Era uma vez um ano mau que dificilmente poderia ter sido pior. Vai ser a vez do novo ano que se espera que pelo menos não seja pior. Na minha mensagem de Natal que enviei a alguns amigos dizia que para isso bastaria que nos desse a oportunidade de sermos pessoas melhores.
Juntei nesse texto uma parte do poema Mensagem de Fernando Pessoa, poema que aliás recomendo a todos para esta passagem de ano. Em particular uma das partes desse poema no todo genial mas com algumas estrofes que estão para além de qualquer descrição em prosa e que contém uma frase que utilizo frequentemente quando me dizem que determinada acção não vale a pena face à dimensão do problema em consideração.
Ó mar salgado,
quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,
quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Esse meu email não tinha música mas neste blog não posso deixar de vos fazer uma sugestão de Ano Novo. É difícil encontrar algo que não destoe da intensidade de Fernando Pessoa. Depois de reflectir resolvi fazer-vos uma dupla sugestão. A mesma obra ouvida aqui neste blog e a sugestão para a ouvirem ao vivo.
Esta obra tem obviamente alguma coisa a ver com o propósito da Mensagem embora num domínio totalmente diferente, mais romântico diríamos. Foi composta para conquistar o coração da bem amada. O inicio da idée fixe e pronto agora os mais versados já sabem o que vos estou a propor. Aqui fica para passarem o Ano em boa companhia. A Sinfonia Fantástica de Berlioz. Quanto ao resultado bem a verdade é que a bem amada não quis assistir à estreia. Depois de alguma insistência lá o fez conheceu Berlioz e aceitou casar com ele. Quanto à felicidade enfim as opiniões dividem-se, certo é que se divorciaram nove anos depois.
No que diz respeito ao convite para irem ver ao vivo bem será mais para quem esteja perto de Lisboa - as minhas desculpas aos nossos leitores de outros países e continente, estou seguro que esta obra se interpretará algures perto de vós mas infelizmente não tenho forma de conseguir saber datas e locais - mas para quem se possa deslocar a Lisboa poderemos ouvir esta obra ao vivo na Gulbenkian pela Orquestra Gulbenkian dirigida por Thomas Adés o que só por si seria interessante.
Já agora para quem deseje um programa para o fim do dia 31 e numa recomendação 100% portuguesa sugiro na RTP 1 a transmissão em directo da Igreja de São Roque do Te Deum (1769) de João de Sousa Carvalho, às 17h. Nem proponho ao vivo porque está esgotado ...
Era uma vez um ano mau que acaba, vai ser a vez do Ano Novo que vai ser melhor meus amigos. Vai ser melhor porque sei que todos vamos tentar e logo ...
A única música que precisa de embalagem é a música de plástico.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Alex Ross: The Rest Is Noise: Hiatus
Ohhhhhhhhhhhhh apetece exclamar .... mas é por uma boa causa.
Esperamos com ansiedade o dito livro sobre wagnerismo. Vindo deste autor
uma coisa é certa será sem dúvida diferente de tudo o que já lemos sobre o
assunto (embora completo).
'via Blog this'
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
A Paz pela Música (West-Estearn Divan Orchestra)
Não vou fazer neste post nem uma biografia nem um elogio dos homens em questão ou dos artistas ou académicos em causa. Este post toma partido sim senhor, toma partido pela paz. O essencial deste post reside na Paz e no papel que a música nela pode desempenhar.
Barenboim nasceu em Buenos Aires na Argentina em 1942, filho de judeus de origem Russa que tinham emigrado para fugir da perseguição que já eram alvo na Europa. Viveu até aos 10 de idade na Argentina - permanecendo cidadão desse país ao mesmo titulo que algumas das outras nacionalidade que foi adquirindo ao longo dos anos e que fazem dele um verdadeiro cidadão do mundo, um representante da Humanidade. O que vos conto neste post são sobretudo palavras dele e de Edward Said numa interpretação que espero ser fiel às suas ideias.
A história que vos quero contar começa em 1999 quando Barenboim cria com Edward Saíd (1935-2003) um palestiniano a West-Estearn Divan Orchestra numa tentativa aproximar pela cultura duas civilizações aparentemente opostas por um conflito e ódios que nos parecem inultrapassáveis. O que vos vou escrever neste texto, talvez um pouco longo para a internet (mas desta vez ao contrário de outras ocasiões quis mesmo que ficasse num único post), baseia-se no livro de Daniel Barenboim "Está tudo Ligado - O Poder da Música" em particular nos conteúdos do capítulo "A Orquestra" que aborda precisamente a criação da mesma, "Recordando Ernest Said" que nos relembra quem era este Palestiano, "Sessenta Anos de Israel" que faz uma análise da vivência e sobrevivência do estado Judaico e ainda um capitulo que contém uma tradução do discurso de aceitação do Prémio Wolf de que já falamos neste blog por várias vezes. Obviamente se conseguirem encontrar o referido livro (uma edição da Bizâncio) este é sem dúvida uma excelente leitura para o Dia Mundial da Paz, o dia 1 de Janeiro.
Segundo Barenboim Edward Said dizia que a música era sempre um pouco subversiva porque tentando conciliar vozes dominantes com vozes secundárias mantendo-as nesta hierarquia mas sem que uma delas se oblitere tornando-se irrelevante ou simplesmente mecânica. Subversiva porque tentando conciliar melodia e acompanhamento sem que nenhum deles se substitua ao outro. Subversiva portanto porque demonstra que é possível conjugar tudo isto num conjunto harmonioso em que todos têm o seu lugar. Claro que na música ambas estas coisas são mais fáceis de fazer do que no mundo real. Na música puderam concluir-se em alguns meses acrescenta. No mundo real poderá demorar um pouco mais mas não um tempo infinito.
Para quem não saiba o próprio nome West-Eastern Diwan Orchestra é ele próprio significativo. Foi inspirado numa recolha de poemas de Goethe possivelmente um dos primeiros europeus a interessar-se verdadeiramente por outras culturas. Goethe apaixonou-se pelo Islão que conheceu através de um soldado alemão. Posteriormente ficou fascinado por um poeta de origem persa Hafiz. Diwan é um termo de origem árabe que significa lista ou colectânea. Goethe utilizou este termo (aliás utilizado também em França e no Al-Andaluz para o mesmo efeito - designar uma colectânea de poemas) para a sua obra ao estilo Persa. Curiosamente nessa mesma altura Beethoven escrevia a sua nona sinfonia e sonhava com "homens todos irmãos". Que lição poderíamos tirar deste final do século XVIII! Mas isso é outra história e este post já será demasiado longo sem o parêntesis - um dos muitos que me apetece fazer ao longo deste texto.
A Orquestra reuniu-se pela primeira vez em Weimar o que não deixa de ter também um significado simbólico profundo sendo essa cidade o berço cultural da Alemanha, berço de Goethe, Schiller, ... e ao mesmo tempo a escassa distância de Buchenwald onde Judeus eram levados para a camâras de gaz ao som de Wagner. O simbolismo aliás nunca abandonou esta orquestra que viria dois anos depois a obter uma residência definitiva na nossa vizinha Andaluzia o local onde Cristãos, Judeus e Islâmicos conseguiram viver em paz durante quase sete séculos fixando a sua sede em Sevilha a partir de 2002.
A intenção do estágio inicial em Weimar era apenas de conseguir fazer com que músicos israelitas e árabes "tocassem a mesma nota da mesma forma" chegando a um entendimento como o fazer, se isso acontecesse pensavam Said e Barenboim nunca mais poderiam pensar no conflito que os separa da mesma forma essencialmente porque para conseguir esse entendimento já teriam ultrapassado o primeiro passo: Ouvir com atenção o outro, mesmo que numa forma abstracta de arte - e por isso a música era tão atractiva como forma de encetar um diálogo - mas teriam ouvido. A natureza puramente abstracta mas ao mesmo tempo precisa era ideal para que fosse possível ouvir com atenção. Porque para fazer música numa orquestra não basta apenas tocar muito bem é preciso saber ouvir os demais. Os papeis podem ser apenas de suporte ou fazerem parte do acompanhamento ou ainda de uma linha melódica secundária mas todos têm um papel a desempenhar, todos fazem diferença.
Barenboim e Said sabiam que a Orquestra não poderia trazer a Paz mas achavam que dado o primeiro passo num entendimento musical e que esse entendimento pressupõe, exige mesmo, que se oiça (mas que se oiça verdadeiramente) então torna-se possível o passo seguinte o do entendimento verbal. Impossível? Quando eles iniciaram o projecto se alguém lhes dissesse que iriam um dia fazer tournées pelo mundo fora que iriam interpretar no mais improvável dos palcos numa Ramallah cercada pelos tanques israelitas não acreditariam, mas a verdade é que removida a "impossibilidade mental" o resto torna-se particularmente simples.
E fez-se o tal concerto histórico a todos os níveis em Ramallah (2004) e claro que em ambos os lados há quem não entenda. Há quem não entenda porque acredita que isso é uma cedência indesculpável a qualquer condição prévia que se estabeleceu, há quem não entenda porque acredita numa solução pela força e na inabalável justeza do seu ponto de vista ... Há quem não entenda porque simplesmente ainda não conseguiu ouvir verdadeiramente a outra face da história, tanto do lado dos opressores como do lado dos oprimidos.
Neste conflito como em outros não podemos falar em tolerância, tolerância tem implícito um conceito de superioridade - eu tolero porque te sou superior - perigoso e insultuoso mesmo. Dizia Edward Said : "Eu e o meu amigo Daniel Barenboim escolhemos a via Humanística e não politica porque acreditamos que a ignorância não é uma estratégia de sobrevivência sustentável".
Esta Orquestra já rompeu com centenas de obstáculos centenas de preconceitos. Já colocou músicos ocidentais judeus e cristãos em conjunto com músicos árabes a interpretar Mozart em Ramallah. Já colocou músicos judeus a interpretar Wagner (um tabu desde o holocausto pelas razões óbvias decorrentes do já citado e do famoso manifesto Wagneriano), mas fê-lo porque musicalmente Wagner é um compositor que tem na história da música um papel incontornável: Sem Wagner não haveria Bruckner, Strauss ou Mahler. Porque com a razão foi capaz de ultrapassar condições emocionais que são reais mas que não deixam de ser ultrapassáveis.
A realização do concerto em Ramallah necessitou a junção de um conjunto apreciável de recursos e de vontades. A questão que se pode colocar é porque razão conseguimos que elas se juntem durante um instante para depois desaparecerem como se nunca tivessem existido. Tal como em 2006 dois anos depois apesar da guerra existente entre Israel e o Hezbollah a orquestra reuniu-se e conseguiu mesmo entre os músicos chegar a um entendimento sobre uma nota a colocar nos programas que endereçava a situação de forma clara:
Este ano o nosso projecto está em contraste flagrante com a crueldade e selvajaria que recusa a tantos civis inocentes a possibilidade de continuarem a viver, a concretizar os seus ideais e sonhos. A destruição pelo governo Israelista de infra-estruturas vitais no Líbano e em Gaza desenraizando um milhão de pessoas e infligindo pesadas baixas à população civil e o bombardeamento indiscriminado pelo Hezbollah de civis no Norte de Israel estão em total oposição aquilo em que nós acreditamos. A recusa de um cessar-fogo imediato e a recusa de entrar em negociações para resolver de uma vez por todas o conflito em todos os seus aspectos vão contra aquela que é a essência do nosso projecto.
No discurso de aceitação do prémio Wolf e em pleno Knesset disse Daniel Barenboim: "Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas."
No próximo Verão a West-Eastern Orchestra vai estar de novo nos proms mas desta vez de forma especial para interpretar uma integral das sinfonias de Beethoven. Simbolicamente para representar o Espírito Olímpico. Dificilmente encontrariam melhor duplo simbolismo. Pela Paz.
Barenboim nasceu em Buenos Aires na Argentina em 1942, filho de judeus de origem Russa que tinham emigrado para fugir da perseguição que já eram alvo na Europa. Viveu até aos 10 de idade na Argentina - permanecendo cidadão desse país ao mesmo titulo que algumas das outras nacionalidade que foi adquirindo ao longo dos anos e que fazem dele um verdadeiro cidadão do mundo, um representante da Humanidade. O que vos conto neste post são sobretudo palavras dele e de Edward Said numa interpretação que espero ser fiel às suas ideias.
A história que vos quero contar começa em 1999 quando Barenboim cria com Edward Saíd (1935-2003) um palestiniano a West-Estearn Divan Orchestra numa tentativa aproximar pela cultura duas civilizações aparentemente opostas por um conflito e ódios que nos parecem inultrapassáveis. O que vos vou escrever neste texto, talvez um pouco longo para a internet (mas desta vez ao contrário de outras ocasiões quis mesmo que ficasse num único post), baseia-se no livro de Daniel Barenboim "Está tudo Ligado - O Poder da Música" em particular nos conteúdos do capítulo "A Orquestra" que aborda precisamente a criação da mesma, "Recordando Ernest Said" que nos relembra quem era este Palestiano, "Sessenta Anos de Israel" que faz uma análise da vivência e sobrevivência do estado Judaico e ainda um capitulo que contém uma tradução do discurso de aceitação do Prémio Wolf de que já falamos neste blog por várias vezes. Obviamente se conseguirem encontrar o referido livro (uma edição da Bizâncio) este é sem dúvida uma excelente leitura para o Dia Mundial da Paz, o dia 1 de Janeiro.
Segundo Barenboim Edward Said dizia que a música era sempre um pouco subversiva porque tentando conciliar vozes dominantes com vozes secundárias mantendo-as nesta hierarquia mas sem que uma delas se oblitere tornando-se irrelevante ou simplesmente mecânica. Subversiva porque tentando conciliar melodia e acompanhamento sem que nenhum deles se substitua ao outro. Subversiva portanto porque demonstra que é possível conjugar tudo isto num conjunto harmonioso em que todos têm o seu lugar. Claro que na música ambas estas coisas são mais fáceis de fazer do que no mundo real. Na música puderam concluir-se em alguns meses acrescenta. No mundo real poderá demorar um pouco mais mas não um tempo infinito.
Para quem não saiba o próprio nome West-Eastern Diwan Orchestra é ele próprio significativo. Foi inspirado numa recolha de poemas de Goethe possivelmente um dos primeiros europeus a interessar-se verdadeiramente por outras culturas. Goethe apaixonou-se pelo Islão que conheceu através de um soldado alemão. Posteriormente ficou fascinado por um poeta de origem persa Hafiz. Diwan é um termo de origem árabe que significa lista ou colectânea. Goethe utilizou este termo (aliás utilizado também em França e no Al-Andaluz para o mesmo efeito - designar uma colectânea de poemas) para a sua obra ao estilo Persa. Curiosamente nessa mesma altura Beethoven escrevia a sua nona sinfonia e sonhava com "homens todos irmãos". Que lição poderíamos tirar deste final do século XVIII! Mas isso é outra história e este post já será demasiado longo sem o parêntesis - um dos muitos que me apetece fazer ao longo deste texto.
