domingo, 30 de junho de 2013

Rir num concerto de música clássica

A pergunta colocada pelo texto de apresentação do concerto "Clássicos são os trapos" é precisamente essa. E se pudéssemos rir num concerto de música clássica ? Pois não sei logo vos direi. Como já vos mostrei aqui por várias vezes é perfeitamente possível juntar humor e música clássica. Aliás bom humor e boa música clássica. Veremos ... Daqui a pouco, às 21h no Teatro da Malaposta em Odivelas.

Cesar Franck - Sonata para Violino e Piano

A semana passada como sabem os leitores mais atentos pude ouvir de novo esta sonata interpretada por dois jovens músicos, numa excelente interpretação aliás. Esta obra é uma das minhas preferidas e parece por isso estranho que nunca tenha na verdade falado detalhadamente acerca dela. Hoje é o dia até porque fazendo parte da minha lista das 100 Obras chegamos quase a esse ponto (a Traviatta de Verdi seria primeiro mas hoje apetece-me falar desta belíssima sonata).

Foi composta em 1886 e contrariamente ao que por vezes se diz não foi composta especificamente para Ysaye e muito menos para o seu casamento. É verdade que foi dedicada a esse fabuloso violinista e compositor, é verdade que foi oferecida como presente de casamento e é ainda verdade que a primeira interpretação não pública teve lugar na véspera do casamento de Ysaye. O que se passou na verdade foi que Cesar Franck não tinha um destinatário especifico para a sonata. Foi a pianista Marie Lontine amiga de ambos que sugeriu a dedicatória. O casamento e oferta surgiu quase como por acaso. Este facto está relativamente bem documentado com a carta de resposta de Cesar Franck ao pedido de Lontine (em inglês aqui porque a fonte que consultei para escrever este texto é inglesa)

"You are asking me, dear Madame, to dedicate the sonata to Ysaÿe. I will do so with great pleasure, not having promised it yet to anybody else, and I will be very happy to give it under the advocacy of such an artist"

O casamento teve lugar a 26 de Setembro sendo a primeira interpretação publica da Sonata a 16 de Dezembro desse ano em Bruxelas num recital composto exclusivamente com obras de César Franck. Um longo recital - conta a história que a sonata esteve quase para não ser interpretada dado o facto de estar já a faltar a luz natural e os responsáveis do local (Musée Moderne de Peinture) não autorizarem nenhuma forma de iluminação não natural. Os interpretes foram nem mais nem menos que o próprio Ysaye e a pianista Marie Lontine. Ysaye nunca mais deixou de interpretar esta sonata sendo o grande responsável pelo facto da mesma fazer hoje parte do reportório de violino.

Quanto à sonata propriamente dita é claramente típica do período romântico e em particular da escola francesa. Aliás em muitos pontos a obra é uma espécie de resposta cultural franco-belga ao domínio germânico e à humilhante derrota militar de Sadowa em 1871. Fortemente inspirada em Liszt no que diz respeito à forma cíclica os 4 andamentos a sonata começa com um Allegretto ben Moderato totalmente poético com várias mudanças de andamento que contribuem para uma verdadeira montanha russa de sentimentos opostos e que termina num misterioso final. escolhemos para vos mostrar esta obra um representante da escola franco-belga de violino por razões óbvias: Christian Ferras ao violino com Pierre Barbizet no piano.



O segundo andamento (Allegro) é muitas vezes visto como o inicio verdadeiro da obra sendo o primeiro andamento então visto como uma introdução particularmente longa. de certa forma do ponto de vista formal esta análise é reforçada por este andamento ser na verdade uma forma sonata mais convencional - como é usual na forma sonata do período romântico ao invés do primeiro andamento. No que me  diz respeito não concordo muito com essa análise dado que a saída de uma forma de sonata tradicional foi explicitamente desenhada por Franck sendo que o primeiro andamento faz muito mais do que apenas "introduzir". Este segundo andamento é absolutamente frenético sem tanta variação de andamento como o primeiro.




Depois do energético segundo andamento o terceiro andamento marcado como recitativo - fantasia é um andamento lento que recupera a forma do concerto barroco e clássico (andamento rápido - lento - rápido). Um repouso merecido e necessário tanto para o executante como para o ouvinte que precisa de fôlego espiritual. Uma espécie de Lied em três partes




Por fim no quarto andamento marcado como um Allegreto poco mosso é uma espécie de Rondo aproveitando material dos anteriores andamentos numa perfeita forma cíclica que dá unidade à obra. Dizemos uma espécie de Rondo porque na verdade é mais uma forma livre do que propriamente um Rondo mas ... É esta forma livre inovadora e cujo único objectivo é exactamente a sensação de unidade e de resolução que transmite que faz desta obra uma das minhas preferidas.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Guilhermina Suggia nasceu há 128 anos !


