terça-feira, 29 de novembro de 2011

A propósito do que alguém disse sobre o Teatro

Alguém, quem vamos manter anónimo, porque anónimo merece ficar (pelo menos no que diz respeito à autoria dessas desgraçadas palavras) disse que o Teatro não é especial, que não pode ficar acima das sacro-santas restrições financeiras que se agitam por aí como se essas fossem a solução aos nossos problemas. Antes fossem, antes fossem.

Na realidade não pode nem quer penso que alguém o deseje. Porém também não se pode tratar a arte e a cultura e do ponto de vista mais geral a intelectualidade como se fosse uma espécie de luxo de que nos poderíamos abster por uns momentos para retomar mais tarde como se a questão económica nos devesse consumir toda a atenção. É que não vai tardar quem apareça por aí a dizer que nos devemos deixar de pensar em ideologias para nos concentrarmos no essencial. No essencial que é? Existe algo mais essencial do que as ideias? Ou achais que hoje o que nos propõem como solução é suficiente?

Vem esta nota a propósito do que li hoje no blog do Alex Ross uma excelente entrevista que este fez ao Esa-Pekka Salonen (a propósito do seu prémio Grawemeyer Award - ironia alguém que achava que a arte era efectivamente especial :-)) em que o grande maestro finlandês nos diz:

"The sad fact is that we are witnessing a fierce anti-intellectual period in Western culture, both here and in Europe. Populist right-wing movements are attacking the arts and enlightened critical thinking everywhere, and the epithet "elitist" is being used as the favorite blunt instrument by those politicians. So far I haven't seen the anti-Wall Street/London City protest movement forming any direct cultural positions, but I cannot see how classical music with its very modest commercial dimensions would be seen as an enemy by anybody who is willing and able to look beyond the uninformed use of the word "elitist.""


Este raciocínio contra a arte e mais geralmente contra as minorias, contra o que nos é exterior ou estranho, contra os "outros" como se pelo menos numa dimensão das nossas vidas não fizéssemos parte dessa minoria não é novo , não é novo mas normalmente funciona em tempos de crise em que é mais fácil colocar o problema de fora e culpar os demais - facilmente explorável por políticos pouco escrupulosos e por uma comunicação social ainda menos critica.

Normalmente tem um triste fim. Gostaria de acreditar que em média os povos da Europa tenham hoje mais informação e mais base cultural do que em 1935 aproximadamente ... Agora sim iremos ver se o investimento em educação valeu a pena. Iremos também perceber se afinal de contas esses estudos que provam a superioridade de alguns sistemas de ensino da Europa Ocidental são realmente substantivos. Por esta razão espero sinceramente que sejam pelo menos em parte verdade, sobretudo no que diz respeito à História, só para ver se conseguimos evitar repetir os mesmos erros ... de novo.

O Teatro, a Música, o Cinema, a Arte  são especiais sim senhor. Não por darem abrigo a um conjunto minoritário de excêntricos mas por nos abrirem janelas para outras formas de pensar e de ver o mundo. E essas acreditem são pelo menos tão necessárias quanto as medidas de recuperação económico-financeiras.

A propósito podem ler a transcrição da resposta ao tal anónimo pelo Bruno Nogueira no País do Burro.   




segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mafalda Vasconcelos faria 48 Anos hoje ...

A Mafalda, ou a Fá como eu lhe chamava faria hoje 48 anos. Neste blog falei dela por vezes mas menos vezes, muito menos do que as que gostaria de ter feito. A Mafalda gostava de ler o que eu escrevia, fazia questão de comentar no dia seguinte a maioria dos meus posts ou pelo menos alguns e por isso hoje este post é só para ti, como há três anos com a tua lista a Lista da Mafalda, lista que mantenho no teu Ipod rosa e que oiço sempre que quero recordar e acredita que são algumas muitas vezes ...

Lembro-me em particular como ficou preocupada com um comentário num post que me tinha pedido sobre o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Lembras-te Céu o que nos rimos?

