domingo, 30 de março de 2008

Workshop de Páscoa da OML

Estive hoje à tarde no concerto final do workshop de Páscoa da Metropolitana onde mais de 180 jovens de vários pontos do país mostraram os resultados de uma semana de intenso trabalho. Na verdade aproveitando esta segunda semana de férias da Pascoa a OML organizou um workshop de orquestra para cordas, percussão e sopros.

Os alunos tiveram em média 4 a 5 horas de ensaios por dia entre ensaios de naipe e de conjunto.

O concerto final iniciou-se com a actuação de uma pequena orquestra de percussão que tocou um arranjo da música do filme Missão Impossível. Seguiu-se a orquestra de iniciação que interpretou várias peças entre as quais um arranjo de Horn Pipe de Handel.

Foi então a vez da orquestra de sopros de que destaco um arranjo de uma peça de Shostakovich.

O programa encerrou com a orquestra sinfónica que tinha desta vez um programa muito ambicioso com composições de Joly Braga Santos e Grieg. Nesta ultima peça Eunice Muñoz leu para cada um dos andamentos um pequeno poema de Miguel Torga. Excelente ideia.

Foi muito bom, muito profissional, pena que o público não tenha estado à altura dos artistas com demasiado barulho para o recolhimento que a música deste tipo pede.

sábado, 29 de março de 2008

Padre José Maurício Garcia (1767 - 1830)

VIDA

José Maurício Garcia foi um compositor brasileiro nascido a 20 de Setembro de 1767 no Rio de Janeiro. De descendência africana (a mãe era escrava) apenas conseguiu estudar música através da carreira eclesiástica tendo-se tornado padre.

Com 16 anos (1783) compôs a primeira obra de que existe referência CPM 1 Tota pulchra Es Maria (ver o significado destas letras um pouco abaixo neste post).

Quando D. João VI fugindo de Napoleão chega ao Brasil (1808) com a sua corte, José Maurício Garcia é nomeado mestre da Capela Real. Entre 1808 e 1811 o compositor tem o seu período mais profícuo tendo composto variadíssimas obras.

Porém em 1811 chega à corte Marcos Portugal que D. João VI nomeia mestre da Capela real substituindo assim José Maurício Garcia que apesar de gozar de profundo prestígio não tinha ultrapassado o "problema" da côr da pele.

Mais tarde (1816) o compositor Sigismund Neukomm que fortemente impregnado das obras de Mozart e Haydn acaba por influenciar o jovem compositor brasileiro e criar com este uma forte amizade. Desta influência resultaria a direcção do Requiem de Mozart e a Criação de Haydn.

O relativo empobrecimento da vida cultural Brasileira depois do retorno de D. João VI a Portugal e a crise económica resultante da independência do Brasil tornaram os últimos anos da vida de José Maurício Garcia difíceis (a pensão que D. João VI havia concedido foi cortada). Compôs a sua ultima obra em 1826 - Missa de St. Cecília.

Faleceu no Rio de Janeiro no dia 18 de Abril de 1830, curiosamente o mesmo ano que Marcos Portugal o homem que lhe havia retirado o estatuto de mestre da Capela Real.

Acredita-se que terá sido o autor da primeira ópera brasileira, As Duas Gémeas obra essa que infelizmente perdeu-se. Foi além disso notável professor e pedagogo autor de um excelente método de ensino e fundador de uma escola onde aprendeu a tocar piano D. Pedro I e o autor do Hino Brasileiro Francisco Manuel da Silva. Oiçam aqui a lição nº5 do seu método (poderão concerteza notar alguns compassos que denotam uma certa semelhança com o hino brasileiro).

OBRA

Recentemente (em 1970, não assim tão recente quanto isso) o músicologo Cleofe Person de Mattos catalogou todas as obras de José Maurício Garcia (como sabem isso significa que as iniciais que encontram CPM junto do número das obras do compositor referenciam o seu nome).

De acordo com este levantamento sabe-se que terá escrito cerca de 400 obras das quais 237 estão inventariadas e de cerca de 170 existem referências da sua existência mas perderam-se as partituras.

Sendo José Maurício Garcia padre não nos pode surpreender completamente que a maioria das suas obras sejam de carácter religioso. O requiem escrito em 1816 em memória de D. Maria I que havia falecido nesse ano e a Missa Pastoril (1811) composta para a Noite de Natal estão entre as suas obras mais conhecidas. Oiçam aqui a primeira parte desta composição, aqui a segunda parte, aqui a terceira parte e finalmente aqui a quarta parte.

Não deixou porém de compor a primeira ópera Brasileira (As Duas Gémeas - obra perdida), doze divertimentos e a primeira obra sinfónica brasileira a Sinfonia Fúnebre (1790).

Mais uma recomendação para Domingo

Na leitura dos blogs que costumo visitar apercebi-me que mais uma vez, que vergonha, esqueci-me de uma recomendação. Desta vez no entanto ainda vai a tempo.

Assim para quem esteja no Algarve recomenda-se Domingo às 11:00 na Igreja Matriz de Loulé a Missa solene em dó menor de Mozart. Será interpretada pela Orquestra Sinfónica Juvenil pelo Coro de Câmara do Instituto Gregoriano, Barítono Armando Possante, soprano Elvira Ferreira, mezzo-soprano Laryssa Savchenko e tenor José Manuel Araújo tudo sobre a direcção de Christopher Bochmann.

Não percam !

sexta-feira, 28 de março de 2008

Luigi Boccherini (1743-1805)

VIDA

Boccherini nasceu em Luca (Itália) a 19 de Fevereiro de 1743 no seio de uma família de músicos. O seu pai tocava baixo e foi o seu primeiro professor. Em 1757 com apenas 14 anos foi enviado para Roma para aperfeiçoar a sua técnica de instrumentista (Violoncelo).

Depois dos seus estudos em Roma voltou a Luca onde teve grande sucesso tanto como instrumentista como como compositor. Na verdade o sucesso foi tão grande que isso encorajou a sua família a iniciar uma tournée pelas maiores cidades francesas e também Viena até chegar a Paris em 1768.

Foi nesta cidade que o embaixador de Espanha o convenceu a ir para Madrid onde viveu durante um largo período mas sem grande visibilidade ou reconhecimento vítima das invejas da corte e de outros compositores menores mas já estabelecidos.

Boccherini morreu em Madrid no dia 28 de Maio de 1805.

OBRA

Boccherini é um daqueles compositores injustamente esquecidos pela voragem da história. Na verdade a sua obra tem qualidade mais do que suficiente para ser recordada.

Mais ainda a sua influência em Haydn e na música de câmara é suficiente para dizermos que a sua obra ajudou a consolidar a forma de quarteto.

O musicólogo francês Yves Gérard (1932-) catalogou as obras de Boccherini o que como já vos disse explica o G. à frente do número que identifica as obras do compositor. Por exemplo G. 480 significa a obra número 480 na catalogação de Gérard.

Tendo sido um violoncelista não é surpresa que as suas principais obras sejam para este instrumento embora tenha também composto mais de 100 quartetos de cordas.

Para além de ser relativamente pouco conhecido e pouco tocado hoje em dia Boccherini teve ainda o azar de desde sempre ter sido alvo de editores pouco escrupulosos. Não só isso como provavelmente a obra hoje em dia mais interpretada sobre o seu nome, o concerto nº9 em Si Bemol Maior é na verdade uma adaptação muito livre Friedrich Grützmacher violoncelista alemão que reescreveu este concerto num estilo adequado ao espírito do virtuoso Romântico. Felizmente recentemente a versão original tem vindo aos poucos a voltar à superfície graças a violoncelistas como Yo-Yo Ma. Oiçam o primeiro andamento aqui e o terceiro andamento aqui.

Podem também aqui ouvir o segundo andamento do concerto em Sol Maior G.480 pelo violoncelista Espanhol Josetxu Obregon.

Quem tem filhos que estejam a aprender violino mais cedo ou mais tarde irão encontrar este Minueto que vos mostro aqui num arranjo para orquestra.

Recentemente o filme Master and Commander popularizou uma das composições de Boccherini . Vejam aqui um extracto do filme com essa música.

quinta-feira, 27 de março de 2008

As Recomendações de Quinta

Eureka ! Voltamos de novo a conseguir ter as recomendações da Quinta-Feira no seu dia de origem ...

Começando ao sul como vem sendo costume temos no Algarve a orquestra do Algarve que irá estar no dia 29 de Março (Sábado) às 21:30 no Pavilhão do Arade (Lagoa). Nem de propósito o programa é composto por obras do período clássico (Haydn) que terminámos quase e por peças do reportório Romântico (Chopin) que serão o objecto dos nossos posts futuros. A não perder definitivamente.

Ainda no sul do país mais precisamente no Alentejo em Évora poderemos ouvir no Sábado 29 de Março às 18h um recital de piano pelo excelente pianista brasileiro José Eduardo Martins no Convento dos Remédios. Serão interpretadas obras de compositores do período barroco (Rameau e Carlos Seixas), Clássico (do nosso agora bem conhecido Beethoven) na primeira parte. Na segunda parte serão interpretadas obras de Francisco de Lacerda e Fauré. Pela qualidade do interprete é mesmo a não perder !