A Orquestra reuniu-se pela primeira vez em Weimar o que não deixa de ter também um significado simbólico profundo sendo essa cidade o berço cultural da Alemanha, berço de Goethe, Schiller, ... e ao mesmo tempo a escassa distância de Buchenwald onde Judeus eram levados para a camâras de gaz ao som de Wagner. O simbolismo aliás nunca abandonou esta orquestra que viria dois anos depois a obter uma residência definitiva na nossa vizinha Andaluzia o local onde Cristãos, Judeus e Islâmicos conseguiram viver em paz durante quase sete séculos fixando a sua sede em Sevilha a partir de 2002.
A intenção do estágio inicial em Weimar era apenas de conseguir fazer com que músicos israelitas e árabes "tocassem a mesma nota da mesma forma" chegando a um entendimento como o fazer, se isso acontecesse pensavam Said e Barenboim nunca mais poderiam pensar no conflito que os separa da mesma forma essencialmente porque para conseguir esse entendimento já teriam ultrapassado o primeiro passo: Ouvir com atenção o outro, mesmo que numa forma abstracta de arte - e por isso a música era tão atractiva como forma de encetar um diálogo - mas teriam ouvido. A natureza puramente abstracta mas ao mesmo tempo precisa era ideal para que fosse possível ouvir com atenção. Porque para fazer música numa orquestra não basta apenas tocar muito bem é preciso saber ouvir os demais. Os papeis podem ser apenas de suporte ou fazerem parte do acompanhamento ou ainda de uma linha melódica secundária mas todos têm um papel a desempenhar, todos fazem diferença.
Barenboim e Said sabiam que a Orquestra não poderia trazer a Paz mas achavam que dado o primeiro passo num entendimento musical e que esse entendimento pressupõe, exige mesmo, que se oiça (mas que se oiça verdadeiramente) então torna-se possível o passo seguinte o do entendimento verbal. Impossível? Quando eles iniciaram o projecto se alguém lhes dissesse que iriam um dia fazer tournées pelo mundo fora que iriam interpretar no mais improvável dos palcos numa Ramallah cercada pelos tanques israelitas não acreditariam, mas a verdade é que removida a "impossibilidade mental" o resto torna-se particularmente simples.
E fez-se o tal concerto histórico a todos os níveis em Ramallah (2004) e claro que em ambos os lados há quem não entenda. Há quem não entenda porque acredita que isso é uma cedência indesculpável a qualquer condição prévia que se estabeleceu, há quem não entenda porque acredita numa solução pela força e na inabalável justeza do seu ponto de vista ... Há quem não entenda porque simplesmente ainda não conseguiu ouvir verdadeiramente a outra face da história, tanto do lado dos opressores como do lado dos oprimidos.
Neste conflito como em outros não podemos falar em tolerância, tolerância tem implícito um conceito de superioridade - eu tolero porque te sou superior - perigoso e insultuoso mesmo. Dizia Edward Said : "Eu e o meu amigo Daniel Barenboim escolhemos a via Humanística e não politica porque acreditamos que a ignorância não é uma estratégia de sobrevivência sustentável".
Esta Orquestra já rompeu com centenas de obstáculos centenas de preconceitos. Já colocou músicos ocidentais judeus e cristãos em conjunto com músicos árabes a interpretar Mozart em Ramallah. Já colocou músicos judeus a interpretar Wagner (um tabu desde o holocausto pelas razões óbvias decorrentes do já citado e do famoso manifesto Wagneriano), mas fê-lo porque musicalmente Wagner é um compositor que tem na história da música um papel incontornável: Sem Wagner não haveria Bruckner, Strauss ou Mahler. Porque com a razão foi capaz de ultrapassar condições emocionais que são reais mas que não deixam de ser ultrapassáveis.
A realização do concerto em Ramallah necessitou a junção de um conjunto apreciável de recursos e de vontades. A questão que se pode colocar é porque razão conseguimos que elas se juntem durante um instante para depois desaparecerem como se nunca tivessem existido. Tal como em 2006 dois anos depois apesar da guerra existente entre Israel e o Hezbollah a orquestra reuniu-se e conseguiu mesmo entre os músicos chegar a um entendimento sobre uma nota a colocar nos programas que endereçava a situação de forma clara:
Este ano o nosso projecto está em contraste flagrante com a crueldade e selvajaria que recusa a tantos civis inocentes a possibilidade de continuarem a viver, a concretizar os seus ideais e sonhos. A destruição pelo governo Israelista de infra-estruturas vitais no Líbano e em Gaza desenraizando um milhão de pessoas e infligindo pesadas baixas à população civil e o bombardeamento indiscriminado pelo Hezbollah de civis no Norte de Israel estão em total oposição aquilo em que nós acreditamos. A recusa de um cessar-fogo imediato e a recusa de entrar em negociações para resolver de uma vez por todas o conflito em todos os seus aspectos vão contra aquela que é a essência do nosso projecto.
No discurso de aceitação do prémio Wolf e em pleno Knesset disse Daniel Barenboim: "Apesar do facto de, enquanto arte, a música não possa comprometer os seus princípios e a politica por outro lado ser a arte do compromisso, é também verdade que noutro ponto de vista quando a politica transcende os limites da existência presente e ascende à mais alta esfera do possível, pode aí ter a companhia da música. A música é a arte do imaginário por excelência, uma arte liberta dos limites impostos por palavras, uma arte que toca a profundidade da existência humana, uma arte que atravessa todas as fronteiras. Como tal a música pode levar os sentimentos dos Israelitas e Palestinianos a novas e inimagináveis esferas."
No próximo Verão a West-Eastern Orchestra vai estar de novo nos proms mas desta vez de forma especial para interpretar uma integral das sinfonias de Beethoven. Simbolicamente para representar o Espírito Olímpico. Dificilmente encontrariam melhor duplo simbolismo. Pela Paz.
sábado, 24 de dezembro de 2011
Mensagem de Natal só com Bach ...
Que me perdoem alguns dos leitores mais atentos e que terão provavelmente já ouvido a obra que vos vou referir pelo menos uma centena de vezes (exagero só um pouco :-)) mas para mim Natal é Bach e Bach é Natal.
A obra a que faço referência é a Oratória de Natal BWV 248 que foi baseada em várias outras cantatas (BWV 213 a 215). Foi interpretada na forma de Oratória de Natal pela primeira vez no dia 25 de Dezembro de 1734 na Igreja de S. Nicolau em Leipzig (a primeira parte) sendo as partes seguintes interpretadas nos dias 26 e 27 na mesma igreja.
(Para o Primeiro Dia de Natal)
Parte 1 - Movimento 1
Parte 1 - Movimentos 2 a 4
Parte 1 - Movimentos 5 a 9
(Para o Segundo Dia de Natal)
Parte 2 - Movimento 1
Parte 2 - Movimentos 2 a 8
Parte 2 - Movimentos 9 e 10
Parte 2 - Movimentos 11 a 14
(Para o Terceiro Dia de Natal)
Parte 3 - Movimentos 1 a 6
Parte 3 - Movimentos 7 a 10
Parte 3 - Movimentos 11 a 13
O que me faz dizer que Bach é Natal é que na verdade ao ouvir esta música há pouco mais a dizer. A paz que transmite é perfeita, o amor pelo próximo que deixa antever intenso.
A interpretação que escolhi é da Orquestra Barroca Inglesa dirigida por Sir Elliot Gardiner com o Coro Montverdi. Se desejarem ouvir apenas uma das partes (que Deus vos perdoe :-)) escolham a segunda da primeira parte (movimentos 2 a 4) ou o primeiro em que há partes que penso mesmo que Bach convida Deus a dançar com ele (pelo menos eu tenho vontade disso) ... Senão oiçam uma das partes por dia (o melhor conselho que vos dou há já algum tempo) e já têm programa musical até aos primeiros dias do novo ano mesmo admitindo a ausência de novos posts por aqui ...
A obra a que faço referência é a Oratória de Natal BWV 248 que foi baseada em várias outras cantatas (BWV 213 a 215). Foi interpretada na forma de Oratória de Natal pela primeira vez no dia 25 de Dezembro de 1734 na Igreja de S. Nicolau em Leipzig (a primeira parte) sendo as partes seguintes interpretadas nos dias 26 e 27 na mesma igreja.
(Para o Primeiro Dia de Natal)
Parte 1 - Movimento 1
Parte 1 - Movimentos 2 a 4
Parte 1 - Movimentos 5 a 9
(Para o Segundo Dia de Natal)
Parte 2 - Movimento 1
Parte 2 - Movimentos 2 a 8
Parte 2 - Movimentos 9 e 10
Parte 2 - Movimentos 11 a 14
(Para o Terceiro Dia de Natal)
Parte 3 - Movimentos 1 a 6
Parte 3 - Movimentos 7 a 10
Parte 3 - Movimentos 11 a 13
O que me faz dizer que Bach é Natal é que na verdade ao ouvir esta música há pouco mais a dizer. A paz que transmite é perfeita, o amor pelo próximo que deixa antever intenso.
A interpretação que escolhi é da Orquestra Barroca Inglesa dirigida por Sir Elliot Gardiner com o Coro Montverdi. Se desejarem ouvir apenas uma das partes (que Deus vos perdoe :-)) escolham a segunda da primeira parte (movimentos 2 a 4) ou o primeiro em que há partes que penso mesmo que Bach convida Deus a dançar com ele (pelo menos eu tenho vontade disso) ... Senão oiçam uma das partes por dia (o melhor conselho que vos dou há já algum tempo) e já têm programa musical até aos primeiros dias do novo ano mesmo admitindo a ausência de novos posts por aqui ...
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Concerto Moderno - O Primeiro Concerto de um novo agrupamento
Não percam hoje às 19h no auditório do ISEG ou então à distância na Antena dois à mesma hora o primeiro concerto deste novo agrupamento que será dirigido por César Viana. A entrada é livre. Mais informações aqui .Programa com Purcell, Mozart e claro o Concerto de Corelli que certamente esperam ... Ouvi a ante-estreia ontem e vale a pena a cerca de uma hora que resolverem conceder.
domingo, 18 de dezembro de 2011
Cesária Évora (1941-2011)
Não pertencia à música clássica, longe disso, mas não posso deixar de registar o falecimento desta cantora no dia de ontem, 17 de Dezembro de 2011. Registo-o porque gostava e gosto da sua voz e gosto ainda mais das mornas que cantava como poucos.
O Mundo perdeu mais um dos seus grandes artistas que ficará sempre connosco no entanto na nossa memória. Para mim Cesária Évora já era Sodade. Agora será ainda mais ...
Não voltará mas espero que como ela também dizia tenha sido doce o momento de nos deixar. Não foi
no mar mas foi no seu país. Sodade Cesária, Sodade ...
O Mundo perdeu mais um dos seus grandes artistas que ficará sempre connosco no entanto na nossa memória. Para mim Cesária Évora já era Sodade. Agora será ainda mais ...
Não voltará mas espero que como ela também dizia tenha sido doce o momento de nos deixar. Não foi
no mar mas foi no seu país. Sodade Cesária, Sodade ...
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Orquestra da Escola Superior de Música - Sugestão para o fim de semana
Bom eu sei que esta semana tenho colocado poucos posts mas o período antes do Natal é sempre complicado . Fica no entanto uma sugestão para ouvirem boa música e como por vezes é o caso por aqui nestas recomendações totalmente grátis !
Neste caso tenho uma sugestão para Sábado às 16h na Igreja de São Domingos em Lisboa e no dia seguinte na Sé de Évora às 18h. Os concertos terão um programa idêntico constituído por Gloria (Poulenc) e Te Deum (Bruckner) e contarão com a Orquestra o coro Odyssea e o Coro da Escola Superior de Música de Lisboa dirigidos por Vasco Pearce de Azevedo.
Deixo-vos aqui as duas obras, primeiro o Te Deum neste caos dirigido por Gilbert Levine (que acabou recentemente de anunciar retirar-se pelo menos temporariamente devido a doença)
Depois a obra de Poulenc com a Orquestra da BBC. Não se esqueçam no entanto que ao vivo é outra coisa!
Neste caso tenho uma sugestão para Sábado às 16h na Igreja de São Domingos em Lisboa e no dia seguinte na Sé de Évora às 18h. Os concertos terão um programa idêntico constituído por Gloria (Poulenc) e Te Deum (Bruckner) e contarão com a Orquestra o coro Odyssea e o Coro da Escola Superior de Música de Lisboa dirigidos por Vasco Pearce de Azevedo.
Deixo-vos aqui as duas obras, primeiro o Te Deum neste caos dirigido por Gilbert Levine (que acabou recentemente de anunciar retirar-se pelo menos temporariamente devido a doença)
Depois a obra de Poulenc com a Orquestra da BBC. Não se esqueçam no entanto que ao vivo é outra coisa!
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Contextos da Modernidade
Para quem tem estudantes de música na família ou simplesmente para quem gosta de arte e tem interesse em ter uma perspectiva do que pensam 10 compositores contemporâneos portugueses sobre a música e sobre o mundo recomenda-se este livro:
Contextos da Modernidade
Ainda não sei onde o poderão encontrar mas prometo actualizar este post assim que souber ... pessoalmente vou tentar adquirir e depois conto-vos mais ...
Contextos da Modernidade
Ainda não sei onde o poderão encontrar mas prometo actualizar este post assim que souber ... pessoalmente vou tentar adquirir e depois conto-vos mais ...
Uma sugestão de um concerto
Soubemos através do Facebook um pouco por acaso de um concerto que irá decorrer no dia 13 de Dezembro, ou seja na Terça-Feira no belíssimo salão Nobre da Academia de Ciências de Lisboa. Aliás num parte confesso que ao ler a página da Academia gostei muito das sugestões de presentes de Natal que por lá são dadas.
O concerto de piano por Sara Davis Buechner terá lugar às 19h e no programa estão incluídas obras de Haydn, Turina, Gershwin e Nishimura. Muito variado portanto. Através de um comentário no Facebook ficamos igualmente a saber que a pianista irá de seguida fazer na Universidade de Évora uma série de colóquios e Masterclasses. Não tenho os detalhes desta actividade mas estou seguro que não terão dificuldade em encontrar essa informação no site da referida Universidade.
O Concerto de Terça-Feira tem entrada gratuita o que é mais uma razão para não perderem o mesmo se tiverem ocasião. Entretanto para Sábado e Domingo próximo em breve duas sugestões ...
O concerto de piano por Sara Davis Buechner terá lugar às 19h e no programa estão incluídas obras de Haydn, Turina, Gershwin e Nishimura. Muito variado portanto. Através de um comentário no Facebook ficamos igualmente a saber que a pianista irá de seguida fazer na Universidade de Évora uma série de colóquios e Masterclasses. Não tenho os detalhes desta actividade mas estou seguro que não terão dificuldade em encontrar essa informação no site da referida Universidade.