Dizia há uns dias num comentário em um outro blog que essas músicas para mim já não são músicas são o som  da tua voz, são o teu cheiro, a memória de locais onde estivemos juntos ou daquilo que nos dissemos, a memória dos dias e do calor ou do frio que fazia. Memórias boas todas ...

Não consigo ouvir Caçador de Mim sem me lembrar do primeiro abraço no Coliseu das horas de espera e do pontapé nas costas ou daquele Concerto dos Trovante. Não consigo ouvir "The Long and Winding Road" sem me lembrar dos Domingos ou Sábados de manhã em que chegavas para, como dizias, namorar com as minhas irmãs quando estava ocupado a estudar uma qualquer cadeira de Electrotecnia do IST. Não consigo ouvir Cigarra sem me lembrar das manhãs em que acordava com esta canção e contigo ao meu lado (shiu ... isto é segredo). Não consigo ouvir Jobim ou mesmo Vinicius sem me lembrar da Luz dos teus Olhos e do que brincávamos com essa canção. Lembro-me quando ainda tínhamos - como dizer - um semi-namoro e dos almoços ao pé da Mocar na 5 de Outubro onde trabalhavas e das nossas visitas à loja da Dargil e dos seus vinis. Lembro-me de procurar e não encontrar Para Não Dizer que Não falei de Flores. Não consigo ouvir Trem das Cores sem me lembrar da sala da casa dos meus pais onde este disco rodou tantas vezes que a pista (do disco o que é que estão a pensar?) já devia estar gasta, ou das canções do Sérgio e dos dias em Sesimbra. Digo que não consigo mas na verdade não quero ...

Gostava de te ter dito tudo isto e tantas outras coisas, gostava de te ter perguntado ainda mais. Sei que não é possível agora mas  posso pelo menos tentar falar contigo desta forma. Já tentei de outras maneiras mas por pudor ou por estupidez bloqueio. Tu dirias com a frontalidade que te conhecia - deixa-te de histórias que tu és mesmo assim, nunca dirás nada ... e tinhas provavelmente razão. Não obstante com a minha teimosia (obstinação era a tua palavra) tentarei. Talvez ainda assim me consiga libertar um pouco da angústia do que ficou por dizer ou fazer.

Tínhamos combinado que quando fizéssemos 25 anos de casado iríamos a Edimburgo de novo. Porque razão nos pegamos tanto a uma data e não o fizemos antes? Porque razão depois de termos sabido da tua doença não te dei mais tempo? Sei que querias assim - que não houvesse mudanças na nossa rotina - que querias encarar com naturalidade a morte que te esperava. Sei disso mas no entanto não posso deixar de pensar porque razão não te consegui (ou não tentei) convencer-te do contrário. Teria mudado alguma coisa? Não sei, provavelmente não. Mas que gostaria de ter tentado isso gostaria.

Encontrei ontem por acaso uma agenda do teu pai do ano em que nasceste. No dia 28 de Novembro de 1963 estava simplesmente marcada a entrada - "Nasceu a menina". Assim mesmo sem nome - ainda deveria estar por decidir penso.

Hoje há uma missa para ti, para o teu pai, para nós como todos os 28 do mês na Igreja de que gostavas. Depois estaremos juntos em família e tu estarás comigo nestas e em outras memória. Em dia de Fado lembro-me também ... De quem eu gosto nem às paredes confesso e da nossa brincadeira (nem à tua mãe dizia eu ... ). Choro agora mas não te preocupes; tu sabes que tenho a lágrima fácil.

Abreijos do teu Nã (nome que detestava e que só tu podias utilizar ... )

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado - Património Imaterial da Humanidade

Já não é (felizmente) novidade para a maioria dos portugueses mas o Fado foi votado na madrugada de Sábado para Domingo (hora de Lisboa) - Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Não poderíamos deixar de por um lado dar os parabéns à equipa que trabalhou a proposta e em particular ao seu líder o musicólogo Rui Vieira Nery e por outro lado festejar. Os festejos já sabem que aqui é sempre com música e por isso escolhi para vós alguns fados de que gosto particularmente, pela música, pelo interprete ou pelo poema. Dirão que não é música clássica. Não será, mas é Fado e nos momentos que vos mostro creio que atinge o sublime ...

