domingo, 30 de novembro de 2008

Brahms ( 1833 - 1897) - Uma Biografia (Epilogo)

Com este post terminamos a nossa sequência de post sobre a obra de Brahms. Brahms foi um compositor notável, que infelizmente viveu muito tempo com receio da sombra de Beethoven.

Podem ler a sua biografia nesta sequência de posts:

Primeira Parte
Segunda Parte
Terceira Parte
Quarta Parte
Quinta parte

Alem de toda a componente de Brahms como artista que julgo já descrevemos de forma bastante detalhada não queria deixar de neste ultimo post acrescentar que embora não fosse uma pessoa fácil (o seu mau humor era conhecido) nunca deixou de ajudar músicos em necessidade e sobretudo sempre revelou um elevado sentido moral e de estima pelos amigos.

A sua devoção por Clara Schumann é em meu entender o exemplo do carácter de Brahms. Acho que ganharíamos todos muito em viver a vida com os seus valores.

sábado, 29 de novembro de 2008

Brahms ( 1833 - 1897) - Uma Biografia (Quinta Parte)

Na quarta parte desta série sobre a vida de Brahms que pode ler aqui deixamos Brahms em 1888 com a estreia do duplo concerto para violino e violoncelo.

Com este concerto e com a quarta sinfonia terminou um ciclo de grandes obras orquestrais ao qual Brahms não voltaria. Deste momento e até à sua morte dedicou-se à música de câmara e à composição de lied. São exemplos destes últimos os Op. 104 a 107 cada um deles contendo cinco canções ou ainda os Op. 109, 110 e 112.

Deste período destaca-se obviamente a terceira sonata para piano e violino e as sonatas para clarinete obras dedicadas e inspiradas pelo clarinetista Richard Mühlfeld que levou Brahms a saír da sua "reforma" (Brahms achava-se na altura já sem ideias e sem vontade para compor).

A penúltima obra publicada - quatro canções sérias - para piano e voz é uma obra notável. Oiçam aqui uma notável interpretação de Fischer-Dieskau. Diz o inicio do poema retirado do velho testamento "Oh morte quão amarga é a tua presença para um homem que está em paz com as suas posses" e diz a segunda estrofe "Oh morte quão aceitável é a tua presença para um homem que já não sente forças".

A morte de Clara Schumann a 20 de Maio de 1896 terá certamente marcado para Brahms a transferência entre estes dois estados de espírito.

A sua ultima obra publicada (Op. 122 em 1896) foram 11 prelúdios para órgão.

Brahms faleceu a 3 de Abril de 1897 em Viena.

Recomendações de Sábado

As recomendações de quinta-feira desta vez ficaram um pouco atrasadas. Os motivos foram os melhores mas de qualquer forma as minhas desculpas pelo facto. Não temos hoje recomendações para o sul do país.

Em Lisboa teremos hoje à noite na Igreja de São Roque pelas 21h o Grupo vocal Olisipo e a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Serão interpretadas obras de Handel (Dixit Dominus) e de Haydn (Paunkemess). Este concerto será o concerto de encerramento da temporada de música em S. Roque.

No dia 1 de Dezembro, Segunda-Feira na Sé Catedral de Lisboa teremos o Messias de Handel às 18h (em destaque na coluna aqui ao lado).

Um pouco mais a Norte em Leiria às 21:30 de Sábado teremos a Carmen de Bizet no teatro José Lúcio da Silva pela Orquestra Filarmonia das Beiras dirigida por António Vassalo Lourenço.

Em Coimbra no Domingo integrado no Festival de Música de Coimbra 2008 teremos o Quarteto de Clarinetes de Lisboa na Biblioteca Joanina às 17:30. Serão interpretadas obras de Astor Piazzolla, Lino Guerreiro, José Santos Rosa e Pedro Iturralde.

Em Mação também no Domingo às 12h e às 16h teremos o Coro Misto da Beira Interior.

Na Igreja de Paredes teremos a Orquestra do Norte dirigida por José Ferreira Lobo . Será também no Domingo às 17h.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Lista da Mafalda - Uma mensagem de parabéns

Hoje, dia 28 de Novembro a Mafalda faz anos. Creio que não se importaria que dissesse quantos anos são mas ensinaram-me que não se faz isso a uma senhora. Pediu-me que listasse neste blog as suas músicas preferidas e deu-me uma lista que comentei ligeiramente. Como já perceberam eu adoro listas e assim aqui fica esta prenda para a Mafalda. A lista das 20 músicas + 1 que passaremos a chamar a Lista da Mafalda ... No fim perceberão o mais uma .... (não vale espreitar).
  1. Over the Rainbow (Judy Garland) : Somewere over the rainbow skies are blue and the dreams you dare to dream really come through. Sim Fá, Os ceús são azuis para além do arco-iris e sim podemos torná-los realidade. Deus sabe que tu tentas ... Esta canção aqui.
  2. Les Feuilles Mortes (Yves Montand) : ... Mais la vie sépare ceux qui s´aiment tout doucement sans faire de bruit ... Ou não Fá, ou não mas já deves saber que fala assim o teu incurável romântico. Esta canção aqui .
  3. João e Maria (Chico Buarque) : ... E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz e você era a princesa que eu fiz coroar e era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país ... Gostava mesmo de poder fazer uma lei destas, pelo menos princesa és com certeza e linda também. Espero que seja possível um dia a lei da felicidade, mas isso lá está como diz Buarque é coisa de crianças, ou talvez não ... Esta canção aqui.
  4. Á Flor da Pele (o que será) (Chico Buarque e Milton Nascimento) : ... O que não tem medida nem nunca terá ... o que será ? Nem dez mandamentos, nem todos os santos, o que não tem distância, o que não tem limite? .... Referia-se possivelmente Buarque apenas à tua vontade infinita de ajudar os outros ... Esta canção aqui.
  5. Trem das cores (Caetano Veloso) : Desta canção de cores lembro-me que para nós as rosas eram azuis. Na verdade ainda o são sempre que te oiço rir. Esta canção aqui.
  6. The Long And Winding Road ( The Beatles) : The Long and Winding road that leads to your door will never disapear, I have seen that road before ... Também acredito que não, que esta estrada nos levará sempre a nós. Esta canção aqui .
  7. Quand on a que l´amour (Jacques Brel) : Quand on n'a que l'amour a offrir à ceux-là dont l'unique combat est de chercher le jour ... Esta estrofe é sem dúvida o teu espelho. Não te esqueças do fim da canção ... Nous aurons dans nos mains le monde entier. Não de bens materiais mas espirituais certamente. Esta canção aqui.
  8. Cais (Elis Regina): Quando nos conhecemos eu ouvia Elis sem parar. Tu ouvias Caetano e Gil e cruzamos canções e vidas. Inventamos o mar inventamos em nós o sonho. Esta canção aqui.
  9. Cigarra (Simone e Milton Nascimento): Esta canção é para cantar como a cigarra acende o verão e lembra-me as manhãs de Sábado em que acordava com este som ... não da cigarra, mas da música. Esta canção aqui.
  10. Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) : Ah ... se tu soubesses que quando passas ... Esta canção aqui.
  11. Para não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré) : Ainda me lembro do dia em que pela primeira vez ouvi esta canção. Foste tu que ma fizeste ouvir e foste tu que me explicaste toda a sua história. Esta canção aqui.
  12. Summertime (Ella Fitzgerald) : Esta canção aqui.
  13. Verdes Anos (Carlos Paredes) : Esta canção aqui.
  14. Primeiro Dia (Sérgio Godinho) : Esta também é uma daquelas canções que nos acompanhou ao longo de todos estes anos. O mais engraçado é que o nosso filho Miguel também já está "contagiado". Nesta e em outras canções desta lista ... Esta canção aqui.
  15. Ma Solitude (George Moustaki) : Esta canção aqui.
  16. Madame Butterfly (Maria Callas) : Esta canção aqui.
  17. Canção de Embalar (José Afonso) : "Ouvirás cantando nas alturas trovas e cantigas de embalar" ... Esta canção aqui.
  18. What a Wonderful World (Louis Amstrong) : Esta canção aqui.
  19. Caçador de Mim (Simone e Milton Nascimento) : Esta canção aqui.
  20. Se todos fossem iguais a você (Jobim "Sinfónico") : "A tua vida é uma linda canção de amor ... Se todos fossem iguais a você que maravilha seria viver ... " ... e é assim mesmo. Esta canção aqui.
Eu disse que não valia espreitar o fim da lista ... a vigésima primeira só podia ser com o Miguel, o nosso filho. Fiquem aqui com Ein Klein Nacht Music de Mozart para terminarmos esta lista em beleza.

Muitos parabéns Mafalda.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lincoln Portait - Uma obra de Aaron Copland

Conforme referimos esta obra é uma obra para Orquestra e um Narrador com ênfase no sopros. O texto é sobretudo baseado em discursos de Abraham Lincoln especialmente o "Gettysburg Address".

Esta peça foi estreada a 14 de maio de 1942 pela Cincinnati Symphony Orchestra dirigida por Aaron Copland sendo o narrador William Adams. este texto já foi narrado por várias pessoas celebres como referimos entre as quais Barack Obama. Veja neste pequeno vídeo que se segue um extracto desse momento.




Pode também ouvir neste endereço a obra completa dita pelo actor recentemente falecido Paul Newman: http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=4790854
(neste momento não sei porquê os links não estão a funcionar no Blogger).

Quanto à tradução do texto e como prometido aqui vai a minha tentativa. Há quem chame a esta obra anacrónica (o próprio Copland não gostaria especialmente da popularidade que acabou por merecer). Creio porém que essa popularidade é perfeitamente justificada. Trata-se de uma composição notável e em meu entender perene.

