativamente a esta noticia é que fica provado que o problema do mau jornalismo não se encontra limitado a Portugal. E explico a razão deste meu comentário que me perdoem os meus amigos jornalistas (e são alguns).
O problema com este artigo é que se coloca ao serviço dos que sempre atacaram o método desta vez colocando em causa o passado do Suzuki como se isso justificasse de alguma forma o mérito ou demérito do método quando nada no que é ensinado hoje em dia depende efectivamente desse passado. Ou seja nem sequer quero por em causa a veracidade ou falsidade da fonte citada, o facto é que se se utiliza esse argumento para colocar em causa a validade do método então diria eu que já que o infeliz japonês já não se pode defender caberia ao jornalista tentar perceber se realmente o facto relatado influi ou não no que é ensinado. Não o fazendo está a prestar um péssimo serviço.
Deixem-me assim resolver o problema por ele (Telegraph desde já fica concedida a autorização para utilizarem este texto se assim desejarem).
Como dizia em 2009 a polémica relativamente ao método sempre existiu. Sempre os puristas acusaram o mesmo de produzir autómatos sem sensibilidade musical nenhuma e sempre existiram várias teorias sobre os danos futuros do mesmo - ou seja quem por ele aprendesse seria incapaz de mais tarde interpretar correctamente e seguir profissionalmente uma qualquer carreira enquanto violinista.
O método baseia-se na repetição mas não é verdade que seja necessário começar aos 5 anos ou menos. Pode-se começar mais tarde e até pode ser utilizado em adultos. É um método que se foi aperfeiçoando e que nas suas versões mais recentes incorpora muitas das técnicas clássicas sobretudo a partir de um nível em que efectivamente isso faz sentido. É um método que essencialmente elimina as dificuldades dos primeiros passos tornando a aprendizagem menos solitária (através de aulas de grupo regulares) e menos competitiva (incentivando a colaboração entre alunos). É um método que procura resolver no caso do Violino a relação com o instrumento numa posição pouco natural. Não é a única forma de começar? Não, não é. Será a melhor? Não sei. Mas sei que, por ter experimentado a forma clássica, pelo menos pior não será.
Sei também que todas as afirmações quanto aos vícios introduzidos são falsas. E sei-o por vários exemplos que conheço. E note-se que o método não tem por pretensão criar profissionais e que muitas vezes as crianças ou adolescentes que o querem fazer após a fase de iniciação passam a utilizar métodos mais clássicos - sem qualquer problema.
Em resumo a história de vida de Shinichi Suzuki pode até ter sido diferente da que ele contou. Não é por isso que não deixou de verdadeiramente ter inventado uma forma diferente e eficaz de democratizar o ensino do violino. Colocar num titulo de um artigo "Violin teacher Suzuki is the biggest fraud in music history, says expert" é simplesmente péssimo jornalismo.
Esta semana leio no dia 25 de Outubro este artigo do teoricamente insuspeito Telegraph. O meu primeiro comentário relativamente a esta noticia é que fica provado que o problema do mau jornalismo não se encontra limitado a Portugal. E explico a razão deste meu comentário que me perdoem os meus amigos jornalistas (e são alguns).
O problema com este artigo é que se coloca ao serviço dos que sempre atacaram o método desta vez colocando em causa o passado do Suzuki como se isso justificasse de alguma forma o mérito ou demérito do método quando nada no que é ensinado hoje em dia depende efectivamente desse passado. Ou seja nem sequer quero por em causa a veracidade ou falsidade da fonte citada, o facto é que se se utiliza esse argumento para colocar em causa a validade do método então diria eu que já que o infeliz japonês já não se pode defender caberia ao jornalista tentar perceber se realmente o facto relatado influi ou não no que é ensinado. Não o fazendo está a prestar um péssimo serviço.
Deixem-me assim resolver o problema por ele (Telegraph desde já fica concedida a autorização para utilizarem este texto se assim desejarem).
Como dizia em 2009 a polémica relativamente ao método sempre existiu. Sempre os puristas acusaram o mesmo de produzir autómatos sem sensibilidade musical nenhuma e sempre existiram várias teorias sobre os danos futuros do mesmo - ou seja quem por ele aprendesse seria incapaz de mais tarde interpretar correctamente e seguir profissionalmente uma qualquer carreira enquanto violinista.
O método baseia-se na repetição mas não é verdade que seja necessário começar aos 5 anos ou menos. Pode-se começar mais tarde e até pode ser utilizado em adultos. É um método que se foi aperfeiçoando e que nas suas versões mais recentes incorpora muitas das técnicas clássicas sobretudo a partir de um nível em que efectivamente isso faz sentido. É um método que essencialmente elimina as dificuldades dos primeiros passos tornando a aprendizagem menos solitária (através de aulas de grupo regulares) e menos competitiva (incentivando a colaboração entre alunos). É um método que procura resolver no caso do Violino a relação com o instrumento numa posição pouco natural. Não é a única forma de começar? Não, não é. Será a melhor? Não sei. Mas sei que, por ter experimentado a forma clássica, pelo menos pior não será.
Sei também que todas as afirmações quanto aos vícios introduzidos são falsas. E sei-o por vários exemplos que conheço. E note-se que o método não tem por pretensão criar profissionais e que muitas vezes as crianças ou adolescentes que o querem fazer após a fase de iniciação passam a utilizar métodos mais clássicos - sem qualquer problema.
Em resumo a história de vida de Shinichi Suzuki pode até ter sido diferente da que ele contou. Não é por isso que não deixou de verdadeiramente ter inventado uma forma diferente e eficaz de democratizar o ensino do violino. Colocar num titulo de um artigo "Violin teacher Suzuki is the biggest fraud in music history, says expert" é simplesmente péssimo jornalismo.
domingo, 26 de outubro de 2014
Shostakovich - Concerto para Violino nº1 em Lá Menor (Op. 77)
Pode hoje parecer estranho de uma obra abstracta (e voltamos ao tema de ontem) mas a verdade é que este concerto não foi interpretado durante mais de 10 anos devido ao receio do compositor que o mesmo fosse julgado revisionista pelo regime de Estaline e literalmente condenasse o compositor à morte (e literalmente é mesmo literalmente).
A verdade é que o concerto foi composto pouco após a segunda guerra mundial entre 1947 e 1948 tendo apenas sido estreado a 29 de Outubro de 1955 tendo por solista David Oistrakh a quem a obra tinha sido dedicada e que colaborou intensamente com o compositor em várias alterações e revisões. A honra da direcção de Orquestra coube a Yevgeny Mravinsky que dirigiu a Filarmónica de Leninegrado. O concerto foi muito bem recebido sendo que a história ainda lhe haveria de conceder mais um papel.