Em primeiro lugar Amália cantando Ary dos Santos ... Meu Amor, Meu Amor, meu corpo em movimento ...



Depois também de Ary dos Santos mas agora cantado por Carlos do Carmo Um Homem na Cidade



E porque não o Fado Falado pelo inesquecível João Villaret?

 

Ou para não nos esquecermos O Fado do Campo Grande com música do grande compositor português Maestro António Vitorino d´Almeida (Letra de Ary dos Santos)

 

Ou ainda Amália cantando Camões

 

E será com o poema de Camões que vos deixo porque há pouco mais para acrescentar. Vale pouco a nomeação, talvez. Vale certamente muito se nos ajudar a lembrar e a manter a memória de todos estes (e outros) artistas.

Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
que mor não seja a dor que me deixou o tempo,
de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
triste quero viver, poi se mudou em tristeza
a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão
duro que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.

A Paz - Albert Schweitzer (1875-1965)

Este post foi também publicado ainda que de forma ligeiramente diferente aqui: Por Um Mundo Melhor (Facebook). Desculpem mas não sei fazer links para o Facebook, que desgraça de ignorância.

Este conjunto de posts será sobre a Paz sempre com um músico um musicólogo um melómano ou simplesmente música como razão ou pretexto. Resultou de um desafio que o Raul me fez para publicar uma vez por semana uma música relacionada com a Paz na referida página do Facebook. Confesso que tenho falhado miseravelmente a esse pedido. De facto até agora fiz apenas um único post. Comecei bem é certo com a nona de Beethoven mas depois secou a inspiração ou venceu um dos pecados mortais: a preguiça !


Secou até hoje em que me lembrei que há pessoas ligadas à música e que personificam de forma quase exemplar a paz. E isso dá-me agora razão para pelo menos uma dúzia de posts. Fico contente por poder falar de tantos e tantos músicos (ou melómanos) para quem a paz ou o amor do próximo (não será a mesma coisa?) fazia parte integrante da sua vida. Penso que o Raul não se importará que este texto seja também um post no meu blog, é que me apetece mesmo fazer esta série ...

Vou começar esta sequência com a pessoa que me fez pensar nela: Albert Schweitzer. Teólogo, Médico, Filósofo, Humanista, Musicólogo e Músico. Albert tornou-se conhecido ao abandonar a sua carreira enquanto médico e investigador para criar em África antes da primeira Guerra Mundial um hospital. Tentou uma primeira vez e falhou mas não desistiu. Voltou à Europa e durante vários anos procurou angariar fundos para a reconstrução do projecto agora num outro local mais adequado. E voltou a África onde acabou por falecer em 1965. A sua actividade humanitária salvou milhares de vidas. Foi justamente Prémio Nobel da Paz em 1952.

Enquanto músico notabilizou-se pelos seus estudos e interpretações de Bach sobretudo no que diz respeito ao órgão relativo ao qual publicou diversas obras e inventou mesmo técnicas de interpretação e de gravação. Poderia perfeitamente ter seguido uma carreira na música de tal forma o seu trabalho foi considerado.

Para terminar com música só poderia mesmo ser Bach e graças à Internet e ao You Tube posso mesmo mostrar-vos o próprio Albert Schweitzer a interpretar Bach.

Podem ouvir Liebster Jesu, wir sind hier, BWV 731 (Querido Jesus estamos aqui numa tradução à letra). A gravação é de 1936! Notem apesar disso a qualidade da mesma ...


sábado, 26 de novembro de 2011

Yehudi Menuhin (1906-1999) - Quarta Parte

Não é segredo para muitos de vós que o tempo passa mesmo depressa. Passa tanto mais depressa quanto gostariamos que não o fizesse ou mesmo que voltasse para trás. Vem isto a propósito de me ter apercebido que deixei a biografia de Yehudi Menuhin há quase um mês. Foi no dia 30 de Outubro que publiquei a Terceira Parte: A Guerra

Podem ler as duas primeiras partes desta biografia nestes dois posts:
Primeira Parte: Um Talento Precoce
Segunda Parte: Os Anos Antes da Guerra

Após o fim da guerra torna-se também maestro, um sonho que segundo o próprio tinha desde criança estreando-se num ensaio semi-privado com a Orquestra Sinfónica de Dallas curiosamente interpretando o prelúdio de Die Meistersinger de Wagner.