O Concerto de Terça-Feira tem entrada gratuita o que é mais uma razão para não perderem o mesmo se tiverem ocasião. Entretanto para Sábado e Domingo próximo em breve duas sugestões ...
sábado, 10 de dezembro de 2011
Faleceu Maria Helena Pires de Matos
Através de amigos no Facebook e de vários sites noticiosos chegou-me ao conhecimento o falecimento da maestrina e musicóloga Maria Helena Pires de Matos vitima de doença prolongada. Fundadora e Directora do Coro Gregoriano de Lisboa desde a sua fundação em 1989 foi dos primeiros portugueses a receber prémios internacionais pelas suas gravações com este agrupamento.
Que descanse em paz e como sempre neste blog para ajudar a essa mesma paz fiquemos com um pouco de música de que com toda a certeza gostaria. Ficamos sem dúvida mais pobres.
Que descanse em paz e como sempre neste blog para ajudar a essa mesma paz fiquemos com um pouco de música de que com toda a certeza gostaria. Ficamos sem dúvida mais pobres.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Erbarme Dich Mein Got - Bach
Depois do Gospel ontem ( obrigado cunhado :-) ) e sendo hoje o dia que é - pese a minha reticência no significado do mesmo a noção do pecado aliado à concepção é algo que me faz muita confusão na minha igreja - sendo hoje o dia que é como dizia só vos poderia propor Bach.
Curiosamente (ou não) separadas que estão por alguns séculos existe uma certa unidade nos dois ... A interpretação de Bach é de Christa Ludwig sendo a orquestra dirigida por Klemperer (gravação de 1962).
Erbarme dich, mein Gott,
um meiner Zähren willen!
Schaue hier, Herz und Auge
weint vor dir bitterlich.
Erbarme dich, mein Gott.
Tem piedade, meu Deus,
por minhas lágrimas!
Vê como o meu coração e os meus olhos
choram amargamente na tua Presença.
Tem piedade, meu Deus.
(uma tradução um tanto livre...)
Curiosamente (ou não) separadas que estão por alguns séculos existe uma certa unidade nos dois ... A interpretação de Bach é de Christa Ludwig sendo a orquestra dirigida por Klemperer (gravação de 1962).
Erbarme dich, mein Gott,
um meiner Zähren willen!
Schaue hier, Herz und Auge
weint vor dir bitterlich.
Erbarme dich, mein Gott.
Tem piedade, meu Deus,
por minhas lágrimas!
Vê como o meu coração e os meus olhos
choram amargamente na tua Presença.
Tem piedade, meu Deus.
(uma tradução um tanto livre...)
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
A Paz - Daniel Barenboim
Este post será um inicio, uma espécie de aperitivo para o post que virei a fazer no próximo fim de semana (espero) na página de Facebook do Mundo Melhor. Lembrei-me do maestro hoje quando por acaso dei de caras com o seu livro e com um post que fiz em 2009 sobre a sua conferência na Gulbenkian.
Sabem o que penso? Que é pena que não existam na liderança dos nossos países pessoas com esta estatura de liderança. Diz Barenboim que é um problema do Marketing que nos conduz a esta superficialidade e a este cinzentismo crónico. Talvez seja ou então é aquilo que em Marketing chamamos Selecção Negativa. Isto é os valores que exigimos, a forma como votamos a nossa fraca memória recompensa quem é essencialmente cinzento, sem chama.
Mas estou a afastar-me do tema que é o maestro. Como vos digo hoje é apenas um aperitivo, musical digamos . Como aperitivo só podia dar-vos a Heróica, que bem precisamos !
Sabem o que penso? Que é pena que não existam na liderança dos nossos países pessoas com esta estatura de liderança. Diz Barenboim que é um problema do Marketing que nos conduz a esta superficialidade e a este cinzentismo crónico. Talvez seja ou então é aquilo que em Marketing chamamos Selecção Negativa. Isto é os valores que exigimos, a forma como votamos a nossa fraca memória recompensa quem é essencialmente cinzento, sem chama.
Mas estou a afastar-me do tema que é o maestro. Como vos digo hoje é apenas um aperitivo, musical digamos . Como aperitivo só podia dar-vos a Heróica, que bem precisamos !
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Uma Sugestão Medieval
Um dos blogs que costumo ler Andanças Medievais, publicou um post muito interessante sobre o Cancioneiro Medieval Português. Não é propriamente música clássica é se quisermos a sua antecessora mas pensei que valia a pena fazer aqui menção já que sei que existem alguns dos nossos leitores que gostam deste tipo de música.
Recomendo que leiam o post tanto mais que contem um fabuloso link para um site onde me parece que irão perder (ganhar?) umas horas e mais não digo que será melhor a surpresa ...
Recomendo que leiam o post tanto mais que contem um fabuloso link para um site onde me parece que irão perder (ganhar?) umas horas e mais não digo que será melhor a surpresa ...
domingo, 4 de dezembro de 2011
Luís de Freitas Branco - As Sonatas para Violino
No blog do Valkirio soubemos da edição de um novo disco com as Sonatas para Violino de Luís de Freitas Branco. Com a respectiva autorização repetimos aqui essa excelente recomendação. A exemplo do que fizemos com outros discos portugueses no passado iremos colocar este disco em destaque aqui no blog. Merecem os músicos e compositores portugueses tudo o que pudermos fazer para divulgar a sua obra.
Esta nova gravação da Editora Naxus com Carlos Damas no Violino e Anna Tomasik no Piano pode ser adquirida em formato digital ou em CD (o formato mais recentemente editado). Comprem na forma que mais vos aprouver, mas comprem! Em formato digital são pouco mais de €6 para as duas sonatas e o Prelúdio para Violino e Piano.
O que poderemos dizer sobre estas sonatas? A primeira destas sonatas foi composta em 1907 e com ela participou num concurso de composição em que escandalizou ou júri pelo seu carácter francamente inovador para a época. Fortemente inspirada em Cesar Franck existe na sonata uma concepção integral, homogénea, que sinceramente adoro. Podem ouvir aqui o terceiro andamento pelo menos violinista (Carlos Damas),
A segunda sonata é bem mais tardia - data de 1928 - de natureza quase clássica diríamos embora introduza dentro dessa estrutura uma sonoridade própria do seu tempo e represente também uma evolução na procura da sua própria voz num balanço entre Portugal e Alemanha passando pela França onde estudou ... Não existe no You Tube nenhuma interpretação desta segunda sonata por isso tal como Valkirio proponho-vos que oiçam aqui o quarto andamento. Como o Primeiro Andamento (excelente interpretação dos dois músicos) é qualquer coisa de memorável vou fazer um video com esse primeiro andamento desde que prometam que se gostarem compram o CD todo ...
Esta nova gravação da Editora Naxus com Carlos Damas no Violino e Anna Tomasik no Piano pode ser adquirida em formato digital ou em CD (o formato mais recentemente editado). Comprem na forma que mais vos aprouver, mas comprem! Em formato digital são pouco mais de €6 para as duas sonatas e o Prelúdio para Violino e Piano.
O que poderemos dizer sobre estas sonatas? A primeira destas sonatas foi composta em 1907 e com ela participou num concurso de composição em que escandalizou ou júri pelo seu carácter francamente inovador para a época. Fortemente inspirada em Cesar Franck existe na sonata uma concepção integral, homogénea, que sinceramente adoro. Podem ouvir aqui o terceiro andamento pelo menos violinista (Carlos Damas),
A segunda sonata é bem mais tardia - data de 1928 - de natureza quase clássica diríamos embora introduza dentro dessa estrutura uma sonoridade própria do seu tempo e represente também uma evolução na procura da sua própria voz num balanço entre Portugal e Alemanha passando pela França onde estudou ... Não existe no You Tube nenhuma interpretação desta segunda sonata por isso tal como Valkirio proponho-vos que oiçam aqui o quarto andamento. Como o Primeiro Andamento (excelente interpretação dos dois músicos) é qualquer coisa de memorável vou fazer um video com esse primeiro andamento desde que prometam que se gostarem compram o CD todo ...
Camarata da sinfónica Juvenil hoje à tarde na Igreja de S. Nicolau
O concerto pela camarata é às 16h e a entrada é livre. Um programa ideal para uma tarde de Domingo, entrada livre. A Igreja de São Nicolau fica na baixa (quem não souber onde é facilmente a encontra pelos Google Maps por exemplo). O parque de estacionamento mais próximo para quem for de carro é o da Praça do Município o que garante ainda um lindo passeio a pé de cerca de 10 minutos.
Um programa musical com Bach e Mozart ideal para quem ouve pouco música clássica e queira (re)começar a ouvir.
Um programa musical com Bach e Mozart ideal para quem ouve pouco música clássica e queira (re)começar a ouvir.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Alban Berg (1885-1935)
Tinhamos falado ainda que brevemente sobre este compositor num post em que referíamos um livro Alan Berg e o seu Mundo. Porém não falamos do compositor nem da sua obra. Ora seguindo o Guia da Música de Câmara o próximo compositor que não abordamos era este e logo será ele o tema do post de hoje.
O que para mim é particularmente interessante é a capacidade de Berg de aliar algum romantismo quer à atonalidade quer mesmo ao dodecafonismo. Em ambos os casos Berg interpretou-as de forma muito diversa do resto da segunda escola vienense e talvez por isso seja por vezes considerado o mais abordável do três.
Queria para finalizar propor-vos o Quarteto para Cordas (Op. 3) completamente atonal neste caso e em dois andamentos, o primeiro numa forma de Sonata relativamente livre o segundo seguindo a estrutura de um Rondo. Mentiria se vos dissesse que está na lista dos meus preferidos ... Se querem mesmo ficar com uma única destas sugestões eu recomendaria os Sieben Frühe Lieder de que vos deixo então um outro exemplo dos sete, neste caso a No.6 Liebesode neste caso interpretado por Renée Fleming.
Membro da segunda escola de Viena (com Schoenberg e Webern) nasceu precisamente nessa cidade a 9 de Fevereiro de 1885. Mais interessado em literatura do que em música iniciou a sua formação musical relativamente tarde e logo com Schoenberg. Apesar disso a sua primeira obra a Sonata para Piano enquanto primeira obra foi desde logo o sinal do génio.
A sua paixão pela literatura obviamente viria a guiar uma parte da sua vida enquanto compositor já que algumas das composições mais notáveis são precisamente Lieder ou Óperas. No primeiro caso o ciclo
Sieben Frühe Lieder contém algumas canções lindíssimas de que posso por exemplo destacar Die Nachtigall. No primeiro caso (das operas) claro que teriamos de abordar Wozzeck.O que para mim é particularmente interessante é a capacidade de Berg de aliar algum romantismo quer à atonalidade quer mesmo ao dodecafonismo. Em ambos os casos Berg interpretou-as de forma muito diversa do resto da segunda escola vienense e talvez por isso seja por vezes considerado o mais abordável do três.
Queria para finalizar propor-vos o Quarteto para Cordas (Op. 3) completamente atonal neste caso e em dois andamentos, o primeiro numa forma de Sonata relativamente livre o segundo seguindo a estrutura de um Rondo. Mentiria se vos dissesse que está na lista dos meus preferidos ... Se querem mesmo ficar com uma única destas sugestões eu recomendaria os Sieben Frühe Lieder de que vos deixo então um outro exemplo dos sete, neste caso a No.6 Liebesode neste caso interpretado por Renée Fleming.
Alan Berg faleceu em circunstâncias bastante dramáticas de um envenenamento do sangue devido à falta de cuidados médicos em grande parte consequência de uma ferida mal tratada.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Mais um protesto da série "Ocupar Wall Street"
No primeiro post de hoje falei-vos deste protesto mas sem explicar do que se tratava porque na verdade não tinha tido tempo de analisar o fundamento do mesmo. Depois de ler e reler o texto do Alex Ross confesso-vos que continuo sem perceber completamente. Pelo que entendi o autor da referida obra tem objecções à diferença existente entre a moral transmitida pela sua peça e os mecanismos de financiamento da máquina que a tornam possível.
Por essa razão resolveu organizar uma espécie de happening à saída da referida obra ... lendo uma passagem do texto da dita.
Confesso que fico sem saber bem o que pensar a não ser talvez que chorar com a barriga cheia é fácil? Se tem objecções porque não as expressar antes e até não permitir que a sua obra - ou pelo menos esta que tem um tipo de conteúdo especial - seja interpretada neste palco? Tenho neste caso alguma dificuldade em colocar-me do lado do artista.
Por outro lado registe-se que em Nova Iorque no mesmo dia aproximadamente à mesma hora havia pelo menos dois grandes espectáculos a decorrer perto um do outro ... a 10ª de Mahler a que Ross foi assistir e a tal representação da opera de Glass. Nesse particular sei bem o que pensar e não é nada cristão: Que inveja !
Por fim não quero terminar sem chamar a atenção para o final do texto em que se comparam os preços dos bilhetes de vários tipos de espectáculo. Não sei se por cá a proporção será bem a descrita no texto (seria engraçado fazer a comparação, vou tentar ... ) mas deixa-nos a pensar o que é efectivamente elitismo se tomarmos como base esse critério de julgamento.
Por essa razão resolveu organizar uma espécie de happening à saída da referida obra ... lendo uma passagem do texto da dita.
Confesso que fico sem saber bem o que pensar a não ser talvez que chorar com a barriga cheia é fácil? Se tem objecções porque não as expressar antes e até não permitir que a sua obra - ou pelo menos esta que tem um tipo de conteúdo especial - seja interpretada neste palco? Tenho neste caso alguma dificuldade em colocar-me do lado do artista.
Por outro lado registe-se que em Nova Iorque no mesmo dia aproximadamente à mesma hora havia pelo menos dois grandes espectáculos a decorrer perto um do outro ... a 10ª de Mahler a que Ross foi assistir e a tal representação da opera de Glass. Nesse particular sei bem o que pensar e não é nada cristão: Que inveja !
Por fim não quero terminar sem chamar a atenção para o final do texto em que se comparam os preços dos bilhetes de vários tipos de espectáculo. Não sei se por cá a proporção será bem a descrita no texto (seria engraçado fazer a comparação, vou tentar ... ) mas deixa-nos a pensar o que é efectivamente elitismo se tomarmos como base esse critério de julgamento.
Tempo de Protesto : Alex Ross: The Rest Is Noise: The Satyagraha protest
Bem parece mesmo que os protestos estão na ordem do dia. Sabemos que a Gi não gostou desta ópera, não sabemos se esteve em Nova Iorque :-) ... Por agora só link, mais tarde os comentários ...
Alex Ross: The Rest Is Noise: The Satyagraha protest:
'via Blog this'
Alex Ross: The Rest Is Noise: The Satyagraha protest:
'via Blog this'
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
1 Dezembro de 1640 - D. João IV e Adeste Fideles
No dia de hoje há mais de 5 séculos terminou um período da história de Portugal em que deixamos de ser independentes e fomos submetidos à coroa Espanhola. Nesse período de 60 anos Portugal perdeu uma parte substancial da sua posição no Mundo tendo pago caro a "ajuda" que recebeu de Inglaterra ...
Como sabem aqui neste blog comemoramos com música e por isso nada mais adequado do que o fazer com a recordação de D. João IV, primeiro Rei de Portugal após a Restauração. E é adequado porque este rei foi apelidado, justamente diga-se, o Rei Músico pela sua erudição quer enquanto estudioso e teórico quer enquanto compositor.