No Domingo 30 de Março desculpai-me mas terei de fazer mais uma recomendação de pai babado, teremos na Aula Magna da Universidade Clássica de Lisboa pelas 17h a orquestra "OML Junior" resultante dos vários Workshops que esta instituição tem vindo a realizar nos últimos anos. Um programa bastante audacioso com obras que não revelarei ... é segredo :-)

Um bocadinho mais ao Norte, mais precisamente na região do Oeste entre Leiria e Alcobaça este blog refere-nos um ciclo de música coral que irá decorrer entre o dia 29 de Março e 6 de Abril. O primeiro concerto do dia 29 será no SERRO VENTOSO Salão Paroquial às 21h30 (mas consultem o referido blog ou este outro para mais informações).

Um pouco mais ao Norte mais precisamente em Espinho voltamos a chamar a vossa atenção para a excelente e diversificada programação do auditório de Espinho que nos dias 28 e 29 de Março irá fazer subir à cena Teatro - Café Chinez é o titulo. Eu sei que não é música clássica mas nós aqui somos eclécticos. Toda a informação relevante no blog oficial do auditório.

Por fim na cidade do Porto na aula Magna do Instituto Superior de Engenharia do Porto teremos a Orquestra do Norte dirigida por José Ferreira Lobo e o flautista Michel Lethiec, Sexta-Feira 28 de Março às 21:30.

Finalmente não queremos deixar de chamar a vossa atenção para os sites das salas que em Lisboa (CCB e Gulbenkian) e no Porto (Casa da Música) têm programação clássica regular e igualmente para os nossos amigos da Sercultur com variadíssimas sugestões culturais em cultura.sapo.pt .

Fiquem bem ! Renovo como sempre o meu desafio habitual contra os sofás e a preguiça aguda que nos assola. Oiçam música ao vivo, porque Ao Vivo é Outra coisa !

quarta-feira, 26 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 9 Op. 125 em Ré Menor - Quarto andamento

Como dissemos faz hoje precisamente 181 anos que Beethoven falecia no dia 26 de Março de 1827.

O quarto andamento como Charles Rosen (pianista americano nascido em 1927) diz é uma sinfonia dentro de uma sinfonia. Na verdade contem quatro "andamentos" tocados em sequência num verdadeiro hino à alegria e à humanidade.

Começa o andamento com uma introdução instrumental bastante lenta protagonizada pelos violoncelos. Sente-se a tensão crescer pelas interrupções ligeiras das flautas e outros sopros num diálogo entrecortado com os violoncelos. Por volta do minuto 3:50 ouve-se pela primeira vez o tema da alegria ainda que por breves momentos dado que é imediatamente interrompido pelos violoncelos. Finalmente por volta do minuto 5:00 começa um crescendo com a primeira exposição do tema. Estes tempos referem-se a esta interpretação de Bernstein de que falaremos daqui a pouco.

Entra então o coro pela primeira vez começando com o baixo solista pouco a pouco a que se juntam pouco a pouco os restantes elementos do coro e restantes solistas. Esta primeira errupção de alegria termina bruscamente para dar lugar ao "segundo andamento" deste andamento final que é um Scherzo num estilo militar. Oiçam aqui o fim da primeira parte deste ultimo andamento e o começo da segunda parte (a segunda parte começa no minuto 3:44). Este Scherzo termina mais uma vez com o tema principal tocado agora numa variação.

A terceira parte deste ultimo andamento apresenta um tema novo, sem dúvida pensado para constituir uma espécie de divisão dramática, um espaço de meditação antes da ultima parte. Oiçam aqui esta parte.

A ultima parte deste andamento é uma espécie de recapitulação dos temas deste andamento. Podem ouvir aqui essa recapitulação.

A gravação que vos fiz ouvir é ela própria um momento histórico. Foi gravada em 1989 por Leonard Bernstein por ocasião (e para festejar) a queda do muro de Berlim. No texto cantado a palavra "freude" - Alegria - foi mudada para "Freiheit" - Liberdade. A Orquestra e coros que ouviram tocar provêm de várias orquestra da ex-Republica Federal Alemã e da Ex-Republica Democrática Alemã alem de membros de várias orquestras europeias (Paris, Londres) e mesmo americanas (Nova Iorque por exemplo). Para terminar com tanto poder simbólico este concerto decorreu no dia 25 de Dezembro (dia de Natal) em pleno Berlim (Schauspielhaus) o centro e símbolo da divisão de um povo.

Acho que dificilmente encontraria uma forma mais adequada de terminar esta série de posts sobre Beethoven. Uma sinfonia tocada para celebrar aquilo em que Beethoven mais acreditava: A igualdade e a fraternidade entre os homens. Que esta música nos sirva de reflexão e de inspiração para chegarmos a esse difícil desígnio civilizacional.

AVISO - O TEXTO QUE SE SEGUE PODE SER CONSIDERADO DEMASIADO AÇUCARADO. PROCEDA COM CAUTELA.

É que o ódio, a repressão, a opressão, são tão mais fáceis de explicar e de justificar que nos esquecemos muitas vezes que o que nos separa das bestas não é tanto a inteligência mas sim o uso que dela fazemos.

Voltem a ouvir tudo agora e vejam se não vos apetece ir dar um abraço ao mundo inteiro. Procurem não esquecer esse sentimento. Fará de vós, estou certo, melhores homens e mulheres.

FIM DE AVISO.

terça-feira, 25 de março de 2008

Johann Albrechtsberger (1736 - 1809)

Na véspera do post especial que terminará o nosso ciclo sobre Beethoven pareceu-nos apropriado falar do seu professor Johann Albrechtsberger.

Para muitos dos músicos do seu tempo incluindo o seu amigo Mozart, Albrechtsberger era o maior organista da sua geração. Mas para além desse virtuosismo que lhe era reconhecido Albrechtsberger foi ainda compositor e pedagogo e teórico musical.

Nasceu em Klosterneuburg (perto de Viena) a 3 Fevereiro de 1736. Iniciou os seus estudos de música num convento Beneditino tendo sido organista em Raab (1755) e Maria Taferl (1757). Foi nomeado organista da corte de Viena em 1772 e Kappelmeister da Catedral de St. Estevão em 1792.

Sem dúvida o seu maior contributo para a música foi o seu trabalho teórico que lhe permitiu ensinar Beethoven. E não se enganem. Em muitas composições de Beethoven os ensinamentos do mestre estão presentes. O seu livro Fundamentos da Composição publicado em 1790.

Johann Albrechtsberger faleceu em Viena a 7 de Março de 1809.

Foi relativamente difícil encontrar no You Tube composições de sua autoria. Fiquem assim com três exemplos que achei interessantes por razões diferentes. Em primeiro lugar uma fuga interpretada por três violoncelos e um contrabaixo aqui (não sei se se trata de um arranjo ou a versão original, muito provavelmente é um arranjo), um arranjo para uma fuga tocada numa viola aqui e finalmente um concerto para Trombone aqui. É pena que não existam aparentemente registos do Christian Lindberg (instrumentista virtuoso do trombone) deste ultimo concerto porque eu sei que ele o toca de forma inspiradora.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Giovanni Paisiello (1740-1816)

Curiosamente no período clássico não era Mozart o mais popular criador de Óperas, esse papel cabia a Giovanni Paisiello.

Giovanni Paisiello nasceu em Taranto em 1740. Começou a ser notado pela sua voz o que lhe permitiu prosseguir os seus estudos no Conservatório de Nápoles. Escreveu as suas primeiras peças em 1763 no estilo leve e rítmico e no fraseado melódico que sempre o caracterizaram.

O sucesso destas primeiras peças foi tal que foi suficiente para primeiro ser convidado a escrever três óperas que foram bem recebidas na estreia.

Foi com base neste sucesso que em 1776 é convidado para a corte de Catarina II em S. Petersburgo onde acaba por compor uma das peças que muitos consideram a sua obra prima: O barbeiro de Sevilha (a primeira das óperas compostas com base neste libretto).

Em 1784 Paisiello deixa a Rússia e depois de uma breve passagem por Viena fixa-se em Nápoles ao serviço de Ferdinando IV onde compõe algumas das suas melhores óperas nomeadamente La Molinara.

Em 1802 fez uma relativamente breve estadia em Paris a convite de Napoleão. Na verdade a primeira produção Proserpine correu tão mal que apesar das excelentes condições oferecidas por Napoleão Paisiello resolveu voltar a Nápoles.

Na verdade por esta altura a boa estrela do compositor parecia ter já passado pressionado por um novo estilo que não conseguia acompanhar. O falecimento da esposa em 1815 abalou-o imenso tendo falecido pouco tempo depois em Nápoles a 5 de Junho de 1816.