Pouco depois (1947) casa com Diana Gould que havia conhecido em Londres durante uma das suas variadas tournées para as tropas americanas que o levou a locais tão recônditos como o Alaska.

Esse ano aliás (1947) foi um ano difícil para Menuhin pois aceitou (para não dizer procurou) tocar sobre a direcção de Furtwangler que na altura estava praticamente proscrito e na lista dos músicos que teriam colaborado com o terceiro reich. Menuhin no entanto lembrou a comunidade internacional que Furtwangler tinha ajudado numerosos judeus a fugir da Alemanha. Disse ainda que o fazia num espírito de reconciliação e de recuperação do espírito da Alemanha. Não encontro uma gravação deste concerto mas encontrei uma outra de 1949 no Festival de Lucerna com o Concerto para Violino de Brahms.

Em 1948 estreia a sonata para Violino e Piano de William Walton encomendada pelo próprio Menuhin. Não encontro uma gravação desta obra por Menuhin portanto por enquanto proponho-vos o Concerto para Violino do mesmo compositor dirigido pelo próprio William Walton com a Sinfónica de Londres e Menuhin no Violino Solo.

Em 1950 inicia a actividade enquanto defensor dos Direitos Humanos que nunca viria a abandonar até à sua morte e fá-lo desafiando abertamente o apartheid na Africa do sul. Visita Israel apesar das ameaças de morte resultantes do facto de ter tocado com Furtwangler. Em 1952 faz uma tournée na India contra a fome.

Em 1954 inicia na Academia Nadia Boulanger aquele que viria a ser outro dos seus grandes legados ao mundo: A sua carreira enquanto professor. Em 1955 cria a sua primeira escola em Londres (mais tarde transferida para Surrey).

Também nos anos 50 e 60 inicia a sua colaboração com Festivais de música clássica nomeadamente o de Gstaad (1957) onde interpreta com Britten entre outros e também Bath (1959) do qual é o grande impulsionador e director artístico até 1968.

Em 1969 e durante três mandatos consecutivos torna-se presidente do International Music Council tendo durante o seu mandato criado o Dia Mundial da Música.

O epilogo desta história fica para a quinta e ultima parte desta biografia. Para vos deixar com música como sempre e porque já falamos da gravação de Brahms com Furtwangler (para muitos essa gravação não fosse o facto de ser mono seria a melhor gravação desse concerto) proponho que oiçam o dueto com Ravi Shankar. É justo terminar esta parte desta biografia porque na verdade esta tentativa de aproximação de várias áreas musicais foi também uma preocupação de Yehudi Menuhin expressa não só neste dueto mas também por exemplo nas suas gravações com Stephane Grappelli. (que aliás a propósito tem um dos sons mais bonitos e emocionalmente profundos que conheço). A propósito o primeiro dueto entre Shankar e Menuhin que teve lugar perante a Assembleia Geral da ONU em 1967 foi um momento memorável ...


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mais um protesto - Neste caso nos Proms e ... um protesto artístico !

A indignação não é exclusiva do nosso povo e dos nossos sindicatos. Em Inglaterra nos Proms deste ano especialmente agitados ao que parece, depois dos protestos por causa da Orquestra de Israel seguiu um protesto de um ouvinte que achou que a Sinfonia de Bruckner que estava a ouvir estava a ser conduzida de forma demasiado lenta. Levantou-se e saiu gritando impropérios vários. Leia a história completa no blog do Alex Ross onde soubemos da história.

Alex Ross: The Rest Is Noise: The great Bruckner rumpus:

Depois o tal protestante explicou a sua acção no seu blog - que por acaso tomei a liberdade de comentar por duas vezes - dizendo que não tinha interrompido nada já que o maestro se tinha já encarregado de interromper tudo com a sua (na opinião do protestante) má interpretação da obra.