A sua biblioteca infelizmente perdida no terramoto de 1755 era considerada uma das mais completas da Europa no que à música diz respeito.
Para comemorar esta data com música e estando perto do Natal resolvemos mostrar-vos Adeste Fideles embora seja hoje muito controversa a sua autoria foi durante muito tempo atribuída ao nosso Rei e a verdade é que bem poderia ter sido (ou foi, na verdade os factos estão longe de ser lineares). A versão que escolhemos é lindíssima em todo o caso. A nossa forma de comemorar os dias especiais: Com música pelo Restaurador da independência.
Como sabem aqui neste blog comemoramos com música e por isso nada mais adequado do que o fazer com a recordação de D. João IV, primeiro Rei de Portugal após a Restauração. E é adequado porque este rei foi apelidado, justamente diga-se, o Rei Músico pela sua erudição quer enquanto estudioso e teórico quer enquanto compositor.
A sua biblioteca infelizmente perdida no terramoto de 1755 era considerada uma das mais completas da Europa no que à música diz respeito.
Para comemorar esta data com música e estando perto do Natal resolvemos mostrar-vos Adeste Fideles embora seja hoje muito controversa a sua autoria foi durante muito tempo atribuída ao nosso Rei e a verdade é que bem poderia ter sido (ou foi, na verdade os factos estão longe de ser lineares). A versão que escolhemos é lindíssima em todo o caso. A nossa forma de comemorar os dias especiais: Com música pelo Restaurador da independência.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
A propósito do que alguém disse sobre o Teatro
Alguém, quem vamos manter anónimo, porque anónimo merece ficar (pelo menos no que diz respeito à autoria dessas desgraçadas palavras) disse que o Teatro não é especial, que não pode ficar acima das sacro-santas restrições financeiras que se agitam por aí como se essas fossem a solução aos nossos problemas. Antes fossem, antes fossem.
Na realidade não pode nem quer penso que alguém o deseje. Porém também não se pode tratar a arte e a cultura e do ponto de vista mais geral a intelectualidade como se fosse uma espécie de luxo de que nos poderíamos abster por uns momentos para retomar mais tarde como se a questão económica nos devesse consumir toda a atenção. É que não vai tardar quem apareça por aí a dizer que nos devemos deixar de pensar em ideologias para nos concentrarmos no essencial. No essencial que é? Existe algo mais essencial do que as ideias? Ou achais que hoje o que nos propõem como solução é suficiente?
Vem esta nota a propósito do que li hoje no blog do Alex Ross uma excelente entrevista que este fez ao Esa-Pekka Salonen (a propósito do seu prémio Grawemeyer Award - ironia alguém que achava que a arte era efectivamente especial :-)) em que o grande maestro finlandês nos diz:
"The sad fact is that we are witnessing a fierce anti-intellectual period in Western culture, both here and in Europe. Populist right-wing movements are attacking the arts and enlightened critical thinking everywhere, and the epithet "elitist" is being used as the favorite blunt instrument by those politicians. So far I haven't seen the anti-Wall Street/London City protest movement forming any direct cultural positions, but I cannot see how classical music with its very modest commercial dimensions would be seen as an enemy by anybody who is willing and able to look beyond the uninformed use of the word "elitist.""
Este raciocínio contra a arte e mais geralmente contra as minorias, contra o que nos é exterior ou estranho, contra os "outros" como se pelo menos numa dimensão das nossas vidas não fizéssemos parte dessa minoria não é novo , não é novo mas normalmente funciona em tempos de crise em que é mais fácil colocar o problema de fora e culpar os demais - facilmente explorável por políticos pouco escrupulosos e por uma comunicação social ainda menos critica.
Normalmente tem um triste fim. Gostaria de acreditar que em média os povos da Europa tenham hoje mais informação e mais base cultural do que em 1935 aproximadamente ... Agora sim iremos ver se o investimento em educação valeu a pena. Iremos também perceber se afinal de contas esses estudos que provam a superioridade de alguns sistemas de ensino da Europa Ocidental são realmente substantivos. Por esta razão espero sinceramente que sejam pelo menos em parte verdade, sobretudo no que diz respeito à História, só para ver se conseguimos evitar repetir os mesmos erros ... de novo.
O Teatro, a Música, o Cinema, a Arte são especiais sim senhor. Não por darem abrigo a um conjunto minoritário de excêntricos mas por nos abrirem janelas para outras formas de pensar e de ver o mundo. E essas acreditem são pelo menos tão necessárias quanto as medidas de recuperação económico-financeiras.
A propósito podem ler a transcrição da resposta ao tal anónimo pelo Bruno Nogueira no País do Burro.
Na realidade não pode nem quer penso que alguém o deseje. Porém também não se pode tratar a arte e a cultura e do ponto de vista mais geral a intelectualidade como se fosse uma espécie de luxo de que nos poderíamos abster por uns momentos para retomar mais tarde como se a questão económica nos devesse consumir toda a atenção. É que não vai tardar quem apareça por aí a dizer que nos devemos deixar de pensar em ideologias para nos concentrarmos no essencial. No essencial que é? Existe algo mais essencial do que as ideias? Ou achais que hoje o que nos propõem como solução é suficiente?
Vem esta nota a propósito do que li hoje no blog do Alex Ross uma excelente entrevista que este fez ao Esa-Pekka Salonen (a propósito do seu prémio Grawemeyer Award - ironia alguém que achava que a arte era efectivamente especial :-)) em que o grande maestro finlandês nos diz:
"The sad fact is that we are witnessing a fierce anti-intellectual period in Western culture, both here and in Europe. Populist right-wing movements are attacking the arts and enlightened critical thinking everywhere, and the epithet "elitist" is being used as the favorite blunt instrument by those politicians. So far I haven't seen the anti-Wall Street/London City protest movement forming any direct cultural positions, but I cannot see how classical music with its very modest commercial dimensions would be seen as an enemy by anybody who is willing and able to look beyond the uninformed use of the word "elitist.""
Este raciocínio contra a arte e mais geralmente contra as minorias, contra o que nos é exterior ou estranho, contra os "outros" como se pelo menos numa dimensão das nossas vidas não fizéssemos parte dessa minoria não é novo , não é novo mas normalmente funciona em tempos de crise em que é mais fácil colocar o problema de fora e culpar os demais - facilmente explorável por políticos pouco escrupulosos e por uma comunicação social ainda menos critica.
Normalmente tem um triste fim. Gostaria de acreditar que em média os povos da Europa tenham hoje mais informação e mais base cultural do que em 1935 aproximadamente ... Agora sim iremos ver se o investimento em educação valeu a pena. Iremos também perceber se afinal de contas esses estudos que provam a superioridade de alguns sistemas de ensino da Europa Ocidental são realmente substantivos. Por esta razão espero sinceramente que sejam pelo menos em parte verdade, sobretudo no que diz respeito à História, só para ver se conseguimos evitar repetir os mesmos erros ... de novo.
O Teatro, a Música, o Cinema, a Arte são especiais sim senhor. Não por darem abrigo a um conjunto minoritário de excêntricos mas por nos abrirem janelas para outras formas de pensar e de ver o mundo. E essas acreditem são pelo menos tão necessárias quanto as medidas de recuperação económico-financeiras.
A propósito podem ler a transcrição da resposta ao tal anónimo pelo Bruno Nogueira no País do Burro.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Mafalda Vasconcelos faria 48 Anos hoje ...
A Mafalda, ou a Fá como eu lhe chamava faria hoje 48 anos. Neste blog falei dela por vezes mas menos vezes, muito menos do que as que gostaria de ter feito. A Mafalda gostava de ler o que eu escrevia, fazia questão de comentar no dia seguinte a maioria dos meus posts ou pelo menos alguns e por isso hoje este post é só para ti, como há três anos com a tua lista a Lista da Mafalda, lista que mantenho no teu Ipod rosa e que oiço sempre que quero recordar e acredita que são algumas muitas vezes ...
Lembro-me em particular como ficou preocupada com um comentário num post que me tinha pedido sobre o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Lembras-te Céu o que nos rimos?
Dizia há uns dias num comentário em um outro blog que essas músicas para mim já não são músicas são o som da tua voz, são o teu cheiro, a memória de locais onde estivemos juntos ou daquilo que nos dissemos, a memória dos dias e do calor ou do frio que fazia. Memórias boas todas ...
Não consigo ouvir Caçador de Mim sem me lembrar do primeiro abraço no Coliseu das horas de espera e do pontapé nas costas ou daquele Concerto dos Trovante. Não consigo ouvir "The Long and Winding Road" sem me lembrar dos Domingos ou Sábados de manhã em que chegavas para, como dizias, namorar com as minhas irmãs quando estava ocupado a estudar uma qualquer cadeira de Electrotecnia do IST. Não consigo ouvir Cigarra sem me lembrar das manhãs em que acordava com esta canção e contigo ao meu lado (shiu ... isto é segredo). Não consigo ouvir Jobim ou mesmo Vinicius sem me lembrar da Luz dos teus Olhos e do que brincávamos com essa canção. Lembro-me quando ainda tínhamos - como dizer - um semi-namoro e dos almoços ao pé da Mocar na 5 de Outubro onde trabalhavas e das nossas visitas à loja da Dargil e dos seus vinis. Lembro-me de procurar e não encontrar Para Não Dizer que Não falei de Flores. Não consigo ouvir Trem das Cores sem me lembrar da sala da casa dos meus pais onde este disco rodou tantas vezes que a pista (do disco o que é que estão a pensar?) já devia estar gasta, ou das canções do Sérgio e dos dias em Sesimbra. Digo que não consigo mas na verdade não quero ...
Gostava de te ter dito tudo isto e tantas outras coisas, gostava de te ter perguntado ainda mais. Sei que não é possível agora mas posso pelo menos tentar falar contigo desta forma. Já tentei de outras maneiras mas por pudor ou por estupidez bloqueio. Tu dirias com a frontalidade que te conhecia - deixa-te de histórias que tu és mesmo assim, nunca dirás nada ... e tinhas provavelmente razão. Não obstante com a minha teimosia (obstinação era a tua palavra) tentarei. Talvez ainda assim me consiga libertar um pouco da angústia do que ficou por dizer ou fazer.
Tínhamos combinado que quando fizéssemos 25 anos de casado iríamos a Edimburgo de novo. Porque razão nos pegamos tanto a uma data e não o fizemos antes? Porque razão depois de termos sabido da tua doença não te dei mais tempo? Sei que querias assim - que não houvesse mudanças na nossa rotina - que querias encarar com naturalidade a morte que te esperava. Sei disso mas no entanto não posso deixar de pensar porque razão não te consegui (ou não tentei) convencer-te do contrário. Teria mudado alguma coisa? Não sei, provavelmente não. Mas que gostaria de ter tentado isso gostaria.
Encontrei ontem por acaso uma agenda do teu pai do ano em que nasceste. No dia 28 de Novembro de 1963 estava simplesmente marcada a entrada - "Nasceu a menina". Assim mesmo sem nome - ainda deveria estar por decidir penso.
Hoje há uma missa para ti, para o teu pai, para nós como todos os 28 do mês na Igreja de que gostavas. Depois estaremos juntos em família e tu estarás comigo nestas e em outras memória. Em dia de Fado lembro-me também ... De quem eu gosto nem às paredes confesso e da nossa brincadeira (nem à tua mãe dizia eu ... ). Choro agora mas não te preocupes; tu sabes que tenho a lágrima fácil.
Abreijos do teu Nã (nome que detestava e que só tu podias utilizar ... )
Lembro-me em particular como ficou preocupada com um comentário num post que me tinha pedido sobre o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Lembras-te Céu o que nos rimos?
Dizia há uns dias num comentário em um outro blog que essas músicas para mim já não são músicas são o som da tua voz, são o teu cheiro, a memória de locais onde estivemos juntos ou daquilo que nos dissemos, a memória dos dias e do calor ou do frio que fazia. Memórias boas todas ...
Não consigo ouvir Caçador de Mim sem me lembrar do primeiro abraço no Coliseu das horas de espera e do pontapé nas costas ou daquele Concerto dos Trovante. Não consigo ouvir "The Long and Winding Road" sem me lembrar dos Domingos ou Sábados de manhã em que chegavas para, como dizias, namorar com as minhas irmãs quando estava ocupado a estudar uma qualquer cadeira de Electrotecnia do IST. Não consigo ouvir Cigarra sem me lembrar das manhãs em que acordava com esta canção e contigo ao meu lado (shiu ... isto é segredo). Não consigo ouvir Jobim ou mesmo Vinicius sem me lembrar da Luz dos teus Olhos e do que brincávamos com essa canção. Lembro-me quando ainda tínhamos - como dizer - um semi-namoro e dos almoços ao pé da Mocar na 5 de Outubro onde trabalhavas e das nossas visitas à loja da Dargil e dos seus vinis. Lembro-me de procurar e não encontrar Para Não Dizer que Não falei de Flores. Não consigo ouvir Trem das Cores sem me lembrar da sala da casa dos meus pais onde este disco rodou tantas vezes que a pista (do disco o que é que estão a pensar?) já devia estar gasta, ou das canções do Sérgio e dos dias em Sesimbra. Digo que não consigo mas na verdade não quero ...
Gostava de te ter dito tudo isto e tantas outras coisas, gostava de te ter perguntado ainda mais. Sei que não é possível agora mas posso pelo menos tentar falar contigo desta forma. Já tentei de outras maneiras mas por pudor ou por estupidez bloqueio. Tu dirias com a frontalidade que te conhecia - deixa-te de histórias que tu és mesmo assim, nunca dirás nada ... e tinhas provavelmente razão. Não obstante com a minha teimosia (obstinação era a tua palavra) tentarei. Talvez ainda assim me consiga libertar um pouco da angústia do que ficou por dizer ou fazer.
Tínhamos combinado que quando fizéssemos 25 anos de casado iríamos a Edimburgo de novo. Porque razão nos pegamos tanto a uma data e não o fizemos antes? Porque razão depois de termos sabido da tua doença não te dei mais tempo? Sei que querias assim - que não houvesse mudanças na nossa rotina - que querias encarar com naturalidade a morte que te esperava. Sei disso mas no entanto não posso deixar de pensar porque razão não te consegui (ou não tentei) convencer-te do contrário. Teria mudado alguma coisa? Não sei, provavelmente não. Mas que gostaria de ter tentado isso gostaria.
Encontrei ontem por acaso uma agenda do teu pai do ano em que nasceste. No dia 28 de Novembro de 1963 estava simplesmente marcada a entrada - "Nasceu a menina". Assim mesmo sem nome - ainda deveria estar por decidir penso.
Hoje há uma missa para ti, para o teu pai, para nós como todos os 28 do mês na Igreja de que gostavas. Depois estaremos juntos em família e tu estarás comigo nestas e em outras memória. Em dia de Fado lembro-me também ... De quem eu gosto nem às paredes confesso e da nossa brincadeira (nem à tua mãe dizia eu ... ). Choro agora mas não te preocupes; tu sabes que tenho a lágrima fácil.