As relações entre os Estados Unidos e a Russia estavam a conhecer em 1953 (consequência eventual da morte de Estaline em 1953) um bom período tanto que Oistrakh foi autorizado a fazer uma tournée aos Estados Unidos onde iria tocar com algumas orquestras americanas que se disputaram o privilégio de estrear - precisamente este concerto para Violino. Essa interpretação foi transmitida pela rádio e gravada sendo neste momento possível ouvir um extracto de cerca de 4 minutos no site dos Arquivos da Filarmónica de Nova Iorque (o final e o inicio do aplauso final). Orquestra dirigida por Dimitri Mitropoulos. O programa dessa série de concertos está disponível sendo interessante a dscrição que faz da obra e que seguimos de seguida. Notem em primeiro lugar que tanto neste programa como em muitas outras referências este concerto é numerado como sendo o Opus 99. Isto tem por causa obviamente o tempo decorrente entre a composição e a publicação e interpretação. Shostakovich em vida preferiu não arriscar e conservadoramente manteve essa numeração. Musicalmente faz muito mais sentido incluir este concerto com uma numeração mais próxima da original.
O concerto rompe com a tradição clássica do concerto ao ter sido concebido em quatro andamentos (em vez dos tradicionais três).
1º Andamento Nocturne: Moderato – Um discurso baseado em dois temas, um lamento em que por vezes paira Beethoven por outras Mahler. Um andamento numa forma de Sonata muito modificada quase livre. Um andamento que cresce de um lamento para um "grito"dramático num crescendo que não vos deixará indiferentes. Aliás posso dizer-vos que foi exactamente este concerto e este andamento que um dia na Gulbenkian há uns anos me fez mudar de opinião de forma radical relativamente a Schostakovich.
2º Andamento Scherzo: Allegro – Neste andamento pela primeira vez podemos ouvir o motivo DSCH embora de forma quase ocasional. Esta parte da composição caracteriza-se por um ritmo verdadeiramente frenético sendo muitas vezes apelidado de "diabólico".
3º Andamento Passacaglia: Andante – Cadenza (attacca) – Talvez o andamento mais conhecido do concerto e aquele que permite ao solista uma maior expressividade. O andamento termina com uma condução directa ao ultimo andamento (é esse o significado da expressão "attacca" mecanismo utilizado para manter o ambiente criado).
4º Andamento Burlesque: Allegro con brio – Presto – Um andamento também muito rítmico como aliás uma grande parte do concerto uma verdadeira dança campestre porém com o acido tipico de Schostakovich.
Sendo a obra dedicada a David Oistrakh obviamente apenas poderíamos recomendar uma interpretação deste violinista. A que vos mostramos de 1956 não está disponível da sua totalidade (embora exista uma gravação em disco da mesma e uma gravação feita em estúdio no dia seguinte) mas felizmente podemos encontrar um magnifico vídeo de um concerto em Berlim (1967) com Oistrakh e a Staatskapelle Berlin dirigida por Heinz Fricke.
A verdade é que o concerto foi composto pouco após a segunda guerra mundial entre 1947 e 1948 tendo apenas sido estreado a 29 de Outubro de 1955 tendo por solista David Oistrakh a quem a obra tinha sido dedicada e que colaborou intensamente com o compositor em várias alterações e revisões. A honra da direcção de Orquestra coube a Yevgeny Mravinsky que dirigiu a Filarmónica de Leninegrado. O concerto foi muito bem recebido sendo que a história ainda lhe haveria de conceder mais um papel.
As relações entre os Estados Unidos e a Russia estavam a conhecer em 1953 (consequência eventual da morte de Estaline em 1953) um bom período tanto que Oistrakh foi autorizado a fazer uma tournée aos Estados Unidos onde iria tocar com algumas orquestras americanas que se disputaram o privilégio de estrear - precisamente este concerto para Violino. Essa interpretação foi transmitida pela rádio e gravada sendo neste momento possível ouvir um extracto de cerca de 4 minutos no site dos Arquivos da Filarmónica de Nova Iorque (o final e o inicio do aplauso final). Orquestra dirigida por Dimitri Mitropoulos. O programa dessa série de concertos está disponível sendo interessante a dscrição que faz da obra e que seguimos de seguida. Notem em primeiro lugar que tanto neste programa como em muitas outras referências este concerto é numerado como sendo o Opus 99. Isto tem por causa obviamente o tempo decorrente entre a composição e a publicação e interpretação. Shostakovich em vida preferiu não arriscar e conservadoramente manteve essa numeração. Musicalmente faz muito mais sentido incluir este concerto com uma numeração mais próxima da original.
O concerto rompe com a tradição clássica do concerto ao ter sido concebido em quatro andamentos (em vez dos tradicionais três).
1º Andamento Nocturne: Moderato – Um discurso baseado em dois temas, um lamento em que por vezes paira Beethoven por outras Mahler. Um andamento numa forma de Sonata muito modificada quase livre. Um andamento que cresce de um lamento para um "grito"dramático num crescendo que não vos deixará indiferentes. Aliás posso dizer-vos que foi exactamente este concerto e este andamento que um dia na Gulbenkian há uns anos me fez mudar de opinião de forma radical relativamente a Schostakovich.
2º Andamento Scherzo: Allegro – Neste andamento pela primeira vez podemos ouvir o motivo DSCH embora de forma quase ocasional. Esta parte da composição caracteriza-se por um ritmo verdadeiramente frenético sendo muitas vezes apelidado de "diabólico".
3º Andamento Passacaglia: Andante – Cadenza (attacca) – Talvez o andamento mais conhecido do concerto e aquele que permite ao solista uma maior expressividade. O andamento termina com uma condução directa ao ultimo andamento (é esse o significado da expressão "attacca" mecanismo utilizado para manter o ambiente criado).
4º Andamento Burlesque: Allegro con brio – Presto – Um andamento também muito rítmico como aliás uma grande parte do concerto uma verdadeira dança campestre porém com o acido tipico de Schostakovich.
Sendo a obra dedicada a David Oistrakh obviamente apenas poderíamos recomendar uma interpretação deste violinista. A que vos mostramos de 1956 não está disponível da sua totalidade (embora exista uma gravação em disco da mesma e uma gravação feita em estúdio no dia seguinte) mas felizmente podemos encontrar um magnifico vídeo de um concerto em Berlim (1967) com Oistrakh e a Staatskapelle Berlin dirigida por Heinz Fricke.
sábado, 25 de outubro de 2014
A melhor pesquisa da semana - nº1 de 2014 - "Os sentimentos expressos nas sinfonias de Beethoven"
"Os sentimentos expressos nas sinfonias de Beethoven"
Esta é uma boa pesquisa e uma boa questão porque a sua resposta pode ser dada de muitas formas diferentes. Uma das características de uma boa pergunta !
A primeira resposta que pode ser dada é que as Sinfonias de Beethoven são tão grandes quanto a vida. Os sentimentos expressos são nem mais nem menos que todos os que passam por todos e cada um dos seres humanos que existem ou existiram.
Ou então pelo menos eles exprimem os sentimentos de quem as ouve. Serão uma espécie de camaleões reflexivos à anteriori ou à posteriori. Em cada uma das obras de Beethoven poderemos ouvir um reflexo, uma imagem dos nossos sentimentos.
Ora bolas estarão a resmungar. Não é nada disso que o leitor está a perguntar. O que o leitor está a perguntar é "Que significado quis o compositor dar a cada uma das suas sinfonias ou aos andamentos que as compõem". Curiosamente apesar das aparências era essa a questão a que estava a responder.