A violoncelista Guilhermina Suggia nasceu há 128 anos. Certamente a melhor violoncelista portuguesa de sempre e um dos melhores instrumentistas portugueses de sempre. Como sempre neste blog celebramos com música este aniversário.

Mas antes deixem-me recomende que leiam o conjunto de posts que escrevemos com uma biografia da talentosa violoncelista.

Guilhermina Suggia (1885-1950)


Para quem não queira ler a biografia aqui fica uma gravação de 1927 de Kol Nidrei de Max Bruch.


quarta-feira, 26 de junho de 2013

Aniversário de Claudio Abbado

O maestro Claudio Abbado faz hoje 80 anos. Sem grandes dúvidas um dos maiores maestros vivos queremos recordar-vos o maestro numa entrevista que atesta a sua simplicidade. Não sei se o devo chamar maestro diz o entrevistador. Não de todo, eu sou Cláudio responde Abbado.




Maestro das mais variadas grandes orquestras do Mundo escolhemos para ilustrar este post de comemoração o magnifico trabalho que fez (faz) com a Orquestra Sinfónica Juvenil de Mahler numa interpretação notável da nona mas não temais que não é certamente prenuncio de despedida.


A Sinfónica Juvenil fez Quarenta Anos

Estive ontem no concerto no São Luís que comemorou os 40 anos da Sinfónica Juvenil. Além da festa que celebra o aniversário da forma mais relevante - precisamente com música - gostaria apenas de destacar três pontos.

Em primeiro lugar os solistas que também eles jovens não deixaram de dar brilho à festa. Manuel Abecassis com o primeiro andamento do concerto para Violino de Glazunov a mais introspectiva das obras interpretadas, Pedro Silva no primeiro andamento do concerto para Violoncelo de Dvorack e por fim Josefina Fernandes no segundo e terceiro andamentos do concerto para Violino de Tchaikovsky que todos conhecemos.

Em segundo lugar a orquestra que como Vitor Mota referiu tem vindo a consecutivamente desempenhar um papel importante na formação de várias gerações de músicos. A Sinfónica Juvenil é hoje juntamente com a Orquestra Gulbenkian a mais antiga Orquestra permanente com actividade no nosso país.

Por fim gostaria de citar o secretário de estado da cultura que estando presente no concerto aceitou dizer umas palavras. Poderiam ter sido palavras de circunstância mas não foram. Bem sabemos que em politica o que é hoje verdade passa amanhã a ser preterido e esquecido ao som de um sol maior qualquer de um sound byte ouvido em outras músicas mas ainda assim se tanto mal dizemos por uma vez que digamos bem de umas sábias palavras. Disse o secretário de estado da cultura : "O dinheiro gasto nesta orquestra tem sido bem empregue". Que não se esqueçam estas sábias palavras, que não se esqueçam ...

E para terminar com música oiçam as obras ontem interpretadas - por outros artistas mas ainda assim para ficarem com uma ideia.






Telemann (1681-1767)

Ontem dia 25 de Junho fez 246 anos que faleceu Georg Telemann um dos compositores mais representativos do período barroco e em vida certamente mais conhecido e respeitado que Bach. Infelizmente no século XIX a sua popularidade diminuiu em grande parte porque tendo composto um grande número de obras foi tal como Vivaldi colocado na categoria daqueles que compunham "em série" o que face  à concepção da época romântica preocupada na integridade da obra e na originalidade era um pecado mortal.

Na nossa lista 100 de obras incluímos uma deste enorme compositor que importa conhecerem melhor. Ouçam Tafelmusik e certamente concordarão.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma tarde e noite no São Carlos (Segunda Parte)

Ontem foi uma verdadeira maratona de música. Quais os momentos do dia ? Bom uma excelente interpretação da Morte e a Donzela no espaço da Maquinaria do São Carlos (pena a acústica fazer perder um pouco da tensão dramática da obra), uma inesquecível interpretação da Sonata de Cesar Franck - como sabem é uma das minhas preferidas - parabéns Bernardo Aguiar! Acho que de todas as interpretações que ouvi ao vivo a tua foi a melhor. O concerto para Violoncelo em Dó Maior de Haydn tenho apenas de vos dizer esteve ao nível  de uma qualquer sala de concertos em qualquer lugar do mundo e por fim no espectáculo da noite a homenagem a dançarina Graça Barroso recentemente falecida.