Confesso que temo que se isto pegar se comece a ir para a Gulbenkian de pauta e caneta na mão apontando os erros e dando notas aos maestros e ocasionalmente gritando: tempi, tempi agitando os braços para cima ou para baixo consoante as necessidades... Um festival sem dúvida.

Mas gosto da paixão demonstrada por Bruckner ...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Samuel Barber (1910-1981)

Este compositor americano (nascido a 9 de Março de 1910) é praticamente ignorado nos nossos dias embora muito possivelmente muitos de nós conheçamos pelo menos uma das suas obras, o Quarteto para Cordas Op. 11 composto em 1938. Esta obra deve a sua fama inicial ao facto do seu andamento lento (o Adagio) ter sido orquestrada por Toscanini (1938) e utilizada numa emissão de rádio como homenagem ao Presidente Roosevelt após o seu falecimento (1945).



Mais recentemente esta obra foi utilizada em filmes como Platoon ou O Homem Elefante embora pessoalmente possa apostar que a maioria das pessoas que viu estes filmes desconhecia a proveniência da música.

Samuel Barber não foi um homem feliz com a sua arte. Na altura em que nasceu ser neo-romântico equivalia já a ser considerado um dinossauro irrelevante. Injusto certamente. Espero que a versão que vos propus dirigida por Leonard Bernstein vos agrade (podem também ouvir a interpretação de 1938 de Toscanini) ou podem também gostar de uma outra dirigida pelo grande violoncelista e maestro Rostropovich interpretada em 1990 em Moscovo.



Samuel Barber não compôs no entanto apenas este quarteto. Entre as suas outras obras recomendo-vos o Concerto para Violino e Orquestra (ele próprio um capitulo dramático na vida de um compositor) de que gosto muito, composto em 1939, o Concerto para Violoncelo (1945)  e o Concerto para Piano (1962)

Samuel Barber foi também um notável compositor de Ópera apesar de ter apenas completado três obras e uma delas ter sido um fracasso responsável aliás pela profunda depressão do compositor que após 1966 ainda assim continuou a compor ... No que diz respeito à parte vocal Barber não só era excelente na Ópera como também fruto do seu gosto pela poesia musicou vários poemas de autores como por exemplo James Joyce  ou ainda Rainer Maria Rilke ou mesmo Neruda.

Samuel Barber foi membro da Academia Americana de Artes, duas vezes vencedor de um prémio Pullitzer e membro activo de vários agrupamentos que procuraram defender a música e os músicos.

E numa forma de rondo ou se preferirmos na busca romântica da unidade da obra proponho-vos que voltemos ao inicio com o  Adagio do Quarteto para Cordas com a versão cantada também ela adaptada pelo próprio Samuel Barber que faleceu a 23 de Janeiro de 1981 em Nova Iorque vitima de cancro. Desta vez a obra tantas vezes utilizada para outros soará em sua própria homenagem e memória ...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

MozART GROUP - Uma sugestão vinda do blog Atributos

No Blog Atributos encontramos esta pérola de comédia musical ...

ATRIBUTOS: MozART GROUP 

Recomendo que vejam o filme no You tube e sigam para os restantes vídeos do grupo que podem encontrar nos videos relacionados. A cara de Bobby McFerrin de puro deleite numa das partes deste vídeo seria suficiente (vejam por volta dos 5:30) ...

O site oficial do Grupo www.mozartgroup.org informa-nos que vão estar no nosso país entre os dias 26 e 29 de Junho. Certamente a não perder !

Mahler e Frère Jacques

Embora soubesse deste facto confesso que me tinha esquecido completamente porém este fim de semana no carro em conversa com o meu filho e porque precisamente estávamos a ouvir a primeira Sinfonia de Mahler ele resolveu fazer-me notar que o terceiro andamento - a marcha fúnebre - utiliza o tema da canção popular francesa (pelo menos penso que é essa a origem embora já tenha percebido que não é liquido que assim seja).

Porquê perguntei?  Bem é o Frére Jacques mas está num modo menor respondeu-me, é triste e é adequado por isso agora porque razão escolheu essa melodia não sei  ...