"Cidadãos, Não podemos escapar à história."
Isto foi o que disse. Foi o que Abraham Lincoln disse.
"Cidadãos, Não podemos escapar à história. Nós deste congresso e deste governos seremos lembrados apesar de nós próprios. Não existe qualquer desculpa que permita dispensar qualquer um de nós. O julgamento pelo qual passaremos iluminará-nos na honra ou na desonra até á ultima geração. Nós que estamos aqui detemos o poder e suportamos a responsabilidade"
[Mensagem anual ao congresso, 1 de Dezembro de 1862]
Ele nasceu no Kentucky, foi criado no Indiana e viveu em Illinois. E isto foi o que disse. Isto foi o que Abe Lincoln disse.
"Os dogmas do passado tranquilo são inadequados ao presente tumultuoso. A situação está recheada de dificuldade e devemos crescer para a enfrentar. Tal como o nosso caso é novo também nós devemos pensar de novas maneiras e agir de igual forma. Temos de nos libertar de forças externas e então salvaremos o nosso país."
[Mensagem anual ao congresso, 1 de Dezembro de 1862]
Quando de pé tinha seis pés e quatro polgadas de altura e foi isto que disse. Ele disse:
"É a eterna luta entre dois princípios, o certo e o errado, no mundo. É o mesmo principio que diz que deves trabalhares e ganhar o pão e que eu o devo comer. Não importa em que forma se apresenta, se da boca de um Rei que procura explorar o povo da sua própria nação e viver do fruto do seu labor, ou se na forma de uma raça de homens como uma desculpa para escravizar outra raça - é sempre o mesmo principio tirânico"
[Debates Lincoln-Douglas debates, 15 de Outubro de 1858]
Lincoln era um homem calmo. Abe Lincoln era um homem calmo e melancólico. Mas quando falou de democracia, isto foi o que disse. Ele disse:
Tal como não gostaria ser escravo também não não gostaria de ser escravizador. Isto exprime a minha ideia de democracia. tudo o que difere disto, não é democracia"
Abraham Lincoln, décimo sexto presidente dos Estados Unidos, tornou perene a memória dos seus cidadãos. Porque na batalha de Gettysburg foi isto que disse. Ele disse:
"Por estes mortos honrados deveremos ter uma devoção acrescida à causa pela qual deram a ultima medida da devoção. Devemos ter sempre em mente que estes mortos não podem ter morrido em vão. Esta nação terá aqui um novo nascimento de liberdade e que o governo do povo, pelo povo e para o povo não desaparecerá da face da terra"

Kreisler - Uma audição e um Romântico ?

Estive hoje numa audição e entre outras peças que foram interpretadas convido-vos a ouvir esta (Praeludium e Allegro - Kreisler ), pelo meu filho ....

Kreisler, excepcional violinista (está na nossa lista) compôs várias obras que inicialmente foram atribuídas a outros compositores tal era a semelhança de estilo com esses compositores. Neste caso esta peça foi durante algum tempo atribuída a Gaetano Pugnani.

Quando confessou a autoria dessas obras (ainda em vida) foi bastante criticado tendo na altura respondido que esses mesmos críticos já haviam "certificado" a qualidade das obras e por isso era apenas uma questão de mudança de "nome" ....

Um dia faremos um post sobre este compositor e sobretudo excelente interprete. Esta peça, como outras, Liebesfreud ou Liebesleid por exemplo, fazem parte do reportório de "encores" e de aprendizagem da maioria dos métodos de ensino.

O especial sobre um pianista : Venceu Glenn Gould

A votação para a escolha do pianista sobre o qual vamos ter o nosso já habitual especial foi bastante renhida. Na verdade quando faltavam cerca de 5 horas para o fecho da votação Nelson Freire e Glenn Gould estavam empatados.

Porém nas ultimas horas Glenn Gould destacou-se vencendo com 27 votos (40%) contra 24 (36%) de Nelson Freire. Em terceiro ficou Vianna da Mota com 13 votos (19%) seguindo-se Guiomar de Novaes com 8 votos (12%) e Alfred Cortot com 5 votos em ultimo (7%). Votaram 66 cibernautas num total de 77 votos.

Desta forma iremos em breve iniciar uma série de posts especiais sobre Glenn Gould.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Pesquisas interessantes da semana (#13)

Texto do narrador de lincoln portrait: Trata-se de uma obra em que Copland utiliza uma orquestra e um narrador. Este texto tem sido narrado por variadíssimas pessoas célebres. Neste texto Copland utiliza um conjunto de textos de Lincoln e outros personagens históricos e cita (musicalmente) canções populares da época. Porque achamos que é uma obra que merece um post só por si prometemos para amanhã uma versão completa traduzida. Tinhamos falado desta obra aqui quando falámos de Leonard Bernstein. Por agora fiquem com o texto em inglês:

"Fellow citizens, we cannot escape history."
That is what he said. That is what Abraham Lincoln said.
"Fellow citizens, we cannot escape history. We of this congress and this administration will be remembered in spite of ourselves. No personal significance or insignificance can spare one or another of us. The fiery trial through which we pass will light us down in honor or dishonor to the latest generation. We, even we here, hold the power and bear the responsibility."

[Annual Message to Congress, December 1, 1862]
He was born in Kentucky, raised in Indiana, and lived in Illinois. And this is what he said. This is what Abe Lincoln said.
"The dogmas of the quiet past are inadequate to the stormy present. The occasion is piled high with difficulty and we must rise with the occasion. As our case is new, so we must think anew and act anew. We must disenthrall ourselves and then we will save our country."

[Annual Message to Congress, December 1, 1862]
When standing erect he was six feet four inches tall, and this is what he said.
He said: "It is the eternal struggle between two principles, right and wrong, throughout the world. It is the same spirit that says 'you toil and work and earn bread, and I'll eat it.' No matter in what shape it comes, whether from the mouth of a king who seeks to bestride the people of his own nation, and live by the fruit of their labor, or from one race of men as an apology for enslaving another race, it is the same tyrannical principle."

[Lincoln-Douglas debates, 15 October 1858]
Lincoln was a quiet man. Abe Lincoln was a quiet and a melancholy man. But when he spoke of democracy, this is what he said.
He said: "As I would not be a slave, so I would not be a master. This expresses my idea of democracy. Whatever differs from this, to the extent of the difference, is no democracy."
Abraham Lincoln, sixteenth president of these United States, is everlasting in the memory of his countrymen. For on the battleground at Gettysburg, this is what he said:
He said: "That from these honored dead we take increased devotion to that cause for which they gave the last full measure of devotion. That we here highly resolve that these dead shall not have died in vain. That this nation under God shall have a new birth of freedom and that government of the people, by the people, and for the people shall not perish from the earth."


Qual foi o maior concerto de Beethoven: Admitindo que estamos a falar de um concerto (ou seja não estamos a considerar as sinfonias) então apesar da minha preferência pelo violino terei de escolher o Concerto para Piano Nº 5.

Musica clássica vs Música Erudita : Num dos comentários desta semana um nosso leitor simpaticamente criticava-nos por utilizarmos erradamente a designação de clássica para o tipo de música de que aqui falámos. Dizia que deveríamos utilizar a designação de Erudita. Como também já vos referimos nem eu nem Leonard Bernstein (estou portanto em boa companhia) gostamos especialmente dessa designação dado poder dar a sensação que é necessária erudição para a compreender. Por isso é que estamos a preparar um post especial sobre o que é a música clássica e eventualmente encontrar uma designação que nos satisfaça ou então concluírmos que eventualmente para este efeito o nome talvez não seja o mais importante? Logo veremos.

Para que serve a musica: De vez em quando aparece esta pergunta. A música como qualquer forma de arte serve para exprimir o que não podemos exprimir através da nossa linguagem. A música como linguagem metafórica que é serve para dizer o indizivel, para nos alegrar e enriquecer a alma.

erlkonig tradução : Já tinhamos recomendado a trdução deste blog : Um Pingo de Cultura
gostaria de ouvir valsa de strauss danubio azul : Nas palavras de um famoso filme: "By your command" ... Há várias hipóteses no You Tube. Escolhi esta de Karajan.

gostas da cidade de Lamego : Hum, sim gosto muito de Lamego. Não estive lá muitas vezes mas é lindíssima, pelo menos é essa a imagem que tenho. Verde. Muito verde.

domingo, 23 de novembro de 2008

Guilhermina Suggia (1885 - 1950) - Epílogo

Epílogo

Abordamos a vida de Guilhermina Suggia neste especial ao longo destes vários posts:

Primeira Parte
Segunda Parte
Terceira Parte
Quarta Parte
Quinta Parte

Neste ultimo post gostaríamos de dizer, voltando um pouco ao inicio, que Guilhermina Suggia enfrentou a dificuldade de ter sido solista num instrumento e numa época em que isso era ainda raríssimo. Guilhermina Suggia porém transcendeu em muito essa simples diferença de género sendo com Pablo Casals o melhor violoncelista no inicio do século XX.

A sua ultima atitude ao doar os seus dois violoncelos a cada uma das escolas com quem mais eventualmente se identificava para que fossem vendidos e com o valor da venda se instituísse um prémio para pagar as aulas de jovens violoncelistas é bem significativo do amor que tinha pela música e a alma com que se entregava.

Muitos críticos musicais exaltavam a "alma" com que tocava, a qualidade e quantidade do som e efectivamente esses eram dons de Guilhermina. Porém como dizia Gerald Moore: "Ela (Suggia) convence-nos que a sua forma de tocar é apaixonada e intensa, mas o contrário é que é verdade: É correcta, calculada e clássica e como a sua natureza perfeitamente equacionada. Ela está longe de ser a prima dona que poderia parecer. A sua forma perfeita de conceber o espectáculo desfigurava desse ponto de vista uma fundação musical rigorosa. Na sua carreira Suggia sempre foi felicitada por a sua técnica impecável, arcada vigorosa, fraseado flexível, tom quente e sonoro e interpretações cheias de sensibilidade".