Sobre as obras que referi ainda hoje voltarei ao tema mas para terminar desde já com alguma música perdoem-me mas hoje será com Edith Piaf. Mon Dieu.

domingo, 23 de junho de 2013

Uma Tarde no São Carlos

Hoje à tarde estarei no São Carlos para ouvir vários recitais e concertos da Escola de Música do Colégio Moderno a que se juntam alguns músicos profissionais. Sei que está tempo de praia mas se puderem passem pelo São Carlos. A receita reverte inteiramente a favor do Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria especificamente para o Centro Ambulatório Pediátrico que estão a tentar construir.

Destaco entre outras obras do programa o Concerto para Violoncelo de Haydn às 19h no Salão Nobre sendo solista Pavel Gomziakov que será acompanhado pelo Concerto Moderno dirigido por César Viana
Um pouco mais cedo, às 16:15 na sala da Maquinaria o Quarteto "A Morte e a Donzela" de Schubert e às 18h uma das minhas sonatas preferidas, a de Cesar Franck com Bernardo Aguiar no Violino e Jill Lawson ao piano.

Podem ler aqui o programa completo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Dia Mundial da Música com a Deutsche Grammophon

Hoje é o dia Mundial da Música. Não existe melhor forma de a celebrar do que precisamente - com música !!! Ora precisamente hoje e por causa deste dia especial a Deutsche Grammophon está a oferecer um conjunto de downloads de música que nos permitirão festejar correctamente. Nada menos nada mais do que vários andamentos de várias obras de Beethoven. Basta estar registado no site ... Vão ao site e divirtam-se. Só para aguçar o apetite e não ficar este post sem música, seria um verdadeiro contra-senso posso dizer-vos que uma das gravações oferecidas é o quarto andamento da Nona de Beethoven, uma gravação histórica de 1958 - a primeira gravação em stéreo da obra - com a Filarmónica de Berlim dirigida por Ferenc Fricsay e um elenco de luxo entre os quais Dieskau (Baritono).



Se puderem não se esqueçam de também ouvirem hoje música ao vivo ... porque já sabem que ao vivo é outra coisa ...

A propósito disto quem tem um IPad não pode mesmo perder a App da mesma editora com uma nova visão sobre a nona. Absolutamente fantástico! Para quem gosta de música é mesmo a não perder!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Festival de Música em Montalegre (Verão de 2013)

Como já é tradição neste blog recomenda-se esta actividade para os mais jovens. Uma grande experiência, uma semana intensa, enfim certamente tempo que não esqueceram. Se o vosso filho estiver a aprender um instrumento não hesitem em considerar esta hipótese. Recomenda-se !

domingo, 16 de junho de 2013

10 Posts sobre os nocturnos de Chopin

Na nossa revisão das 100 obras que recomendo que vamos tentar finalizar até ao final deste mês (porque começaremos então um novo desafio ... uma nova lista por assim dizer) reparamos que a entrada sobre os Nocturnos ainda não tinha sido completada embora tivéssemos feito uma sequência de 10 posts sobre eles. Resolvemos assim para vossa conveniência reunir os 10 posts num único índice com um pequeno comentário sobre cada um deles sempre que justificado.


  1. Post nº1 : Nocturno nº1 com um link para uma interpretação de Maria João Pires (o nocturno nº1 faz parte do Op. 9 juntamente com o nº2 e nº3 de que por acaso praticamente não falamos.
  2. Post nº 2: Op. 15 - Nocturnos 4 a 6
  3. Post nº 3 : Op. 27 - Nocturnos 7 e 8
  4. Post nº 4 : Op. 32 - Nocturnos 9 e 10
  5. Post nº5 : Op. 37 - Nocturnos 11 e 12
  6. Post nº 6 : Op. 48 - Nocturnos 13 e 14
  7. Post nº7 : Op. 55 - Nocturnos 15 e 16
  8. Post nº 8: Op. 62 - Nocturnos 17 e 18 - Com um poema de Prevert - Sables Mouvants como extra ou complemento se preferirem.
  9. Post nº 9 : Op. 72- Nocturno 19 (o primeiro dos póstumos)
  10. Post nº 10 : Nocturnos nº 20 e nº 21 ambos também póstumos. 

sábado, 15 de junho de 2013

Com a televisão também acabaram algumas orquestras ligadas à Emissora Grega

Dizem que não existe lugar para a música. Sim comecemos a produzir que nem uns loucos bens de consumo inúteis que ninguém poderá comprar, serviços de que ninguém poderá usufruir mas produza-se sempre mais. Vamos fazer crescer a economia até ao sol. Façamos como Ícaro mesmo e esqueçamos que as coisas têm propósitos e pressupostos. Esqueçamos o bom senso e a própria razão de existir ao som dos soundbytes de um crescimento abstracto e que nos levará apenas a uma repartição de riqueza mais injusta.