Paisiello escreveu mais de 80 óperas, várias obras litúrgicas e algumas composições instrumentais. Sendo um compositor conhecido pela sua extrema inveja e receio de perda de privilégios e favores dos soberanos para quem trabalhava não deixa no entanto de ter por isso uma obra que devemos conhecer até porque segundo alguns especialistas a sua obra terá influenciado Rossini, Gluck e até mesmo Mozart.

Como referimos uma das suas obras de referência é o Barbeiro de sevilha que na altura foi melhor recebida que a versão de Rossini sobre o mesmo libretto de que pode ouvir aqui a abertura muito característica da leveza do seu estilo (aliás esta é uma das criticas que se apontam; escrever música demasiado leve para temas relativamente dramáticos). Por outro lado a sua aria mais conhecida é provavelmente "Nel cor più non mi sento" da ópera La Molinara que pode ouvir aqui.

Do seu trabalho de música sacra podemos destacar La passione di Gesù Cristo que infelizmente não encontramos no You Tube. Como exemplo deste tipo de obra podem no entanto ouvir aqui um Magnificat.

Quarta-Feira próxima é um dia especial !

A próxima quarta-feira é um dia especial. Fará 181 anos que Beethoven o compositor de que temos vindo a falar nestas ultimas semanas faleceu. Para marcar este acontecimento fecharemos nesse dia o nosso ciclo das nove sinfonias com o ultimo post sobre o quarto andamento da nona sinfonia.

Até esse dia iremos mantendo os nossos posts diários falando de outros compositores do período clássico.

domingo, 23 de março de 2008

Domingo de Páscoa

Hoje é Domingo de Páscoa. Reservei a minha mensagem de Páscoa para este dia só por ser Domingo de Páscoa, nada mais. Gostava de vos desejar uma Santa Páscoa e de partilhar convosco um texto que escrevi e enviei por email aos meus amigos. Alguns de vós terão-no recebido, outros não (mas não me culpem a mim, culpem os filtros anti spam :-)) fiquem no entanto certos de que se acham que são meus amigos eu serei certamente vosso.

Dizia eu no email (apenas ligeiramente adaptado, depois de mais uns dias de reflexão):

A Páscoa terá para alguns de vós um significado religioso. Para outros não e não há nisso nenhum mal. Porque a Páscoa tem o valor universal da redenção, da nossa capacidade de renascer, de corrigir os erros e avançar, de ultrapassar os obstáculos, de afastar as pedras do caminho uma a uma mas certamente não de qualquer maneira. Com respeito pelas bermas e por todos os que connosco partilham essa estrada. Para alguns as pedras que afastamos, um obstáculo que removemos pode ser um que inadvertidamente lhes colocámos. Com (o meu caso) ou sem fé em Deus, podemos e devemos sempre ter fé em nós, nos homens e na sua capacidade de se transcenderem.

Desta forma não queria de vos desejar a todos uma Santa Páscoa, vivam-na intensamente junto dos que vos são queridos ! Quando estava a escrever estas breves linhas lembrei-me claro de Drummond de Andrade e sendo embora um poema conhecido (muito conhecido mesmo) não deixa por isso de fazer sentido (mesmo sabendo que esta é uma interpretação livre, muito livre mesmo) do poema . Fiquem bem !

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

Abraços e beijinhos a quem de direito, abreijos para os mais gulosos (substituível por um doce :-)) .

No email não incluí música (que vergonha :-)) mas claro que a recomendação também muito pouco original só poderia mesmo ser Bach. Apontem o vosso browser para aqui e tenham os minutos de paz interior que a música vos pode proporcionar.

Dia Mundial da Poesia no CCB

Apenas uma curta mensagem para vos dizer que ontem à tarde fui ao CCB assistir a algumas das actividades planeadas para festeja o Dia Mundial da Poesia. Como eventualmente sabem nos últimos tempos não tenho estado nada de acordo com algumas das decisões tomadas para o CCB (Festa da Música, Colecção do Berardo) e por isso acho de elementar justiça dizer-vos que esta ideia do CCB foi excelente.

Claro que há lugar para melhorar muita coisa mas houve ideias muito interessantes. A troca de livros, o lugar para espontâneos dizerem poesia, as actividades para crianças e adultos, poetas a dizerem a sua própria poesia e actores a dizerem poesia de poetas consagrados numa mistura muito interessante.

Parabéns CCB!

PS: Se alguém lá esteve e sabe o nome do actor que leu Pessoa por favor diga-me porque foi simplesmente fabuloso e acho que merece uma menção especial (esta é uma das notas a melhorar, não havia nesse espaço um programa impresso ... )

sábado, 22 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 9 Op. 125 em Ré Menor - Terceiro Andamento

Esta Sinfonia por ser a minha preferida tem o privilégio de ter um post por andamento. No fim farei um resumo com links para todos os posts relativos a esta sinfonia para que possam facilmente ter uma ideia da obra na sua totalidade. Por agora se chegaram aqui pela primeira vez podem ler os posts sobre o primeiro andamento aqui e sobre o segundo andamento aqui. Uma apresentação da obra pode também ser lida aqui.

O terceiro andamento (Adagio molto e cantabile - Andante Moderato) é a parte lírica desta sinfonia. Embora muitos prefiram o andamento lento da sétima sinfonia para mim este andamento é pura e simplesmente a música orquestral mais bela e serena alguma vez composta. Se nos admira o facto de Beethoven estar quase completamente surdo quando compôs esta sinfonia sem duvida que este é o andamento que mais me impressiona desse ponto de vista.

O andamento é composto por dois temas que são executados em sucessão para depois numa combinação magnifica um deles se apagar como se reconhecesse que era a sua altura de sair de cena.

Deste andamento um dos nossos guias, Berlioz apropriadamente diz que se trata de uma obra tão bela que se fosse possível descrevê-la em palavras mesmo que de forma apenas aproximada teria a poesia encontrado o seu maior arauto. Não vamos nós tentar descansem ...

Dizia então Berlioz: "Quant à la beauté de toutes ces mélodies, à la grâce infinie des ornements dont elles sont couvertes, aux sentiments de tendresse mélancolique, d’abattement passionné, de religiosité rêveuse qu’elles expriment, si ma prose pouvait en donner une idée seulement approximative, la musique aurait trouvé dans la parole écrite une émule que le plus grand des poëtes lui-même ne parviendra jamais à lui opposer."

Para ilustrar este andamento voltamos a Toscanini na sua gravação histórica de 1948 em Nova Iorque com a Orquestra da NBC. Podem ouvir este andamento aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte - e o inicio do quarto andamento).

sexta-feira, 21 de março de 2008

Dia Mundial da Poesia

Com já dissemos no post anterior hoje é dia Mundial da Poesia. Em muitos outros blogs se celebra este dia com vários posts. Assim em vez de ser apenas mais um resolvi da fazer da blogosfera dos blogs que costumo visitar uma lista de recomendações sobre o assunto. Qualquer um deles vale a pena ser lido não somente por o post individual que referencio mas por tudo o resto.

Assim no Blog Arroz do Céu aprendemos com Vitor Hugo que a Poesia é tudo o que há de intimo em tudo.

No BlogTailors o Blog da Edição temos uma referência ao dia com um link para o calendário completo das actividades do CCB (amanhã Sábado).

No Blog A Voz do Peão temos um poema da Sophia de Mello Breyner Andresen para além da recomendação de um outro site com mais poemas de outras poetisas.

No Blog A Cor do Mar temos um poema lindissimo de um poeta anónimo.

No Blog Granosalis temos mais uma referência às actividades que decorrerão no CCB.

No Blog Pela Positiva temos um poema de Kahlil Gibran - Areia e Espuma -Coisas de Ler.

No Blog Triplov há uma recomendação para a FNAC do Porto (hoje sexta às 22:00).

O Blog O País do Burro propõe-nos um poema de José Gomes Ferreira.

O Blog CigarraJazz por seu lado prefere Natália Correia.

O Blog Livros à Volta do Mundo sugere-nos leituras poéticas.

E pronto, haveria de certeza muitos mais mas admito que o meu tempo tem limites. Agora vou dar uma corridinha, questão de criar lugar para algumas calorias a mais que virão por aí como quem não quer a coisa e depois programa familiar à noite, diz que é uma espécie de noite de cinema : Lembram-se desse programa da RTP ? "Noite de Cinema" ?

Hoje obviamente não faria sentido, na televisão todas as noites são noites de vários filmes ... Enfim Noite de Cinema será, num "cinema a sério", com um filme que como sempre a critica dilacera (será que os críticos se apercebem que à força de dizer mal de tudo ninguém os leva realmente a sério ???) ...

Mais uma recomendação para hoje para a cidade do Porto

Há pouco quando escrevi a minha lista de recomendações escapou-me um concerto que terá lugar hoje às 22h e de que tive conhecimento neste post do Blog Fantasia Musical de que cito aqui a parte relevante:

O concerto assinalou o lançamento de um CD promovido pela própria ESART.