Gostaríamos porém de vos deixar com umas palavras de Guilhermina Suggia que pensamos ilustram a razão e o fundamento do seu sucesso tão bem quanto o valor do seu legado e os valores pelos quais se regia:

"Nunca me deixei contaminar pela inveja ou pela vaidade. Confesso que sinto-me orgulhosa de mim mesma. Como artista estou sempre insatisfeita, em todo o momento procurando a suprema perfeição. Estudo todos os dias e ainda estudo como antes para aprender tudo o que me falta aprender. Quando toco bem à frente de uma audiência gosto de sentir o aplauso entusiástico porque antes que o público tenha respondido já me aplaudi interiormente com a satisfação intima do sincero prazer espiritual. Sou a minha mais feroz critica. É exactamente por isso que quando toco mal não fico impressionada com os imerecidos aplausos do público. Fico grata mas não os aceito na minha alma como mulher e como artista".

sábado, 22 de novembro de 2008

Guilhermina Suggia (1885 - 1950) - Quinta Parte

Esta é a quinta parte do Especial sobre Suggia . Pode ler a quarta parte aqui.

A seguir ao fim da Guerra faz bastantes concertos em Portugal, por exemplo no lindíssimo Sá de Miranda no dia 14 de Maio de 1945.

Suggia iria ainda voltar a Inglaterra sendo recebida em triunfo em 1946 e sobretudo em 1949 no festival de Edimburgo. Na altura já com mais de 60 anos mantinha uma vitalidade notável apesar da doença que já a afligia.

O ultimo recital de Guilhermina Suggia dá-se em Aveiro a 31 de Maio de 1950 tendo sido acompanhada ao piano por Maria Adelaide de Freitas Gonçalves e segundo o blog da Associação Guilhermina Suggia - de que recomendamos fortemente a leitura - interpretou Sonata de Locatelli, a Sonata em dó menor de Saint-Saëns e pequenas peças de Boccherini, Bach, Fauré, Weber, Chopin, Schubert e Falla. As últimas peças que toca extra-programa são a Peça em Forma de Habanera de Ravel, A Abelha de Schubert (que bisou) e o Rondo de Weber.

Faleceu no Porto a 30 de Julho de 1950.

Deixaremos para um ultimo post o legado de cultura, apoio e alma que deixou entre nós.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Brahms ( 1833 - 1897) - Uma Biografia (Quarta Parte)

Este post é a quarta parte da biografia de Brahms. Pode ler a terceira parte aqui.

Teríamos de esperar apenas mais alguns anos mais precisamente até 1883 para ouvirmos a terceira sinfonia que seria publicada no ano subsequente.

Tinha entretanto publicado também o segundo concerto para piano dedicado a Eduard Marxen que inova bastante na forma do concerto aliá na linha do que já o primeiro tinha feito.

Em 1885 estreia a sua quarta e ultima sinfonia que é uma obra absolutamente notável do ponto de vista da composição nomeadamente o quarto andamento. Será também a ultima obra que Brahms ouviria dado que tendo esta sido tocada por ocasião do seu aniversário a 7 de Maio de 1897 viria a falecer uns dias depois.

Em 1886 é condecorado mais uma vez quando o Imperador da Alemanha o nomeia Cavaleiro da Ordem pelas Artes e Ciências. Nesse mesmo ano a Academia das Artes em Berlim nomeia-o membro "externo".

Em 1888 estreia o concerto para violino e para violoncelo, uma forma que tinha estado adormecida durante muito tempo e que Brahms recupera de forma notável. Nesse mesmo ano são publicadas as Op. 99 e Op. 100.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

As recomendações da Quinta-Feira de Música Clássica

Este post é também publicado no blog Folhas Pautadas.

Começamos esta sequência de recomendações como é costume pelo sul do país mais precisamente em Tavira onde teremos no Sábado 22 às 21:30 na Igreja da Misericórdia um concerto pelo Grupo Coral de Tavira com um programa composto por obras de Sebastião Leiria.

Em Lisboa no CCB no Domingo 23 às 17h no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém teremos a Orquestra Metropolitana de Lisboa com a direcção de Augustin Dumay que também será solista. Serão interpretados os concertos Nº3 e Nº 5 de Mozart e ainda a Sinfonia Nº 3 de Schubert na segunda parte deste concerto.

Ainda em Lisboa teremos no dia 23 de Novembro, Domingo às 17.00 na Igreja de S. Pedro de Alcântara o Coro Gregoriano de Lisboa.

Na zona da grande Lisboa, mais precisamente em Cascais no Conservatório de Música de Cascais, teremos no dia 23 de Novembro às 17h00, um concerto integrado no ciclo "Histórias da Música" em que será contada a história e ouvida a música de António Vivaldi. Orquestra de Camara de Cascais e Oeiras dirigida pelo Maestro Nikolay Lalov.

Um pouco mais a norte, em Santarém teremos também no domingo 23 de Novembro às 17h no Teatro Sá da Bandeira um Concerto Integrado no ciclo de concertos promenade promovidos pela Caixa Geral de Depósitos. O programa inclui obras de Mozart "Eine kleine Nachtmusik", Sergei Prokofiev "Pedro e o Lobo", Johannes Brahms "Dança Húngara nº 5 em Sol Menor" e Johann Strauss "Marcha Radetzky". este concerto será interpretado pela Orquestra do Algarve dirigida por Cesário Costa.

No dia anterior, Sábado 22 de Novembro esta mesma Orquestra estará no Centro Cultural e Congressos nas Caldas da Rainha às 21:30 para interpretar "O Elixir d´Amor" de Gaetano Donizetti (1797-1848). A orquestra será dirigida por Cesário Costa. A encenação é de Maria Emília Correia e a versão portuguesa de Nuno Côrte-Real. Serão solistas Carla Caramujo (Soprano), João Cipriano Martins (Tenor), Nuno Dias (Baixo), Diogo Oliveira (Barítono), Alexandra Moura (Soprano). Coro de Câmara Lisboa Cantat.

Finalmente em Penafiel hoje Sexta-Feira às 21:30 na Igreja de Abragão teremos pelo grupo de Sopros da Orquestra do Norte um concerto incluindo obras de Mozart, Donizetti e Poulenc. A orquestra será dirigida por Vitor Matos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guilhermina Suggia (1885 - 1950) - Quarta Parte

Esta é a quarte parte da nossa história sobre Guilhermina Suggia. Pode ler a terceira parte aqui.

Desconhece-se a razão pela qual Guilhermina escolheu Londres. Não tinha especial fama em Inglaterra, se excluirmos Tovey (a eventual causa da separação com Casals não se conhecem amigos) e logo esta escolha parece muito mais revelar do acaso do que de uma decisão muito racional.

Facto é que passada uma década Guilhermina era já uma das mulheres mais conhecidas no circulo musical e mesmo intelectual britânico. Infelizmente Guilhermina não tinha por hábito manter um registo detalhado dos vários concertos que fazia e por isso é relativamente dificil saber com exactidão os concertos que concretizou durante esses anos.

Data dessa época o mais famoso retrato de Suggia do pintor Augustus John (1878-1961) e que é especialmente notável por ter conseguido retratar de forma notável o espírito da interprete que tinha uma postura notável em público transmitindo de forma integral a forma como sentia a música. A fama deste quadro na época transcendia e precedia a da própria interprete; muitas vezes o público conhecia o quadro antes de conhecer a artista.

Depois de uma década de intensa actividade Suggia abranda entre 1925 e 1935 e depois durante a guerra voltando a Portugal suspendendo mesmo a sua actividade entre 1939 e 1942.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Leonard Bernstein - Sétima Parte - A música e as causas

Embora Leonard Bernstein tenha sido sempre um homem de causas entre 1973 e 1990 a sua actividade é retrospectivamente avassaladora pela pertinência. Não crendo deificar Leonard Bernstein a verdade é que é dificil não deixarmos de ficar sensibilizados e espantados com as causas e as posições que tomou e com os concertos verdadeiramente históricos em que foi figura de primeiro plano.

Tudo começou em 1973 com o concerto de que já falámos aqui a favor da paz e em protesto contra a reeleição de Nixon. É fácil hoje dizer retrospectivamente que é natural mas na altura era bem menos óbvio.

Em 1977 contrastando com a posição contra Nixon apoia deliberadamente Jimmy Carter ao tocar na cerimónia de posse numa espécie de ante-estreia da sua obra "Songfest".

Em 1980 dirigindo "Lincoln Portrait" com o compositor Aaron Copland como narrador, Copland que fazia então 80 anos. Não nos esqueçamos que Copland é "apenas" um dos grandes compositores americanos do século XX.

Em 1983 Missa pelo desarmamento nuclear.

Em 1985 dirige a Orquestra de Jovens da Europa (não esqueçamos que isto num maestro americano é absolutamente notável quer pelo facto de ser uma Orquestra Europeia, quer sobretudo pela conjugação de ser Europeia e de Jovens) numa tournée pela Paz e ainda aceitando (desejando) partilhar a regência com Eiji Oue (seu aluno).

Em 1989 recusa a condecoração americana "National Medal of Arts" atribuída por George Bush em protesto pela supressão do financiamento federal de uma instituição por ter supostamente exposto arte relacionada com a luta contra a SIDA.

Finalmente em Dezembro desse mesmo ano no dia 25 de Dezembro Leonard Bernstein dirige um concerto que ficará sem dúvida alguma na história da civilização. Tocou em Berlim uma orquestra constituída por membros da Orquestra da Baviera, da Staatskapelle Dresden, da Orquestra de Kirov, da Sinfónica de Londres, da Orquestra de Paris e claro da Filarmónica de Nova Iorque. Foram solistas June Anderson, Sarah Walker, Klaus Konig e Jan-Hendrik Rootering. Este concerto onde Bernstein muito apropriadamente substitui a palavra Freude (alegria) por Freheit (liberdade) celebrando desta forma metafórica, como a linguagem musical a queda do muro de Berlim. Oiçam aqui um extracto do ultimo andamento deste concerto fantástico.

Depois deste concerto e antes de falecer a 14 de Outubro de 1990 Bernstein apenas dirigiria mais cinco vezes, duas na Europa - A missa em Dó Menor de Mozart e de novo a Nona Sinfonia e três nos Estados Unidos entre os quais um ultimo concerto em Nova Iorque e um em Tanglewood, o ultimo acabando com a Sétima de Beethoven.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Pesquisas interessantes da semana (#12)

"o que são strings de pesquisa" : De vez em quando lá aparece a questão na lista das estatísticas do Google Analytics, o software que utilizo para compilar esta lista. Uma string de pesquisa não é mais do que o conjunto de palavras que o leitor utilizou no motor de pesquisa para aqui chegar. Notem que eu não tenho forma (nem quero) saber quem utilizou essa "frase" ou "string" (conjunto ou sequência de caracteres) apenas utilizo esta informação para poder dar esta informação complementar esperando que quem colocou a questão e não encontrou resposta um dia aqui volte.