Deixemos que a música volte a ser o privilégio de alguns que nós não precisamos dela. Não há lugar para orquestras e músicos, cigarras e outros artistas. É só produzir o que precisamos. Mais e mais produtos. Não ousem perguntar para quem ou porquê porque serão de imediato considerados perigosos esquerdistas revolucionários. Não o que fazem bem em fazer é retorquir de imediato: Abaixo esses malandros que vivem à conta dos nossos impostos sem fazerem nada a não ser rasparem uns arcos numas cordas. Isso sim garante-vos popularidade.

Não tenho a certeza como já disse aqui que um modelo totalmente subsidiado para as orquestras seja a solução. Tenho até bastantes dúvidas. Porém uma coisa é certa. Que é pungente este ultimo concerto lá isso é. Da mesma forma que não tenho certeza relativamente ao modelo que referia também abomino a justificação simplista que ironicamente enfatizava.

Will that be all ?


sexta-feira, 14 de junho de 2013

A semana passada foi semana de Diapason

Desta vez o tema de capa é uma interessantíssima entrevista com Nikolaus Harnoncourt o famoso maestro e musicólogo fundador do ensemble Consentus Musicus e pai (ou pelo menos um dos progenitores) da música de época ou interpretada em instrumentos de época.

Da entrevista - que é uma revisão da vida do maestro - gostaria de realçar alguns pontos que achei especialmente interessantes. O primeiro tem a ver com o complemento que o maestro fornece da sua famosa frase "a música barroca fala a música romântica pinta". Diz ele que sim ainda pensa assim mas que mais importante para ele é que as coisas nunca são "claras". Tudo se mistura, tudo muda. termina a resposta dizendo que quando "retoma" uma obra nunca a retoma verdadeiramente é sempre como se fosse a primeira vez.

A outra frase que achei interessante está relacionado com a Quinta de Beethoven que por acaos tenho ouvido muitas vezes ultimamente. Diz Harnoncourt que esta é a única obra de Beethoven que tem verdadeiramente alguma coisa a ver com politica. A este propósito proponho-vos um ensaio da Quinta com o maestro e a Simon Bolivar, reparem na atitude de Dudamel já agora.



O outro assunto interessante abordado pelo maestro é precisamente o facto de achar que é necessário explicar aos músicos o que estão a tocar porque senão não vale a pena. Não basta tocar bem é preciso perceber para interpretar. Se ouvirem toda a master class anterior podem perceber totalmente a importância que o maestro dá a esse aspecto.

Por fim sem mais comentários uma frase que subscrevo inteiramente e que reproduzo o mais fielmente que consigo: " Hoje não se ensina às crianças o esforço de se tornarem humanos. Ensinamos-lhe apenas a ganhar dinheiro. Ganhar, Tomar, Ter. Isso chega."

Para terminar este post com música teria de ser Bach claramente e o seu Concentus Musicus (atenção que a afinação é mesmo diferente, os mais habituados podem estranhar).


quinta-feira, 13 de junho de 2013

O que Vasco Palmeirim NÃO explica

Não sei ao certo o que me deixa mais triste neste anuncio da Zon. Se a absoluta falta de respeito da Zon por quem gosta de Ópera se o facto de se achar normal que alguém tenha a falta de respeito pela namorada (e já agora pelo resto do público e artistas) para se distrair com outra coisa enquanto está numa sala de concertos com o mesmo a decorrer ou se por fim ainda o que este anuncio demonstra do que se pensa hoje das relações humanas: não gostar de um género musical não tem por si nada de errado. Considerar "um frete", "uma estopada" ou uma "seca" acompanhar a namorada é que perdoem-me os mais modernos não entra no meu conceito de relação.