O Link dá-vos acesso directo a mais informação sobre o concerto. Se estiverem no Porto ou perto definitivamente não percam. Dos instrumentistas posso dizer que já ouvi um violinista várias vezes, Daniel Rowland ex-concertino da Gulbenkian - penso que basta dizer isto ... As obras contrastantes são muito interessantes por isso, força "malta" do Porto. Toca a deixar as pantufas e o sofá ... E tendo em conta a contigência geográfica não utilizarei o meu habitual desafio :-) ...

Recomendações da Quinta de novo à Sexta

Mais uma vez as nossas recomendações de quinta são à sexta. Sendo hoje feriado e Sexta-Feira Santa há claro muitos concertos de Páscoa por esse país. Aqui ficam algumas sugestões. Não deixem de visitar cultura.sapo.pt para mais sugestões para este fim de semana.

Já sabem não se deixem vencer pelo sofá, pelas pantufas e outros instrumentos de tortura. Se escolheram saír de Lisboa e rumar ao sol ou à "terra" não se esqueçam que também por aí poderão encontrar música o que será uma forma decerto diferente de viverem a Páscoa.
Porque como dizemos: Ao vivo é Outra coisa!

Começando como de costume ao Sul, no Algarve Domingo às 17h teremos o «Concerto de Páscoa» com a Orquestra do Algarve acompanhada por Eun Hee Sohn (Oboé) e dirigida por Alberto Roque na Igreja Matriz de Alcoutim. Não tenho informação sobre preços.

Ainda no Algarve encontramos a Orquestra do Norte o Ensemble Cant'Art e Ensemble Vocal Pro Musica dirigidos por José Ferreira Lobo na Igreja Matriz de Portimão hoje Sexta-Feira às 21:30. Não tenho informação sobre preços.

Em Lisboa não percam amanhã, Sábado, as comemorações do Dia Mundial da Poesia que se celebra hoje no CCB uma série de actividades muito interessantes. (um género das recomendações de Quinta à Sexta - fora de brincadeira as comemorações são amanhã por hoje ser sexta-Feira Santa)

Ainda em Lisboa e também no Sábado às 21:00 na Capela do Palácio do Marquês de Pombal poderão ouvir um concerto intitulado "O Barroco e o Violoncelo" com obras de A. Vivaldi, L. Boccherini e F. Giardini pelos Solistas da Orquestra de Cascais e Oeiras.
Correcção: Este palácio não se situa em Lisboa propriamente dito mas sim na região de Oeiras conforme comentário da nossa leitora sempre atenta Moura Aveirense. Vejam aqui para terem o mapa das localizações dos concertos da OCCO.

No Oeste no Sábado às 18:00 no Santuário do Senhor da Pedra em Óbidos - Five Mystical Songs - Vaughan Williams e Oratória de Páscoa - Bach com a Orquestra Filarmonia das Beiras sob a direcção de Paulo Lourenço. Este concerto repete no dia seguinte Domingo 23 de março em Fátima às 15:00 na Igreja da Santíssima Trindade.

Finalmente no Norte mais precisamente no Clube Literário do Porto, Sexta-Feira às 23:00 um recital de piano e flauta transversal por Constantin Sandu e Cristina Ioan. A entrada é livre. Reservas e informações: 222089228.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 9 Op. 125 em Ré Menor - Segundo Andamento

Tinhamos na segunda-feira visto o primeiro andamento aqui . Hoje vamos falar um pouco do segundo andamento.

Este segundo andamento é um Scherzo com um tema semelhante ao primeiro andamento. Trata-se de um andamento fortemente ritmado. Tanto quanto se sabe este foi a primeira parte da sinfonia a ser composta. Curiosamente é o único caso em que o Scherzo (apesar de não estar anotado como tal) é colocado logo após o movimento de abertura.

Diz-se deste andamento que é o milagre da repetição sem monotonia e na verdade este andamento é essencialmente constituído por uma frase repetida várias vezes em diversas opções de orquestração. Esta frase é repetida quatro vezes nos primeiros 8 compassos do andamento.

Contam-se várias histórias sobre este andamento. Karl Holtz diz por exemplo que após a sua execução na audição de estreia os músicos estavam a chorar e o público começou a aplaudir entusiasmado. Conta-se ainda que na estreia em Paris Rossini terá dito ao saír "O segundo andamento é a coisa mais bonita que já ouvi. Não conseguiria fazer nada para a melhorar".

Mais dramática, ou mais romântica se tivermos em conta a música de Glinka o compositor russo este terá aparentemente chorado compulsivamente ao ouvir o sherzo e dito "on ne touche pas lá" ...

Podem ouvir a interpretação de Karajan deste andamento aqui (coloquem o tempo no minuto 15:09 se quiserem ouvir apenas o segundo andamento, antes disso têm o não menos fantástico primeiro ... )
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quarta-feira, 19 de março de 2008

O Hot Clube faz hoje 60 anos

Lembro-me que não gostava de Jazz. Ou melhor achava que não gostava. Na verdade precisava de um blog chamado "Diz que não gosta de Jazz?". Mas na altura não havia Internet. Mas (já) havia o Hot Clube e os amigos. No meu caso a minha introdução ao Jazz não poderia ter sido melhor.

Bernardo Moreira e o seu primo Francisco passaram literalmente horas a tentar convencer-nos que Jazz é que era. Passávamos os minutos do recreio no Liceu Francês ou nos intervalos para almoço (claro que quando não havia bola) em discussões metafísicas sobre a primazia da música exacta (que eu defendia) o rock e pop que também tinha os seus defensores e o Jazz por quem o Francisco e o Bernardo lutavam. E tanto falaram que acabaram por me contagiar ... Desconfio que não tive o mesmo sucesso com a música clássica. Certamente falta de mérito meu.

E vem isto a propósito dos 60 anos do Hot Clube fundado por Luís Villas-Boas que provavelmente terá desempenhado o papel dos meus amigos para muitos dos apreciadores de Jazz em Portugal. Recomendo claro está uma visita e só para que fiquemos todos em sintonia musical e porque este blog é um blog plural com uma definição de "clássica" ampla, deixo-vos neste post com uma das minhas preferidas: John Coltrane em My Favorite Thing (Baden-Baden 1961), aqui.

Tenho pena de não ter podido recomendar o concerto comemorativo no S. Jorge porque foi hoje às 22:00. Fica para a próxima e a promessa de um pouco mais de atenção ao Jazz "clássico". Com esta, homens e mulheres do Jazz, podem bater-me, mas previno-vos que como leram já tive bons professores ...

Faleceu Arthur C. Clarke

Estava a ver televisão quando tomei conhecimento pelo rodapé anunciando o falecimento de Arthur C. Clarke. Estava a ver um canal de noticias inglês não me perguntem qual.

Conforme provavelmente sabem se já leram alguma vez o meu perfil sou um fanático de ficção cientifica, um dos meus grandes defeitos :-). ...

Terá pouco a ver com música clássica dirão. Bem sim e não. Na verdade Arthur c. Clarke está ligado à musica clássica através da adaptação para cinema de uma das suas obras mais emblemáticas e um dos melhores filmes de sempre: 2001 Odisseia no Espaço. Não é só na sequência inicial que a música clássia é utilizada mas também em várias partes deste filme que é sem dúvida uma referência no género e não só.

Fiquem com a sequência inicial aqui.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 9 Op. 125 em Ré Menor

Passaram-se mais de dez anos entre a estreia da oitava e a estreia da nona sinfonia também apelidada de Coral. Não foram para Beethoven anos fáceis e este facto deve-nos recomendar cautela quando procuramos relacionar a vida de um compositor e a sua obra.

Esta sinfonia é sem dúvida um dos icons da cultura ocidental, um momento inultrapassável na evolução da espécie humana.

É uma sinfonia que me leva sempre às lágrimas pela sua fé no homem. Se tivermos em conta como referimos o que Beethoven passou durante esses anos, a morte de muitos dos seus mais queridos amigos, a morte do seu irmão, dificuldades financeiras várias e sobretudo a surdez, drama sem dúvida terrível para um músico como podemos ficar indiferentes a esta expressão de solidariedade? Eu não consigo e a bem dizer não quero.

Diz-se que esta peça marca o inicio do romantismo pela sua expressão de sentimentos sem restrição, pela sua forma inaudita. Na verdade nunca antes uma sinfonia tinha utilizado um coro. Nunca antes se tinha escrito de forma tão apaixonada tão irrestricta, tão perto dos limites. Como já perceberam vamos passar alguns posts com esta obra porque não resisto a saborear convosco em grande detalhe esta composição.

O primeiro andamento (Allegro ma non troppo, un poco maestoso) foi escrito na forma de sonata. Deste andamento diz-nos Berlioz que nos será difícil ouvir algo de mais profundamente trágico. Eu diria que nos será dificil ouvir algo de mais profundamente trágico e pungente.