Fui investigar e aparentemente a intenção de Mahler é no mínimo dual e passo a explicar. Por um lado o modo menor e a inspiração infantil parece provir da paródia do funeral do caçador em que participam todos os animais - fingidamente tristes claro. A utilização dessa música infantil procuraria assim reconstituir essa ironia.

Porém por outro lado essa mesma melodia é utilizada em contraponto com uma outra melodia popular de raiz judaica pelo que existem musicólogos que interpretam este andamento como um conflito não resolvido entre as duas fés (conflito do próprio Mahler entenda-se). derivam este raciocínio do facto do contraponto utilizado nunca se resolver efectivamente.

A versão que estou a ouvir no carro é uma interpretação de Leonard Bernstein que como sabemos tinha uma compreensão muito profunda do drama de Mahler, ambos maestros e compositores, mais respeitados pela primeira função que pela segunda e magoados por isso. Justamente magoados diria.

Fiquem portanto com esta obra prima (um andamento belíssimo) ...


sábado, 19 de novembro de 2011

Os esquissos da Oitava de Sibelius ?

No blog de Alex Ross lemos que terão sidos eventualmente descobertos os esquissos daquela que seria a Oitava Sinfonia de Sibelius destruída no seu grande auto-da-fé pessoal. Relembramos que esta oitava sinfonia seria (era) para Sibelius uma espécie de grande resumo de grande súmula ... No artigo existe um link para um ensaio da interpretação de uma parte das partituras encontradas. Muito interessante mesmo !

Alex Ross: The Rest Is Noise: Is this the Sibelius Eighth?:

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sábado às 17h - Orquestra Sinfónica da ESML

No Sábado às 17h no belíssimo auditório da Escola Superior de Música de Lisboa (para quem ainda não conhece garanto que só o auditório vale a pena a visita, eu sei que há quem não goste ... não é o meu caso :-)) poderão assistir a um concerto pela Orquestra Sinfónica dessa Escola.

O programa será constituído pelas seguintes obras:

  • L. V. Beethoven - Abertura Leonora nº 3, op. 72 
  • Frank Martin - Ballade p/ Saxofone e Orquestra 
  • W. A. Mozart - Sinfonia nº 41, Dó Maior KV 551 

Confesso que a obra para Saxofone será para mim uma estreia ... já o resto conheço e recomendo ! Se puderem não percam. A Orquestra será dirigida como habitualmente por Vasco Pearce de Azevedo sendo solista no Saxofone Rodrigo Lima.

Para quem não sabe a ESML fica no final da segunda circular do lado direito, fácil de encontrar e de deslocação estacionamento ...

Mais informação sobre o evento e a escola aqui:
Eventos por categoria - Orquestra Sinfónica da ESML:


domingo, 13 de novembro de 2011

A Lista de Thomas Mann's

Já sabem que pessoalmente sou um tanto fanático por listas. Neste caso Alex Ross traz-nos uma lista de 1948 que consiste nas 12 gravações preferidas de Thomas Mann.

Alex Ross: The Rest Is Noise: Thomas Mann's Top 12 List:

Além de vos convidar a ler o artigo original fizemos uma pesquisa e procuramos encontrar essas gravações o que quase inacreditavelmente foi possível em quase todas. Não se esqueçam que esta lista é de 1948 ... Sem exagero acho que esta lista com as audições propostas é um autêntico documento de história.

FRANCK Symphony in D Minor. Pierre Monteux conducting the San Francisco Symphony Orchestra.
Encontramos uma das várias gravações que Monteux fez ...

MENDELSSOHN Concerto in E Minor. Nathan Milstein, violin, and the Philharmonic-Symphony Orchestra of New York, Bruno Walter conducting.
Não é a gravação a que refere Thomas Mann mas é Milstein ...

MOZART and others A Song Recital by Lotte Lehmann. 
Encontramos uma gravação de 1938 mas não podemos garantir que seja esta ... ainda assim uma gravação histórica de Lotte Lehmann.

BERLIOZ Harold in Italy. William Primrose, violinist [sic], with the Boston Symphony, Serge Koussevitzky conducting. 
Pensamos que neste caso é mesmo a gravação a que Thomas Mann faz alusão. Primrose com a Boston Symphony.