Por isso já decidi: É isso que me deixa mais triste ... a falta de respeito demonstrada à namorada, mesmo sem falar no comentário estúpido e no mal entendido sem piada alguma. Era bem feito que tivesses sido apanhado e levasses uma valente estalada. É a fingir? Pois a estalada também seria ...

Caros criativos que imaginaram este spot espero sinceramente que sejam convidados pelas vossas namoradas e namorados frequentemente para várias estopadas ou secas. Que vos fique como castigo e como lição para os valores que transmitem. Alias melhor ainda lembrem-se de Ogilvy e das sábias palavras e num dia que estiverem com a vossa mãe num qualquer evento cultural que não apreciem particularmente lembrem-se dessas palavras.

Quanto ao resto Vasco, eu até me costumo rir com os teus sketches na Comercial mas ao te prestares a esta triste figura desceste uns pontos na minha consideração. Não era necessário e teria muito mais piada de muitas outras formas. Má criação e má educação desta vez estiveram juntas. Fica o video para todos podermos deitar a língua de fora.



Ah ... a propósito podes dizer à tua namorada que sempre que quiser pode convidar-me para a Opera. Eu aprecio tanto a companhia quanto o espectáculo. Faço-te esse favor sem problema. Fica bem.

PS: O Video aparentemente foi retirado pela Zon num acesso de bom gosto. É melhor retirar do que manter melhor seria nunca o terem feito. Fica o post e o espaço em negro para memória futura. Pensando bem o negro conjuga bem com o que era o vídeo. A propósito o caro leitor que não gostou podia ser mais explicito e deixar um comentário. Não gostou que eu fizesse pouco do Palmeirim ou não gostou do spot?

Ginette Neveu, Edith Piaf e os Açores

Ginette Neveu (1919-1949)  foi uma violinista francesa daqueles casos "criança prodígio" sendo conhecida pelo som impecável e uma interpretação cheia de sensibilidade. Com apenas 15 anos venceu o concurso Henryk Wieniawski o que foi especialmente relevante porque entre outros concorrentes se encontrava também nada menos nada mais do que David Oistrackh.



Embora muito nova era já considerada no inicio da segunda Guerra Mundial um dos maior violinista. Obviamente a Guerra congelou a sua carreira da mesma forma que obliterou muitas outras coisas mais relevantes. O caso é que terminada a guerra Ginette Neveu recomeçou a tocar fazendo-o com o mesmo sucesso de antes na companhia do seu irmão Jean Paul que normalmente a acompanhava ao piano.

Entre 1945 e 1949 realizou numerosas actuações existindo algumas gravações (algumas ao vivo) entre as quais esta que vos proponho como exemplo. Uma inspirada interpretação do concerto de Brahms.



Infelizmente Ginette Neveu faleceu tragicamente quando viajava num voo da Air France de Paris para a América onde deveria continuar a sua tournée. O voo acabou por colidir com as montanhas perto do aeroporto de São Miguel nos Açores. Nesse mesmo voo viajava também o boxeur Marcel Cerdan então amante de Edith Piaf. Perdoem-me mas como fã de Edith Piaf não resisto a incluir neste post a canção que Edith Piaf dedicou a Marcel Cerdan.


Este post foi inspirado de um artigo publicado no Facebook pelo Violin Channel que se recomenda para todos os que gostam de violino obviamente. Nesse post recomendava-se este vídeo de um minuto aproximadamente que mostra a violinista a interpretar Poéme de Chausson.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Joana Carneiro e o Sexo e a Música Clássica

Não se preocupem com o titulo, estou a tentar imitar os Jornais das 20 - ia dizer o Correio da Manhã mas creio que o estilo já passou para os telejornais e outros meios ditos sérios ("some pun really intended").

Este post foi inspirado em dois posts do Facebook , o primeiro de uma amiga minha Sofia que nos falava da Joana Carneiro (Sofia neste outro post já antigo revelo quem é o outro admirador :-)). Já sabem que sou fã e portanto apenas isso já seria razão suficiente para este post. Porém hoje um outro nosso amigo, o Daniel Bolito postou no Facebook um outro artigo sobre vários casos de mulheres que atingiram o sucesso numa carreira onde até há uns anos era muito difícil a uma mulher singrar. É um artigo muito interessante do Guardian e que  recomendo.

O artigo que o Daniel nos mostra começa por nos chamar a atenção para utilização do sexo como forma de vender a música clássica. Nós marketeers sabemos que o sexo vende tudo e a música clássica infelizmente não resistiu à tentação da exploração do erotismo. Algumas vezes de forma apropriada outras menos, como em tudo.