Para vos explicar porquê terei que relembrar a velha questão sobre a música programática versus musica abstracta. A maioria das obras de música clássica são puramente abstractas ou então têm intenções enunciadas pelos compositores mas que são na maioria dos casos intenções expressas de forma abstracta e portanto susceptíveis de serem lidas de outra forma.
A música programática explicita com excepção das obras onde existe uma componente cantada com lírica é rara. Existem excepções como a Sinfonia Fantástica de Berlioz ou as Quatro Estações de Vivaldi porém mesmo estas na verdade fossem as notas programáticas perdidas e poderíamos muito bem achar que se tratam de obras com intenções totalmente diversas.
Por outras palavras, claro que é útil lerem os textos explicativos que vos entregam no inicio dos concertos ou que publico aqui. Dão à obra um contexto que vos permite uma interpretação diferente mas mais importante do que o conhecimento é sem dúvida é a vontade de ouvirem música. Qualquer música que vos agrade sem grande preocupação pelo que é "suposto" sentir ou exprimir. Seja o que for que sentirem estará correcto.
Tomem como exemplo o Adagio da Sétima Sinfonia de Beethoven com o qual vos deixo. Dificilmente encontrarão um excerto mais pungente e que mais facilmente desperta as mais diferentes emoções: alegria, tristeza, saudade e os mais opostos sentimentos: amor, ódio, calma ou paixão. Pouco importa. O que importa mesmo são os 9 minutos sublimes que podemos repetir tantas vezes quantas quisermos porque nunca são iguais. Como um camaleão reflexivo a obra exprime o que não conseguimos dizer ou apurar.
Esta é uma boa pesquisa e uma boa questão porque a sua resposta pode ser dada de muitas formas diferentes. Uma das características de uma boa pergunta !
A primeira resposta que pode ser dada é que as Sinfonias de Beethoven são tão grandes quanto a vida. Os sentimentos expressos são nem mais nem menos que todos os que passam por todos e cada um dos seres humanos que existem ou existiram.
Ou então pelo menos eles exprimem os sentimentos de quem as ouve. Serão uma espécie de camaleões reflexivos à anteriori ou à posteriori. Em cada uma das obras de Beethoven poderemos ouvir um reflexo, uma imagem dos nossos sentimentos.
Ora bolas estarão a resmungar. Não é nada disso que o leitor está a perguntar. O que o leitor está a perguntar é "Que significado quis o compositor dar a cada uma das suas sinfonias ou aos andamentos que as compõem". Curiosamente apesar das aparências era essa a questão a que estava a responder.
Para vos explicar porquê terei que relembrar a velha questão sobre a música programática versus musica abstracta. A maioria das obras de música clássica são puramente abstractas ou então têm intenções enunciadas pelos compositores mas que são na maioria dos casos intenções expressas de forma abstracta e portanto susceptíveis de serem lidas de outra forma.
A música programática explicita com excepção das obras onde existe uma componente cantada com lírica é rara. Existem excepções como a Sinfonia Fantástica de Berlioz ou as Quatro Estações de Vivaldi porém mesmo estas na verdade fossem as notas programáticas perdidas e poderíamos muito bem achar que se tratam de obras com intenções totalmente diversas.
Por outras palavras, claro que é útil lerem os textos explicativos que vos entregam no inicio dos concertos ou que publico aqui. Dão à obra um contexto que vos permite uma interpretação diferente mas mais importante do que o conhecimento é sem dúvida é a vontade de ouvirem música. Qualquer música que vos agrade sem grande preocupação pelo que é "suposto" sentir ou exprimir. Seja o que for que sentirem estará correcto.
Tomem como exemplo o Adagio da Sétima Sinfonia de Beethoven com o qual vos deixo. Dificilmente encontrarão um excerto mais pungente e que mais facilmente desperta as mais diferentes emoções: alegria, tristeza, saudade e os mais opostos sentimentos: amor, ódio, calma ou paixão. Pouco importa. O que importa mesmo são os 9 minutos sublimes que podemos repetir tantas vezes quantas quisermos porque nunca são iguais. Como um camaleão reflexivo a obra exprime o que não conseguimos dizer ou apurar.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Concerto para Violoncelo em Si Menor - Dvorak
O ultimo dos concertos para um instrumento solista e Orquestra composto por Dvorak. Na opinião de muitos o melhor concerto de Violoncelo do reportório - pessoalmente estou dividido entre este e o de Shostakovich mas certamente uma das obras que prefiro. Na opinião de muitos a obra prima de Dvorak ainda superior à Nona Sinfonia (dita do Novo Mundo).
O concerto foi escrito entre 1894-1895 para o seu amigo violoncelista Hanus Wihan a quem é dedicado. Porém por razões de comunicação e de agenda a estreia da obra coube a Leo Stern a 19 de Março de 1896 em Londres no Queens Hall concerto dirigido pelo próprio Dvorak. Hanus Wihan acabou por o interpretar apenas em 1899 também sobre a direcção de Dvorak (entretanto várias interpretações desta obra fantástica tinham já ocorrido)
A obra segue o formato tradicional de concerto com um andamento rápido seguido de um andamento lento para no final voltarmos a um andamento rápido. Existem muitas interpretações sobre o significado emocional desta obra, existindo quem veja na mesma uma espécie de despedida na forma de uma autobiografia, outros que pensam que se trata da expressão da saudade e da alegria do regresso à terra natal (quando Dvorak iniciou a composição desta obra estava nos Estados Unidos afastado da mulher).
No nosso entender esta obra pode conter todas estas metáforas e outras tantas que a nossa alma imaginar tal é a riqueza e equilíbrio que revela.
1º Andamento Allegro (Si Menor - Si Maior) : Este andamento contém um dos temas mais facilmente reconhecíveis de Dvorak. Certamente um andamento inspirado pela sua experiência americana, um andamento cheio de energia e alegria, um claro contraponto ao resto do concerto que por razões que veremos é essencialmente triste e nostálgico.
2º Andamento Adagio, ma non troppo (Sol Maior) : Se quanto ao anterior andamento podem subsistir dúvidas quanto ao seu "significado" neste caso estas dúvidas estão totalmente esclarecidas porque é sabido pelas palavras do próprio Dvorak que todo este andamento é dedicado a Josefina o seu primeiro grande amor e irmã de sua mulher com quem se casou após a rejeição da irmã. Uma citação de uma das canções preferidas de Josefina Kéž duch můj sám “Deixa-me Só” aparece, uma expressão da preocupação do compositor que tinha acabado de saber da doença da cunhada.
3º Andamento Allegro moderato – Andante – Allegro vivo (Si Maior - Si Menor) : Este andamento prolonga a homenagem que o compositor faz à sua cunhada tendo já sido composto após o retorno à Checoslováquia e tendo já conhecimento da sua morte. O certo é que Dvorak foi especialmente
Quanto à qualidade e interesse desta obra basta referir o que Brahms disse a seu propósito, algo do género "Ah se eu soubesse que era possível escrever um concerto de Violoncelo destes ... Os Violoncelistas devem estar agradecidos a Dvorak por ter escrito uma obra destas .