Quarteto daccapo : Bom, para mim este é o Quarteto que o meu filho e três colegas do colégio fundaram para tocarem música. Podem visitar o seu blog aqui e se quiserem podem ouvir o quarteto aqui num concerto de fim de ano lectivo.

sinfonia júpiter
: A ultima sinfonia composta por Mozart (K.551) em Dó Maior. Desconhece-se terá sido alguma vez interpretada em vida de Mozart. Falámos dela aqui.

os cães latem as pessoas dormem Schubert: Parte de um dos poemas das canções (mais precisamente "Na Aldeia") que compõem o ciclo Winterreise. Falámos desta canção especifica aqui . Por outro lado se quiser conhecer o ciclo completo com traduções em português de todas as canções consulte este outro post.

"Ladram os cães, sacodem suas correntes;
dormem as pessoas em suas camas
pensando em tantas coisas que não têm,
recompondo-se o melhor que podem;"

a morte e a donzela Schubert: Um quarteto de Schubert que se diz ter sido "inspirado" pelo facto do compositor ter tido por essa altura conhecimento do mal que o afligia (sífilis). É em todo o caso uma composição bastante dramática que merece ser ouvida com atenção. Falámos dela aqui.

nome de uma composiçao de carlos seixas
: Por exemplo o "Concerto para Cravo e Orquestra". Falámos de Carlos Seixas aqui.

vídeo dos melhores violinistas do mundo: Muitos dos maiores violinistas dos finais do século XIX e dos séculos XX e XXI podem ser vistos no You Tube. Pode consultar esta lista para mais facilmente encontrar alguns. Pode também adquirir o DVD "L'Art du violon" realizado por Bruno Monsaingeon para conhecer alguns dos violinistas do século XX (Yéhudi Menuhin, George Enescu, Christian Ferras, Zino Francescatti, Jascha Heifetz entre outros)

partitura comptine: Como disse não temos aqui partituras. Porém tendo em conta que realmente esta música é muito bela e que percebo o desejo de a tocar podem obtê-la aqui.

o pianista Cláudio Arrau ainda é vivo: Não infelizmente já não é vivo. Faleceu a 9 de Junho de 1991. Falámos dele várias vezes neste blog por exemplo aqui em que festejávamos o seu 105º aniversário.

cuidado paliativo - musico terapia: Falámos de cuidados paliativos aqui. tanto quanto sabemos a musico terapia é (mais) uma forma de dar aos doentes a qualidade de vida a que têm direito. E não se entenda o "mais" como sendo algo depreciativo, antes pelo contrário.

concerto violino intocável : A história está cheia de Concertos para Violino julgados intocáveis. Na época de Paganini muitos dos concertos do compositor eram julgados intocáveis. O Concerto para Violino de Brahms for julgado intocável idem para o de Tchaikovsky.

Sinfonia do destino Beethoven: A quinta sinfonia assim chamada - do destino, título que não foi escolhido por Beethoven - pelo seu célebre começo de que se diz que se o destino batesse à porta seria esse o seu bater.

o que Beethoven achava da música? : Ora aqui está uma boa questão. Penso que Beethoven terá sido o primeiro a colocar na música uma expressão metafórica, poética dos sentimentos do artista. Assim para ele a música era a sua forma de exprimir aquilo que não conseguia através de palavras. Num texto, numa carta a uma amiga afirma:

"O verdadeiro artista não tem orgulho; infelizmente ele vê que a arte não tem limites. Sente quão longe está dos seus objectivos e mesmo que outros o admirem, ele lamenta o seu falhanço em atingir o fim que o seu génio ilumina como um sol distante"

biografia fernando vasconcelos : LOL. Não faço ideia de quem procurou isto por aqui. Sugiro uma visita ao LinkedIn por exemplo. Achei piada no entanto na lista de pesquisas estava entre o Jean Pierre Rampal e o Vivaldi. Excelente companhia não vos parece ?

domingo, 16 de novembro de 2008

Brahms ( 1833 - 1897) - Uma Biografia (Terceira Parte)

Esta é a terceira parte desta Biografia. Leia a segunda parte aqui e a primeira parte aqui.

Tínhamos deixado Brahms em 1868 por altura da estreia do Requiem que foi um sucesso estrondoso e como referimos a verdadeira afirmação do compositor. Iríamos agora ter de esperar quase mais dez anos para a próxima grande obra de Brahms, a sua primeira sinfonia.

Entretanto em 1869 publica as famosas Valsas e as Danças Húngaras que se revelaram bastante interessantes do ponto de vista económico embora as ultimas o tenham envolvido numa polémica sobre autoria de todo imerecida dado que Brahms nunca pretendeu ser o autor das mesmas (aliás estas obras sempre foram consideradas por Brahms como adaptações e não obras originais).

Em 1871 volta a tocar em público o seu Concerto nº1 para piano que tão mal tinha sido recebido uns anos antes. Desta vez é um sucesso aumentando a confiança de Brahms o que era fundamental para que pudesse completar a sua primeira sinfonia. Em 1871 publica também o Op. 54 "Canção do Destino" sobre um texto de Holderlin Hyperion pelo qual tinha ficado imediatamente apaixonado em 1868 (e que é eventualmente uma das mais belas peças curtas vocais de Brahms).

Em 1874 recebe a primeira das várias condecorações que acabaria por receber, quando o Rei da Baviera lhe atribui o ordem Maximiliana das Artes e das Ciências.

Chegamos assim a 1876 quando finalmente Brahms dá por completa a sua primeira sinfonia uma obra apaixonada mas simultaneamente sombria. Notável o facto que Brahms tinha já nessa altura 43 anos ... Como referimos esta demora está possivelmente alicerçada no receio do fracasso e na reacção ao seu primeiro concerto para piano. Esta sinfonia foi bem recebida tendo Brahms utilizado-a como obra para "justificar" o grau de Doutor Honnoris Causa concedido pela Universidade de Cambridge em 1877.

Na verdade esta universidade pretendia que para o efeito fosse composta uma nova obra mas Brahms recusou dizendo-se demasiado ocupado (provavelmente estaria já a compor a sua segunda sinfonia). Após algumas negociações Brahms e o seu amigo Joachim recebem praticamente em simultâneo este grau por esta universidade (é por esta razão que esta sinfonia ainda é por vezes conhecida em Inglaterra como Sinfonia de Cambridge).

A 24 de Dezembro de 1877 Brahms estreia a sua segunda sinfonia entrando assim no período mais fecundo da sua vida artística no que diz respeito à maioria das obras que ficaram para a história. Em 1878 faz a sua primeira visita a Itália numa tradição que manteria nos últimos anos da sua vida, evitando grandes hotéis pretendia desta forma descobrir a Itália profunda.

Em 1879 recebe mais um grau Honoris Causa desta vez pela Universidade de Breslau estreando nesse mesmo ano o seu concerto para Violino que como não não poderia deixar de ser foi estreado pelo seu amigo Joachim. O concerto no entanto demorou a afirmar-se, sendo considerado "intocável" ou mesmo "um concerto contra o violino".

sábado, 15 de novembro de 2008

Guilhermina Suggia (1885 - 1950) - Terceira Parte

Esta é a terceira parte da nossa história. Leia aqui a primeira parte e aqui a segunda parte.

Nem Guilhermina Suggia nem Pablo Casals se referiram posteriormente ao período no qual estiveram juntos em paris na Vila Monitor entre 1907 e 1913. Muitos documentos perderam-se outros foram deliberadamente destruídos pelo que é dificil fazer uma ideia do que foram esses anos baseado em factos e documentos.

Sabe-se que durante esse período Casals continuou nos palcos embora nunca se afastando muito de Paris. Os registos dos concertos de Suggia estão perdidos. Sabe-se ainda que pelo menos uma vez em 1908 viajaram juntos para São Petersburgo onde ambos actuaram. é também conhecido e documentado que a sua casa servia na altura como ponto de encontro de músicos e intelectuais. Entre os visitantes frequentes encontramos pianistas como Bauer e violinistas como Kreisler, Enesco ou Ysaÿe.

Do resto, das razões que levaram à separação podemos apenas especular. Casals disse mais tarde que esse período foi “o episódio mais cruelmente infeliz da minha vida” certamente um exagero ou talvez a dor dessa relação não ter sido possível. Na verdade tanto Casals como Suggia eram pessoas com uma forte personalidade que recusavam submeter-se a qualquer domínio do outro.
Suggia tinha começado como aluna de Casals e era mais nova do que este, as suas carreiras estavam em pontos bem diferentes. Casals era um artista de projecção mundial, Suggia estava nesse standard apenas a começar. A ambição de ambos era dificilmente conciliável mesmo que tocassem instrumentos diferentes mas sendo concorrentes directos e possivelmente os dois melhores violoncelistas do tempo era quase que óbvio que a ruptura um dia aconteceria.

Não se conhece ao certo a razão da separação embora seja muitas vezes especulado que a causa essencial foi o ciúme de Casals alimentado pelos "flirt" eventualmente propositados de Suggia, que não seriam mais do que tentativas de afirmação. A estas infidelidades terá sido adicionado o ciúme na carreira nomeadamente quando Emmanuel Moór dedicou o seu duplo concerto a ambos mas reservando o primeiro violoncelo a Suggia. Dizia-se que em sucessivos acessos de ciúme Casals escondia os violinos de Guilhermina.

Em todo o caso o que é definitivamente seguro é que em 1913 o casal separa-se e Guilhermina depois de uma breve estadia em casa da irmã em Brive-La-Gaillarde viaja para Londres onde inicia uma nova etapa da sua vida de que trataremos na próxima parte.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Lisa Ekdahl no CCB - Acabei de chegar ...