Porém o importante do artigo é a vaga de fundo que descreve numa das áreas mais conservadores que existia. Note-se que não há muito tempo atrás havia orquestras apenas de homens e maestros conhecidos por se recusarem a terem membros femininos, ao ponto de em provas cegas (provas em que a selecção é feita sem que o júri possa ver os candidatos) em que eram escolhidas mulheres estes serem rejeitadas à posteriori - isto infelizmente não é anedota e está documentado.

Hoje em dia a situação é um pouco melhor e felizmente podemos colocar-nos a questão: Irão as mulheres um dia dominar a música clássica? No que me diz respeito nada contra, nada contra - sejam a maioria como a Joana Carneiro e ficamos bem ! Fora de brincadeira obviamente o talento não reconhece sexo (jogo de palavras intencional).

A propósito da maestrina e de talento e porque este ano falamos muito de Stravinsky leiam este meu outro post também de 2010 ... e depois oiçam o Pássaro de Fogo.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

10 Motins provocados por música clássica

Continuando este post (podem ler aqui os primeiros três casos)  estamos agora na segunda década do século XX em Viena mais precisamente uns meses antes do famoso caso da Sagração da Primavera (já lá chegaremos, já lá chegaremos). Neste concerto Schoenberg dirige a Orquestra da Filarmónica de Viena no Musickverein. Estamos a 31 de Março de 1913. O programa era constituído por obras do seu aluno Alban Berg mais precisamente um conjunto de canções conhecidas como "Altenberg Lieder" por serem baseadas em frases de postais ilustrados com frases desse autor e que pretendiam ilustrar estados de alma, conceito que a música de Alban Berg procurava representar. Porém as mudanças constantes entre música tonal e atonal e a utilização frequente e repetitiva de padrões foram demais para o público de Viena que simplesmente não deixou o concerto terminar com os protestos.

A policia teve de intervir e mais tarde, parte engraçada da história houve mesmo processos contra o compositor por alegadas perturbações nervosas derivadas da audição da obra. Muito sensíveis os públicos na altura, muito sensíveis ...

Curiosamente este evento acabou por levar Schoenberg a extremar a sua posição relativamente ao público deixando de aceitar fazer interpretações públicas das suas obras. Os concertos de Schoenberg passaram a ser acessíveis apenas por assinatura (paga) e após convite ou aprovação do compositor. Concertos interditos à critica bem entendido. É dessa altura e nesse contexto que Schoenberg proferiu a famosa frase "Se é arte não é para todos. Se é para todos não é arte"




No mesmo ano e apenas uns meses depois em Paris dá-se o escândalo da Sagração da Primavera. Este caso foi mais mediático talvez porque na altura Paris era a capital da Ópera e do Ballet e ditava as tendências certamente porque a obra em si é um dos pontos charneira na evolução da música clássica.

Os protestos na audiência foram tão fortes que os membros do ballet não conseguiam ouvir a música e por isso o coreografo tinha de lhes gritar os números das cenas. O próprio Stravinsky disse numa entrevista que os tumultos tinham chegado mesmo a envolver cenas de pugilato entre a audiência. Na direcção da Orquestra estava nada menos que Pierre Monteux que olhou repetidamente para Diaghilev para perceber o que fazer mas o empresário apenas lhe deu instruções para prosseguir.

Os tumultos começaram logo a partir dos primeiros compassos tornando-se generalizados ao fim de alguns minutos apenas. No intervalo os bailarinos muitos a chorar ou devastados psicologicamente perguntavam-se se valeria a pena continuar. E continuaram naquela que terá sido uma das mais corajosas atitudes na história da arte. Há muitas anedotas sobre o que aconteceu naquela noite, desde a condessa que acreditou que estavam a gozar com ela até ao homem que se teve de bater em duelo no dia seguinte. Porém o mais relevante é que as posteriores audições da Sagração da Primavera decorreram sem problemas.




Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas

Não sei se a designação do nome deste feriado continua a ser esta, sinceramente perdi-me nas mudanças mas como gosto especialmente dela mantenho-a. Dia de Portugal combina muito bem com Camões como também poderia combinar com outros grandes poetas portugueses, pelo menos Pessoa com a sua Mensagem mereceria igual destaque. Tome-se portanto Camões como representante não só dos poetas mas também daqueles que sonham e nos cantam dias melhores. Necessários, tão necessários como os especialistas de Excel ... Tomem-se ainda as comunidades portuguesas espalhadas por esse mundo como os representantes daqueles que tomam o futuro nas suas mãos e simplesmente fazem. Pena que algures tenham sentido que para isso precisavam de saír de Portugal mas terão com toda a certeza tido razão. Terão tido aqueles que partiram à várias gerações terão aqueles que decidem partir hoje. Tal como também têm razão os que decidem ficar e lutar por aqui  mesmo. Tudo isto é Portugal.