A minha interpretação preferida desta obra? Bem mentiria se não vos dissesse que gosto de Rostropovich porém este concerto é um soneto à vida e ao amor e nesse sentido tendo a preferir a interpretação mais suave de Jacqueline Du Pré com a Sinfónica de Chicago dirigida por Daniel Barenboim. E claro que se puderem adquirir a gravação que inclui também o Concerto para Violoncelo de Elgar terão num mesmo disco os dois concertos nos quais esta Violoncelista é para muitos imbatível (no caso de Elgar há maestros que terão dito que sem Jacqueline este concerto - o de Elgar - não é a mesma coisa ... mas isto será outra história).
O concerto foi escrito entre 1894-1895 para o seu amigo violoncelista Hanus Wihan a quem é dedicado. Porém por razões de comunicação e de agenda a estreia da obra coube a Leo Stern a 19 de Março de 1896 em Londres no Queens Hall concerto dirigido pelo próprio Dvorak. Hanus Wihan acabou por o interpretar apenas em 1899 também sobre a direcção de Dvorak (entretanto várias interpretações desta obra fantástica tinham já ocorrido)
A obra segue o formato tradicional de concerto com um andamento rápido seguido de um andamento lento para no final voltarmos a um andamento rápido. Existem muitas interpretações sobre o significado emocional desta obra, existindo quem veja na mesma uma espécie de despedida na forma de uma autobiografia, outros que pensam que se trata da expressão da saudade e da alegria do regresso à terra natal (quando Dvorak iniciou a composição desta obra estava nos Estados Unidos afastado da mulher).
No nosso entender esta obra pode conter todas estas metáforas e outras tantas que a nossa alma imaginar tal é a riqueza e equilíbrio que revela.
1º Andamento Allegro (Si Menor - Si Maior) : Este andamento contém um dos temas mais facilmente reconhecíveis de Dvorak. Certamente um andamento inspirado pela sua experiência americana, um andamento cheio de energia e alegria, um claro contraponto ao resto do concerto que por razões que veremos é essencialmente triste e nostálgico.
2º Andamento Adagio, ma non troppo (Sol Maior) : Se quanto ao anterior andamento podem subsistir dúvidas quanto ao seu "significado" neste caso estas dúvidas estão totalmente esclarecidas porque é sabido pelas palavras do próprio Dvorak que todo este andamento é dedicado a Josefina o seu primeiro grande amor e irmã de sua mulher com quem se casou após a rejeição da irmã. Uma citação de uma das canções preferidas de Josefina Kéž duch můj sám “Deixa-me Só” aparece, uma expressão da preocupação do compositor que tinha acabado de saber da doença da cunhada.
3º Andamento Allegro moderato – Andante – Allegro vivo (Si Maior - Si Menor) : Este andamento prolonga a homenagem que o compositor faz à sua cunhada tendo já sido composto após o retorno à Checoslováquia e tendo já conhecimento da sua morte. O certo é que Dvorak foi especialmente
Quanto à qualidade e interesse desta obra basta referir o que Brahms disse a seu propósito, algo do género "Ah se eu soubesse que era possível escrever um concerto de Violoncelo destes ... Os Violoncelistas devem estar agradecidos a Dvorak por ter escrito uma obra destas .
A minha interpretação preferida desta obra? Bem mentiria se não vos dissesse que gosto de Rostropovich porém este concerto é um soneto à vida e ao amor e nesse sentido tendo a preferir a interpretação mais suave de Jacqueline Du Pré com a Sinfónica de Chicago dirigida por Daniel Barenboim. E claro que se puderem adquirir a gravação que inclui também o Concerto para Violoncelo de Elgar terão num mesmo disco os dois concertos nos quais esta Violoncelista é para muitos imbatível (no caso de Elgar há maestros que terão dito que sem Jacqueline este concerto - o de Elgar - não é a mesma coisa ... mas isto será outra história).
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
O Museu de Instrumentos Musicais de Yale
Hoje começamos uma série de recomendações de visitas virtuais (ou físicas para os mais afortunados) com o Museu de Instrumentos Musicais de Yale. Embora o Museu disponha de secções dedicadas a vários tipos de instrumentos segundo o Museu deve-se distinguir a secção de teclados que embora seja menor em número que outros museus é particularmente interessante pela sua representatividade em todos os géneros e pela qualidade dos instrumentos a maioria dos quais ainda podem ser ouvidos.
Alias o que vos recomendamos é precisamente que na página do Museu escolham a opção de visita à exposição de teclados e depois sigam o guia audio que vos exp
lica a história dos 26 instrumentos seleccionados para a visita guiada.
O interessante nesta visita guiada é que além de podermos conhecer a história do instrumento na forma de um trecho audio com cerca de 2 minutos é ainda possível para os instrumentos que ainda podem ser tocados ouvir um trecho nele interpretado correspondente ao que poderia ser ouvido na época do mesmo.
Entre os 26 escolhemos para ilustrar o que terá sido um dos primeiros pianos correspondente ao tempo de Mozart. A imagem do instrumento que mostramos é um piano austríaco do século XVIII fabricado por Johann Jakob Koennicke.
Alias o que vos recomendamos é precisamente que na página do Museu escolham a opção de visita à exposição de teclados e depois sigam o guia audio que vos exp
lica a história dos 26 instrumentos seleccionados para a visita guiada.
O interessante nesta visita guiada é que além de podermos conhecer a história do instrumento na forma de um trecho audio com cerca de 2 minutos é ainda possível para os instrumentos que ainda podem ser tocados ouvir um trecho nele interpretado correspondente ao que poderia ser ouvido na época do mesmo.
Entre os 26 escolhemos para ilustrar o que terá sido um dos primeiros pianos correspondente ao tempo de Mozart. A imagem do instrumento que mostramos é um piano austríaco do século XVIII fabricado por Johann Jakob Koennicke.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Os palhaços (il Pagliacci)
A única obra de Ruggero Leoncavallo (1857-1919) ainda interpretada nos nossos dias. Hoje aqui invocada por aquilo que se passou algures num campo de futebol na Alemanha onde um pseudo-arbitro ajudado por um jovem que estava junto à linha e que simpaticamente vou chamar de palhaço resolveu ajudar os amigos Russos da Gazprom que por acaso do destino patrocinam a equipa alemã.
Lembrei-me do epíteto palhaço por ser aquele que me autorizo neste blog ... e bom para que fique tudo dentro da música e da santa paz deixo-vos com a minha ária preferida da referida ópera - também para que nos reconciliemos com os palhaços que não têm culpa nenhuma. E sim melhor teria feito a equipa de arbitragem de vestir o traje adequado ...
Lembrei-me do epíteto palhaço por ser aquele que me autorizo neste blog ... e bom para que fique tudo dentro da música e da santa paz deixo-vos com a minha ária preferida da referida ópera - também para que nos reconciliemos com os palhaços que não têm culpa nenhuma. E sim melhor teria feito a equipa de arbitragem de vestir o traje adequado ...