Hoje desculpem-me mas o post vai ser curto. Acabei de chegar do CCB onde fui ouvir uma cantora (não é música clássica, desculpem o aparte mas vale a pena ouvirem a sua voz) de que gosto particularmente: Lisa Ekdahl.

Gostei que tenha dito que estava feliz pelos Estados Unidos terem um novo presidente, gostei da simplicidade e como sempre da voz. Em poucas palavra o concerto de hoje foi muito muito bom, faltou talvez (ainda) um pouco de intimismo mas aquela sala é complicada para isso ... Em todo o caso excelente concerto com grande cumplicidade entre a cantora e o público.

Para quem não conhece podem ouvir aqui - esta ela não cantou- ou então esta outra , esta sim cantou-a hoje e ainda bem que é uma das minhas preferidas do seu reportório. Garanto que vale a pena ouvirem com atenção esta grande interprete.

Amanhã voltamos ao reportório clássico com mais um "episódio" sobre outra grande senhora, a Guilhermina Suggia.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

As recomendações de Quinta-Feira de Música Clássica ao Vivo

Este post também é publicado no blog Folhas Pautadas onde para além destas recomendações poderão encontrar muitas outras dos restantes membros que nele participam. Gostávamos ainda de salientar que muitas destas sugestões se devem ao trabalho dos nossos amigos da Sercultur sendo que no site cultura.sapo.pt poderão encontrar muitas outras recomendações de qualidade.

Começamos a nossa viagem pelo sul do país anunciando o regresso dos Concertos Promenade pela Orquestra do Algarve dirigida por Laurent Wagner. Será no Pavilhão do Arade (Parchal) - Lagoa no Domingo dia 16 pelas 17h. Um concerto muito dentro do espírito deste blog onde todos são convidados a aprender. O programa é constituído pelas seguintes composições:

  • W.A. Mozart - "Eine kleine Nachtmusik" (ou ouçam aqui esta versão no You Tube - desculpem não resisti)
  • Sergei Prokofiev - Pedro e o Lobo
  • Johannes Brahms - Dança Húngara Nº 5 em Sol menor (a versão para orquestra)
  • Johann Strauss - Marcha Radetzky, Op. 228.
Na sexta-feira dia 14 ainda no Algarve teremos um Recital de Piano e Violino por António Rosado e João Pedro Cunha na Igreja Matriz de Albufeira às 21:30. A entrada é livre. O programa é composto por sonatas de Beethoven.

Apenas ligeiramente mais a norte teremos no Domingo dia 16 de Novembro pelas 17h na Sé de Évora o Ein Deutsches Requiem de Brahms.

Em Lisboa na Igreja do Instituto de S. Pedro de Alcântara também no Domingo 16 de Novembro às 17h teremos o Coral Vértice dirigido por Sérgio Fontão em obras de Francis Poulenc (1899-1963) alusivas a São Francisco de Assis e a Santo António. Para mais informações sobre o coral não deixe de visitar o seu blog oficial aqui.

Ainda na Zona de Lisboa teremos, também no Domingo 16 de Novembro às 17h no Palácio dos Aciprestes, um concerto bastante original intitulado "As outras schumann e Mendelssohn" em que serão interpretadas obras de Clara Schumann e Fany Mendelssohn. Um justo tributo a estas excelentes composistoras que viveram injustamente à sombra do seu apelido e de uma sociedade que infelizmente ignorava que o talento não conhece barreiras de género.

Em Coimbra, e felizmente tenho tido oportunidade de deixar aqui algumas sugestões para a minha cidade natal neste ultimos tempos, teremos integrado no Festival de Música de Coimbra 2008 um Recital de Orgão e Violino por Paulo Bernardino e Maria João Silva na Capela de São Miguel (Universidade de Coimbra). Será no Sábado dia 15 às 21:30 e entrada é livre. Obras do português Carlos Seixas e ainda Corelli, Tellemann, Sebastien Durán, Buxtehude.

Em Aveiro (desta vez não nos esquecemos da nossa Veneza) teremos a Carmen de Bizet pela Orquestra Filarmonia das Beiras dirigida por António Vassalo Lourenço no Domingo 16 pelas 18h. Será no Teatro Aveirense e as entradas variam entre os €10 e os €12(?).

Ainda em Aveiro (porque não há fome que não dê em fartura :-)) teremos integrado nos Festivais de Outono - Aveiro 08 "Winterreise" de Franz Schubert. Será na Quarta-Feira dia 19 pelas 21:30 no Museu de Aveiro e a entrada é livre. Esta obra será interpretada por Angel Gonzalez, no piano, e António Salgado, no baixo barítono.

Apenas ligeiramente mais a Norte em Espinho (e agora perdoem-me porque vou saír ligeiramente do género clássico mas penso que o Jazz também vale a pena ser ouvido ao vivo) teremos no Auditório de Espinho no Domingo 16 pelas 21:30 os músicos Pete Rende/Matt Pavolka Quartet “Blend”. Irão tocar com dois músicos portugueses: João Moreira no trompete e Marcos Cavaleiro na bateria. Preços: €7 bilhete normal, €5 para maiores de 65 e menores de 25 anos.

Na casa da Música do Porto no Sábado às 12h teremos integrado no «Festival À Volta do Barroco 2008» um concerto pelo ensemble "A Imagem da Melancolia" dirigido por Pedro Sousa Silva. Este agrupamento inteiramente constituído por flautas procura interpretar as obras de acordo com a estética da época utilizando cópias de instrumentos do século XVI. Entrada €5. Serão interpretadas obras de Hessen, Arauxo, Cabezon, Carreira, Holborne, Sheidt, Rosenmüller, Frescobaldi e Bertal.

Um pouco para interior, na Igreja de São Gonçalo em Amarante teremos a Orquestra do Norte com Carina Albuquerque e Emanuel Salvador e dirigida por José Ferreira Lobo no Sábado 15 de Novembro às 21:30. O programa inclui a Sinfonia nº 97 em Dó Maior de Haydn e o duplo concerto para violino e violoncelo de Brahms.

Esta mesma orquestra estará na Sexta-Feira dia 14 às 21:30 em Seia na Casa Municipal da Cultura de Seia mas aqui com o pianista Ângelo Martingo e um programa que inclui obras de Mozart (A Flauta Mágica - Abertura), Beethoven (Concerto nº 5 para Piano e Orquestra).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Leonard Bernstein - Sexta Parte - As Aulas em Harvard

Esta é a sexta parte da biografia de Leonard Bernstein. Veja aqui a quinta parte.

Em 1973 Leonard Bernstein é convidado a dar umas aulas em Harvard para uma cadeira chamada Charles Eliot Norton, uma cadeira de Poesia. A propósito das recentes eleições americanas este ano de 1973 tinha começado para Bernstein em Janeiro com um concerto de protesto pela re-eleição de Nixon para um segundo mandato ...

Leonard Bernstein vai utilizar esta oportunidade para construir - desculpem-me o termo mas estamos em 1973 numa altura em que estudos multi disciplinares estavam longe de ser comuns - um verdadeiro legado teórico que postula que a música e a língua partilham uma gramática comum e universal e que a música pode e deve ser analisada com as ferramentas da linguística.

O que ainda é mais surpreendente é que neste conjunto de palestras Bernstein não se pressupõe um conhecimento profundo de teoria musical de tal forma que estas cerca de 13 horas de aulas incluem uma espécie de curso rápido em teoria.

Para quem conhece os concertos para jovens descobrirão alguns pontos em comum nestas palestras em que Bernstein defende a tonalidade de certa forma contra a atonalidade e em que apresenta Mahler como o compositor emblemático do século XX.

Felizmente estas palestras foram gravadas e podem ser adquiridas em DVD na sua versão original e também em livro numa edição que data de 1976 ligeiramente revista pelo autor.

Diz Bernstein que embora possamos discordar daquilo que uma determinada música diz facilmente concordaremos nas formas (nas construções) utilizadas para a fazer dizer qualquer coisa. Defende Bernstein que a música naquilo em que é assimilável a uma linguagem é uma linguagem profundamente e essencialmente metafórica (metafóra = além do significado literal), uma forma de expressão que nos permite descrever o indescritível, dizer o indizível ...

Oiçam-no aqui e aqui em dois curtos extractos ...

O site Orgãos de Portugal foi actualizado

Caro leitores, de vez em quando temos a boa notícia que o site Orgãos de Portugal foi de novo actualizado. O site tem agora fotografias de mais orgãos e novas partituras. Não deixem também de visitar a secção da Agenda onde poderão encontrar mais recomendações para os vossos fins de semana musicais.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Brahms ( 1833 - 1897) - Uma Biografia (Segunda Parte)

Esta é a segunda parte da biografia de Brahms que começamos há cerca de uma semana, aqui.

Tínhamos deixado esta biografia com o famoso artigo de Schumann. É claro que Schumann apreciava Brahms como um filho espiritual porém dado o seu anterior entusiasmo por outros músicos que nunca se afirmaram muitos não tomaram a sério a sua recomendação. Pior ainda tornaram esse seu cepticismo uma arma de arremesso. É este antagonismo que marca o início da carreira de Brahms que pode explicar em parte o extraordinário cuidado que Brahms colocava no inicio da sua carreira e em parte dos seus complexos.

Mas pior do que isso a amizade entre os dois homens viria a ser brutalmente terminada apenas um ano após a publicação do referido artigo com a loucura e posterior morte de Schumann. Brahms tornou-se então um grande amigo de Clara Schumann ajudando-a em todas as dimensões. Esta amizade permaneceria até ao fim da sua vida.

Entre a morte de Schumann e 1859 a data da estreia do seu primeiro concerto para piano teve oportunidade de tocar por duas vezes com a Gewandaus de Leipzig (sim a orquestra de que falámos no Domingo a propósito da Guilhermina Suggia). Esse primeiro concerto para piano provavelmente por causa do já exposto foi muito mal recebido pela crítica e dissuadiu Brahms de voltar a repetir o género durante largos anos.