Há muitas interpretações históricas desta sinfonia. Para começar e para vos mostrar este primeiro andamento fiquem com Toscanini em 1948 em Nova Iorque com a orquestra da NBC aqui e aqui.

domingo, 16 de março de 2008

Darfur - Um exemplo dado por alunos do 8º ano

No blog Fantasia Musical, sempre atento a blogs que demonstrem como este meio pode ser utilizado para fins construtivos e didácticos houve um post sobre um trabalho sobre o Darfur executado por uns alunos que me chamou a atenção. Fui ver de que se tratava e fiquei rendido.

Fiquei rendido de tal forma que aqui fica o convite para o visitarem. E porque acredito que estes alunos merecem o nosso aplauso não lhes regateiem o apoio, nem ao Darfur claro está.

Beethoven - 8ª Sinfonia Op. 93 em Fá Maior

Tal como a 4ª sinfonia a 8ª também sofre do problema de ter sido composta entre duas obras de tal forma marcantes que face a estas parece uma obra menor. Na realidade não poderíamos estar mais longe da verdade. A 8ª sinfonia de Beethoven é ela também uma obra de arte notável e não fosse existirem as restantes e estaríamos aqui a dizer: Ah, a oitava sinfonia de Beethoven.

Aliás o próprio Beethoven que era pouco dado a comparar as suas obras dizia da mal amada oitava : " Um dia ainda hão-de gostar dela. É uma questão de tempo". Porém na verdade no seu tempo a oitava sinfonia pareceu a muitos ser um retrocesso. A negação de toda a expansão do género sinfónico que Beethoven havia conseguido nas suas anteriores sinfonias 3, 5, 6 e 7. Como demonstraremos trata-se no entanto de um equivoco.

A oitava sinfonia foi composta em 1812 tendo sido estreada em 1814 uns meses após a sétima num concerto em que esta também foi tocada. Esta sinfonia em Fá Maior (Op. 93) é constituída por quatro andamentos.

O primeiro andamento (Allegro vivace e con brio) : Contrariamente às sinfonias anteriores nesta não existe qualquer tipo de introdução sendo tocado de imediato o primeiro tema.

Do segundo andamento (Scherzando - Allegretto) Berlioz diz que é como se tivesse sido escrito de uma só vez, à primeira tal a naturalidade que transmite. Sabemos porém que muitas vezes essa aparente facilidade apenas se consegue com um trabalho intenso.

O terceiro andamento (Tempo di Menuetto) é um aparente regresso de Beethoven às origens do género sinfónico. Este é um dos andamentos que justifica a opinião prevalecente de que este é um regresso ao passado, a Haydn. Mas trata-se de uma ilusão provocada pelo "tempo de minueto" dado que nunca Haydn ou Mozart teriam escrito um andamento assim. A forma "antiga" não espartilha a criatividade.

O quarto andamento (Allegro vivace) é o corolário de uma obra que só é comum na sua aparência. Este quarto andamento é o mais significativo de toda a obra, nomeadamente pelo facto da coda do mesmo ser uma das mais elaboradas de todas as obras de Beethoven.

Oiçam aqui a interpretação de Herbet von Karajan desta sinfonia.

Recomendação quase em cima da hora (Aveiro - 21:30)

Eu sei que é uma recomendação em cima da hora. Mas se estais a ler-me na zona de Aveiro sugeria-vos o seguinte concerto. Este texto foi retirado - sem permissão, desculpa mas estou de saída para o concerto dos violinhos no CCB - do blog Moura Aveirense, onde poderão encontrar a restante informação (o programa por exemplo). Já sabem o meu conselho, não se deixem vencer pelo sofá, pelas pantufas ou pela caixa mágica e vão ver música ao vivo porque: Ao vivo é outra coisa.

Concerto de Páscoa pela Orquestra Filarmonia das Beiras na Igreja da Misericórdia

O Concerto de Páscoa pela Orquestra Filarmonia das Beiras que irá interpretar “Missa em Sol Maior, BWV 236” de J. S. Bach e “Stabat Mater” de Pergolesi, realiza-se este Domingo, dia 16 de Março, às 21.30 horas, na Igreja da Misericórdia. Tem entrada livre.

No âmbito da iniciativa “Viver Aveiro – Quaresma Páscoa” realiza-se este Concerto de Páscoa pela Orquestra Filarmonia das Beiras. O programa de animação tem como finalidade assinalar a Páscoa em Aveiro, integrando uma série de actividades culturais realizadas no concelho.

Interpretada pela Orquestra Filarmonia das Beiras, o concerto conta ainda com as participações do Coro de Santa Joana; Carolina Raposo, soprano; Margarida Reis, contralto; João Cipriano Martins, tenor; Tiago Matos, barítono; e António Mário Costa, será o maestro convidado.

sábado, 15 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 7 em Lá maior (op. 92) - Segunda parte

Como dissemos no primeiro post a Sinfonia nº7 em Lá Maior Op. 92 foi estreada em Viena em 8 de Dezembro de 1813 sendo dedicada ao conde Moritz von Fries.

Curiosamente como muitas das sinfonias de Beethoven também esta está ligada à história de Napoleão dado que a referida estreia foi um concerto de beneficência para os soldados austríacos feridos na batalha de Hanau.

Esta sinfonia é composta de quatro andamentos. Como acontece nas sinfonias 1, 2 e 4 o primeiro andamento (Vivace) é iniciado com uma introdução onde segundo Berlioz a melodia, as modulações e a orquestração disputam-se sucessivamente a atenção. O andamento propriamente dito é caracterizado por um tema fortemente ritmado (que aliás segundo o mesmo Berlioz teria valido a Beethoven várias criticas amargas, ainda hoje alguns acusando-o de ser demasiado "naif"). Vejam uma parte deste andamento com o maestro Fritz Reiner aqui.

O segundo andamento (allegreto) é o mais "consensual" nesta obra sendo considerado umas das obras primas do compositor como já referimos. Este andamento também é como o primeiro fortemente marcado por um ritmo. Berlioz gostaria que acreditássemos que Beethoven cria que esta fosse uma dança de camponeses. George Grove no seu livro Beethoven e as nove sinfonias discorda. Wagner chama a toda esta sinfonia "a apoteose da dança" precisamente por causa do seu aspecto fortemente ritmado. Oiçam aqui Vladimir Ashkenazy aqui interpretando este segundo andamento.

O terceiro andamento (presto) é constituído por um Scherzo e um trio e também aqui existe uma forte figura rítmica presente ao longo de todo o andamento. Para este terceiro andamento escolhi o maestro de que vos falei quando introduzi esta sinfonia, Carlos Kleiber que podem ouvir aqui.

O quarto andamento (Allegro con brio) não é menos rico ritmicamente que os anteriores andamentos. Entre a tensão provocada pelas mudanças de tonalidade e a coda que é absolutamente fantástica estamos com Berlioz quando ele afirma que Beethoven não fazia música para os olhos ... referindo-se ele ao facto das técnicas empregues não serem utilizadas para ficarem bem nas partituras ou na análise mas sim para despertarem as emoções dos ouvintes ... E que despertam, despertam ! Oiçam Karl Bohm neste andamento final aqui .

Finalmente para aqueles que se perguntam o que faz um maestro vejam este vídeo de um maestro consagrado com uma orquestra de estudantes de Leicester ... com a sétima de Beethoven. Vejam aqui para terem a ideia do que é o trabalho de um maestro. Claro que com músicos profissionais os "problemas" são outros, mas dá-vos uma ideia ...

sexta-feira, 14 de março de 2008

Recomendações da Quinta à Sexta

Pois é. Infelizmente estive fora uns dias e por mais esquisito que possa parecer não consegui ter acesso decente à net. O mais paradoxal de tudo é que estive num seminário de e-marketing ! Curioso não ? Bem adiante que não tenho muito tempo para este post. Hoje à noite fica a promessa que voltaremos ao ritmo normal.

Bom começando por Lisboa já sabem não percam o concerto dos Violinhos no CCB no Domingo às 16h.

Em Palmela não percam hoje à noite (Sexta-Feira 14 de Março) às 21:30 no Cine-Teatro S. João os Paganinus uma orquestra de jovens violinistas do Conservatório Regional de Setubal.

No Sábado o Ensemble Barroco "The Fugitives" estará na Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel (perto de Sesimbra para quem não sabe onde é o Cabo Espichel) pelas 16:30. Não sei preços ...
(Actualização: Um nosso leitor anónimo refere-nos que este concerto tem entrada gratuita, o que é sem dúvida mais uma razão para não perderem a ocasião)

Ao Norte no Coliseu do Porto se ainda se lembram do que falámos do Messias de Handel então não vão querer perder no Domingo logo pela manhã (11:30) esta obra de referência. Se nunca ouviram não percam. Os preços são bastante convidativos e embora o local não seja o ideal ... Entrada: EUR 10,00 / EUR 5,00 .

terça-feira, 11 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 7 em Lá maior (Op. 92)

Se a sexta sinfonia é conhecida pelo seu conjunto poético e tranquilo, se a quinta é conhecida pelo seu jorrar de emoções fortes a sétima sinfonia é sobretudo conhecida pelo seu maravilhoso segundo andamento. Este andamento foi repetido na estreia, a pedido do público e tem-se mantido popular desde então.