Não podíamos terminar este post sem música e num dia de Portugal só poderia falar-vos de compositores portugueses claro. Não quero escolher apenas um e por isso, com o devido respeito a Alfredo Keil hoje vou relembrar dois compositores que poderiam para mim ser os autores do Hino de Portugal, são aliás autênticos hinos à "portugalidade" muitas das obras que compuseram. Sem mais delongas proponho que oiçamos neste dia um pouco de Joly Braga Santos e de Luís de Freitas Branco .

Do ultimo neste dia especial poderíamos propor-vos Solemnia Verba baseada num poema de Antero de Quental que vos deixo aqui (por ser tão especialmente adequado ... )

Disse ao meu coração olha por quantos 
caminhos vãos andamos! Considera
agora, desta altura fria e austera, 
Os ermos que regaram os nossos prantos

Mas hoje não poderia deixar de vos relembrar os Madrigais Camonianos



De Joly Braga Santos escolhemos uma das suas sinfonias, neste dia poderia ter sido a Quinta "Virtus Lusitanae" mas prefiro a terceira precisamente dedicada a Luís de Freitas Branco.


Neste dia não se esqueçam de ouvir muita boa música portuguesa, a melhor forma de celebrar o dia de Portugal, obviamente !

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Annick Massis - Soprano

Hoje proponho-vos uma ária de uma ópera de Bizet, "Les Pêcheurs de Perles" inspirada na página de Facebook da soprano que encontrei fruto de uma campanha promocional. Há méritos na publicidade!

Escutem simplesmente isto, e não vale a pena falar mais.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Il Prigoniero (The Prisoner) (1950)

Uma proposta que nos vem da página de Facebook da Filarmónica de Nova Iorque que hoje nos oferecem o concerto nº1 para violino e orquestra de Prokofiev e esta ópera do compositor Italiano Luigi Dallapiccola (1904-1975) que se inspirou nos anos da sua juventude. O compositor nasceu na Istria (hoje parte da Croácia) e então parte do império austro-hungaro. Foi forçado a imigrar para o interior da Áustria e viu o seu pai ser preso e vigiado devido às suas supostas tendências nacionalistas.

Mais tarde quando do domínio de Mussolini rebelou-se contra o ditador sentindo mais uma vez a opressão totalitária. esta obra decorre em Espanha durante a inquisição e aborda precisamente a luta do individuo contra a opressão totalitária e o uso e abuso indiscriminado do poder.

domingo, 2 de junho de 2013

10 motins provocados pela música clássica

Como prometido vou juntar à nossa lista de 10 melhores momentos da música clássica uma categoria polémica. Vou falar-vos de 10 casos em que uma estreia (ou uma interpretação de uma obra) provocou tal escândalo entre a assistência que o público chegou a manifestar-se de forma violenta ou pelo menos pouco ortodoxa. Uma forma de vos mostrar as paixões que a música clássica pode despertar. Iremos procurar escolher exemplos que estão somente ligados à parte artística embora existam casos que obviamente estão na fronteira.

A primeira obra de que vos quero falar é precisamente um dos casos em que não foi propriamente a componente artística que provocou o levantamento mas antes o carácter nacionalista de uma das suas árias. estamos a falar da ópera La Muette de Portici de Daniel Auber (1782-1871). A obra com um libretto de Germain Delavigne descreve o levantamento popular em Nápoles contra o domínio Espanhol. A ópera foi estreada em Paris a 28 de Fevereiro de 1828 sem grande história, bem recebida pela critica e pela audiência. artisticamente é uma obra relevante dado que é considerada a uma das primeiras "Grandes Óperas" por ter trazido ao género uma dimensão teatral e de consistência do argumento até então inexistente. Relevante no entanto para este post foi a interpretação ocorrida em Bruxelas em Agosto de 1830. Esta representação incendiou a audiência. Os belgas que aspiravam à auto-determinação tinham de novo acabado de serem anexados à Holanda viram na ária "Amour Sacré de la Patrie" um espelho da sua situação. A sequência de eventos que se gerou acabou por resultar na independência da Bélgica proclamada  pelo Governo Provisório da Bélgica a 30 de Setembro de 1830.