Abreijos do teu Nã (nome que detestava e que só tu podias utilizar ... )
domingo, 27 de novembro de 2011
Fado - Património Imaterial da Humanidade
Já não é (felizmente) novidade para a maioria dos portugueses mas o Fado foi votado na madrugada de Sábado para Domingo (hora de Lisboa) - Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Não poderíamos deixar de por um lado dar os parabéns à equipa que trabalhou a proposta e em particular ao seu líder o musicólogo Rui Vieira Nery e por outro lado festejar. Os festejos já sabem que aqui é sempre com música e por isso escolhi para vós alguns fados de que gosto particularmente, pela música, pelo interprete ou pelo poema. Dirão que não é música clássica. Não será, mas é Fado e nos momentos que vos mostro creio que atinge o sublime ...
Em primeiro lugar Amália cantando Ary dos Santos ... Meu Amor, Meu Amor, meu corpo em movimento ...
Depois também de Ary dos Santos mas agora cantado por Carlos do Carmo Um Homem na Cidade
E porque não o Fado Falado pelo inesquecível João Villaret?
Ou para não nos esquecermos O Fado do Campo Grande com música do grande compositor português Maestro António Vitorino d´Almeida (Letra de Ary dos Santos)
Ou ainda Amália cantando Camões
E será com o poema de Camões que vos deixo porque há pouco mais para acrescentar. Vale pouco a nomeação, talvez. Vale certamente muito se nos ajudar a lembrar e a manter a memória de todos estes (e outros) artistas.
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
que mor não seja a dor que me deixou o tempo,
de meu bem desenganado.
Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
triste quero viver, poi se mudou em tristeza
a alegria do passado.
Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão
duro que lastima ao pé que a sofre e sente.
De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.
Não poderíamos deixar de por um lado dar os parabéns à equipa que trabalhou a proposta e em particular ao seu líder o musicólogo Rui Vieira Nery e por outro lado festejar. Os festejos já sabem que aqui é sempre com música e por isso escolhi para vós alguns fados de que gosto particularmente, pela música, pelo interprete ou pelo poema. Dirão que não é música clássica. Não será, mas é Fado e nos momentos que vos mostro creio que atinge o sublime ...
Em primeiro lugar Amália cantando Ary dos Santos ... Meu Amor, Meu Amor, meu corpo em movimento ...
Depois também de Ary dos Santos mas agora cantado por Carlos do Carmo Um Homem na Cidade
E porque não o Fado Falado pelo inesquecível João Villaret?
Ou para não nos esquecermos O Fado do Campo Grande com música do grande compositor português Maestro António Vitorino d´Almeida (Letra de Ary dos Santos)
Ou ainda Amália cantando Camões
E será com o poema de Camões que vos deixo porque há pouco mais para acrescentar. Vale pouco a nomeação, talvez. Vale certamente muito se nos ajudar a lembrar e a manter a memória de todos estes (e outros) artistas.
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
que mor não seja a dor que me deixou o tempo,
de meu bem desenganado.
Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
triste quero viver, poi se mudou em tristeza
a alegria do passado.
Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão
duro que lastima ao pé que a sofre e sente.
De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.
A Paz - Albert Schweitzer (1875-1965)
Este post foi também publicado ainda que de forma ligeiramente diferente aqui: Por Um Mundo Melhor (Facebook). Desculpem mas não sei fazer links para o Facebook, que desgraça de ignorância.
Este conjunto de posts será sobre a Paz sempre com um músico um musicólogo um melómano ou simplesmente música como razão ou pretexto. Resultou de um desafio que o Raul me fez para publicar uma vez por semana uma música relacionada com a Paz na referida página do Facebook. Confesso que tenho falhado miseravelmente a esse pedido. De facto até agora fiz apenas um único post. Comecei bem é certo com a nona de Beethoven mas depois secou a inspiração ou venceu um dos pecados mortais: a preguiça !
Secou até hoje em que me lembrei que há pessoas ligadas à música e que personificam de forma quase exemplar a paz. E isso dá-me agora razão para pelo menos uma dúzia de posts. Fico contente por poder falar de tantos e tantos músicos (ou melómanos) para quem a paz ou o amor do próximo (não será a mesma coisa?) fazia parte integrante da sua vida. Penso que o Raul não se importará que este texto seja também um post no meu blog, é que me apetece mesmo fazer esta série ...
Vou começar esta sequência com a pessoa que me fez pensar nela: Albert Schweitzer. Teólogo, Médico, Filósofo, Humanista, Musicólogo e Músico. Albert tornou-se conhecido ao abandonar a sua carreira enquanto médico e investigador para criar em África antes da primeira Guerra Mundial um hospital. Tentou uma primeira vez e falhou mas não desistiu. Voltou à Europa e durante vários anos procurou angariar fundos para a reconstrução do projecto agora num outro local mais adequado. E voltou a África onde acabou por falecer em 1965. A sua actividade humanitária salvou milhares de vidas. Foi justamente Prémio Nobel da Paz em 1952.
Enquanto músico notabilizou-se pelos seus estudos e interpretações de Bach sobretudo no que diz respeito ao órgão relativo ao qual publicou diversas obras e inventou mesmo técnicas de interpretação e de gravação. Poderia perfeitamente ter seguido uma carreira na música de tal forma o seu trabalho foi considerado.
Para terminar com música só poderia mesmo ser Bach e graças à Internet e ao You Tube posso mesmo mostrar-vos o próprio Albert Schweitzer a interpretar Bach.
Podem ouvir Liebster Jesu, wir sind hier, BWV 731 (Querido Jesus estamos aqui numa tradução à letra). A gravação é de 1936! Notem apesar disso a qualidade da mesma ...
Este conjunto de posts será sobre a Paz sempre com um músico um musicólogo um melómano ou simplesmente música como razão ou pretexto. Resultou de um desafio que o Raul me fez para publicar uma vez por semana uma música relacionada com a Paz na referida página do Facebook. Confesso que tenho falhado miseravelmente a esse pedido. De facto até agora fiz apenas um único post. Comecei bem é certo com a nona de Beethoven mas depois secou a inspiração ou venceu um dos pecados mortais: a preguiça !
Secou até hoje em que me lembrei que há pessoas ligadas à música e que personificam de forma quase exemplar a paz. E isso dá-me agora razão para pelo menos uma dúzia de posts. Fico contente por poder falar de tantos e tantos músicos (ou melómanos) para quem a paz ou o amor do próximo (não será a mesma coisa?) fazia parte integrante da sua vida. Penso que o Raul não se importará que este texto seja também um post no meu blog, é que me apetece mesmo fazer esta série ...
Vou começar esta sequência com a pessoa que me fez pensar nela: Albert Schweitzer. Teólogo, Médico, Filósofo, Humanista, Musicólogo e Músico. Albert tornou-se conhecido ao abandonar a sua carreira enquanto médico e investigador para criar em África antes da primeira Guerra Mundial um hospital. Tentou uma primeira vez e falhou mas não desistiu. Voltou à Europa e durante vários anos procurou angariar fundos para a reconstrução do projecto agora num outro local mais adequado. E voltou a África onde acabou por falecer em 1965. A sua actividade humanitária salvou milhares de vidas. Foi justamente Prémio Nobel da Paz em 1952.
Enquanto músico notabilizou-se pelos seus estudos e interpretações de Bach sobretudo no que diz respeito ao órgão relativo ao qual publicou diversas obras e inventou mesmo técnicas de interpretação e de gravação. Poderia perfeitamente ter seguido uma carreira na música de tal forma o seu trabalho foi considerado.
Para terminar com música só poderia mesmo ser Bach e graças à Internet e ao You Tube posso mesmo mostrar-vos o próprio Albert Schweitzer a interpretar Bach.
Podem ouvir Liebster Jesu, wir sind hier, BWV 731 (Querido Jesus estamos aqui numa tradução à letra). A gravação é de 1936! Notem apesar disso a qualidade da mesma ...
sábado, 26 de novembro de 2011
Yehudi Menuhin (1906-1999) - Quarta Parte
Não é segredo para muitos de vós que o tempo passa mesmo depressa. Passa tanto mais depressa quanto gostariamos que não o fizesse ou mesmo que voltasse para trás. Vem isto a propósito de me ter apercebido que deixei a biografia de Yehudi Menuhin há quase um mês. Foi no dia 30 de Outubro que publiquei a Terceira Parte: A Guerra
Podem ler as duas primeiras partes desta biografia nestes dois posts:
Primeira Parte: Um Talento Precoce
Segunda Parte: Os Anos Antes da Guerra
Após o fim da guerra torna-se também maestro, um sonho que segundo o próprio tinha desde criança estreando-se num ensaio semi-privado com a Orquestra Sinfónica de Dallas curiosamente interpretando o prelúdio de Die Meistersinger de Wagner.
Pouco depois (1947) casa com Diana Gould que havia conhecido em Londres durante uma das suas variadas tournées para as tropas americanas que o levou a locais tão recônditos como o Alaska.
Esse ano aliás (1947) foi um ano difícil para Menuhin pois aceitou (para não dizer procurou) tocar sobre a direcção de Furtwangler que na altura estava praticamente proscrito e na lista dos músicos que teriam colaborado com o terceiro reich. Menuhin no entanto lembrou a comunidade internacional que Furtwangler tinha ajudado numerosos judeus a fugir da Alemanha. Disse ainda que o fazia num espírito de reconciliação e de recuperação do espírito da Alemanha. Não encontro uma gravação deste concerto mas encontrei uma outra de 1949 no Festival de Lucerna com o Concerto para Violino de Brahms.
Em 1948 estreia a sonata para Violino e Piano de William Walton encomendada pelo próprio Menuhin. Não encontro uma gravação desta obra por Menuhin portanto por enquanto proponho-vos o Concerto para Violino do mesmo compositor dirigido pelo próprio William Walton com a Sinfónica de Londres e Menuhin no Violino Solo.
Em 1950 inicia a actividade enquanto defensor dos Direitos Humanos que nunca viria a abandonar até à sua morte e fá-lo desafiando abertamente o apartheid na Africa do sul. Visita Israel apesar das ameaças de morte resultantes do facto de ter tocado com Furtwangler. Em 1952 faz uma tournée na India contra a fome.
Em 1954 inicia na Academia Nadia Boulanger aquele que viria a ser outro dos seus grandes legados ao mundo: A sua carreira enquanto professor. Em 1955 cria a sua primeira escola em Londres (mais tarde transferida para Surrey).
Também nos anos 50 e 60 inicia a sua colaboração com Festivais de música clássica nomeadamente o de Gstaad (1957) onde interpreta com Britten entre outros e também Bath (1959) do qual é o grande impulsionador e director artístico até 1968.
Em 1969 e durante três mandatos consecutivos torna-se presidente do International Music Council tendo durante o seu mandato criado o Dia Mundial da Música.
O epilogo desta história fica para a quinta e ultima parte desta biografia. Para vos deixar com música como sempre e porque já falamos da gravação de Brahms com Furtwangler (para muitos essa gravação não fosse o facto de ser mono seria a melhor gravação desse concerto) proponho que oiçam o dueto com Ravi Shankar. É justo terminar esta parte desta biografia porque na verdade esta tentativa de aproximação de várias áreas musicais foi também uma preocupação de Yehudi Menuhin expressa não só neste dueto mas também por exemplo nas suas gravações com Stephane Grappelli. (que aliás a propósito tem um dos sons mais bonitos e emocionalmente profundos que conheço). A propósito o primeiro dueto entre Shankar e Menuhin que teve lugar perante a Assembleia Geral da ONU em 1967 foi um momento memorável ...
Podem ler as duas primeiras partes desta biografia nestes dois posts:
Primeira Parte: Um Talento Precoce
Segunda Parte: Os Anos Antes da Guerra
Após o fim da guerra torna-se também maestro, um sonho que segundo o próprio tinha desde criança estreando-se num ensaio semi-privado com a Orquestra Sinfónica de Dallas curiosamente interpretando o prelúdio de Die Meistersinger de Wagner.
Pouco depois (1947) casa com Diana Gould que havia conhecido em Londres durante uma das suas variadas tournées para as tropas americanas que o levou a locais tão recônditos como o Alaska.
Esse ano aliás (1947) foi um ano difícil para Menuhin pois aceitou (para não dizer procurou) tocar sobre a direcção de Furtwangler que na altura estava praticamente proscrito e na lista dos músicos que teriam colaborado com o terceiro reich. Menuhin no entanto lembrou a comunidade internacional que Furtwangler tinha ajudado numerosos judeus a fugir da Alemanha. Disse ainda que o fazia num espírito de reconciliação e de recuperação do espírito da Alemanha. Não encontro uma gravação deste concerto mas encontrei uma outra de 1949 no Festival de Lucerna com o Concerto para Violino de Brahms.
Em 1948 estreia a sonata para Violino e Piano de William Walton encomendada pelo próprio Menuhin. Não encontro uma gravação desta obra por Menuhin portanto por enquanto proponho-vos o Concerto para Violino do mesmo compositor dirigido pelo próprio William Walton com a Sinfónica de Londres e Menuhin no Violino Solo.
Em 1950 inicia a actividade enquanto defensor dos Direitos Humanos que nunca viria a abandonar até à sua morte e fá-lo desafiando abertamente o apartheid na Africa do sul. Visita Israel apesar das ameaças de morte resultantes do facto de ter tocado com Furtwangler. Em 1952 faz uma tournée na India contra a fome.
Em 1954 inicia na Academia Nadia Boulanger aquele que viria a ser outro dos seus grandes legados ao mundo: A sua carreira enquanto professor. Em 1955 cria a sua primeira escola em Londres (mais tarde transferida para Surrey).
Também nos anos 50 e 60 inicia a sua colaboração com Festivais de música clássica nomeadamente o de Gstaad (1957) onde interpreta com Britten entre outros e também Bath (1959) do qual é o grande impulsionador e director artístico até 1968.
Em 1969 e durante três mandatos consecutivos torna-se presidente do International Music Council tendo durante o seu mandato criado o Dia Mundial da Música.
O epilogo desta história fica para a quinta e ultima parte desta biografia. Para vos deixar com música como sempre e porque já falamos da gravação de Brahms com Furtwangler (para muitos essa gravação não fosse o facto de ser mono seria a melhor gravação desse concerto) proponho que oiçam o dueto com Ravi Shankar. É justo terminar esta parte desta biografia porque na verdade esta tentativa de aproximação de várias áreas musicais foi também uma preocupação de Yehudi Menuhin expressa não só neste dueto mas também por exemplo nas suas gravações com Stephane Grappelli. (que aliás a propósito tem um dos sons mais bonitos e emocionalmente profundos que conheço). A propósito o primeiro dueto entre Shankar e Menuhin que teve lugar perante a Assembleia Geral da ONU em 1967 foi um momento memorável ...
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Mais um protesto - Neste caso nos Proms e ... um protesto artístico !