BEETHOVEN Symphony No. 3 in E flat ("Eroica"). Bruno Walter conducting the Philharmonic-Symphony Orchestra of New York. 
Também acreditamos que neste caso conseguimos encontrar a gravação em causa. Podem assim ouvir Bruno Walter a dirigir a Filarmónica de Nova Iorque na Terceira de Beethoven.

WAGNER Parsifal, Act III. Berlin State Opera soloists, chorus, and orchestra, Karl Muck conducting.
Mais um caso em que possivelmente podemos ouvir a gravação recomendada ... Uma Gravação de 1928 verdadeiramente excepcional, "quente" e emotiva ...

WAGNER Die Walküre, Act I. Lotte Lehmann, soprano, Lauritz Melchior, tenor, Emanuel List, bass, and the Vienna Philharmonic Orchestra, Bruno Walter conducting.
Mais uma gravação histórica ... 1935 .... Lotte Lehmann e Lauritz Melchior ....

BERG Excerpts from Wozzeck. Charlotte Boerner, soprano, and the Janssen Symphony Orchestra, Werner Janssen conducting
Pois aqui lamentamos mas não encontramos. A obra de Berg podem ouvi-la aqui. Da soprano infelizmente ... nada.

STRAUSS, JOHANN Two Overtures and Two Waltzes. Various European orchestras. Bruno Walter and George Szell conducting.
Conseguimos George Szell a dirigir a Filarmónica de Viena numa gravação de 1934 interpretando o Danúbio Azul.


SCHUBERT "Der Musensohn" (Goethe) and "Der Wanderer" (Schmidt von Lübeck). Gerhard Hüsch, baritone, and Hanns Udo Müller, piano.
A gravação mencionada não encontrei. A primeira destas canções por Heinrich Schlusnus. Proponho que oiçam o baritono mencionado no Der Erlkonig de Schumann que está a seguir nesta lista.

SCHUMANN "Romanze" (Geibel) and Schubert's "Der Erlkönig" (Goethe). Heinrich Schlusnus, baritone, and Franz Rupp, piano.
Encontramos a primeiras das gravações mencionadas aqui.

ROOSEVELT "A Prayer for the Nation on D-Day, June 6, 1944." Franklin D. Roosevelt, recorded off the air.
O registo deste fabuloso documento histórico aqui.

sábado, 12 de novembro de 2011

Georges Auric (1899-1983)

Georges Auric nasceu em Lodéve no Herault, França no dia 15 de Fevereiro de 1899. Desde muito cedo o seu talento para a composição foi claro. Com 13 anos entra no conservatório de Paris na classe de Georges Caussade (Contraponto e Fuga)  tendo um ano mais tarde sido aluno de Vincent d´Arcy na Schola Cantorum.

Rapidamente ganha notoriedade enquanto músico vanguardista e faz parte do Grupo dos Seis com Louis Durey, Arthur Honegger,Darius Milhaud,Francis Poulenc, Germaine Tailleferre embora este grupo seja mais uma construção teórica que um agrupamento de sensibilidades tão diversas eram as suas raízes e estéticas. A propósito (embora não sobre este tema) sugiro que oiçam um documento muito interessante em que Cocteau e Auric (entre outros) falam de Satie (em françês). Sobre o tema dos seis isso sim podem também ouvir o próprio Poulenc (também em francês).

Convive nessa altura com os maiores vultos da época Stravinsky, Apollinaire, Radiguet, Braque, Picasso, Léon Bloy, Jacques Maritain. Jean Cocteau, Erik Satie tornando conhecido em 1924 com o ballet "Les Facheux" para os Ballets russos de Diaghilev. Este ballet não só inaugura uma longa série de música para Ballet como acaba por ser também a centelha que o faria tornar-se num dos mais relevantes compositores de música para cinema do século XX.