Delibes - Lakmé
Delibes (1836-1891) é um compositor francês que se destingiu essencialmente em obras para bailado ou ópera. Além da obra de que hoje falaremos Delibes é essencialmente conhecido pelo seu bailado Copélia.
Lakmé foi composta entre 1881 e 1882 e estreada no ano seguinte a 14 de Abril pela Ópera Comique na sala Favart em Paris. O libretto de Edmond Godinet e Philippe Gille é baseado em duas obras "Les babouches du Brahamane" de Théodore Pavie e do conto "Le Mariage de Loti" de Pierre Loti. Como era moda na altura a obra centra-se no Oriente trazendo um tema que não é propriamente original: Uma jovem nativa apaixona-se por um oficial que acaba por a abandonar - com o fim trágico que se pode facilmente adivinhar. Mas a banalidade do tema acaba precisamente neste curto resumo porque o resto, tanto o libreto como a música são tudo menos isso.
A ópera foi desde a sua estreia um sucesso imenso para Delibes tendo atingido mais de 1000 interpretações antes do inicio da Segunda Guerra Mundial.
Poderão estar a pensar: Não conheço. Enganam-se. Esta ópera em três actos contem pelo menos duas passagens que é impossível não terem ouvido já uma boa centena de vezes, no mínimo. Vamos começar por vos falar do "dueto da flores" que irão certamente reconhecer e que neste caso vos proponho numa versão não encenada de Anna Netrebko e Elina Garanca.
Para quem não domina o francês o suficiente para conseguir perceber o poema aqui fica uma tradução livre (e felizmente isenta da necessidade de métrica) de uma parte do mesmo.
Sobre a espessa cobertura
onde o branco jasmim
se entrelaça à rosa
na margem em flor
rindo pela manhã
Vem! desceremos juntos.
docemente
[...]
A outra ária mais conhecida, a "Canção dos Sinos" é uma referência no que diz respeito ao canto lírico. Desta vez iremos escolher uma gravação histórica da grande Callas.
Onde vai a rapariga índia
filha dos Párias
quando a lua brinca
entre as grandes mimosas
Ela corre no musgo
e não se lembra
que em todo o lado se rejeitam
as filhas dos Párias
[...]
Mas verdadeiramente o que espanta nesta ópera para aqueles de vós que após terem ouvido estes dois excertos tenham essa curiosidade, o que verdadeiramente espanta dizia é a enorme quantidade de melodias que nos parecem absolutamente deliciosas. Obviamente uma obra que se recomenda na sua totalidade.
Lakmé foi composta entre 1881 e 1882 e estreada no ano seguinte a 14 de Abril pela Ópera Comique na sala Favart em Paris. O libretto de Edmond Godinet e Philippe Gille é baseado em duas obras "Les babouches du Brahamane" de Théodore Pavie e do conto "Le Mariage de Loti" de Pierre Loti. Como era moda na altura a obra centra-se no Oriente trazendo um tema que não é propriamente original: Uma jovem nativa apaixona-se por um oficial que acaba por a abandonar - com o fim trágico que se pode facilmente adivinhar. Mas a banalidade do tema acaba precisamente neste curto resumo porque o resto, tanto o libreto como a música são tudo menos isso.
A ópera foi desde a sua estreia um sucesso imenso para Delibes tendo atingido mais de 1000 interpretações antes do inicio da Segunda Guerra Mundial.
Poderão estar a pensar: Não conheço. Enganam-se. Esta ópera em três actos contem pelo menos duas passagens que é impossível não terem ouvido já uma boa centena de vezes, no mínimo. Vamos começar por vos falar do "dueto da flores" que irão certamente reconhecer e que neste caso vos proponho numa versão não encenada de Anna Netrebko e Elina Garanca.
Para quem não domina o francês o suficiente para conseguir perceber o poema aqui fica uma tradução livre (e felizmente isenta da necessidade de métrica) de uma parte do mesmo.
Sobre a espessa cobertura
onde o branco jasmim
se entrelaça à rosa
na margem em flor
rindo pela manhã
Vem! desceremos juntos.
docemente
[...]
A outra ária mais conhecida, a "Canção dos Sinos" é uma referência no que diz respeito ao canto lírico. Desta vez iremos escolher uma gravação histórica da grande Callas.
Onde vai a rapariga índia
filha dos Párias
quando a lua brinca
entre as grandes mimosas
Ela corre no musgo
e não se lembra
que em todo o lado se rejeitam
as filhas dos Párias
[...]
Mas verdadeiramente o que espanta nesta ópera para aqueles de vós que após terem ouvido estes dois excertos tenham essa curiosidade, o que verdadeiramente espanta dizia é a enorme quantidade de melodias que nos parecem absolutamente deliciosas. Obviamente uma obra que se recomenda na sua totalidade.
domingo, 19 de outubro de 2014
Uma das poucas razões pelas quais poderia considerar comprar um IPad
Quem me conhece sabe que dificilmente poderia contemplar a compra de qualquer material da Apple (com a excepção do IPod um produto de que realmente gosto). Porém a Deutsche Grammophon parece empenhada em conseguir mudar a minha opinião.
A razão? Bem duas aplicações uma com uma versão interactiva da minha obra preferida (a Nona Sinfonia de Beethoven) e agora como que para me convencerem definitivamente As Quatro Estações de Vivaldi.
O que é que estas Apps conseguem fazer de assim tão extraordinário que possam vencer a minha aversão natural (de geek mesmo) aos produtos da maçã? Bem nestas aplicações que resultam da parceria entre a Deutsche Grammophon e a Touch Press é possível por exemplo ouvir 4 interpretações da Sinfonia e ainda comparar as quatro "on the fly" mudando interactivamente entre elas, ouvir comentários sincronizados com as execuções ou ainda poder individualizar um instrumento ou naipe além de entrevistas a personalidades como Dudamel ou Gardiner.
Então vão fazer-me esperar muito por uma versão para Android ou querem mesmo que compre um IPad?
A razão? Bem duas aplicações uma com uma versão interactiva da minha obra preferida (a Nona Sinfonia de Beethoven) e agora como que para me convencerem definitivamente As Quatro Estações de Vivaldi.
O que é que estas Apps conseguem fazer de assim tão extraordinário que possam vencer a minha aversão natural (de geek mesmo) aos produtos da maçã? Bem nestas aplicações que resultam da parceria entre a Deutsche Grammophon e a Touch Press é possível por exemplo ouvir 4 interpretações da Sinfonia e ainda comparar as quatro "on the fly" mudando interactivamente entre elas, ouvir comentários sincronizados com as execuções ou ainda poder individualizar um instrumento ou naipe além de entrevistas a personalidades como Dudamel ou Gardiner.
Então vão fazer-me esperar muito por uma versão para Android ou querem mesmo que compre um IPad?
sábado, 18 de outubro de 2014
Ravel - Concerto de piano para a mão esquerda
Quando o pianista austríaco Paul Wittgenstein (1887-1961) perdeu um dos braços na primeira guerra seria difícil imaginar o impacto que este facto teria no reportório para piano. Paul Wittgenstein estava no entanto determinado a prosseguir a carreira de solista que havia começado apenas um ano antes do inicio do conflito.