A indignação não é exclusiva do nosso povo e dos nossos sindicatos. Em Inglaterra nos Proms deste ano especialmente agitados ao que parece, depois dos protestos por causa da Orquestra de Israel seguiu um protesto de um ouvinte que achou que a Sinfonia de Bruckner que estava a ouvir estava a ser conduzida de forma demasiado lenta. Levantou-se e saiu gritando impropérios vários. Leia a história completa no blog do Alex Ross onde soubemos da história.
Alex Ross: The Rest Is Noise: The great Bruckner rumpus:
Depois o tal protestante explicou a sua acção no seu blog - que por acaso tomei a liberdade de comentar por duas vezes - dizendo que não tinha interrompido nada já que o maestro se tinha já encarregado de interromper tudo com a sua (na opinião do protestante) má interpretação da obra.
Confesso que temo que se isto pegar se comece a ir para a Gulbenkian de pauta e caneta na mão apontando os erros e dando notas aos maestros e ocasionalmente gritando: tempi, tempi agitando os braços para cima ou para baixo consoante as necessidades... Um festival sem dúvida.
Mas gosto da paixão demonstrada por Bruckner ...
Alex Ross: The Rest Is Noise: The great Bruckner rumpus:
Depois o tal protestante explicou a sua acção no seu blog - que por acaso tomei a liberdade de comentar por duas vezes - dizendo que não tinha interrompido nada já que o maestro se tinha já encarregado de interromper tudo com a sua (na opinião do protestante) má interpretação da obra.
Confesso que temo que se isto pegar se comece a ir para a Gulbenkian de pauta e caneta na mão apontando os erros e dando notas aos maestros e ocasionalmente gritando: tempi, tempi agitando os braços para cima ou para baixo consoante as necessidades... Um festival sem dúvida.
Mas gosto da paixão demonstrada por Bruckner ...
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Samuel Barber (1910-1981)
Este compositor americano (nascido a 9 de Março de 1910) é praticamente ignorado nos nossos dias embora muito possivelmente muitos de nós conheçamos pelo menos uma das suas obras, o Quarteto para Cordas Op. 11 composto em 1938. Esta obra deve a sua fama inicial ao facto do seu andamento lento (o Adagio) ter sido orquestrada por Toscanini (1938) e utilizada numa emissão de rádio como homenagem ao Presidente Roosevelt após o seu falecimento (1945).
Mais recentemente esta obra foi utilizada em filmes como Platoon ou O Homem Elefante embora pessoalmente possa apostar que a maioria das pessoas que viu estes filmes desconhecia a proveniência da música.
Samuel Barber não foi um homem feliz com a sua arte. Na altura em que nasceu ser neo-romântico equivalia já a ser considerado um dinossauro irrelevante. Injusto certamente. Espero que a versão que vos propus dirigida por Leonard Bernstein vos agrade (podem também ouvir a interpretação de 1938 de Toscanini) ou podem também gostar de uma outra dirigida pelo grande violoncelista e maestro Rostropovich interpretada em 1990 em Moscovo.
Samuel Barber não compôs no entanto apenas este quarteto. Entre as suas outras obras recomendo-vos o Concerto para Violino e Orquestra (ele próprio um capitulo dramático na vida de um compositor) de que gosto muito, composto em 1939, o Concerto para Violoncelo (1945) e o Concerto para Piano (1962)
Samuel Barber foi também um notável compositor de Ópera apesar de ter apenas completado três obras e uma delas ter sido um fracasso responsável aliás pela profunda depressão do compositor que após 1966 ainda assim continuou a compor ... No que diz respeito à parte vocal Barber não só era excelente na Ópera como também fruto do seu gosto pela poesia musicou vários poemas de autores como por exemplo James Joyce ou ainda Rainer Maria Rilke ou mesmo Neruda.
Samuel Barber foi membro da Academia Americana de Artes, duas vezes vencedor de um prémio Pullitzer e membro activo de vários agrupamentos que procuraram defender a música e os músicos.
E numa forma de rondo ou se preferirmos na busca romântica da unidade da obra proponho-vos que voltemos ao inicio com o Adagio do Quarteto para Cordas com a versão cantada também ela adaptada pelo próprio Samuel Barber que faleceu a 23 de Janeiro de 1981 em Nova Iorque vitima de cancro. Desta vez a obra tantas vezes utilizada para outros soará em sua própria homenagem e memória ...
Mais recentemente esta obra foi utilizada em filmes como Platoon ou O Homem Elefante embora pessoalmente possa apostar que a maioria das pessoas que viu estes filmes desconhecia a proveniência da música.
Samuel Barber não foi um homem feliz com a sua arte. Na altura em que nasceu ser neo-romântico equivalia já a ser considerado um dinossauro irrelevante. Injusto certamente. Espero que a versão que vos propus dirigida por Leonard Bernstein vos agrade (podem também ouvir a interpretação de 1938 de Toscanini) ou podem também gostar de uma outra dirigida pelo grande violoncelista e maestro Rostropovich interpretada em 1990 em Moscovo.
Samuel Barber não compôs no entanto apenas este quarteto. Entre as suas outras obras recomendo-vos o Concerto para Violino e Orquestra (ele próprio um capitulo dramático na vida de um compositor) de que gosto muito, composto em 1939, o Concerto para Violoncelo (1945) e o Concerto para Piano (1962)
Samuel Barber foi também um notável compositor de Ópera apesar de ter apenas completado três obras e uma delas ter sido um fracasso responsável aliás pela profunda depressão do compositor que após 1966 ainda assim continuou a compor ... No que diz respeito à parte vocal Barber não só era excelente na Ópera como também fruto do seu gosto pela poesia musicou vários poemas de autores como por exemplo James Joyce ou ainda Rainer Maria Rilke ou mesmo Neruda.
Samuel Barber foi membro da Academia Americana de Artes, duas vezes vencedor de um prémio Pullitzer e membro activo de vários agrupamentos que procuraram defender a música e os músicos.
E numa forma de rondo ou se preferirmos na busca romântica da unidade da obra proponho-vos que voltemos ao inicio com o Adagio do Quarteto para Cordas com a versão cantada também ela adaptada pelo próprio Samuel Barber que faleceu a 23 de Janeiro de 1981 em Nova Iorque vitima de cancro. Desta vez a obra tantas vezes utilizada para outros soará em sua própria homenagem e memória ...
terça-feira, 22 de novembro de 2011
MozART GROUP - Uma sugestão vinda do blog Atributos
No Blog Atributos encontramos esta pérola de comédia musical ...
ATRIBUTOS: MozART GROUP
Recomendo que vejam o filme no You tube e sigam para os restantes vídeos do grupo que podem encontrar nos videos relacionados. A cara de Bobby McFerrin de puro deleite numa das partes deste vídeo seria suficiente (vejam por volta dos 5:30) ...
O site oficial do Grupo www.mozartgroup.org informa-nos que vão estar no nosso país entre os dias 26 e 29 de Junho. Certamente a não perder !
ATRIBUTOS: MozART GROUP
Recomendo que vejam o filme no You tube e sigam para os restantes vídeos do grupo que podem encontrar nos videos relacionados. A cara de Bobby McFerrin de puro deleite numa das partes deste vídeo seria suficiente (vejam por volta dos 5:30) ...
O site oficial do Grupo www.mozartgroup.org informa-nos que vão estar no nosso país entre os dias 26 e 29 de Junho. Certamente a não perder !
Mahler e Frère Jacques
Embora soubesse deste facto confesso que me tinha esquecido completamente porém este fim de semana no carro em conversa com o meu filho e porque precisamente estávamos a ouvir a primeira Sinfonia de Mahler ele resolveu fazer-me notar que o terceiro andamento - a marcha fúnebre - utiliza o tema da canção popular francesa (pelo menos penso que é essa a origem embora já tenha percebido que não é liquido que assim seja).
Porquê perguntei? Bem é o Frére Jacques mas está num modo menor respondeu-me, é triste e é adequado por isso agora porque razão escolheu essa melodia não sei ...
Fui investigar e aparentemente a intenção de Mahler é no mínimo dual e passo a explicar. Por um lado o modo menor e a inspiração infantil parece provir da paródia do funeral do caçador em que participam todos os animais - fingidamente tristes claro. A utilização dessa música infantil procuraria assim reconstituir essa ironia.
Porém por outro lado essa mesma melodia é utilizada em contraponto com uma outra melodia popular de raiz judaica pelo que existem musicólogos que interpretam este andamento como um conflito não resolvido entre as duas fés (conflito do próprio Mahler entenda-se). derivam este raciocínio do facto do contraponto utilizado nunca se resolver efectivamente.
A versão que estou a ouvir no carro é uma interpretação de Leonard Bernstein que como sabemos tinha uma compreensão muito profunda do drama de Mahler, ambos maestros e compositores, mais respeitados pela primeira função que pela segunda e magoados por isso. Justamente magoados diria.
Fiquem portanto com esta obra prima (um andamento belíssimo) ...
Porquê perguntei? Bem é o Frére Jacques mas está num modo menor respondeu-me, é triste e é adequado por isso agora porque razão escolheu essa melodia não sei ...
Fui investigar e aparentemente a intenção de Mahler é no mínimo dual e passo a explicar. Por um lado o modo menor e a inspiração infantil parece provir da paródia do funeral do caçador em que participam todos os animais - fingidamente tristes claro. A utilização dessa música infantil procuraria assim reconstituir essa ironia.
Porém por outro lado essa mesma melodia é utilizada em contraponto com uma outra melodia popular de raiz judaica pelo que existem musicólogos que interpretam este andamento como um conflito não resolvido entre as duas fés (conflito do próprio Mahler entenda-se). derivam este raciocínio do facto do contraponto utilizado nunca se resolver efectivamente.
A versão que estou a ouvir no carro é uma interpretação de Leonard Bernstein que como sabemos tinha uma compreensão muito profunda do drama de Mahler, ambos maestros e compositores, mais respeitados pela primeira função que pela segunda e magoados por isso. Justamente magoados diria.
Fiquem portanto com esta obra prima (um andamento belíssimo) ...
sábado, 19 de novembro de 2011
Os esquissos da Oitava de Sibelius ?
No blog de Alex Ross lemos que terão sidos eventualmente descobertos os esquissos daquela que seria a Oitava Sinfonia de Sibelius destruída no seu grande auto-da-fé pessoal. Relembramos que esta oitava sinfonia seria (era) para Sibelius uma espécie de grande resumo de grande súmula ... No artigo existe um link para um ensaio da interpretação de uma parte das partituras encontradas. Muito interessante mesmo !
Alex Ross: The Rest Is Noise: Is this the Sibelius Eighth?:
Alex Ross: The Rest Is Noise: Is this the Sibelius Eighth?:
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Sábado às 17h - Orquestra Sinfónica da ESML
No Sábado às 17h no belíssimo auditório da Escola Superior de Música de Lisboa (para quem ainda não conhece garanto que só o auditório vale a pena a visita, eu sei que há quem não goste ... não é o meu caso :-)) poderão assistir a um concerto pela Orquestra Sinfónica dessa Escola.
O programa será constituído pelas seguintes obras:
Confesso que a obra para Saxofone será para mim uma estreia ... já o resto conheço e recomendo ! Se puderem não percam. A Orquestra será dirigida como habitualmente por Vasco Pearce de Azevedo sendo solista no Saxofone Rodrigo Lima.
Para quem não sabe a ESML fica no final da segunda circular do lado direito, fácil de encontrar e de deslocação estacionamento ...
Mais informação sobre o evento e a escola aqui:
Eventos por categoria - Orquestra Sinfónica da ESML:
O programa será constituído pelas seguintes obras:
- L. V. Beethoven - Abertura Leonora nº 3, op. 72
- Frank Martin - Ballade p/ Saxofone e Orquestra
- W. A. Mozart - Sinfonia nº 41, Dó Maior KV 551
Confesso que a obra para Saxofone será para mim uma estreia ... já o resto conheço e recomendo ! Se puderem não percam. A Orquestra será dirigida como habitualmente por Vasco Pearce de Azevedo sendo solista no Saxofone Rodrigo Lima.
Para quem não sabe a ESML fica no final da segunda circular do lado direito, fácil de encontrar e de deslocação estacionamento ...
Mais informação sobre o evento e a escola aqui:
Eventos por categoria - Orquestra Sinfónica da ESML:
domingo, 13 de novembro de 2011
A Lista de Thomas Mann's
Já sabem que pessoalmente sou um tanto fanático por listas. Neste caso Alex Ross traz-nos uma lista de 1948 que consiste nas 12 gravações preferidas de Thomas Mann.
Alex Ross: The Rest Is Noise: Thomas Mann's Top 12 List:
Além de vos convidar a ler o artigo original fizemos uma pesquisa e procuramos encontrar essas gravações o que quase inacreditavelmente foi possível em quase todas. Não se esqueçam que esta lista é de 1948 ... Sem exagero acho que esta lista com as audições propostas é um autêntico documento de história.
FRANCK Symphony in D Minor. Pierre Monteux conducting the San Francisco Symphony Orchestra.
Encontramos uma das várias gravações que Monteux fez ...
MENDELSSOHN Concerto in E Minor. Nathan Milstein, violin, and the Philharmonic-Symphony Orchestra of New York, Bruno Walter conducting.
Não é a gravação a que refere Thomas Mann mas é Milstein ...
MOZART and others A Song Recital by Lotte Lehmann.
Encontramos uma gravação de 1938 mas não podemos garantir que seja esta ... ainda assim uma gravação histórica de Lotte Lehmann.
BERLIOZ Harold in Italy. William Primrose, violinist [sic], with the Boston Symphony, Serge Koussevitzky conducting.
Pensamos que neste caso é mesmo a gravação a que Thomas Mann faz alusão. Primrose com a Boston Symphony.
BEETHOVEN Symphony No. 3 in E flat ("Eroica"). Bruno Walter conducting the Philharmonic-Symphony Orchestra of New York.
Também acreditamos que neste caso conseguimos encontrar a gravação em causa. Podem assim ouvir Bruno Walter a dirigir a Filarmónica de Nova Iorque na Terceira de Beethoven.
WAGNER Parsifal, Act III. Berlin State Opera soloists, chorus, and orchestra, Karl Muck conducting.
Mais um caso em que possivelmente podemos ouvir a gravação recomendada ... Uma Gravação de 1928 verdadeiramente excepcional, "quente" e emotiva ...
WAGNER Die Walküre, Act I. Lotte Lehmann, soprano, Lauritz Melchior, tenor, Emanuel List, bass, and the Vienna Philharmonic Orchestra, Bruno Walter conducting.
Mais uma gravação histórica ... 1935 .... Lotte Lehmann e Lauritz Melchior ....
BERG Excerpts from Wozzeck. Charlotte Boerner, soprano, and the Janssen Symphony Orchestra, Werner Janssen conducting
Pois aqui lamentamos mas não encontramos. A obra de Berg podem ouvi-la aqui. Da soprano infelizmente ... nada.
STRAUSS, JOHANN Two Overtures and Two Waltzes. Various European orchestras. Bruno Walter and George Szell conducting.
Conseguimos George Szell a dirigir a Filarmónica de Viena numa gravação de 1934 interpretando o Danúbio Azul.