Neste particular escreveu muitas das bandas sonoras dos filmes de Jean Cocteau entre os quais teremos de destacar a Bela e o Monstro de 1946. Auric viria também a escrever música para filmes de Hollywood tendo nessa altura adquirido fama mundial. Entre esses poderíamos destacar por exemplo Moulin Rouge de John Houston (1952). São destaques no entanto curtos de um dos mais prolíficos autores de música para cinema do  século XX. Só para vos dar mais alguns exemplos: Férias em Roma (1953) de Corcunda de Notre Dame (1958) de Delannoy, Bom Dia Tristeza (1958) de Otto Preminger, Os Inocentes (1961) de Jack Clayton,  A partir de 1962 quando aceita o cargo de director da Ópera de Paris deixa de compor para Cinema.

Músicou também variadíssimos poemas dos maiores poetas franceses do século XX entre os quais Nerval, Aragon e Eluard, infelizmente não encontro no You Tube registos dessas obras.

Em 1975 termina aquela que viria a ser a sua ultima grande obra "Imaginées", conjunto de seis peças que tanto podem ser interpretadas em conjunto como de forma separada. Estas obras foram dedicadas por vezes aos músicos que as estrearam outras vezes são homenagens a amigos de Auric.

Como as obras para instrumentos de sopro não estão muito representadas neste blog (as minhas desculpas aos instrumentistas desses instrumentos ... não é por má vontade garanto) deixava-vos com o seu Trio para Oboé, Clarinete e Fagote de 1938.

Georges Auric faleceu em Paris no dia 23 de Julho de 1983.

domingo, 6 de novembro de 2011

Monty Python´s falam sobre Música e Always look on the Bright side of Life

No novo canal dos Monty Phyton - de que sou fã incondicional - encontrei este pequeno video em que o John Cleese fala sobre música ... Posso dizer-vos que o meu respeito subiu (se é que ainda era possível) uns mil pontos ... Já agora neste mesmo canal observem esta excelente produção ao vivo ... com orquestra - fantástico :-) ... Always look on the Bright side of Life (parte da produção Not the Messiah - humor ao mais alto nível). Prometo um post um pouco mais sério (ou não) ainda hoje !

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Juan Crisóstomo de Arriaga (1806-1826)

Continuamos hoje a nossa divulgação de alguns compositores um pouco menos conhecidos que vamos encontrando na obra "Guia da Música de Câmara" de François-René Tranchefort publicada em Portugal pela Gradiva. Este texto baseia-se em parte no que é escrito nesse livro e em outras fontes encontradas e mencionadas no texto sempre que tal for relevante.

Juan Crisóstomo de Arriaga nasceu em Bilbao a 27 de Janeiro de 1806, exactamente 50 anos após Mozart. Não se sabe se por essa razão se por simples coincidência o pai abastado comerciante e músico amador dá-lhe como dois primeiros nomes os de Mozart.

Se fossemos supersticiosos diríamos que esse baptismo foi simultâneamente uma bênção e uma praga. Bênção porque o jovem Juan cedo começa tal como Mozart a revelar um enorme génio tornando-se tal como o seu homónimo uma criança prodígio.

Compõe a sua primeira ópera com apenas 13 anos (infelizmente dessa obra "Os Escravos Felizes")  subsistem apenas a abertura e alguns fragmentos.

O pai reconhecendo o seu enorme talento envia-o para Paris onde estuda com Baillot e Fétis onde rapidamente completa o curso tornando-se assistente de Fétis. Infelizmente por causas desconhecidas acabaria por falecer em Paris a 17 de Janeiro de 1926 antes de completar o seu vigésimo aniversário .

Todas estas coincidências levaram-no ao cognome de "Mozart Espanhol" que se face à dimensão da obra é sem dúvida um pouco exagerado já quanto ao potencial e ao estilo é uma designação bastante próxima. Na realidade apesar de ser contemporâneo de Beethoven o seu estilo é mais próximo de Mozart e de Hayden do que do pré-romantismo ou mesmo do romantismo de Beethoven.

Das suas obras hoje em dia há três quartetos para cordas (os unicos publicados em vida do compositor) que são frequentemente interpretados. Entre esses o mais interessante será o terceiro de que vos deixamos aqui uma interpretação pelo Quarteto Quiroga.


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