É de certa forma uma injustiça já que esta obra mereceria uma atenção muito mais profunda pelo seu todo. Esta sinfonia é a sétima pela sua data de edição (apenas) dado que provavelmente em termos de composição se acredita que terá sido a quinta. Foi estreada em Viena a 8 de Dezembro de 1813.

Hoje não vos consigo fazer a descrição total da sinfonia e não sei se nos próximos dias conseguirei fazer posts ... estarei na terra de nuestros hermanos (não, não vou ver o Benfica que Deus me livre de tal sorte :-) :-) :-)) ... Por agora fiquem com o primeiro andamento dirigido por Carlos Kleiber, aqui.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Violinhos no CCB já no próximo Domingo

Pois é, tem estado aqui em destaque, mas não queria deixar de chamar a vossa atenção para o já habitual concerto dos Violinhos no Centro Cultural de Belem. Será no Domingo às 16h. Podem adquirir o vosso bilhete online na bilheteira do CCB aqui .

Não percam !

domingo, 9 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 6 (Segunda Parte)

A Sexta Sinfonia é constituída por cinco andamentos contrariamente à prática comum no período clássico (quatro andamentos). Como veremos cada um dos andamentos tem um nome especifico que procura remeter o leitor para um determinado clima. Saliente-se a esse propósito que Beethoven nitidamente não acreditava na música programática propriamente dita. Muitas das notas dos seus cadernos quando compunha a sexta sinfonia demonstram que uma das preocupações do compositor era que não tomassem as partes da sua música como imitações da natureza.

O primeiro andamento (Allegro ma non troppo) - Despertar de sentimentos felizes à chegada ao campo - Este andamento é composto da repetição de pequenos temas com alterações várias um considerável número de vezes mas sem nunca nos aborrecer. Há quem tenha referido que esta repetição de padrões é própria da natureza. Para ilustrar este andamento oiçam a Orquestra Sinfónica de Tóquio dirigida por Otmar Suitner aqui.

O segundo andamento (Andante molto mosso) - Cena perto do ribeiro - É provavelmente aquele que pela melodia e pela orquestração mais perto está de sugerir directamente os sons da natureza e não os sentimentos por esta inspirado como Beethoven pretendia. Oiçam aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte) deste andamento com Arturo Toscanini dirigindo a BBC Symphony Orquestra.

O terceiro andamento (Allegro) - Festa da gente do campo - Este andamento na verdade um Scherzo traz pela primeira vez o elemento humano. Para trazer á nossa memória esse elemento humano beethoven utiliza os sopros utilizando inclusivamente pequenas notas de humor como por exemplo a imitação estilizada de um instrumentista algo limitado. É um elemento barulhento, cheio de vida e que acaba de forma intempestiva como que interrompido por algo de inesperado: A chuva.

O quarto andamento (Allegro) - Trovoada, tempestade - Começa gentilmente como se ouvissemos as gotas da chuva e a trovoada ao longe para num crescendo sucessivo a tempestade se aproximar.

O quinto andamento (Allegretto) - Canção dos pastores, agradecimento - Este andamento é um verdadeiro canto idílico de agradecimento pelo fim da tempestade pelo retorno à serenidade.

Oiçam estes últimos andamentos sempre com a BBC Symphony Orchestra dirigida por Toscanini aqui (primeira parte) e aqui (segunda parte).

sábado, 8 de março de 2008

Castelo Branco e Edith Piaf

Amanhã não haverá post. Estarei em Castelo Branco a assistir ao Concerto dos Violinhos. Hoje era suposto continuar a falar-vos da Sexta Sinfonia mas sinceramente não estou muito inspirado para a poesia bucólica da obra.

Como acho que não devo neste espaço fazer posts contrariado poderia simplesmente abster-me de o fazer hoje e procurar inspiração na paisagem rural da Beira.

Estava neste processo de dúvida quando me lembrei que ainda não falei aqui da minha outra paixão. A música popular de expressão francesa dos anos 40-80. Aliás esse é um projecto de um outro blog que um dia nascerá, juntando talvez a música popular brasileira e a portuguesa. Logo veremos. Mas vem isto a propósito do facto de não vos ter contado o quão contente fiquei com o Oscar do filme "La Môme".

A Edith Piaf foi uma das cantoras que melhor soube transformar a canção de rua de Paris em verdadeira arte e neste filme a Marion Cotillard faz um papel que escapa a toda a adjectivação. Tive a sorte de o ir ver (foi mesmo sorte porque aconteceu um pouco por acaso) e posso dizer-vos que há muito não me emocionava tanto com um filme.

Fiquem hoje portanto com uma pequena transgressão, pequena porque de certa forma este também é um clássico. Edith Piaf canta La vie en Rose em 1954 num programa televisivo aqui.

sexta-feira, 7 de março de 2008

As Recomendações de Quinta à Quinta (tentativa) ou à Sexta (Real)

Pois é ! Não sei porquê mas perdeu-se o texto das minhas recomendações. Cá vai outra vez !

Estava eu a dizer que hoje estou contente porque entre as recomendações de miúdos e adolescentes que já ouvi tocar muitas vezes e as recomendações da blogosfera dos amigos vou conseguir dar-vos propostas para quase todo o país - enfim pelo menos de Norte a Sul ...

Em primeiro lugar vou repetir-vos a recomendação do concerto dos Violinhos em Castelo Branco às 16h de Sábado na Sé de Castelo Branco.

Vou também repetir-vos tal como combinado a recomendação para Lisboa no dia seguinte. Domingo, 9 de Março a Orquestra de jovens violinistas Paganinus do Conservatório Regional de Sétubal na lindissima Sala do Capítulo no Mosteiro dos Jerónimos pelas 11h. Não percam.

Agora ao Sul, passando assim para as recomendações de alguns amigos da Blogosfera, recomendo-vos em Castro Verde integrado no Festival Terras sem Sombra (magnifico nome para uma magnifica iniciativa) dia 8 de Março às 21:00 na Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição poderão ouvir O Virgo Splendens: A Devoção Mediterrânica Medieval pelo BANCHETTO MUSICALE LUSITANIA. Para informações mais detalhadas sobre este grupo e sobre o programa recomenda-se vivamente este post. Definitivamente a não perder. Sugere-se também um bom jantar algures no Alentejo :-) ... só têm o embaraço da escolha por isso nem sequer faço recomendações especificas.

Finalmente na zona do Porto, mais concretamente em São João da Madeira recomendamos um concerto que embora não seja estrictamente de música clássica é um projecto que nos parece merecer a vossa atenção. "Despiques" - Lançamento do CD e concerto-conferência. Com o Coro de Câmara de São João da Madeira dirigido por Magna Ferreira. Serão interpretadas Obras originais, sobre temas populares das Terras de Santa Maria, dos compositores Fernando Valente, Nuno Peixoto e Pedro Santos. Adaptação vocal da Harmonização do Hino de São João da Madeira por Eugénio Amorim. Sábado dia 8 de Março às 21:45 no Auditório dos Paços da Cultura, em S. J. Madeira.

Já sabem não fiquem em casa, não se submetam à ordem das pantufas, não cedam ao charme do sofá, não se deixem amolecer pelo canto sibilino da televisão, saiam de casa, vão ver e ouvir música ao vivo. Nem sequer têm desculpa do custo porque a maioria destas recomendações é Grátis !!! Já sabem, ao vivo é outra coisa !

quinta-feira, 6 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 6

Como dissemos esta sinfonia não poderia ter um contraste maior em relação à quinta. Curiosamente as duas foram escritas em simultaneo e segundo Grove é mesmo provável que a numeração original tenha sido a inversa (primeiro a sexta e depois a quinta). Foi completada em 1808 tendo sido composta entre 1804 e 1808 tal como a quinta. Também como esta foi dedicada aos mesmos Franz Joseph von Lobkowitz e ao conde Rasumovsky. Curiosamente foi estreada exactamente no mesmo concerto em que a quinta o foi (imaginem como foi possível !) e que correu bastante mal. Um programa demasiado longo mal ensaiado terão sido as razões.

Aliás como vos disse a junção destas duas obras dedicada a estes dois homens em conjunto tinha de certeza um significado para Beethoven dado que conforme vos referi era suposto a quinta ser dedicada ao conde Franz von Oppersdorf (que "coitado" se teve de contentar com a quarta sinfonia).

Se a terceira e a quinta endereçam a emoção e a luta pela felicidade do espírito a sexta sinfonia op. 68 em Fá Maior é a primeira e única verdadeira incursão de Beethoven na música programática. Porém note-se que mesmo neste caso Beethoven teve o cuidado de nos avisar que a sua sinfonia mais do que "uma pintura" pretendia retratar os sentimentos de paz e de poesia ao contacto com a Natureza.