Mieux vaut mourir que rester misérable !
Pour un esclave est-il quelque danger ?
Tombe le joug qui nous accable
Et sous nos coups périsse l'étranger !
Amour sacré de la patrie,
Rends nous l'audace et la fierté ;
À mon pays je dois la vie ;
Il me devra sa liberté.

Numa tradução aproximada isto significa o seguinte:

Mais vale morrer que permanecer na miséria
Para um escravo existe algum perigo?
Cai o jugo que nos domina
E morra o estrangeiro com os nossos golpes!
Amor sagrado da pátria,
Devolve-nos a audácia e o orgulho;
Ao meu país devo a vida;
Ele me deverá a liberdade.

E aqui fica a ária . Hoje em dia é uma obra raramente interpretada embora a abertura seja frequentemente interpretada em concerto. É uma pena porque é uma história interessante sobre a liberdade, o seu valor e a sua conquista.



A segunda obra é mais uma ópera esta realmente desdenhada por simples questões artísticas e como é frequentemente o caso injustamente desconsideradas. Estamos a falar da ópera Benvenuto Cellini estreada em Paris a 10 de Setembro de 1838 e que hoje continua a ser ignorada (com excepção da abertura que é regularmente interpretada em concerto). Injusto certamente porque esta ópera representa Berlioz na sua máxima capacidade orquestral, profundamente romântico. É certo que o libretto é péssimo mas a música é extraordinária e merece só por si um lugar na história da música. O que se passou na estreia foi obviamente um caso de boicote por parte do "Teatro dos Italianos" companhia e género que via em Berlioz um concorrente potencial a abater. Os assobios, barulhos, toda o tipo de evento destinado a fazer parar a performance começaram logo após a abertura e não se interromperam até ao fim. O certo é que conseguiu tendo a obra tido o mesmo tipo de recepção em Londres em 1853 de pouco servindo o apoio dos músicos e do maestro.

A obra teve uma recepção diferente para melhor na Alemanha sobre o patrocínio de Liszt mas insuficiente para que resistisse ao afastamento do reportório que faz desta obra uma das mais injustamente afastadas dos palcos. Aqui fica uma das árias, "Seul pour lutter sur les monts les plus sauvages".



Não sei se será o poder das palavras mas o terceiro caso é também uma ópera mas a verdade é que este género na música clássica parece incendiar paixões. A nossa terceira obra também é uma ópera neste caso uma obra de Wagner. Neste caso particular a razão teve origem num facto que facilmente se poderia classificar como pouco representativo mas na verdade desconhece-se a relevância que acabou por ter na história da música. Wagner procurava então estabelecer-se em Paris, à época a capital da Ópera. Nesse sentido supervisionou e alterou significativamente a sua ópera Tannhauser acrescentando-lhe um bailado, uma exigência da sala onde iria ser estreado. Wagner procurou fazê-lo mantendo a consistência da obra e por essa razão contrariamente ao hábito colocou o dito bailado no primeiro acto.  Dificilmente se pode entender hoje que um grupo organizado de aristocratas, o Jockey Club habituados a entrarem apenas no Ballet (no segundo acto) tivessem conseguido boicotar efectivamente a estreia de Wagner em Paris e a sua ambição de se fixar na capital francesa. Será difícil extrair deste facto consequências mas permanecerá uma duvida se um Wagner "parisiense" teria escrito a sua trilogia ou se teria sido o compositor preferido do conhecido ignóbil ditador e assassino. Wagner está aliás no centro de várias outras polémicas quase todas fruto dessa associação. Recentemente uma interpretação desta mesma obra Tannhauser num cenário Nazi que pretendia homenagear as vitimas do holocausto deu origem a mais uma forte contestação e mesmo ao cancelamento do espectáculo.

Aqui fica uma versão do bailado que tanta polémica causou e com consequências imprevisíveis na história ...


Diga-se em nome da verdade que uns anos mais tarde, mais precisamente em 1887 houve uma segunda tentativa de trazer Wagner a Paris mais precisamente com Lohengrin mas de novo houve tumultos desta vez já mais relacionados com a crescente tensão entre a Alemanha e a França e os sentimentos anti-germânicos existentes.

Como este post já vai longo as demais 7 estreias pouco promissoras ficam para uma próxima ocasião. Como podem ver não é só o desporto que suscita paixões !

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