Utilizando a fortuna da sua família encomendou uma série de concertos para serem interpretados por pianistas que dispusessem apenas da mão esquerda. Entre os concertos encomendados figurava o de Ravel. Wittgenstein não tinha propriamente um feitio fácil e muitos dos concertos recebidos foram rejeitados e nunca interpretados. Sempre pagos mas simplesmente colocados numa gaveta, o que era possível dado ser uma condição de Wittgenstein a exclusividade de interpretação dos mesmos enquanto em vida.
O próprio concerto de Ravel não escapou a alguma polémica entre o compositor e o interprete e a estreia a 5 de Janeiro de 1932 pela Sinfónica de Viena dirigida por Robert Heger continha algumas adaptações que Ravel não aprovava. Temos a sorte de poder ouvir no YouTube uma gravação histórica pelo próprio Wittgenstein de 1937 com a Orquestra do Concertgebouw dirigida por Bruno Walter.
Até essa data Ravel não tinha ainda escrito nenhuma obra de grande dimensão para piano embora tivesse intenção de o fazer, a encomenda de Wittgenstein foi o catalisador para que escrevesse em simultâneo o concerto de que hoje falamos e o muito mais conhecido Concerto em Sol Maior.
Este concerto foi concebido como uma peça num unico andamento que pode ser dividido em três partes que seguem a habitual configuração do concerto "lento-rápido-lento" porém sem a interrupção formal dos andamentos separados.
Inicialmente uma das características que não agradou particularmente a Wittgenstein foi a nítida influência do Jazz já presente em várias composições de Ravel na altura e que neste concerto não deixam de aparecer em vários momentos da peça - especialmente na contribuição da percussão e dos sopros.
O concerto começa com um pianissimo que é quase inaudível interpretado pela orquestra que é depois seguido de uma primeira longa cadenza interpretada pelo piano solo. De novo mais uma das razões de desacordo entre Wittgenstein e Ravel que terá dito a propósito dessa cadenza : "Se quisesse tocar sozinho não teria encomendado um concerto para piano e orquestra". Uma belissima cadenza que introduz o tema principal.
O que é importante notar neste concerto é que a preocupação do compositor em não transformar este concerto numa prova de capacidades técnicas do solista acaba por lhe conferir um tom bastante sombrio pela utilização de uma maior quantidade de sons graves, de certa forma a fronteira normal da mão esquerda do pianista.
Especialmente notável é também a cadenza final onde confluem e são "misturados" todos os temas da obra num memorável crescendo . Deixamos para terminar uma interpretação completa de Jean Efflam Bavouzet com a Orquestra Philharmonia dirigida por Esa-Peka Salonen nas Proms de 2010.
Utilizando a fortuna da sua família encomendou uma série de concertos para serem interpretados por pianistas que dispusessem apenas da mão esquerda. Entre os concertos encomendados figurava o de Ravel. Wittgenstein não tinha propriamente um feitio fácil e muitos dos concertos recebidos foram rejeitados e nunca interpretados. Sempre pagos mas simplesmente colocados numa gaveta, o que era possível dado ser uma condição de Wittgenstein a exclusividade de interpretação dos mesmos enquanto em vida.
O próprio concerto de Ravel não escapou a alguma polémica entre o compositor e o interprete e a estreia a 5 de Janeiro de 1932 pela Sinfónica de Viena dirigida por Robert Heger continha algumas adaptações que Ravel não aprovava. Temos a sorte de poder ouvir no YouTube uma gravação histórica pelo próprio Wittgenstein de 1937 com a Orquestra do Concertgebouw dirigida por Bruno Walter.
Até essa data Ravel não tinha ainda escrito nenhuma obra de grande dimensão para piano embora tivesse intenção de o fazer, a encomenda de Wittgenstein foi o catalisador para que escrevesse em simultâneo o concerto de que hoje falamos e o muito mais conhecido Concerto em Sol Maior.
Este concerto foi concebido como uma peça num unico andamento que pode ser dividido em três partes que seguem a habitual configuração do concerto "lento-rápido-lento" porém sem a interrupção formal dos andamentos separados.
Inicialmente uma das características que não agradou particularmente a Wittgenstein foi a nítida influência do Jazz já presente em várias composições de Ravel na altura e que neste concerto não deixam de aparecer em vários momentos da peça - especialmente na contribuição da percussão e dos sopros.
O concerto começa com um pianissimo que é quase inaudível interpretado pela orquestra que é depois seguido de uma primeira longa cadenza interpretada pelo piano solo. De novo mais uma das razões de desacordo entre Wittgenstein e Ravel que terá dito a propósito dessa cadenza : "Se quisesse tocar sozinho não teria encomendado um concerto para piano e orquestra". Uma belissima cadenza que introduz o tema principal.
O que é importante notar neste concerto é que a preocupação do compositor em não transformar este concerto numa prova de capacidades técnicas do solista acaba por lhe conferir um tom bastante sombrio pela utilização de uma maior quantidade de sons graves, de certa forma a fronteira normal da mão esquerda do pianista.
Especialmente notável é também a cadenza final onde confluem e são "misturados" todos os temas da obra num memorável crescendo . Deixamos para terminar uma interpretação completa de Jean Efflam Bavouzet com a Orquestra Philharmonia dirigida por Esa-Peka Salonen nas Proms de 2010.
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Os insultos e a música clássica
Então acham que na música clássica apenas existem "gentleman" e que o mais grave que um compositor pode dizer de um outro será : "Aquela dissonância pareceu-me um pouco demais" ? Pensem duas vezes ... A arte do insulto tem um refinamento especial ... Escolhemos para tema de hoje uma lista de 21 insultos (dos melhores) compilados pela ClassicFM que comentamos e enriquecemos com links para as músicas ... e um insulto todo nosso! Uma forma para começarem o fim de semana com uma boa gargalhada!
- "Ouvir a 5ª Sinfonia de Vaughan Williams é como observar uma vaca durante 45 minutos" Maldizente: Aaron Compland. Bem temos primeiro de assumir que observar uma vaca durante 45 minutos é aborrecido (o que semeia desde já alguma discordia) para verdadeiramente considerar isto um insulto. Podem julgar sem preconceitos através de uma interpretação recente nos Proms pela Orquestra da Escócia dirigida por Andrew Manze.
- "Gosto da sua ópera. Penso que a vou transformar em música" . Maldizente : Beethoven - O site não referia o alvo da ira do compositor pelo que este insulto perde toda a credibilidade.
- "Que bom que isto não seja música". Maldizente: Rossini a propósito da Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz. Meu caro amigo Rossini, tenha a santa paciência mas essa obra está na nossa lista das 100 melhores músicas clássicas e por isso da próxima vez escolha outro alvo, ok?