Em 1662 visita Viena onde acaba por fixar residência tendo obtido o lugar de director na Singacademie. É recebido com frieza pela sociedade musical vienense que tal como Leipzig tem dificuldade em entender o novo conceito que Brahms procura. A sua obra parece demasiado clássica e logo passada, conservadora não se encaixando nas expectativas grandiloquentes da época.

Em 1866 dá-se a morte da sua mãe a quem é dedicado (este facto não é certo, trata-se de uma especulação) o Deutsche Requiem, uma obra que fica na história da música e possivelmente a obra que afirma Brahms (1868) como um compositor notável. Note-se que Brahms tem nesta altura 35 anos e as obras que hoje conhecemos ainda estão por compor ...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O que é a música clássica ?

Este texto é largamente inspirado no script de Leonard Bernstein da sua série Concertos para Jovens. Foi resumido e alterado ligeiramente mas o fundamental, penso eu, foi mantido. Nos poucos pontos em que completei a opinião do maestro com pensamentos próprios indico-o claramente.

Esta é uma pergunta estranha. É estranha porque se por exemplo alguém ouvir isto ou isto ou ainda isto por muito diferente que sejam estes trechos poucos terão duvida em classifica-los como sendo de música clássica (e será provavelmente essa a palavra que utilizarão na maioria dos casos).

Caso tenha chegado a este blog não há procura de uma definição deste tipo de música mas à procura de uma forma de começar a gostar de começar a aprender sugerimos este outro conjunto de posts: Os nossos tops simplificados de música clássica: aqui. E chamamos-lhes "tops" com perfeita consciência de que estamos a percorrer uma via perigosa ... de redução, eliminação, simplificação, ... mas essa é a nossa faceta de engenheiro. Dado um assunto complexo divide-se em partes começa-se por explicar o que é simples e depois aos poucos vai-se tornando o quadro mais rigoroso.

Então porque razão é necessária a definição ? Bem essencialmente porque a razão pela qual classificamos as músicas anteriores como sendo "clássicas" é simplesmente porque não são de um qualquer outro tipo que reconhecemos.

Mais ainda apenas utilizamos esta palavra porque esta parece melhor do que outras que por vezes ouvimos serem utilizadas. Por exemplo música "séria" por oposição à música que ouvimos para nos divertirmos de forma menos consciente, designação que também não é especialmente brilhante porque há muitas outras formas de música "séria".

Outros utilizam a palavra "erudita" indicando dessa forma que apenas pessoas com cultura e erudição o que também está manifestamente errado porque obviamente pode-se entender e gostar de música "clássica" sem ter formação ou serem especialmente versados em arte.

Outras pessoas utilizam a designação de música sinfónica o que estando correcto é redutor porque isso deixa de fora uma série de formas de música que temos vindo a mostrar-vos neste blog.

Estando todas estas palavras erradas então para encontrar a designação correcta teremos de procurar o que é faz esta música diferente. A verdadeira diferença é que quando um compositor de música clássica compõe uma peça escreve exactamente as notas que pretende, os instrumentos que pretende, as dinâmicas que deseja. É claro que ainda fica bastante por fazer para o instrumentista dado que é absolutamente impossível escrever tudo, fica assim para ele a interpretação sobre não aquilo que ele acha mas antes sobre aquilo que o compositor desejaria.

Assim esta palavra - Exacta - seria uma excelente designação para este tipo de música porque apenas existe uma forma correcta de interpretar cada composição e essa foi o compositor que nos forneceu.

Assim em termos de definição podemos dizer que música clássica (ou música "exacta") é qualquer uma em que o compositor nos indica de forma explicita e exacta como deve ser interpretada a sua música - o que se segue é uma adição ao que Bernstein disse - e em que o interprete para além do explicitamente mencionado se pode igualmente basear num conjunto de regras implícitas que podem ser derivadas das regras de composição do período ou do hábito ou vontade manifesto da sua quebra.

O problema - e aqui retomamos Bernstein - é que se Exacta é uma palavra certa, Clássica não é. Música Clássica refere-se a um período especifico no tempo marcado pelos compositores Haydn, Mozart e Beethoven e não ao conjunto de tudo o que normalmente associamos a música clássica. Já falamos aqui de vários compositores do período Barroco e começamos também a falar de alguns do período romântico. A bem da verdade também já vos explicamos aqui porque razão iríamos continuar a utilizar esta designação embora errada.

O período clássico propriamente dito é marcado pela fundamental importância da forma perfeita, o escrupuloso respeito pelas regras que levaria à perfeição. Enquadra-se num período especifico da história Europeia em que esta tendência se manifestava em todas as formas de arte e a bem dizer na própria sociedade.

Poderíamos é verdade utilizar a palavra Erudita, mas isso estão a ver que iria contra os fundamentos deste blog. Nós queremos exactamente provar-vos que não é necessário erudição para gostar de música clássica, ou exacta se preferirem, mas aviso-vos que esta é uma palavra que nitidamente não pegou :-).

Entretanto como viram no comentário, o nosso leitor João (e este bocado de texto foi adicionado à posteriori do mesmo), a quem agradecemos a nota, disse-nos que não tínhamos definido exactamente o que era música clássica. E tinha razão. Assim para que fique (mais) claro:

Música clássica é toda aquela em que o compositor explicita de forma exacta o que pretende baseando-se num conjunto de regras de composição (ou na sua quebra óbvia e voluntária), regras essas que provêm da prática comum da sua época resultantes de uma evolução ao longo de séculos que nos levou da música renascentista, ao barroco, ao clássico, ao romantismo e depois ao eclodir da miríade de escolas nacionais e ao "individualismo" dos nossos dias.

Pesquisas interessantes da semana (#11)

Voltamos hoje à análise de algumas pesquisas que trouxeram alguns visitantes ao nosso blog e que por razão ou por outra nos pareceram mais interessantes.

Qual foi a importância de Beethoven para a musica clássica: Beethoven marca o fim de uma época (clássico), anuncia a próxima (romantismo), fecha alguns caminhos por os explorar até à exaustão (embora de forma talvez não tão perfeita como Bach na transição do Barroco para o clássico) inventa (ou pelo menos dá-lhe uma dimensão até aí nunca tentada) uma forma musical com a introdução do coro numa peça eminentemente orquestral (na nona sinfonia) e influenciou toda uma geração de músicos. Beethoven é na música clássica um dos compositores sem os quais a evolução do género musical teria sido certamente diferente. Beethoven colocou na sua música de forma despudorada e um pouco excessiva por vezes a expressão dos seus sentimentos, nesse sentido anunciando o romantismo.

Ouvir primavera Beethoven: Beethoven é o meu compositor preferido e dentro das suas obras esta é uma das que oiço com mais frequência. Já tínhamos falado dela aqui.

Tempestade na musica clássica: Suponho que estamos aqui a falar de música programática. Existem na verdade muitos exemplos de casos em que um compositor procura descrever uma tempestade. Assim de repente ocorrem-me de imediato dois exemplos. Na Sinfonia Scherezade de Rimsky-Korsakov um dos andamentos contém a "descrição" da luta da tripulação contra uma tempestade ou então o caso de Vivaldi que nas suas Quatro Estações, no "Verão", inclui uma célebre tempestade de verão.

livros sobre boccherini : Este é um dos projectos que tenho em reserva. Poder recomendar aqui livros de música sobre compositores ou interpretes e até livros de ficção que estejam relacionados com música. O tempo é que não chega para tudo. Entretanto aqui ficam algumas sugestões. Em primeiro lugar no www.archive.org (local fantástico para ter acesso a livros que doutra forma seriam intangíveis por simplesmente já estarem fora de circulação) pode ter acesso a:

Luigi Boccherini nell' arte, nella vita, nelle opere. 1805-1905
Por G. Malfatti
Publicado por Tip. A. Amedei, 1905

Se desejarem podem também dirigir-se à Amazon onde podem encontrar:

Luigi Boccherini: His life and works
Germaine de Rotschild.

Podem ainda ler aqui uma completissima biografia do compositor e violoncelista.

livros sobre pietro locatelli : No site archive.org podem encontrar este texto completo:

Illustri Bergamaschi: studi critico-biografici
Por Pasino Locatelli
Publicado por Pagnoncelli, 1869

esquema das notas do violoncelo: Hum, não faço a mínima ideia do que isto pode significar. Será que a pergunta se refere a que notas correspondem as quatro cordas do Violoncelo? Bem são começando da mais grave para a mais aguda: Dó, Sol, Ré, Lá.

festival rondeau - musica clássica: Estaremos a falar da música composta por Henry Purcell ? Oiçam aqui interpretada por uma orquestra de jovens músicos.

a valsa é um ritmo clássico: A valsa é um ritmo "clássico" no sentido em que utilizamos esta palavra neste blog como incluindo os vários períodos da música dita Erudita. O ritmo pertence ao período Romântico.

"como a tormenta rasgou o manto cinzento do céu ! pairam os restos de nuvens entrechocando-se cansados." : Por momentos pensei que ia ganhar o prémio de perplexidade mas depois lembrei-me deste poema ... Winterreise de que falámos aqui.

domingo, 9 de novembro de 2008

Guilhermina Suggia (1885 - 1950) - Segunda Parte

Esta é a segunda parte da nossa história leiam aqui a primeira parte.

Graças ao concerto que deu para a Raínha Guilhermina conseguiu uma bolsa para ir estudar para a Alemanha mais precisamente em Leipzig com Julius Klengel(1859-1933) um dos mais conhecidos professores da época e que para além de Guilhermina Suggia ensinou entre outros Gregor Piatigorsky e William Pleeth.

William viria a ser o professor doutra grande violoncelista Jacqueline du Pré pelo que podemos dizer sem exagero que a vida das duas está de certa forma ligada. Aliás a ligação até é mais forte do que isso porque as lições de Jacqueline du Pré com William Pleeth foram pagas pelo menos em parte com a bolsa que Guilhermina estabeleceu para ajudar jovens violoncelistas em inicio de carreira.

Na verdade Guilhermina ou melhor a sua família passou momentos difíceis em Leipzig. A bolsa que a Raínha havia concedido dava para uma pessoa mas ela tinha viajado com o pai. A única fonte de sustento da família era a irmã que dava aulas de piano.