Não vamos hoje dissecar os vários andamentos desta sinfonia (até porque são mais do que os habituais - 5 neste caso) e o adiantado da hora já não permite essa veleidade. Deixo-vos por hoje com um parágrafo da análise de Berlioz sobre esta sinfonia:

Mais le poëme de Beethoven!... ces longues périodes si colorées!... ces images parlantes!... ces parfums!... cette lumière!... ce silence éloquent!... ces vastes horizons!... ces retraites enchantées dans les bois!... ces moissons d’or!... ces nuées roses, taches errantes du ciel!... cette plaine immense sommeillant sous les rayons de midi!... L’homme est absent!... la nature seule se dévoile et s’admire... Et ce repos profond de tout ce qui vit! Et cette vie délicieuse de tout ce qui repose!... Le ruisseau enfant qui court en gazouillant vers le fleuve!... le fleuve père des eaux, qui, dans un majestueux silence, descend vers la grande mer!... Puis l’homme intervient, l’homme des champs, robuste, religieux... ses joyeux ébats interrompus par l’orage... ses terreurs... son hymne de reconnaissance ...

Que recomendamos leiam ouvindo o início da Pastoral aqui.

Órgãos de Portugal - Uma recomendação de um site

Depois da descarga emocional que a quinta sinfonia representa precisavamos mesmo de interromper a sequência para nos prepararmos para o ambiente bucólico da sexta. E mesmo a calhar recebemos um email de um leitor que nos apresenta um site excepcional: Órgãos de Portugal

Neste site o autor Nuno Carmona, lista todos os orgãos de Portugal, históricos e modernos, ordenados por concelhos e com fotos e dados técnicos. Poderá também encontrar uma discografia de peças gravadas nestes instrumentos, partituras, uma agenda de concertos e uma lista de links com mais sites sobre orgãos e organistas.

Um site muito completo que contém tudo aquilo que quer saber sobre orgãos. Assim não se esqueçam de dar uma vista de olhos e de manterem-se atentos à agenda e outras novidades que por lá apareçam. Obviamente vai já para a lista dos Recomendados ...

Parabéns Nuno Carmona por um excelente site !

terça-feira, 4 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 5 Op. 67 em Dó Menor (Segunda Parte)

A quinta sinfonia estreada a 22 de Dezembro de 1808 é composta de quatro andamentos. A descrição que se segue (como aliás das restantes sinfonias de Beethoven) é uma mistura dos meus sentimentos pessoais com as opiniões de Berlioz e de Groove (que indico sempre que são transcrições ou aliterações das mesmas).

O primeiro andamento (Allegro) é a expressão dos sentimentos desordenados, de momentos de puro desespero logo seguidos de outros do mais profundo lirismo. Mas a expressão destes profundos e contrastantes estados de espírito é construído no mais profundo respeito por uma estrutura clássica. O facto desta expressão tão dramática ser feita dentro de tão rigorosos limites realça mais o génio do compositor e paradoxalmente torna a transmissão das emoções directa e imediata. Ontem na introdução a esta obra tinha-vos mostrado uma versão de Toscanini. Hoje vou essencialmente socorrer-me de Bernstein (tenho utilizado várias vezes Karajan nas outras sinfonias) portanto agora desculpem-me mas vou mostrar-vos Bernstein em 1976 com a Sinfónica da Rádio da Baviera (para quem gosta das histórias de moda podem aqui ver Bernstein com um look diferente - de barba ... ). Oiçam aqui.

O segundo andamento (Adagio) é tão profusamente triste tão consistentemente melancólico e não obstante tão perfeitamente belo e sintetizado. Nada existe a mais, nenhuma expressão excessiva, apenas e exclusivamente a justa medida. Oiçam aqui este segundo andamento dirigido por Carlos Kelber.

Por outro lado o terceiro andamento (Sherzo) é todo ele mistério começando num tom que revela do medo mas que pouco a pouco se afasta para dar lugar ao surpreendente inicio do quarto andamento que como sabem é tocado sem interrupção. Aliás esta ligação é extraordinariamente dificil de conseguir. Oiçam aqui a primeira parte do terceiro andamento aqui dirigido por Leonard Bernstein em 1976 por ocasião de um concerto em favor da amnistia internacional. Oiçam aqui a fase final deste terceiro andamento e o inicio do quarto andamento.

Se o terceiro andamento é misterioso o quarto por seu lado é a manifestação da energia e alegria pura, é se quisermos o final feliz de uma obra absolutamente fantástica. Continuemos com Bernstein no final deste quarto andamento aqui.

Recomendações antecipadas para o fim de semana

Hoje tenho uma recomendações antecipadas para o próximo fim de semana.

Desta forma para quem está na zona de Lisboa não percam no Domingo, 9 de Março a Orquestra de jovens violinistas Paganinus do Conservatório Regional de Sétubal na lindissima sala do Capítulo no Mosteiro dos Jerónimos pelas 11h. Repetirei esta recomendação na Quinta mas para já vão preparando a vossa agenda.

Mais para o Norte mais precisamente em Castelo Branco no dia 8 de Março pelas 16h não percam na Sé de Castelo Branco um concerto dos Violinhos. Este não vou perder ! Também repetirei esta recomendação na próxima quinta-feira mas perseverando no conselho anterior, vão preparando a vossa agenda!

Em ambos os casos as entradas são livres por isso não há desculpas ....

Os mais atentos poderão também ter reparado que coloquei hoje o poster do concerto (alguém sabe como é que se centra a imagem?) dos Violinhos no CCB que será já no dia 16 de Março, eu vou avisar-vos várias vezes deste ... Se puderem não percam ! Os bilhetes estão já à venda e é facilimo utilizar a bilheteira online do CCB passe a publicidade.

É que já sabem, Ao Vivo a Música é outra coisa!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 5 Op. 67 em Dó Menor

Chegamos à sinfonia mais conhecida de Beethoven. A quinta sinfonia com o seu começo já despertou muitas pessoas para a música ou não fossem chamados os toques do destino. Digo eu que para quem ouve esta composição o destino só pode mesmo ser apaixonar-se por esta sinfonia !

A sinfonia nº 5 Op. 67 em Dó Menor foi composta entre 1804-1808 sendo dedicada conjuntamente a Franz Joseph von Lobkowitz e ao conde Rasumovsky.

Note-se que esta história dos "golpes do destino" é uma expressão que provém de Anton Schindler secretário e biografo de Beethoven em que hoje se confia muito pouco por se saber que manipulou várias informações dos diários de Beethoven. Acresce que se sabia que Schindler tinha um gosto pela teatralização na qual este argumento do "destino" cabe demasiado a propósito. Talvez tenha sido uma história inventada, mas que foi bem inventada lá isso foi.

Desta sinfonia diz Berlioz que é eventualmente a primeira em que Beethoven deu livre curso à sua voz sem influência de qualquer influência externa. Berlioz defende que a primeira, segunda e quarta estavam ligadas aos percursores do período clássico Haydn e Mozart e que a Terceira por original que fosse do ponto de vista músical estaria ligada à literatura Grega e a Homero e à Iliada em particular.

Deixo-vos com um extracto do texto (ainda em françês, mas já vos prometi que no fim desta série vou publicar o texto integral traduzido e anotado porque acho que vale a pena).

La symphonie en ut mineur, au contraire, nous paraît émaner directement et uniquement du génie de Beethoven; c’est sa pensée intime qu’il y va développer; ses douleurs secrètes, ses colères concentrées, ses rêveries pleines d’un accablement si triste, ses visions nocturnes, ses élans d’enthousiasme en fourniront le sujet; et les formes de la mélodie, de l’harmonie, du rhythme et de l’instrumentation s’y montreront aussi essentiellement individuelles et neuves que douées de puissance et de noblesse. - Berlioz

Por fim fiquem com o primeiro andamento desta sinfonia dirigida por Toscaninni. Hoje ao fim do dia ou amanhã pela madrugada mais sobre este primeiro andamento ...

Mozart - A Flauta Mágica

Fui ontem ver ao S. Carlos a Flauta Mágica numa versão sub-16. Posso dizer-vos que foi uma tarde muitissimo bem passada. Adorei a forma como a adaptação foi feita por várias razões a menor das quais não será porque houve o cuidado em manter a ópera praticamente como ela é no original, adaptando apenas o necessário para a tornar um pouco mais acessível.

Não se tratam nesta adaptação as crianças como se sofressem alguma restrição mental que as impeça de compreender uma história. Excelente. Manteve-se a estrutura da mesma e da música desta obra prima de Mozart. Bons cantores, bons actores, uma excelente introdução à opera.

Sinceramente depois de ter visto recomendo ainda mais. Podem ver algumas fotos no site da Raínha da Noite (muito justamente a mais aplaudida ontem) aqui . Se forem professores saibam que há ainda uma oportunidade para escolas no dia 20 de Maio (não faço ideia se está esgotado ou não) e para o público em geral no dia 24 de Maio (também não sei se ainda haverá bilhetes) já que ontem estava cheio. Hoje à tarde há mais uma récita para escolas, mas para isso é capaz de já ser tarde ...