- "Ele era uma gárgula de seis pés e meio". Maldizente : Stravinsky a propósito de Rachmaninoff . Bem aqui passamos claramente ao insulto pessoal. Pode-se argumentar em favor de Stravinsky que possivelmente seria verdade ou que na verdade Stravinsky queria apenas referir o carácter carrancudo de Rachmaninoff.
- "Tudo o que precisam para compor como ele é uma grande quantidade de tinta" . Maldizente: Stravisnsky de novo agora a propósito de Messiaen. Stravinsky está até agora no top dos insultos com duas magnificas afirmações. Desta vez não podemos deixar de referir uma certa simpatia por esta "boutade".
- "É a mais insípida e básica paródia do que deve ser a música" Maldizente: Tchaikovsky a propósito de Boris Godunov de Mussorgsky. Bem compreendemos que três horas e meia possam ser difíceis de suportar ... mas nós até gostamos por isso deixamos ao vosso critério numa interpretação dirigida pelo já saudoso Abbado em 1998.
- "É lindo e aborrecido. Muitas peças acabam muito antes do fim". Maldizente: Stravinsky que acaba assim de completar um hattrick. O compositor russo referia-se aqui a obra Theodora de Handel. De novo talvez apenas um problema de paciência, mais de 3 horas e vinte podem ser efectivamente demais ...
- "O equivalente musical da estação de S. Pancras". Maldizente: Sir Thomas Beecham a propósito de Elgar. No domínio portanto do insulto pessoal temos de começar por explicar a frase. Em primeiro lugar a expressão no site da ClassicFM não esclarece que foi proferida a propósito da 1ª Sinfonia de Elgar. O Maestro Thomas Beecham estava assim a referir que a mesma obra seria excessivamente barulhenta ou incongruente do ponto de vista sonoro (como uma estação onde confluem sons dispares).
- "Wagner tem momentos bonitos mas péssimos quartos de hora" . Maldizente : Rossini a propósito de Wagner. Bom segunda aparição de Rossini nesta lista. Sendo uma critica genérica desta vez não iremos contradizer ...
- "Uma banheira de carne de porco e cerveja" . Maldizente : Berlioz a propósito de Handel. Vence até agora de forma destacada o prémio da imagem mais desagradável. Sendo como a anterior uma afirmação sem alvo concreto perde um pouco da sua relevância. Fraquito :-).
- "O público esperava o oceano, algo grande, colossal, Ao invés foi-lhes servido uma chávena de água agitada" . Maldizente: Louis Schneider a propósito de La Mer de Debussy. Bom sendo um critico teremos de dar um desconto mas esta afirmação ganha até agora o prémio da metáfora mais criativa.
- "Ele gosta do que não está polido, do que é inacabado, do que é feio". Maldizente: Tchaikovsky a propósito de Mussorgsky. Segunda aparição de Tchaikovsky nesta lista repetindo o alvo ... Bah ... tinha mais jeito para a música do que para o insulto este Tchaikovsky.
- "Um compositor para uma mão direita" . Maldizente: Wagner a propósito de Chopin. Bom este insulto carece de explicação para o comum dos mortais ganhando por isso até agora o prémio da exclusividade. Pensamos que este comentário se dirige a mítica incapacidade de Chopin para pensar em outra coisa que não fosse na melodia - num piano normalmente a função da mão direita. Chamando a atenção portanto à nulidade da harmonia (num piano a função da mão esquerda) e da orquestração.
- "Dá-me a impressão de ser uma criança mimada" . Maldizente : Clara Schumann a propósito de Liszt.
- "Todos os últimos andamentos de Bach são como uma máquina de costura". Maldizente : Bax a propósito de Bach.
- "Que bastardo sem talento" . Maldizente : Tchaikovsky a propósito de Brahms.
- "Handel é da quarta divisão. Não é sequer interessante". Maldizente : Tchaikovsky a propósito de Handel.
- "Se tivesse feito munições durante a guerra teria sido melhor para a música" . Maldizente: St. Saens a propósito de Ravel.
- "Gostei muito da ópera. De tudo menos da música" . Maldizente: Britten a propósito da ópera de Stravinsky The Rake´s progress.
- "Faria melhor dedicar-se a recolher neve do que a escrevinhar música" Maldizente: Richard Strauss a propósito de Schoenberg
- "Bach nas notas erradas" Maldizente: Prokofiev a propósito de Stravinsky.
Como prometido o 22º insulto (fora do artigo original no qual se baseia este post) e o nosso preferido porque se dirige ao próprio é do grande Johann Sebastian Bach. Dizia ele que "se eu decidir ser idiota serei-o com o meu próprio acorde" ou seja por vontade própria e à minha maneira.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
A música (clássica) é para todos
Na timeline de uma amiga no Facebook pude ver e ouvir recentemente um video de uma pessoa de idade a tocar uma piano na rua de uma cidade. Interpretava uma música de sua autoria dizia-se; daquele piano eram mais que notas que saiam, saía o reflexo de uma alma sofrida certamente mas uma alma que se queria também dar a todos.
Aqui fica o video "original" (o que despertou a vontade de escrever esta história).
Não pude obviamente deixar de tentar descobrir mais e felizmente nos comentários dos vídeos encontrei a informação que necessitava. A pianista e compositora chama-se Natalie Trayling e a cidade é Melbourne. Neste artigo poderão ler a história completa da sua dramática vida. Mãe de quatro filhos dos quais dois faleceram ainda jovens, divorciada do marido acabou por viver algumas temporadas na rua. Vive hoje num quarto de um hotel desde 2004 onde toca regularmente para os hóspedes.
Foi ideia do seu ex-marido comprar-lhe o piano com que a ouvimos tocar no primeiro vídeo. Dizia ele que seria melhor para ela tocar para mais pessoas. E nós concordamos e subscrevemos inteiramente as suas palavras quando diz:
"As crianças vêm ter comigo e pessoas de todos os extractos sociais e formas de vida. Amo estar na rua e sentir que eles devem ouvir a minha música. O que eu sinto quando toco e o que sinto quando estou no meio deles faz-me sentir bem. É algo que não teria numa sala de concertos porque apenas algumas pessoas podem ir até lá. Esta música é para todos".
E é mesmo. A música, clássica ou não, é mesmo para todos. Sem limites. E por isso hoje só posso deixar-vos com um outro amador, um qualquer escolhido ao acaso no You Tube. Um das várias centenas que interpreta uma música de que gosto, de que provavelmente muitos de nós gostamos.
Comptine d´un autre été
Porque a música é para todos, de todos para todos, sem fronteiras e sem limites. Sem embalagens, e sem plástico. Sem industria e sem mediação obrigatória. Ali. Nas ruas de Melbourne, nas nossas ruas mas sobretudo nas nossas almas.
Aqui fica o video "original" (o que despertou a vontade de escrever esta história).
Não pude obviamente deixar de tentar descobrir mais e felizmente nos comentários dos vídeos encontrei a informação que necessitava. A pianista e compositora chama-se Natalie Trayling e a cidade é Melbourne. Neste artigo poderão ler a história completa da sua dramática vida. Mãe de quatro filhos dos quais dois faleceram ainda jovens, divorciada do marido acabou por viver algumas temporadas na rua. Vive hoje num quarto de um hotel desde 2004 onde toca regularmente para os hóspedes.