SCHUBERT "Der Musensohn" (Goethe) and "Der Wanderer" (Schmidt von Lübeck). Gerhard Hüsch, baritone, and Hanns Udo Müller, piano.
A gravação mencionada não encontrei. A primeira destas canções por Heinrich Schlusnus. Proponho que oiçam o baritono mencionado no Der Erlkonig de Schumann que está a seguir nesta lista.
SCHUMANN "Romanze" (Geibel) and Schubert's "Der Erlkönig" (Goethe). Heinrich Schlusnus, baritone, and Franz Rupp, piano.
Encontramos a primeiras das gravações mencionadas aqui.
ROOSEVELT "A Prayer for the Nation on D-Day, June 6, 1944." Franklin D. Roosevelt, recorded off the air.
O registo deste fabuloso documento histórico aqui.
Alex Ross: The Rest Is Noise: Thomas Mann's Top 12 List:
Além de vos convidar a ler o artigo original fizemos uma pesquisa e procuramos encontrar essas gravações o que quase inacreditavelmente foi possível em quase todas. Não se esqueçam que esta lista é de 1948 ... Sem exagero acho que esta lista com as audições propostas é um autêntico documento de história.
FRANCK Symphony in D Minor. Pierre Monteux conducting the San Francisco Symphony Orchestra.
Encontramos uma das várias gravações que Monteux fez ...
MENDELSSOHN Concerto in E Minor. Nathan Milstein, violin, and the Philharmonic-Symphony Orchestra of New York, Bruno Walter conducting.
Não é a gravação a que refere Thomas Mann mas é Milstein ...
MOZART and others A Song Recital by Lotte Lehmann.
Encontramos uma gravação de 1938 mas não podemos garantir que seja esta ... ainda assim uma gravação histórica de Lotte Lehmann.
BERLIOZ Harold in Italy. William Primrose, violinist [sic], with the Boston Symphony, Serge Koussevitzky conducting.
Pensamos que neste caso é mesmo a gravação a que Thomas Mann faz alusão. Primrose com a Boston Symphony.
BEETHOVEN Symphony No. 3 in E flat ("Eroica"). Bruno Walter conducting the Philharmonic-Symphony Orchestra of New York.
Também acreditamos que neste caso conseguimos encontrar a gravação em causa. Podem assim ouvir Bruno Walter a dirigir a Filarmónica de Nova Iorque na Terceira de Beethoven.
WAGNER Parsifal, Act III. Berlin State Opera soloists, chorus, and orchestra, Karl Muck conducting.
Mais um caso em que possivelmente podemos ouvir a gravação recomendada ... Uma Gravação de 1928 verdadeiramente excepcional, "quente" e emotiva ...
WAGNER Die Walküre, Act I. Lotte Lehmann, soprano, Lauritz Melchior, tenor, Emanuel List, bass, and the Vienna Philharmonic Orchestra, Bruno Walter conducting.
Mais uma gravação histórica ... 1935 .... Lotte Lehmann e Lauritz Melchior ....
BERG Excerpts from Wozzeck. Charlotte Boerner, soprano, and the Janssen Symphony Orchestra, Werner Janssen conducting
Pois aqui lamentamos mas não encontramos. A obra de Berg podem ouvi-la aqui. Da soprano infelizmente ... nada.
STRAUSS, JOHANN Two Overtures and Two Waltzes. Various European orchestras. Bruno Walter and George Szell conducting.
Conseguimos George Szell a dirigir a Filarmónica de Viena numa gravação de 1934 interpretando o Danúbio Azul.
SCHUBERT "Der Musensohn" (Goethe) and "Der Wanderer" (Schmidt von Lübeck). Gerhard Hüsch, baritone, and Hanns Udo Müller, piano.
A gravação mencionada não encontrei. A primeira destas canções por Heinrich Schlusnus. Proponho que oiçam o baritono mencionado no Der Erlkonig de Schumann que está a seguir nesta lista.
SCHUMANN "Romanze" (Geibel) and Schubert's "Der Erlkönig" (Goethe). Heinrich Schlusnus, baritone, and Franz Rupp, piano.
Encontramos a primeiras das gravações mencionadas aqui.
ROOSEVELT "A Prayer for the Nation on D-Day, June 6, 1944." Franklin D. Roosevelt, recorded off the air.
O registo deste fabuloso documento histórico aqui.
sábado, 12 de novembro de 2011
Georges Auric (1899-1983)
Georges Auric nasceu em Lodéve no Herault, França no dia 15 de Fevereiro de 1899. Desde muito cedo o seu talento para a composição foi claro. Com 13 anos entra no conservatório de Paris na classe de Georges Caussade (Contraponto e Fuga) tendo um ano mais tarde sido aluno de Vincent d´Arcy na Schola Cantorum.
Rapidamente ganha notoriedade enquanto músico vanguardista e faz parte do Grupo dos Seis com Louis Durey, Arthur Honegger,Darius Milhaud,Francis Poulenc, Germaine Tailleferre embora este grupo seja mais uma construção teórica que um agrupamento de sensibilidades tão diversas eram as suas raízes e estéticas. A propósito (embora não sobre este tema) sugiro que oiçam um documento muito interessante em que Cocteau e Auric (entre outros) falam de Satie (em françês). Sobre o tema dos seis isso sim podem também ouvir o próprio Poulenc (também em francês).
Convive nessa altura com os maiores vultos da época Stravinsky, Apollinaire, Radiguet, Braque, Picasso, Léon Bloy, Jacques Maritain. Jean Cocteau, Erik Satie tornando conhecido em 1924 com o ballet "Les Facheux" para os Ballets russos de Diaghilev. Este ballet não só inaugura uma longa série de música para Ballet como acaba por ser também a centelha que o faria tornar-se num dos mais relevantes compositores de música para cinema do século XX.
Neste particular escreveu muitas das bandas sonoras dos filmes de Jean Cocteau entre os quais teremos de destacar a Bela e o Monstro de 1946. Auric viria também a escrever música para filmes de Hollywood tendo nessa altura adquirido fama mundial. Entre esses poderíamos destacar por exemplo Moulin Rouge de John Houston (1952). São destaques no entanto curtos de um dos mais prolíficos autores de música para cinema do século XX. Só para vos dar mais alguns exemplos: Férias em Roma (1953) de Corcunda de Notre Dame (1958) de Delannoy, Bom Dia Tristeza (1958) de Otto Preminger, Os Inocentes (1961) de Jack Clayton, A partir de 1962 quando aceita o cargo de director da Ópera de Paris deixa de compor para Cinema.
Músicou também variadíssimos poemas dos maiores poetas franceses do século XX entre os quais Nerval, Aragon e Eluard, infelizmente não encontro no You Tube registos dessas obras.
Em 1975 termina aquela que viria a ser a sua ultima grande obra "Imaginées", conjunto de seis peças que tanto podem ser interpretadas em conjunto como de forma separada. Estas obras foram dedicadas por vezes aos músicos que as estrearam outras vezes são homenagens a amigos de Auric.
Como as obras para instrumentos de sopro não estão muito representadas neste blog (as minhas desculpas aos instrumentistas desses instrumentos ... não é por má vontade garanto) deixava-vos com o seu Trio para Oboé, Clarinete e Fagote de 1938.
Georges Auric faleceu em Paris no dia 23 de Julho de 1983.
Rapidamente ganha notoriedade enquanto músico vanguardista e faz parte do Grupo dos Seis com Louis Durey, Arthur Honegger,Darius Milhaud,Francis Poulenc, Germaine Tailleferre embora este grupo seja mais uma construção teórica que um agrupamento de sensibilidades tão diversas eram as suas raízes e estéticas. A propósito (embora não sobre este tema) sugiro que oiçam um documento muito interessante em que Cocteau e Auric (entre outros) falam de Satie (em françês). Sobre o tema dos seis isso sim podem também ouvir o próprio Poulenc (também em francês).
Convive nessa altura com os maiores vultos da época Stravinsky, Apollinaire, Radiguet, Braque, Picasso, Léon Bloy, Jacques Maritain. Jean Cocteau, Erik Satie tornando conhecido em 1924 com o ballet "Les Facheux" para os Ballets russos de Diaghilev. Este ballet não só inaugura uma longa série de música para Ballet como acaba por ser também a centelha que o faria tornar-se num dos mais relevantes compositores de música para cinema do século XX.
Neste particular escreveu muitas das bandas sonoras dos filmes de Jean Cocteau entre os quais teremos de destacar a Bela e o Monstro de 1946. Auric viria também a escrever música para filmes de Hollywood tendo nessa altura adquirido fama mundial. Entre esses poderíamos destacar por exemplo Moulin Rouge de John Houston (1952). São destaques no entanto curtos de um dos mais prolíficos autores de música para cinema do século XX. Só para vos dar mais alguns exemplos: Férias em Roma (1953) de Corcunda de Notre Dame (1958) de Delannoy, Bom Dia Tristeza (1958) de Otto Preminger, Os Inocentes (1961) de Jack Clayton, A partir de 1962 quando aceita o cargo de director da Ópera de Paris deixa de compor para Cinema.
Músicou também variadíssimos poemas dos maiores poetas franceses do século XX entre os quais Nerval, Aragon e Eluard, infelizmente não encontro no You Tube registos dessas obras.
Em 1975 termina aquela que viria a ser a sua ultima grande obra "Imaginées", conjunto de seis peças que tanto podem ser interpretadas em conjunto como de forma separada. Estas obras foram dedicadas por vezes aos músicos que as estrearam outras vezes são homenagens a amigos de Auric.
Como as obras para instrumentos de sopro não estão muito representadas neste blog (as minhas desculpas aos instrumentistas desses instrumentos ... não é por má vontade garanto) deixava-vos com o seu Trio para Oboé, Clarinete e Fagote de 1938.
Georges Auric faleceu em Paris no dia 23 de Julho de 1983.
domingo, 6 de novembro de 2011
Monty Python´s falam sobre Música e Always look on the Bright side of Life
No novo canal dos Monty Phyton - de que sou fã incondicional - encontrei este pequeno video em que o John Cleese fala sobre música ... Posso dizer-vos que o meu respeito subiu (se é que ainda era possível) uns mil pontos ... Já agora neste mesmo canal observem esta excelente produção ao vivo ... com orquestra - fantástico :-) ... Always look on the Bright side of Life (parte da produção Not the Messiah - humor ao mais alto nível). Prometo um post um pouco mais sério (ou não) ainda hoje !
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Juan Crisóstomo de Arriaga (1806-1826)
Continuamos hoje a nossa divulgação de alguns compositores um pouco menos conhecidos que vamos encontrando na obra "Guia da Música de Câmara" de François-René Tranchefort publicada em Portugal pela Gradiva. Este texto baseia-se em parte no que é escrito nesse livro e em outras fontes encontradas e mencionadas no texto sempre que tal for relevante.
Juan Crisóstomo de Arriaga nasceu em Bilbao a 27 de Janeiro de 1806, exactamente 50 anos após Mozart. Não se sabe se por essa razão se por simples coincidência o pai abastado comerciante e músico amador dá-lhe como dois primeiros nomes os de Mozart.
Se fossemos supersticiosos diríamos que esse baptismo foi simultâneamente uma bênção e uma praga. Bênção porque o jovem Juan cedo começa tal como Mozart a revelar um enorme génio tornando-se tal como o seu homónimo uma criança prodígio.
Compõe a sua primeira ópera com apenas 13 anos (infelizmente dessa obra "Os Escravos Felizes") subsistem apenas a abertura e alguns fragmentos.
O pai reconhecendo o seu enorme talento envia-o para Paris onde estuda com Baillot e Fétis onde rapidamente completa o curso tornando-se assistente de Fétis. Infelizmente por causas desconhecidas acabaria por falecer em Paris a 17 de Janeiro de 1926 antes de completar o seu vigésimo aniversário .
Todas estas coincidências levaram-no ao cognome de "Mozart Espanhol" que se face à dimensão da obra é sem dúvida um pouco exagerado já quanto ao potencial e ao estilo é uma designação bastante próxima. Na realidade apesar de ser contemporâneo de Beethoven o seu estilo é mais próximo de Mozart e de Hayden do que do pré-romantismo ou mesmo do romantismo de Beethoven.
Das suas obras hoje em dia há três quartetos para cordas (os unicos publicados em vida do compositor) que são frequentemente interpretados. Entre esses o mais interessante será o terceiro de que vos deixamos aqui uma interpretação pelo Quarteto Quiroga.
Juan Crisóstomo de Arriaga nasceu em Bilbao a 27 de Janeiro de 1806, exactamente 50 anos após Mozart. Não se sabe se por essa razão se por simples coincidência o pai abastado comerciante e músico amador dá-lhe como dois primeiros nomes os de Mozart.
Se fossemos supersticiosos diríamos que esse baptismo foi simultâneamente uma bênção e uma praga. Bênção porque o jovem Juan cedo começa tal como Mozart a revelar um enorme génio tornando-se tal como o seu homónimo uma criança prodígio.
Compõe a sua primeira ópera com apenas 13 anos (infelizmente dessa obra "Os Escravos Felizes") subsistem apenas a abertura e alguns fragmentos.
O pai reconhecendo o seu enorme talento envia-o para Paris onde estuda com Baillot e Fétis onde rapidamente completa o curso tornando-se assistente de Fétis. Infelizmente por causas desconhecidas acabaria por falecer em Paris a 17 de Janeiro de 1926 antes de completar o seu vigésimo aniversário .
Todas estas coincidências levaram-no ao cognome de "Mozart Espanhol" que se face à dimensão da obra é sem dúvida um pouco exagerado já quanto ao potencial e ao estilo é uma designação bastante próxima. Na realidade apesar de ser contemporâneo de Beethoven o seu estilo é mais próximo de Mozart e de Hayden do que do pré-romantismo ou mesmo do romantismo de Beethoven.
Das suas obras hoje em dia há três quartetos para cordas (os unicos publicados em vida do compositor) que são frequentemente interpretados. Entre esses o mais interessante será o terceiro de que vos deixamos aqui uma interpretação pelo Quarteto Quiroga.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Hélène Grimaud e a querela com Abbado
No Blog The Rest is Noise chamam-nos a atenção para um artigo do The New Yorker em que se conta a história da querela de Hélène Grimaux e Claudio Abbado. Na verdade o artigo intitulado Her Way - A pianist of strong opinions é muito mais do que a simples descrição desse fait-divers. É um perfil excelente não só da artista como também das escolhas e do custo da independência dessas escolhas. Numa altura em que sair da norma artística é um risco Hélène Grimaux não deixa nunca de manifestar as suas interpretações. Nós apreciamos e recomendamos a leitura do longo artigo de sete páginas ao som da interpretação que se segue, repetida se preciso for (ctrl+click para abrir numa outra janela o link).
domingo, 30 de outubro de 2011
Yehudi Menuhin (1906-1999) - Terceira Parte
Podem ler as duas primeiras partes desta biografia nestes dois posts:
Primeira Parte : Um talento precoce
Segunda Parte. Os Anos Antes da Guerra
A segunda guerra mundial interrompe a carreira de Menuhin de forma dramática (há quem defenda que mesmo antes da guerra Menuhin já teria perdido o fulgor dos primeiros anos, supõe-se que devido a uma lesão) mas obviamente quando se fala de guerra este tipo de problemas é irrelevante.