Klengel foi assim o terceiro e ultimo professor de Guilhermina. Klengel era tido como um professor bastante dócil e que respeitava as individualidade dos seus alunos. Na verdade Guilhermina Suggia sempre falou do seu mestre com afecto. A Bolsa de estudo tinha uma duração prevista de três anos no entanto em parte pela rapidez com que Guilhermina parecia aprender tudo o que o mestre lhe passava em parte possivelmente pelas dificuldades económicas que a estadia provocava tudo se passou em pouco mais de 10 meses !

No fim destes Guilhermina foi convidada para tocar com a Orquestra Sinfónica de Leipzig (Gewandhausorchester Leipzig) que era ao tempo (e ainda é hoje) uma das mais famosas e reconhecidas orquestras sinfónicas. Dirigida na altura por Arthur Nikisch um dos grandes maestros da Europa tocar enquanto solista com uma orquestra deste calibre era uma honra que atesta a qualidade de Guilhermina Suggia. A propósito desta orquestra só para terem uma ideia do seu valor foram seus maestros nomes como Mendelssohn, Bruno Walter, Furtwängler e mais recentemente Kurt Masur. Esta orquestra com mais de 250 anos de existência é uma das mais antigas do mundo em actividade.

O concerto em que Guilhermina Suggia interpretou o relativamente pouco conhecido concerto para Violoncelo em Lá Menor Op. 33 de Robert Volkmann foi um tal sucesso que o maestro admitiu uma quebra de protocolo autorizando um encore que consistiu simplesmente na repetição do referido concerto. Guilhermina Suggia tinha 18 anos e partia nessa data para uma carreira de sucesso internacional.

Entre 1903 e 1906 faz uma série de concertos em várias cidades europeias tendo a oportunidade de interpretar o famoso concerto para Violoncelo de Dvorak na presença de sua filha ou de tocar na presença do famoso violoncelista e compositor David Popper. E é nesta sequência que chega a Paris onde vai iniciar com Pablo Casals a fase mais misteriosa da sua vida, mas essa vai ser a nossa história para a amanhã.

Nova Votação - Escolha agora um pianista

Já tivemos compositores (venceu Brahms), maestros (venceu Karl Böhm), flautistas (Venceu James Galway) e na ultima votação violoncelistas (venceu Guilhermina Suggia - obrigado Pianoman pela excelente sugestão de adicionar a nossa Guilhermina).

Agora de certa forma em homenagem ao nosso leitor mais atento vamos pedir-vos para escolherem um pianista. O critério da escolha destes nomes foi simplesmente, admito, a minha curiosidade em saber mais sobre cada um deles. São nomes que conhecemos, pensamos bem, mas muitas vezes ignoramos a sua verdadeira dimensão.

Claro que esta lista poderia ter pelo menos uma centena de nomes. Escolhemos cinco, admitimos que poderiam haver mais e melhores. Se tiverem alguma sugestão adicional estejam à vontade, votem através de comentários. Se eu tiver realmente muita pena em não ter considerado a vossa opção farei como no caso da Guilhermina Suggia. Paro a votação, considero os votos já atribuídos e recomeço com a vossa sugestão.

Assim pedia-vos para escolherem entre:

Vianna da Motta
Nelson Freire
Alfred Cortot
Glenn Gould
Guiomar Novaes

Do vencedor já sabem que escreverei um post especial. Sei que existem aqui nomes de notoriedade muito diferente, uns polémicos pelas suas escolhas políticas outros pela sua concepção artística, uns ainda em actividade (apenas um na verdade) mas deixem-se levar pela curiosidade, leiam um pouco e votem ...

Mais recomendações musicais agora nos Açores

O nosso leitor Afonso tinha-me feito um comentário recomendando um festival que decorre actualmente nos Açores. A maioria dos concertos já passaram mas se por acaso vive nos Açores ou está de visita e mais precisamente nas ilhas do Corvo ou das Flores não perca:

11 Novembro
21h30 - Quarteto Com.Mozart
Igreja Matriz da Vila Nova
Ilha do Corvo


12 Novembro
21h30 - Quarteto Com.Mozart
Museu das Flores
Ilha das Flores

sábado, 8 de novembro de 2008

Guilhermina Suggia (1885 - 1950) - Primeira Parte

Neste post vamos abordar a vida e discografia de Guilhermina Suggia a mais brilhante violoncelista portuguesa de sempre. Este post é a primeira parte deste especial dada a extensão do mesmo.

Guilhermina Suggia foi sem duvida uma das mais brilhantes violoncelistas da sua geração e provavelmente a primeira mulher a conseguir um estatuto de solista neste instrumento. Na época não era tarefa fácil, muito menos em Portugal onde o estatuto da mulher estava longe de ser um de igualdade. Nesse ponto o papel do pai de e de toda a família incluindo a irmã deve ser realçado dado que suportaram e tornaram possível o sonho de Guilhermina Suggia contra todas os estigmas da época que incluí o facto do Violoncelo ser considerado pouco adequado para as mulheres com argumentos que iam da suposta masculinidade do instrumento até à falta de decoro da posição em que se toca o instrumento. Na verdade no principio do século XX acreditem ou não as mulheres eram aconselhadas a colocar as pernas de forma diferente (um pouco como no montar a cavalo).

Porém o génio de Guilhermina Suggia supera em importância todos estes triunfos. Na verdade devemos celebrar muito para além da libertadora, a extraordinária música. É esse o sentido deste post.

Guilhermina Suggia nasceu a 27 de Junho de 1885 no Porto. O seu pai Augusto Jorge de Menim Suggia era Violoncelista profissional, no real Teatro São Carlos professor no conservatório de Lisboa e mais tarde no conservatório do Porto. Guilhermina tinha uma irmã três anos mais velha - Virgínia - notável pianista. O pai de Guilhermina foi naturalmente o seu primeiro professor sendo rapidamente notório o talento de Guilhermina que com a sua irmã rapidamente se tornaram conhecidas no ciclos culturais do Porto.

Em 1896 Guilhermina e a sua irmã estreiam-se no Teatro Gil Vicente no Porto num programa que incluía um andante de Haydn e variações. Depois disso vários outros concertos se seguiram impulsionados pela existência na cidade do Porto de uma forte promoção cultural liderada pelo violinista e maestro Bernardo Valentim Moreira de Sá.

É neste ambiente de efervescência cultural que com o Orfeão Portuense trás à Invicta cidade do Porto os maiores músicos de então que Pablo Casals (sim um dos outros nomes que estavam a votação) é contratado pelo casino de Espinho. O pai de Guilhermina arranja então maneira da menina prodígio então com 13 anos tocar para o já conceituado violoncelista então com 22 anos. Pablo Casals reconheceu de imediato o potencial da jovem tendo-lhe dado várias lições. Não se conhece exactamente o que Casals terá ensinado nessas aulas embora seja provável que tenha mostrado a Suggia as suites para Violoncelo de Bach e que a tenha confrontado com a forma francesa de tocar o Violoncelo mais "livre" do que a escola alemã com a qual Suggia estava habituada.

Em 1901 Guilhermina Suggia passa a fazer parte do Quarteto Moreira de Sá juntamente com o Violinista Bernardo Valentim Moreira de Sá o fundador do quarteto e impulsionador da vida cultural portuense e de quem já falamos, o violinista Henrique Carneira e o violetista Benjamin Gouveia. Este quarteto viria a dar mais de 50 concertos e esteve na base do sucesso de Guilhermina não só pelo que aprendeu mas também pelo facto de terem sido os sucessos destes concertos que levaram o grupo a ser convidado a tocar no Palácio das Necessidades para a Raínha Dona Amélia.

No fim desse concerto a Raínha terá perguntado à jovem Suggia qual o seu maior desejo ao que Guilhermina respondeu "estudar o violoncelo o melhor possível".

Recomendações Adicionais

No blog Belogue de Notas ficamos a saber de mais uma (não é que sejam demais, "mais uma" não deve assim ser entendido como enfado pela repetição :-)) apresentação de Wintereise. Ainda por cima agora estamos na época certa !

Será no Domingo às 18h no Convento dos Remédios em Évora onde teremos Luiza da Gama ao Piano e Possante na voz. Mais informações no Belogue de Notas. Tudo sobre Winterreise aqui.

Entretanto Domingo à noite teremos também como dizia o nosso atento leitor Pianoman na Gulbenkian e ainda na Gulbenkian o início do ciclo de canto com o primeiro espectáculo no dia 10 de Novembro às 19h.

Um leilão muito invulgar - O Leilão do João Gomes

A Mafalda chamou-me hoje a atenção para o Leilão do João Gomes que faleceu no passado mês de Junho depois de 10 anos de luta contra a doença que acabou por o vitimar.

João Gomes passou as ultimas semanas da sua vida a organizar os seus bens para os doar através de um leilão a quatro instituições: AMI, a Médicos do Mundo, a Acreditar e a Casa Sol.

João Gomes era um professor de artes visuais que cultivava o gosto pelas artes. Os lotes estão divididos de forma a possibilitar a todos a sua licitação. Convido-os a dirigirem-se ao blog Leilão João Gomes e se entenderem licitem - é por uma excelente causa.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Venceu Guilhermina Suggia (1885 -1950)

Bom nos votos nitidamente resulta que temos uma comunidade de violoncelistas muito activa. Bateram-se o número de votantes (58) e o número de votos (74) por uma larga margem. A grande vencedora foi a nossa Guilhermina Suggia que obteve um total de 31 votos (42%).

Pablo Casals (1876 – 1973) : 11 (15%)
Mstislav Rostropovich (1927 – 2007) : 11 (15%)
Jacqueline du Pré(1945 – 1987) : 15 (20%)
Julian Lloyd Webber (1951) : 06 (08%)
Guilhermina Suggia (1885 -1950) : 31 (42%)

(Os votos resultam do acumulado com os resultados obtidos antes da introdução da Guilhermina Suggia).