Foi ideia do seu ex-marido comprar-lhe o piano com que a ouvimos tocar no primeiro vídeo. Dizia ele que seria melhor para ela tocar para mais pessoas. E nós concordamos e subscrevemos inteiramente as suas palavras quando diz:
"As crianças vêm ter comigo e pessoas de todos os extractos sociais e formas de vida. Amo estar na rua e sentir que eles devem ouvir a minha música. O que eu sinto quando toco e o que sinto quando estou no meio deles faz-me sentir bem. É algo que não teria numa sala de concertos porque apenas algumas pessoas podem ir até lá. Esta música é para todos".
E é mesmo. A música, clássica ou não, é mesmo para todos. Sem limites. E por isso hoje só posso deixar-vos com um outro amador, um qualquer escolhido ao acaso no You Tube. Um das várias centenas que interpreta uma música de que gosto, de que provavelmente muitos de nós gostamos.
Comptine d´un autre été
Porque a música é para todos, de todos para todos, sem fronteiras e sem limites. Sem embalagens, e sem plástico. Sem industria e sem mediação obrigatória. Ali. Nas ruas de Melbourne, nas nossas ruas mas sobretudo nas nossas almas.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
De volta à música clássica ... escrita
Bom, faz quase um ano que deixei de escrever neste blog. Uma espécie de sabática motivada não pelo cansaço da música - essa nunca deixou de fazer parte da minha vida - mas porque este blog me lembrava demasiado um tempo a que precisava dar um pouco de distância.
Distância obtida estou de volta para vos continuar a falar da música de que gosto. Porque para todos os recomeços deve existir um símbolo, porque melhor símbolo de distância não haverá certamente, porque tão pouco poderemos encontrar mais perfeita metáfora do reencontro e ainda porque este tema junta duas paixões: a música e a astronomia retomo este blog com um post que vos vai falar do objecto humano mais distante da Terra e o único que homem já fez sair da pequenez do nosso sistema solar: As naves Voyager e em particular o seu disco dourado.
Já por várias vezes vos falei delas (das naves) e muitas vezes (quase tantas) vos mostrei a Gavotte en Rondeau de Bach interpretada por Arthur Grumiaux mas hoje, naquilo que é um recomeço, creio ser mais oportuno mencionar uma outra escolha, o primeiro andamento da Quinta Sinfonia de Beethoven, apelidada "do destino". Do destino porque diz-se se batesse à porta (o dito) assim bateria. Quando assim se fala claro que estamos a pensar naqueles primeiros compassos ...
Do destino é bom mas terminar como começamos - com amor - é provavelmente ainda melhor. E se muitas vezes falamos destes discos dourados e da sua música nunca vos revelamos que estes discos encerram (pelo menos) uma grande história de amor. Na verdade Carl Sagan responsável pela mensagem apaixonou-se durante a gravação dos mesmos por aquela que viria a ser a sua mulher Ann Druyan. Até à gravação Ann e Carl conheciam-se profissionalmente mas um dia Ann que era a directora criativa do projecto descobre excitada a obra que faltava para os discos. Uma canção chinesa com mais de 2.500 anos chamada "Flowing Stream".
Pois foi ao contar ao telefone a Carl Sagan a descoberta que tinha feito que ambos se aperceberam que ... A história poderia ficar por aqui que já seria uma bela história. Porém facto é que ela está agora imortalizada para além do sistema solar. Na verdade alguns dias depois Carl Sagan tem a ideia de gravar as ondas cerebrais de um ser humano na esperança que daqui a uns milhões de anos, se porventura alguma espécie inteligente vier a tomar posse dos discos, essa mesma espécie consiga reformular os pensamentos a partir dessas mesmas ondas.
Ora o que foi gravado foram as ondas cerebrais de Ann Druyan que meditou durante umas horas sobre a natureza humana. Diz Ann que no entanto no final se permitiu uma mensagem pessoal sobre o significado de estar apaixonada. É ou não é uma linda história de amor - a única que verdadeiramente terá neste momento atravessado tempo e espaço ...
Nas palavras de Ann Druyan "Sempre que estou deprimida penso que eles ainda se deslocam a 35.000 milhas por hora, fora do sistema solar no grande mar infinito do espaço interestelar".
Podem ler a história completa aqui
Distância obtida estou de volta para vos continuar a falar da música de que gosto. Porque para todos os recomeços deve existir um símbolo, porque melhor símbolo de distância não haverá certamente, porque tão pouco poderemos encontrar mais perfeita metáfora do reencontro e ainda porque este tema junta duas paixões: a música e a astronomia retomo este blog com um post que vos vai falar do objecto humano mais distante da Terra e o único que homem já fez sair da pequenez do nosso sistema solar: As naves Voyager e em particular o seu disco dourado.
Já por várias vezes vos falei delas (das naves) e muitas vezes (quase tantas) vos mostrei a Gavotte en Rondeau de Bach interpretada por Arthur Grumiaux mas hoje, naquilo que é um recomeço, creio ser mais oportuno mencionar uma outra escolha, o primeiro andamento da Quinta Sinfonia de Beethoven, apelidada "do destino". Do destino porque diz-se se batesse à porta (o dito) assim bateria. Quando assim se fala claro que estamos a pensar naqueles primeiros compassos ...
Do destino é bom mas terminar como começamos - com amor - é provavelmente ainda melhor. E se muitas vezes falamos destes discos dourados e da sua música nunca vos revelamos que estes discos encerram (pelo menos) uma grande história de amor. Na verdade Carl Sagan responsável pela mensagem apaixonou-se durante a gravação dos mesmos por aquela que viria a ser a sua mulher Ann Druyan. Até à gravação Ann e Carl conheciam-se profissionalmente mas um dia Ann que era a directora criativa do projecto descobre excitada a obra que faltava para os discos. Uma canção chinesa com mais de 2.500 anos chamada "Flowing Stream".
Pois foi ao contar ao telefone a Carl Sagan a descoberta que tinha feito que ambos se aperceberam que ... A história poderia ficar por aqui que já seria uma bela história. Porém facto é que ela está agora imortalizada para além do sistema solar. Na verdade alguns dias depois Carl Sagan tem a ideia de gravar as ondas cerebrais de um ser humano na esperança que daqui a uns milhões de anos, se porventura alguma espécie inteligente vier a tomar posse dos discos, essa mesma espécie consiga reformular os pensamentos a partir dessas mesmas ondas.
Ora o que foi gravado foram as ondas cerebrais de Ann Druyan que meditou durante umas horas sobre a natureza humana. Diz Ann que no entanto no final se permitiu uma mensagem pessoal sobre o significado de estar apaixonada. É ou não é uma linda história de amor - a única que verdadeiramente terá neste momento atravessado tempo e espaço ...
Nas palavras de Ann Druyan "Sempre que estou deprimida penso que eles ainda se deslocam a 35.000 milhas por hora, fora do sistema solar no grande mar infinito do espaço interestelar".
Podem ler a história completa aqui
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