Por outro lado a guerra veio catalisar uma faceta no instrumentista que se apercebe da dimensão humana que a música pode trazer à espécie humana. Na verdade Yehudi Menuhin não mais parará de procurar com a música trazer paz, alegria e bom senso aos homens.
O inicio da guerra é marcada pelo nascimento dos seus dois primeiros filhos em 1939 e 1940 (embora nessa altura os Estados Unidos não estivessem ainda formalmente em guerra ...). Durante esta Menuhin vai fazer mais de 500 concertos para as tropas aliadas. Neste video podemos ver um extracto de uma interpretação num hospital de uma obra de Dvorak.
Numa dessas viagens haveria de conhecer a sua segunda mulher Diana Gould dançarina talentosa de quem teria também dois filhos.
Em 1945 com Benjamin Britten desloca-se a Bergen-Belsen para um recital no recentemente libertado campo de concentração num concerto destinado aos sobreviventes. Demonstrando uma alma enorme em 1947 aceita interpretar com a Sinfónica de Berlim dirigida por Furtwangler (nessa altura muito atacado pela sua suposta conivência com o regime nazi). Menuhin relembra então ao mundo que não só Furtwangler tinha ajudado imensos músicos judeus a fugir da Alemanha. Conseguir nessa altura pensar em reconciliação requeria na verdade uma alma superior. Neste vídeo podemos ouvir Menuhin falar de Furtwangler.
Durante a guerra nos Estados Unidos encontra Bartok em grandes dificuldades financeiras e encomenda-lhe uma sonata para violino. Não consigo encontrar extractos de Menuhin a interpretar esta obra que hoje faz parte do reportório de violino mas em compensação proponho-vos para terminar este post uma interpretação já depois da guerra (1953) do Concerto para Violino e Orquestra de Bela Bartok com a Philarmonia Orchestra dirigida por Furtwangler.
Primeira Parte : Um talento precoce
Segunda Parte. Os Anos Antes da Guerra
A segunda guerra mundial interrompe a carreira de Menuhin de forma dramática (há quem defenda que mesmo antes da guerra Menuhin já teria perdido o fulgor dos primeiros anos, supõe-se que devido a uma lesão) mas obviamente quando se fala de guerra este tipo de problemas é irrelevante.
Por outro lado a guerra veio catalisar uma faceta no instrumentista que se apercebe da dimensão humana que a música pode trazer à espécie humana. Na verdade Yehudi Menuhin não mais parará de procurar com a música trazer paz, alegria e bom senso aos homens.
O inicio da guerra é marcada pelo nascimento dos seus dois primeiros filhos em 1939 e 1940 (embora nessa altura os Estados Unidos não estivessem ainda formalmente em guerra ...). Durante esta Menuhin vai fazer mais de 500 concertos para as tropas aliadas. Neste video podemos ver um extracto de uma interpretação num hospital de uma obra de Dvorak.
Numa dessas viagens haveria de conhecer a sua segunda mulher Diana Gould dançarina talentosa de quem teria também dois filhos.
Em 1945 com Benjamin Britten desloca-se a Bergen-Belsen para um recital no recentemente libertado campo de concentração num concerto destinado aos sobreviventes. Demonstrando uma alma enorme em 1947 aceita interpretar com a Sinfónica de Berlim dirigida por Furtwangler (nessa altura muito atacado pela sua suposta conivência com o regime nazi). Menuhin relembra então ao mundo que não só Furtwangler tinha ajudado imensos músicos judeus a fugir da Alemanha. Conseguir nessa altura pensar em reconciliação requeria na verdade uma alma superior. Neste vídeo podemos ouvir Menuhin falar de Furtwangler.
Durante a guerra nos Estados Unidos encontra Bartok em grandes dificuldades financeiras e encomenda-lhe uma sonata para violino. Não consigo encontrar extractos de Menuhin a interpretar esta obra que hoje faz parte do reportório de violino mas em compensação proponho-vos para terminar este post uma interpretação já depois da guerra (1953) do Concerto para Violino e Orquestra de Bela Bartok com a Philarmonia Orchestra dirigida por Furtwangler.
Música Açoriana: Encontros de Música Antiga 2011
Para os meus amigos leitores deste blog que sejam de Ponta Delgada ou que não sendo de lá estejam por alguma razão nessa belíssima terra não percam estes encontros nem tão pouco a palestra do Rui Vieira Nery.
Música Açoriana: Encontros de Música Antiga 2011:
'via Blog this'
Música Açoriana: Encontros de Música Antiga 2011:
'via Blog this'
sábado, 29 de outubro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Canções e poemas de que gostávamos ...
Vinicius sempre nos acompanhou, desde o inicio, fiquem bem hoje com mais este desvio (ou não, certamente que não) à música clássica :-)
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
Até ao grande amor ...
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor. Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor. Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor. Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor. Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor. Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor. Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor. É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor... Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor? Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor. É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor. Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
Até ao grande amor ...
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor. Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor. Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor. Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor. Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor. Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor. Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor. É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor... Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor? Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor. É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor. Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Fado - Património Imaterial da Humanidade
Num post do Facebook Rui Vieira Nery chamou a atenção para o sucesso do primeiro passo no percurso de atribuição do Património Imaterial da Humanidade ao Fado. Podem ler o processo submetido ao painel de especialistas e que foi avaliado de forma favorável no site da Unesco. Recomendo mesmo a leitura para quem gosta e também para quem acha que não gosta de Fado ... O diz que não gosta de Música Clássica é por um dia (ou por um post se preferirem) renomeado Diz que não gosta de Fado?
Na tradição deste blog tinhamos de terminar com música ... Amália claro. Foi Deus ...
Na tradição deste blog tinhamos de terminar com música ... Amália claro. Foi Deus ...
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Bach também ocupa Wall Street
Bach também ocupa Wall Street, pelo menos é o que nos garante Alex Ross e como sabem nós confiamos nele !
Diz-nos nesse post:
To hang one's heart on earthly treasures
is a seduction of the foolish world.
How easily the devouring passions arise,
how the seething floods roar and tear away
until all is smashed and falls into ruin.
Diz-nos nesse post:
To hang one's heart on earthly treasures
is a seduction of the foolish world.
How easily the devouring passions arise,
how the seething floods roar and tear away
until all is smashed and falls into ruin.
Que é como quem diz numa tradução um tanto livre de minha autoria:
Apostar a nossa alma em riquezas terrenas
é uma sedução dos tolos
tão facilmente as paixões crescem
como o choro e ruptura aparecem, inevitáveis
até tudo ser esmagado e cair em ruínas!
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Anton Arensky (1861-1906) - Trio com Piano em Ré Menor -
Aron Arensky |
Esta peça em particular foi composta em 1894 sendo em simultâneo uma homenagem a Mendelssohn e dedicada a memória de Karl Davidov (aliás é por vezes denominado o Trio Davidov) violoncelista e pedagogo.
O trio é composto por quatro andamentos que vos convidamos a ouvir numa interpretação com Robert Preston no Piano, Erik Friedman no violino e James Kreger no violoncelo.
Allegro moderato Scherzo (parte 1 e parte 2) - Allegro molto - Elegia - Adagio Finale - Allegro non troppo
Gostaria de vos chamar a atenção no primeiro andamento do tema constantemente repetido em várias variações de um grande lirismo. O segundo andamento é muito ao estilo de Mendelssohn que aliás caracterizava o compositor. A Elegia, o meu andamento preferido é um belíssimo Andante ... para terminar num ultimo andamento que transborda de energia. Acreditem vale a pena ouvir este trio do principio ao fim.
Curiosamente este trio deverá ter sido uma das primeiras obras gravadas graças a Julius Block que gravou em cilindros de cera num trio que deverá ter sido fantástico dado que Arensky tocava a parte de piano (além de compositor e pedagogo Arensky era um talentoso pianista). Estas gravações podem hoje ser adquiridas em CD pelo preço de $54 dolares (3 CD) com todos os cilindros recolhidos por Julius Block que incluem além desta gravação do Trio de Arensky algumas outras pérolas como gravações de Kreutzer, Taneyev, Conus e ainda gravações das vozes de Tolstoi e Tchaikovsky entre outros.
Toda a história dos cilindros e a encomenda dos discos pode ser encontrada aqui. Nesta imagem aqui ao lado podem ver alguns dos cilindros da colecção agora compilados nos 3 CDs de que vos falei.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Homenagem a Christopher Bochmann
No próximo dia 6 de Novembro às 17h haverá no Palácio Foz um concerto de homenagem a Christopher Bochmann maestro da Orquestra Sinfónica Juvenil desde 1984 tendo dirigido mais de 400 concertos com esta Orquestra.
O programa do concerto inclui obras de Christopher Bochmann e uma orquestração de uma composição de Ravel. Será interpretado pelo Grupo de Música Contemporânea da Orquestra Sinfónica Juvenil.
A orquestra e o maestro têm desempenhado ao longo destes anos um papel fundamental na divulgação da música clássica e na criação de um espaço onde jovens músicos podem tocar em orquestra de forma regular. Só por estas duas razões, além do óbvio mérito artístico a homenagem é mais do que merecida. Por isso se puderem não faltem. Também por essa mesma razão fiz este primeiro post ainda relativamente longe do evento. Podem solicitar bilhetes aqui (esgotará com toda a certeza por isso sejam razoáveis ...)
O programa do concerto inclui obras de Christopher Bochmann e uma orquestração de uma composição de Ravel. Será interpretado pelo Grupo de Música Contemporânea da Orquestra Sinfónica Juvenil.
A orquestra e o maestro têm desempenhado ao longo destes anos um papel fundamental na divulgação da música clássica e na criação de um espaço onde jovens músicos podem tocar em orquestra de forma regular. Só por estas duas razões, além do óbvio mérito artístico a homenagem é mais do que merecida. Por isso se puderem não faltem. Também por essa mesma razão fiz este primeiro post ainda relativamente longe do evento. Podem solicitar bilhetes aqui (esgotará com toda a certeza por isso sejam razoáveis ...)
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Alex Ross - Chorar de barriga cheia :-)
Queixa-se Alex Ross que as próximas semanas em Nova Iorque estão cheias de conflitos de horários quanto a concertos que queria ouvir e ver ... Não sei porquê mas não consigo ter pena dele :-). Como nota de rodapé reparem bem no preço dos bilhetes para ir ouvir Peter Hill - 20 dólares, não digam que não dá para ter um bocado de - Deus me perdoe - inveja?
Para quem gosta podemos sempre sugerir um dos seus discos no caso uma parte das obras completas para Piano de Messaien.
Para quem gosta podemos sempre sugerir um dos seus discos no caso uma parte das obras completas para Piano de Messaien.
domingo, 16 de outubro de 2011
Yehudi Menuhin (1906-1999) - Segunda Parte
Podem ler a primeira parte desta biografia neste post : Yehudi Menuhin (1916-1999) Primeira Parte.
Entre 1930 e 1938 Menuhin vai multiplicar os concertos e gravações tornando-se uma das estrelas do mundo da música. Sim acreditem ou não nessa época os interpretes de música clássica ainda podiam aspirar à celebridade mundial. É uma distinção duvidosa tendo em consideração o padrão médio dos que hoje a conseguem. Notem que foi há pouco mais de 80 anos, há menos de um século portanto que um interprete clássico conseguia ser uma estrela mediática.
Em 1931 interpreta com a LSO dirigida por Landon Ronald o primeiro concerto para Violino e Orquestra de Max Bruch. Podem ouvir essa interpretação aqui (o primeiro movimento).
Em 1932 grava em Londres o Concerto para Violino de Elgar (com o compositor a dirigir a Orquestra) valendo aliás o comentário do compositor "A forma como este rapaz toca o meu concerto é simplesmente espantosa". Felizmente a net permite-nos hoje voltar a ouvir esse documento histórico, que podem ouvir aqui. A palavra "rapaz" pode ser facilmente explicada pelo facto de Menuhin ter nessa altura 16 anos! Já agora para perceberem melhor nada mais simples do que uma fotografia com o maestro Bruno Walter tirada em 1931.
Ainda nesse mesmo ano grava o duplo concerto de Bach com o seu professor Enescu em Paris com a Filarmónica de Paris dirigida por Pierre Monteux. Dessa gravação não encontro qualquer referência mas em compensação podem ficar aqui com a cadência do primeiro Concerto de Paganini para violino e orquestra também dirigido pelo grande maestro francês.
Em 1935 faz uma tournée mundial com mais de 100 concertos em três continentes (Africa, Europa e Oceania).
Em 1937 estreia o Concerto para Violino de Schumann nos Estados Unidos enquanto entre 1934 e 1936 fazia a primeira gravação integral das Sonatas e Partitas de Bach para Violino Solo.
Como vos referimos na primeira parte desta biografia uma parte substancial da informação para a redacção deste texto foi obtida do Site Menuhin.Org.
Entre 1930 e 1938 Menuhin vai multiplicar os concertos e gravações tornando-se uma das estrelas do mundo da música. Sim acreditem ou não nessa época os interpretes de música clássica ainda podiam aspirar à celebridade mundial. É uma distinção duvidosa tendo em consideração o padrão médio dos que hoje a conseguem. Notem que foi há pouco mais de 80 anos, há menos de um século portanto que um interprete clássico conseguia ser uma estrela mediática.
Em 1931 interpreta com a LSO dirigida por Landon Ronald o primeiro concerto para Violino e Orquestra de Max Bruch. Podem ouvir essa interpretação aqui (o primeiro movimento).
Em 1932 grava em Londres o Concerto para Violino de Elgar (com o compositor a dirigir a Orquestra) valendo aliás o comentário do compositor "A forma como este rapaz toca o meu concerto é simplesmente espantosa". Felizmente a net permite-nos hoje voltar a ouvir esse documento histórico, que podem ouvir aqui. A palavra "rapaz" pode ser facilmente explicada pelo facto de Menuhin ter nessa altura 16 anos! Já agora para perceberem melhor nada mais simples do que uma fotografia com o maestro Bruno Walter tirada em 1931.
Ainda nesse mesmo ano grava o duplo concerto de Bach com o seu professor Enescu em Paris com a Filarmónica de Paris dirigida por Pierre Monteux. Dessa gravação não encontro qualquer referência mas em compensação podem ficar aqui com a cadência do primeiro Concerto de Paganini para violino e orquestra também dirigido pelo grande maestro francês.
Em 1935 faz uma tournée mundial com mais de 100 concertos em três continentes (Africa, Europa e Oceania).
Em 1937 estreia o Concerto para Violino de Schumann nos Estados Unidos enquanto entre 1934 e 1936 fazia a primeira gravação integral das Sonatas e Partitas de Bach para Violino Solo.
Como vos referimos na primeira parte desta biografia uma parte substancial da informação para a redacção deste texto foi obtida do Site Menuhin.Org.
Subscrever:
Mensagens (Atom)