Assim espero ainda este fim de semana colocar neste blog um especial sobre esta extraordinária violoncelista. Para já recomendamos a leitura atenta do excelente blog Guilhermina Suggia . Vai ser difícil dizer alguma coisa sobre a violoncelista que não esteja já nesse espaço excepcional de promoção da música e da arte mas vamos tentar. No Domingo teremos uma nova votação.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Recomendações de Quinta-Feira (06.11.2008)

Relembramos que podem ler este post também em Folhas Pautadas.

Como de costume começamos as nossas recomendações de Quinta-Feira no sul do país mais precisamente em Faro na Universidade da cidade poderemos ouvir a Orquestra do Algarve dirigida por Cesário Costa . Será na Sexta-Feira dia 7 de Novembro às 18:30. Poderemos ouvir Las Quatro Estaciones Porteñas e Aconcagua de Astor Piazzola (1921-1992). Será solista Gonçalo Pescada (Acordeão).

Em Loulé teremos o Coral Ideias do Levante dirigido por Francisco Brazão no dia 8 Sábado às 16:30 no Castelo de Loulé.

No Museu da Música em Lisboa teremos um recital de violoncelo e piano por Laura Buruiana e Andrei Vieru na Sexta-Feira às 19h. Obras de Debussy, Enescu e Vieru num concerto promovido pelo Instituto Cultural Romeno.

Ainda na zona de Lisboa (Oeiras/Cascais - Vejam o site da Orquesta de Camara de Oeiras e Cascais para informação detalhada sobre os locais indicados) teremos um Domingo dedicado à família e aos mais novos. Assim às 11h no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço teremos um concerto intitulado "A Música faz-nos sentir melhor". Concerto didático para pais e filhos. Ás 17h no Conservatório de Música de Cascais termos um concerto intitulado "Um instrumento mágico" que procura ilustrar A história do violino, a sua construção, os grandes virtuosos e as suas obras.

Em Almada teremos um trio fantástico composto por Ana Bela Chaves, António Saiote e António Rosado num Recital de Viola, Clarinete e Piano no Teatro Municipal de Almada (Novo). Será no Sábado às 21:30. Obras de Joly Braga Santos, Bruch e Mozart.

No Fórum Cultural de Alcochete na Sexta-Feira às 21:45 teremos o «Requiem à memória de Passos Manuel» de Eurico Carrapatoso pela Sinfonietta de Lisboa e Coro Ricercare.

Em Atouguia da Baleia (concelho de Peniche) teremos na Igreja de São Leonardo o Coral Vértice dirigido por Sérgio Fontão. É na Sexta-feira, 7 de Novembro, às 21.30. Serão interpretadas obras de música medieval e renascentista. Palestrina, Gaspar Fernandes e Juan Gutiérrez de Padilla. A entrada é livre.

No Entroncamento teremos «Tesouros da Ópera Barroca» pelo grupo Vox Angelis. Será no Centro Cultural do Entroncamento no Sábado às 21:30. Entrada Livre.

Finalmente no Porto, na Casa da Música do Porto teremos o Remix Ensemble dirigido por Emilio Pomàrico na Sexta-Feira às 21h.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Leonard Bernstein - Quinta Parte - Os Concertos e Integrais com a Filarmónica de Viena

A Filarmónica de Viena tinha sido a Orquestra de Mahler. Era na altura (meados dos anos sessenta) uma das melhores orquestras da Europa. Embora continuasse ligado à sua Filarmónica de Nova Iorque Bernstein iniciou uma ligação com estas duas orquestras que foi de certa forma surpreendente tendo em conta que havia ainda uma certa hostilidade da cidade em relação ao maestro. Porém a paixão de ambos por Beethoven e Mahler tudo pode conciliar.

Bernstein começou a trabalhar em Viena em 1966 com a Vienna State Opera tendo estreado com Falstaff de Verdi e com o grande Dietrich Fischer Diskau no papel de Falstaff. Porém sem dúvida o que marcou esta passagem de Bernstein por Viena foram as integrais das sinfonias de Beethoven e Brahms e algumas gravações de Mahler. Estes eram os elos emocionais mais fortes que ligavam Bernstein a estas duas orquestras.

Desta forma proponho que oiçam dois extractos de Bernstein com esta Orquestra. Em primeiro lugar Beethoven e a quinta Sinfonia aqui . Depois Mahler e a sua quarta sinfonia aqui.

Esta ligação com as duas orquestras viria a durar até ao ano do seu falecimento em 1990 com mais de 24 épocas de colaboração.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

James Galway (1939-)

Uma grande parte deste post é baseado na autobiografia de James Galway.

James Galway nasceu em Belfast na Irlanda do Norte a 8 de Dezembro de 1939 numa família de recursos bastante modestos.

Os anos da sua infância e adolescência foram normais, bom tão normais quanto poderia ser uma infância em Belfast na segunda grande-guerra e imediatamente após. Tanto o pai como a mãe eram músicos embora não pudessem viver dessa actividade numa Belfast pobre e dividida (embora Galway negue que isso se tivesse repercutido no seu dia a dia). James era então um miúdo normal bastante irrequieto e audacioso (conta-nos como ia ficando sem um dedo numa experiência com munições) mas desde muito cedo fascinado pela música.

Esteve quase para aprender violino mas uma experiência pedagógica menos conseguida faz com que rapidamente se dedique à flauta. O pai embora sem uma educação musical formal foi instrumental no desenvolvimento musical do jovem Galway ao impor um ritmo de trabalho e de estudo e introduzindo-o a peças clássicas, embora de forma pouco ortodoxa.

Quando sentiu que tinha chegado o momento de um professor mais conhecedor soube encontra-lo por várias ocasiões. O primeiro foi Ardwell Dunning que o levou a ganhar o seu primeiro prémio o "Irish Flute Championship" que venceu com apenas 10 anos.

Este prémio fez perceber ao seu pai que o rapaz tinha um dom especial e por isso mais um vez o teimoso irlandês investigou tendo encontrado Muriel Dawn uma antiga cantora e vocalista e também professora de flauta que introduziu Galway ao método francês através do método de Marcel Moyse.

Foi Muriel Dawn que permitiu a James Galway tocar para Geoffrey Gilbert e para John Francis reputados professores em Londres e com quem James Galway iria estudar mais tarde. Na realidade isso aconteceu assim que Muriel conseguiu encontrar uma forma para que lhe fosse concedida uma bolsa de estudo.

Começou por estudar com John Francis no Royal College of Music e depois com Geoffrey Gilbert na Guilhall School of Music. James Galway não esconde que nos seus estudos musicais apreciou imenso a técnica mas muito pouco a teoria tendo tido problemas em qualquer uma destas escolas. Conta a autobiografia que todas as desculpas eram boas para faltar às aulas teóricas.

Mais tarde estudou também em Paris com os professores Gaston Crunelle e Jean Pierre Rampal tendo também tido lições privadas com Marcel Moyse (sim um dos outros flautistas que estavam na nossa votação). Galway não gostou muito de Paris embora reconhecesse que o conservatório funcionasse de uma forma diferente do ensino Inglês com muito maior enfase na competição entre os alunos. Galway achava que isso era bom porque permitia que cada um se esforçasse ao máximo.

Depois de terminados os estudos Galway embora sempre um pouco a contra-gosto começou uma carreira de em várias orquestras. Dizemos a contragosto porque este artista sempre exprimiu um desejo de fazer ouvir a sua própria voz, ou seja de abarcar uma carreira de solista. Foi no entanto aconselhado pelos seus amigos e professores a não o fazer. Note-se que nesta altura Rampal ainda mal tinha começado a recuperar a flauta como instrumento solista e efectivamente este tipo de carreira era um risco considerável.

Galway começou a sua carreira com a Philharmonia Orchestra tendo depois passado pela Sadler's Wells Opera (Covent Garden Opera) - que deixou pela necessidade de fazer música "a metro".

Tocou depois na London Symphony Orchestra e na Royal Philharmonic Orchestra tendo em 1969 decidido ir prestar provas para a Filarmónica de Berlim então dirigida por Karajan. As coisas estiveram quase para correr mal conforme podemos ler na sua autobiografia. Na verdade Galway inadvertidamente chegou atrasado (a hora da audição foi mudada sem que o tivessem avisado a tempo). Ora quando chega a Berlim dizem-lhe precisamente isso - que a audição já terminou e que já foi escolhido o primeiro flautista. Galway revolta-se e diz consegue na mesma a audição - tocando no auditório várias peças que lhe são pedidas sucessivamente.

No fim quando passado uns minutos lhe comunicam o resultado Galway diz que tendo sido maltratado não sabe se este é um sitio onde quer tocar. Acaba por voltar a Londres mas aceita o posto em Berlim onde acabaria por ficar até 1975.

A partir de 1975 após ter deixado a Filarmónica de Berlim James Galway dedicou-se então a uma carreira de solista que inclui várias gravações de vários géneros musicais. As suas participações na Rua Sésamo estão provavelmente na memória de muitos miúdos.

É "Sir" desde 2001 o que conhecendo o seu espírito rebelde não deixa de ser uma curiosa contradição. O que já não é uma contradição e está perfeitamente adequado a um homem que preza imenso as pessoas com quem aprendeu - os seus professores - é a sua luta para que melhore a educação musical na Inglaterra, e atreveria-me a dizer no mundo.

São famosas as suas Master Classes e o seu site oficial é um paraíso para quem está a aprender flauta pela quantidade de recursos presentes. É também notável o seu trabalho em várias fundações que procuram promover o ensino da música ou da flauta. É presidente da Flutewise desde 2003 (associação que empresta flautas a jovens com dificuldades financeiras) e membro fundador do Music Education Consortium que procura pressionar o governo britânico para melhorar a qualidade do ensino da música em Inglaterra.

Dos vários trabalhos e arranjos que publicou permito-me salientar,porque nos são culturalmente próximas, as Aria Bachianas Brasileiras No. 5 para Flauta e Piano de Heitor Villa-Lobos.

Para quem quiser ouvir o excelente som deste grande flautista nas suas gravações radiofónicas dos anos 60 o melhor é mesmo visitarem o site oficial e apontarem o vosso browser para aqui. Depois é só escolher entre Telemann, Prokofiev, Hindemith , ...

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