Ontem estava cheio e aqui fica uma nota para os pais, naquilo que para mim foi talvez o ponto menos bom da tarde. Um pouco de barulho a mais. Eu sei que é difícil manter as crianças em silêncio. É suposto (ou pelo menos espera-se) que exista alguma excitação e algum ruído neste tipo de récita mas procurem utilizar a oportunidade para educar um pouco ... tentem restringir o volume, ensinem que não se fala podem fazê-lo por exemplo utilizando o truque do segredo ou explicando a acustica da sala ou explicando que só se pode falar baixinho e ao ouvido, o que quiserem, o que fôr mais adequado para a idade e perfil do vosso educando ... não vão ser 100% bem sucedidos mas se tentarem conseguirao que os vossos filhos ou educandos aproveitem muito mais a ocasião. Não se demitam do vosso papel de educadores.

E vão ouvir música, porque ao vivo é outra coisa!

By the way, já que estamos em maré de recomendações musicais para crianças, neste período da Páscoa a Gulbenkian tem como costume um programa simplesmente fabuloso de actividades para os mais novos. De vários tipos. Aproveitem ao máximo a benção de termos um verdadeiro mecenas ...

domingo, 2 de março de 2008

Música por Lucienne Petit e Poesia por Bernardo

Não costumo neste blog fazer referências à minha vida para além de vos contar os concertos ou a música que ouvi. Hoje vou abrir uma excepção por duas razões. Fez ontem anos que a minha avó faleceu e Lucienne Petit foi certamente uma das razões pelas quais hoje gosto de música clássica.

Deixem-me que vos conte uma história que tem tudo a ver com música e com este meu post muito especial. A minha avó era farmacêutica. A ultima farmácia que teve era numa pequena aldeia francesa no meio de sítio nenhum. Uma daquelas aldeias que julgamos só existirem em filmes. A farmácia da minha avó também parecia ter saído desses mesmos filmes. Tinha um sino (verdadeiro, não electrónico) na porta que tocava quando um cliente entrava e ainda tinha daqueles recipientes enormes (pareciam-me) de vidro onde se vendia perfume a litro, perfume que cheirava a lavanda. A minha avó na verdade era farmacêutica mais pela razão do que pelo coração. Pelo coração era poeta e sobretudo música. Era poeta pela sua atitude em relação à vida era música porque tocava violino e piano e provavelmente teria sido essa a sua profissão caso não tivesse cedido a "razão" de uma vida talvez mais fácil. Mas isso são contas de outro rosário.

A minha avó tinha várias teorias invariavelmente poéticas sobre os negócios farmacêuticos. Dizia-me, quando passava as férias de verão com ela, que a música clássica atraía os clientes. Abria então as janelas do seu escritório e no seu piano começava a tocar. E invariavelmente os clientes chegavam mesmo e interrompiam aqueles momentos mágicos. A minha avó tocava muito bem, muito bem mesmo e em grande parte esses minutos introduziram-me à música clássica. Isso e a aparelhagem de alta-fidelidade que tinha na sala e onde ouvi vezes sem conta os seus discos, os mesmos, sempre. Garanto-vos que o Adagio de Albinoni ou Rachmaninoff ouvido no meio do campo com uma trovoada de verão no fundo e acompanhado com o cheiro intenso da terra molhada depois da chuva na terra ainda quente ganha todo o seu esplendor. Ainda hoje quando chove de verão e volta aquele cheiro oiço a mesma música e sinto-me feliz.

E vem tudo isto a propósito da segunda parte desta história. A minha avó era uma verdadeira poeta e ontem estivemos em família a relembra-la com velhas fotografias. Ontem nasceu outro poeta. O meu sobrinho Bernardo que tem oito anos leu-nos o seu primeiro poema. Este poderia ser uma excelente introdução à quinta sinfonia mas não é apenas isso. Foi o seu primeiro poema. Tal como a minha avó o meu sobrinho é um poeta.

O meu primeiro poema por Bernardo

És o fogo da minha alma
Linda como uma flor
e o terrível medo vai desaparecer
No meio da escuridão vi-me só contigo
Quero-te dar a luz, a glória e a esperança
És só o meu amor.

Fiquem bem que hoje não sei se conseguirei escrever sobre a quinta sinfonia ... como sabem tenho concerto à tarde ... e depois outro tipo de música me aguarda.

Mozart (1756 - 1791)

Ainda não é uma verdadeira biografia de Mozart mas apenas um índice temático com os vários posts que fizemos sobre este compositor. A biografia irá chegar em breve (teremos de esperar por fim de semana menos preenchido ...).

Operas

As Bodas de Figaro : K. 492
Flauta Mágica : K. 620
Cosi fan tutte: K. 588
Don Giovanni : K. 527
Teresa Stich Randall e Mozart (Texto de João Benard da Costa)


Sinfonias
Sinfonia "Jupiter" : K 551
Sinfonia Praga : K 504

Sonatas
Sonata para piano nº8 : K 310
Sonata para piano nº 14: K. 457
Sonata para Violino nº 21 : K.304

Concertos

Concertos para Violino
Concerto nº1 : K 207
Concerto nº2 : K 211
Concerto nº4 : K 218
Concerto nº5: K. 219

Concertos para Piano
Concerto para piano nº 21 em Dó Maior: K 467
Concerto para piano nº 24: K 491
Mozart - Concerto para dois pianos : K. 365

Concertos para Instrumentos de Sopro
Concerto para Flauta: K 313
Concerto para Clarinete: K 622

Música sacra
Missa breve em Dó Menor: K 427
Missa breve em dó Maior: K 317
Exsultate, jubilate e Ave verum corpus: K. 165 e K. 618
Requiem: K 626

Divertimentos e Outras Obras Instrumentais

Eine Kleine Nacht Musik : K. 525
Uma brincadeira músical: K 522

sábado, 1 de março de 2008

Beethoven - Sinfonia nº 4 (Op. 60)

A Sinfonia nº4 tal como a Sinfonia nº 8 é muitas vezes vista como o patinho feio das nove. Se para as primeiras duas cabe o papel de introdução a quatro e seis têm a desagradável missão de estar entre obras de tal dimensão poética, de tal transbordar de emoções que lhes é difícil captar a nossa atenção.

Certamente que não será por falta de qualidade porque qualquer uma das obras é por ela só extraordinária e não fosse o facto das outras existirem certamente estariam no conjunto das obras mais admiradas de sempre.

A Sinfonia nº 4 em Si Bemol foi terminada em 1806 tendo sido dedicada ao conde Franz von Oppersdorf. Segundo vários historiadores por razões que não se conhecem a sinfonia que era supostamente para von Oppersdorf seria a quinta mas Beethoven sentiu-se forçado a dedicar esta e a sexta em conjunto a Lobkowitz e Razoumovsky.

Esta Sinfonia não poderia ser mais diferente da terceira que a antecede e da quinta que lhe sucede. Esta sinfonia caracteriza-se pela absoluta perfeição da forma, pela expressão da alegria e espontaneidade, de uma doçura celeste para utilizarmos a expressão de Berlioz. Visivelmente Beethoven era um homem feliz quando a escreveu, embora como saibamos na maioria dos casos o estado de espírito do compositor transpareça muito pouco nas suas obras possivelmente devido à enorme variação do seu humor de dia para dia ou mesmo de hora para hora.

O primeiro andamento (Adagio -- Allegro vivace) começa tal como as anteriores três sinfonias com uma introdução um Adagio para depois entrar no Allegro de forma magnificamente orquestrada. Este andamento é de uma alegria contagiante. Em determinadas passagens quase nos apetece dansar e certamente o faremos em espírito.

Do segundo andamento (Adagio) diz Berlioz que certamente não terá sido escrito por um ser humano, que mais parece o suspirar do arcanjo Miguel contemplando o Mundo. E como na verdade achamos que não faremos melhor que Berlioz não comentaremos mais. Ou talvez o façamos ... Grove no seu livro "Beethoven and his Nine Symphonies" emite a hipótese que este andamento é inspirado pela paixão de Beethoven e apresenta como prova as cartas que foram encontradas após a sua morte e que datam da altura da composição.

O terceiro andamento (Allegro vivace) é quase todo ele composto por frases fortemente ritmadas e frequentes variações dinâmicas. Beethoven retoma aqui um tempo de minueto porém de tal forma afastado do que antes tinha sido a dança palaciana que na verdade estamos aqui a falar tal como na terceira sinfonia de uma forma nova de tratamento da forma sinfónica.

O quarto andamento (Allegro ma non troppo) - Grove faz notar no seu livro que "ma non troppo" está escrito a vermelho no manuscrito como se fosse uma nota à posteriori que nos diz, rápido mas não demasiado rápido - é o corolário lógico de toda a sinfonia. É alegria pura condensada !

Poderá ouvir aqui esta sinfonia dirigida por Herbert Von Karajan.

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